13 de janeiro de 2022

O porquê do voto à esquerda.


     Comecei há dois dias a ver os debates para as legislativas. Não vi todos, vi os principais, quase todos. O meu sentido de voto está determinado, refiro-me ao espectro político, com algumas dúvidas relativamente a quem o entregar especificamente. A direita mostra-se cada vez mais contra o cidadão comum, com propostas que considerei, em alguns casos, inacreditáveis. Dou-lhes um exemplo: em 2019, que caiu agora misteriosamente, a Iniciativa Liberal defendia que os estudantes ficassem a pagar os seus estudos por um período de trinta anos, endividando-se para tal. Imagine-se o que seria juntar à precariedade, aos baixos salários, às prestações elevadíssimas na aquisição de casa própria ainda mais um encargo. O CDS e o CHEGA têm uma agenda parecida quanto àquilo que consideram ser a ideologia de género, que tanta falta faz, e há tantos anos, num país com índices terríveis de violência doméstica e onde a ainda parca aceitação de outras realidades sexuais está circunscrita ao chavão “que o sejam, mas que não o pareçam”. O PSD, por seu turno, junto à IL, propõem uma agenda de privatizações que vende o país ao desbarato, e pareceu-me que estava na feira da vila quando ouvi Rio e Cotrim de Figueiredo a debater. Em suma, a direita oferece-nos mais desigualdade, mais ataques às pessoas desfavorecidas, mais favorecimento do patronato, dos grandes empresários, isto é, da grande burguesia.

    O voto na esquerda, em quem não nasceu num berço de ouro, vive em permanente instabilidade laboral e com baixos recursos, é-me o lógico. Não se trata do meu caso, felizmente, que tenho um marido que aufere mais mensalmente do que cinco chefes de família, todos com bons salários. É médico, estudou para isso. Entretanto, ver gente que preenche as categorias que enunciei acima -trabalhadores a recibos verdes, a viver na periferia, com o salário mínimo e alguns já com certa idade- a defender o voto na direita, e mais, a fazer propaganda por quem jamais lutaria pelos seus direitos, parece-me uma tolice, uma profunda falta de noção da realidade e um convite ao aprofundar das injustiças sociais. Claro está que o voto de cada um me merece respeito, é livre, como eu o sou de manifestar a minha perplexidade.

    A direita responsável, ainda que com uma agenda neoliberal, tem lugar numa democracia plural. Todas as composições xenófobas, racistas, sexistas, extremistas, não me merecem qualquer consideração, porque além do vazio de ideias, alimentam-se de semear o ódio e a divisão entre a população. Como LGBT, seria um voto contra mim próprio, um voto em quem não hesitaria a desconsiderar-me e à família que construí, porque há ideias extremamente perigosas nalguma dessa direita. Congratulo-me com o muro sanitário que vários dos partidos que agora concorrem às eleições levantam à direita extremista. 

     Precisamos de solidariedade, de subir o salário médio, de subir o salário mínimo nacional, as pensões em alguns casos de montantes baixíssimos, de criar políticas responsáveis para estimular a compra de casa, ou o arrendamento, com rendas acessíveis. De diminuir o valor das propinas no ensino superior, de diminuir o período experimental nos empregos, de reforçar o Serviço Nacional de Saúde, mantendo-o público, dotando-o de mais meios humanos e técnicos. De aumentar os impostos aos que mais poluem e aos mais ricos. Como se diz aqui, yo lo tengo muy claro.

4 comentários:

  1. E o que me custa é ver a minha geração e mais novas a não perceberem isto...

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    1. A mim também, e ver operadores de call-center a defender o voto na direita. Incrível, não?

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  2. Subscrevo. E eu, como peça de uma minoria. não conseguiria, e não posso, votar contra mim próprio. Mas os miúdos de 20 e tal anos hoje, em Portugal, são todos liberais. É o que dá terem tudo na infância.

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    1. Quando se vissem na iminência de pagar os estudos por 30 anos e terem de se endividar até ao tutano por isso, de certeza que deixavam de ser liberais.

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