No dia 25 de Março de 1957, na capital italiana, seis países europeus assinavam os dois tratados institutivos da Comunidade Económica Europeia (CEE) e da Comunidade Europeia de Energia Atómica (CEEA ou EURÁTOMO). Os Tratados de Roma, como ficariam conhecidos, resultaram dos esforços conjuntos da França, da RFA, da Itália e dos países do BENELUX no sentido de se estabelecer um mercado comum geral, cujas regras seriam aplicáveis nos mais diversificados domínios da actividade económica. No que respeita à segunda, o objectivo vinha desde a criação da CECA, de 1951, tendo-se prosseguido na solidariedade sectorial no domínio específico da energia atómica. Centrar-me-ei na primeira, na CEE.
Os dois tratados vieram no encalço do labor dos seis países europeus para a construção de um bloco sólido e solidário, procurando-se afastar definitivamente a espessa bruma em que a Europa mergulhou no pós-II Guerra Mundial. Do lado de lá do Atlântico, nos EUA, a administração estadunidense via com bom olhos a instituição de um verdadeiro novo estado, os Estados Unidos da Europa, que teria representatividade nas Nações Unidas. Harry Truman, Presidente dos EUA, fez saber que uma Europa unida e coesa era do agrado do aliado transatlântico. Não nos esqueçamos do contexto social e político que se vivia, no qual a Europa beneficiava de fundos estadunidenses para a sua reconstrução, que ficariam conhecidos pelo nome de Plano Marshall.
O empenho dos EUA não era desinteressado. A recuperação económica da Europa assemelhava-se como bastante proveitosa ao mercado estadunidense, na perspectiva de se lucrar com as exportações. O fim do tradicional proteccionismo europeu representava uma oportunidade muito vantajosa para as empresas daquele país. Bem assim, os EUA também esperavam que a Europa pudesse, unida e próspera, assegurar a sua própria defesa, permitindo que se diminuísse o contingente militar estadunidense no Velho Continente e que se diminuíssem os gastos operacionais e financeiros com o pesado encargo que assumiram. Por último, e não menos importante, uma Europa forte resolveria o premente problema do enquadramento da Alemanha na nova ordem estabelecida e ajudaria a conter o expansionismo soviético.
Não se pense que todo o processo que culminou na assinatura dos tratados - ao longo de dois anos, entre a Conferência de Messina, em Junho de 1955, e a assinatura propriamente dita - foi imune a temores. Os seis países receavam que se fracassasse uma vez mais, que todo o projecto saísse gorado. Houve momentos de tensão, designadamente quanto ao estatuto a atribuir aos territórios ultramarinos franceses, que como sabemos são muitos e estão espalhados um pouco por todo o mundo.
Em 1969, na Cimeira de Haia, fica assente que o alargamento seria o próximo passo, e ele deu-se sucessivamente ao longo das décadas subsequentes. Temos 28 Estados-membros em 2017, e uma UE, emanada do Tratado de Maastricht, herdeira das comunidades.
No ano em que o projecto europeu celebra o seu sexagésimo aniversário, e poucos dias depois, o Reino Unido, admitido em 1973, no primeiro alargamento, invoca o artigo que lhe permite desvincular-se da UE. Os 28 em breve passarão a 27, e o que todos temem é que não nos fiquemos por aqui. Os Estados-membros já se apressam em garantir as suas posições. França e Alemanha adequam legislações, Portugal, pela voz do governo, assedia as empresas que se deslocalizarão do Reino Unido. O bom domínio do inglês, verdadeiro idioma empresarial em Portugal, os baixos custos em mão-de-obra, a distância, curta, entre ambos os países e o facto muito notório de Portugal ser um destino de eleição para os súbditos de Elizabeth II são factores que decerto pesarão quando chegar o momento de as empresas tomarem uma decisão.
A UE conhece os seus dias mais sombrios. Um aniversário simbólico com sabor amargo. E o pior poderá estar por vir se o Reino Unido for bem sucedido. A coabitação com a UE dar-se-á de um ou de outro jeito. Não acredito que a mão das instâncias europeias seja leve, porque seguramente terão de demonstrar firmeza na penalização aos britânicos. Nada poderá ficar igual. Se estão fora, estão fora. E haverá ressentimentos. Na Escócia, ressurge a inquietação. Às vezes, desconfio de que nem os britânicos sabem exactamente o que pensar. O país dividiu-se entre os eurocépticos e os euroconvictos. Eu estaria receoso. Ainda que o Reino Unido tenha laços privilegiados com várias nações, o futuro está num grau de incerteza maior do que aquele que por si só comporta. E pensar que há sessenta anos se comemorava.
Não se pense que todo o processo que culminou na assinatura dos tratados - ao longo de dois anos, entre a Conferência de Messina, em Junho de 1955, e a assinatura propriamente dita - foi imune a temores. Os seis países receavam que se fracassasse uma vez mais, que todo o projecto saísse gorado. Houve momentos de tensão, designadamente quanto ao estatuto a atribuir aos territórios ultramarinos franceses, que como sabemos são muitos e estão espalhados um pouco por todo o mundo.
Em 1969, na Cimeira de Haia, fica assente que o alargamento seria o próximo passo, e ele deu-se sucessivamente ao longo das décadas subsequentes. Temos 28 Estados-membros em 2017, e uma UE, emanada do Tratado de Maastricht, herdeira das comunidades.
No ano em que o projecto europeu celebra o seu sexagésimo aniversário, e poucos dias depois, o Reino Unido, admitido em 1973, no primeiro alargamento, invoca o artigo que lhe permite desvincular-se da UE. Os 28 em breve passarão a 27, e o que todos temem é que não nos fiquemos por aqui. Os Estados-membros já se apressam em garantir as suas posições. França e Alemanha adequam legislações, Portugal, pela voz do governo, assedia as empresas que se deslocalizarão do Reino Unido. O bom domínio do inglês, verdadeiro idioma empresarial em Portugal, os baixos custos em mão-de-obra, a distância, curta, entre ambos os países e o facto muito notório de Portugal ser um destino de eleição para os súbditos de Elizabeth II são factores que decerto pesarão quando chegar o momento de as empresas tomarem uma decisão.
A UE conhece os seus dias mais sombrios. Um aniversário simbólico com sabor amargo. E o pior poderá estar por vir se o Reino Unido for bem sucedido. A coabitação com a UE dar-se-á de um ou de outro jeito. Não acredito que a mão das instâncias europeias seja leve, porque seguramente terão de demonstrar firmeza na penalização aos britânicos. Nada poderá ficar igual. Se estão fora, estão fora. E haverá ressentimentos. Na Escócia, ressurge a inquietação. Às vezes, desconfio de que nem os britânicos sabem exactamente o que pensar. O país dividiu-se entre os eurocépticos e os euroconvictos. Eu estaria receoso. Ainda que o Reino Unido tenha laços privilegiados com várias nações, o futuro está num grau de incerteza maior do que aquele que por si só comporta. E pensar que há sessenta anos se comemorava.