28 de março de 2015

Kamikaze.


  A trágica fatalidade que paira sobre a Alemanha provocou o alerta entre as companhias aéreas mundiais. Ao tradicional medo de voar, presente em alguns, junta-se assim a insegurança. O escrutínio feito aos pilotos, todos os testes físicos e psicológicos por que passam revelam-se insuficientes para garantir a tranquilidade nas viagens pelo meio de transporte tido como o mais seguro do mundo.

    Em boa verdade, a maior diferença que encontramos entre os acidentes de aviação e viação diz respeito à ocorrência de uns, mínima, se comparados, e à taxa de mortalidade, com elevado grau de probabilidade de não sobrevivência, a rondar os cem por cento, em caso de desastres envolvendo aviões.

     Sobre o acidente em concreto que ceifou a vida a centena e meia de pessoas, não se compreende como, ainda que escondendo o atestado médico da empresa, a Lufthansa, ninguém percebeu que aquela pessoa estava doente e a precisar de ajuda, acrescendo que era acompanhado, há alguns anos, visto ter um diagnóstico de depressão. Equiparo aqui, com as devidas ressalvas, os casos de agentes da polícia que se suicidam sem que colegas, os que com eles mais convivem de perto, consigam detectar quaisquer mudanças no seu comportamento. 
     Houve indícios. Segundo consta, uma namorada ouviu afirmações suas, dúbias, e tinha conhecimento do tratamento psiquiátrico a que o jovem piloto estava sujeito.

     Tratando-se de episódios isolados, e sendo os pilotos submetidos a testes rigorosos, pouco se pode fazer. A psique humana será fonte de interrogações por mais que a ciência evolua no sentido de a compreender progressivamente melhor. Se tudo pudéssemos detectar a tempo de evitar actos trágicos como este e outros, não existiriam perícias criminais, tribunais, estabelecimentos prisionais; o próprio Direito.

      O que a Lufthansa e as demais companhias áreas podem fazer é reforçar a exigência nas provas que estabelecem para a admissão de pilotos. E todo o staff destas empresas deve aprimorar os sentidos na busca - permanente - de indícios que demonstrem possível ocorrência de perigo para vida de pessoas que culpa alguma têm dos distúrbios que podem afectar qualquer um de nós. Além, como é evidente, de modificar as regras de acesso e permanência nos cockpits, medidas que, ao que tudo indica, já estão a ser tomadas.

      Andreas Lubitz quis que o seu nome ficasse para sempre conhecido. Conseguiu-o. À custa de cento e cinquenta vidas que impediu de poderem dar o conhecer os seus.

33 comentários:

  1. Não percebo. A sério. Tudo bem que a mente é complicada e cheia de labirintos, mas uma pessoa que acha que já não tem mais nada para viver, levar consigo 140 e tal pessoas para uma morte inglória parece-me tão absurdo como inqualificável. Os bebés que morreram, os jovens e todos os outros, que mal lhe fizeram? Não sei. Não consigo mesmo compreender.

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    1. E não tem explicação. Se tivesse, e pudéssemos prever, nunca nada de mal ocorreria.
      O que agora se pode fazer é o humanamente possível: mais exigência e rigor na admissão de pilotos e atenção redobrada quanto a "comportamentos suspeitos".

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  2. Eu vi algo na tv. Chocante. Tragédia mesmo. Se ele queria morrer se matava sozinho. Tem coisas que não dá pra entender mesmo. Que a alma dessas pessoas descanse em um lugar bom.

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    1. Sim. E que também a alma dele encontre algum conforto, a existir uma dimensão paralela a esta.

      um abraço.

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  3. Lamentável e imprescindivel.
    As pessoas estão cada vez mais malucas.....
    Abraços!

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    1. A mente humana é foco de muitos conflitos internos...

      um abraço.

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  4. O mal está feito, o que se pode fazer, já começou a surtir efeito, mas se pensarmos bem, a mente do ser humano é uma caixinha de surpresas, nem sempre boas é certo.

    Por mais que não se consiga compreender o trágico desfecho para as vidas daquelas pessoas, até que ponto Andreas Lubitz estava lúcido para levar em frente com o sua ideia, pois não creio que ela tenha surgido do nada.

    O rigor que agora pretendem, já o deveria de existir e ser uma regra não apenas nos pilotos mas em muitas outras profissões que podem colocar em risco a vida de outros.

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    1. Lúcido estaria, à partida. Aliás, consta-se que já tinha proferido palavras vagas, como dizer que queria que o seu nome ficasse conhecido.
      Não sou médico, mas, ao que sei, nenhuma depressão, por pior que seja, nos torna em homicidas. Ele queria ficar conhecido, o que não obteria com um casual suicídio. O que conseguiria, se tanto, seria uma vulgar coluna num jornal qualquer. "Jovem suicidou-se", mero anónimo. Eu diria que havia ali um grave e perigoso distúrbio.

      Mas o rigor sempre houve. Eles são sujeitos a testes. Estas situações também são imprevisíveis. Deveria haver, isso sim, mais cuidado e atenção redobrada.

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  5. O Moço conseguiu um mediatismo imediato. Não acredito que alguém se vá lembrar daqui a uns anos. Morreu muita gente, é verdade. Mas morrem mais pessoas de acidentes de carro :(

    As pessoas pensam que são imortais, até ao momento. Não acredito que ele não se tenha arrependido no último momento... TP

    Paz a todas as almas

    Abraço amigo

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    1. Sem dúvida. Mas ele quis protagonismo, o que não conseguiria com um "solitário" suicídio. Como referi acima, havia ali uma patologia qualquer.

      Ter-se-á arrependido? Melhor fora que obtivesse o efeito mediático através de meios lícitos e sem matar ninguém, nem a si próprio.

      um abraço, amigo Francisco.

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  6. Olá meu amigo! Como está?
    Rapaz, que coisa, não?! Realmente chocante o que aconteceu... ainda a pouco eu lia uma reportagem sobre acidentes aéreos causados por pilotos, assustou-me saber que não é a primeira, nem a segunda vez.

    A questão é esperar para ver o que vai ser descoberto e o que pode ser feito...
    O mais duro é saber que ele só conseguiu levar a cabo seu plano por conta das medidas de segurança criadas após 11 de Setembro... será que em outra situação ele conseguiria fazê-lo?!

    Grande abraço!

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    1. Olá, Latinha. Estou bem. Espero que tu também. :)

      Sim, também li uma reportagem sobre a ocorrência destes homicídios-suicídios em aviões, por parte dos pilotos. Já houve uns bons casos...

      Não sabia disso. As medidas implementadas pós-11 de Setembro favoreceram esta tragédia? Realmente paradoxal...

      um abraço grande, amigo!

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  7. a tragédia é que, num único acidente, ele matou-se a ele e a mais de 140 pessoas, sem explicação. quero dizer, depressão, falta de vista, pensamentos suicidas, que o fizesse sozinho. por isso, é incompreensível. exames psicológicos mais frequentes, testes médicos, tudo o possível para evitar tragédias como esta. um acidente de viação pode causar 3, 4 mortos, um avião, dezenas, centenas. um piloto ganha, para além disso, muito bem, exactamente porque é uma profissão de risco. terem qualquer um sem a menor aptidão aos comandos de um avião é de uma enorme responsabilidade para a companhia. daí os exames frequentes devam ser obrigatórios.
    bjs.

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  8. e acho que escrevi 'mata-se'. é 'matasse', começo bem a semana... :) preciso de descanso. a hora de verão é muito boa, mas dormi menos uma hora. bjs.

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    1. Tantos e tantos testes e não conseguem detectar estas patologias. É como dizes, incompreensível. Ali há mais do que uma depressão profunda, um sentimento de descrença na vida. Ele tirou a vida a mais de uma centena de pessoas. Queria ficar conhecido, veja-se!... Bem, morreu e com ele a explicacão que, porventura, poderia haver. O que passaria pela cabeça daquele homem? Um acto tão egoísta.

      Os testes "tão rigorosos" terão de ser mais. Ao menor sintoma, à mínima desconfiança, não deveriam poder pilotar. O que me custa a acreditar é como é que ele passou em tudo, sabendo-se que provavelmente seria o mestre da dissimulação, e tendo escondido atestados e relatórios médicos.

      Escreveste bem. :) Oh, gralhas, dou tantas. Quem muito escreve dá gralhas. :)

      um beijinho.

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  9. Quero acreditar que ainda poderá haver uma explicação diferente para este caso. A tese de homicídio involuntário ainda está em cima da mesa. Porém, é um facto, em múltiplas circunstâncias do dia a dia deixamos a nossa vida nas mãos de outros. Desde o bloco operatório ao autocarro ou ao combóio (como no ainda recente acidente na Galiza), acreditamos na competência e profissionalismo de quem fica no controlo.

    Só mais duas coisas: os testes de admissão são importantes, mas avaliações frequentes e regulares são igualmente fundamentais. E a psiquiatria não se extinguiria se fosse possível detetar estes casos a tempo, pelo contrário.

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    1. Coelho, não aceito a tese do homicídio involuntário. Parece-me uma hipótese descabida.

      Quanto à Psiquiatria, o que eu disse é que se tudo pudéssemos prever e evitar, ela faria menos sentido. Talvez continuasse a fazer, tens razão, para controlar estes distúrbios. Não pensei nessa perspectiva.
      As reavaliações também são necessárias.

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  10. Eu acredito que ele estivesse a sofrer de algum distúrbio ou loucura temporária, é a única coisa que pode explicar o que ele fez. No entanto, concordo que muitas coisas correram mal neste voo e provavelmente correm mal em outros voos. Mas também sou da opinião que este caso é um exemplo de coisas que podem acontecer noutros cenários, com mais ou menos vítimas. As pessoas têm de aprender a estar atentas ao que as rodeia e a alertar outras para possíveis problemas, antes de ser tarde demais.

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    1. Loucura temporária já me parece mais difícil de acreditar. Parece que queria que o seu nome ficasse conhecido. Não foi um acto momentâneo. Creio que houve ali premeditação. As razões morreram com ele.

      Sim, isto pode ocorrer com um veículo de transporte colectivo ou em qualquer outra circunstância em que apenas uma pessoa fique à frente seja do que for, tendo nas suas mãos outras vidas.

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  11. Estou muito por fora da questão. contudo, parece-me que que uma pessoa que faz isto está gravemente doente. É muito mau que não se tenha dado por isso antes...

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    1. Sim, gravemente perturbada.

      Tens estado por fora? Foi muito comentado na imprensa escrita, inclusive virtual.

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    2. Não estou por fora. MAs não vejo notícias. Contudo, mesmo para quem não vê, tem sido dificil a abstração dessa noticia em particular. Simplesmente n tenho mergulhado nos pormenores...

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    3. Bom, eu não vejo é televisão (exceptuando-se uma novela, agora, no canal Globo - 10 da NOS - cof, cof, cof!), mas notícias online, leio.

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    4. O Mark vê NOVELAS????? #odramaohorror

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    5. Oh! x) Eu não via televisão. Um dia liguei-a no canal da Globo e soube que iriam reproduzir a "Torre de Babel", uma novela de 1998, da qual tenho vagas lembranças. Olha, vi o primeiro, o segundo, e pronto, daí até a gravar todos os dias na box foi um passinho. E adoro! Recomendo!

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    6. Não acho mal :P estou a meter-me contigo :P lol

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    7. Eu sei, hahahah. :)

      Está gira. Começa-se a criar aquele mistério em torno do shopping. Tanto na Ângela quanto no Agenor, etc. Já está gravado o episódio das 22h. LOL

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    8. Estou parvo.
      Nunca te imaginei a ver novelas, Mark.
      Eu seleciono as noticias que leio. Leio sobre o que me interessa, sendo obrigado a ler as gordas de tudo. Daí dizer que é impossível a abstracção desse tema em particular...

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    9. O Mark é um rapaz normalíssimo. Não é nenhum nerd ou geek. :) "Não me caem os parentes na lama" por ver uma novela.

      Por acaso via novelas quando era criança. Deixei de ver televisão por volta dos quinze, dezasseis anos, no geral, vendo, entretanto, alguns programas esporádicos em tantos anos.

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  12. "Não me caem os parentes na lama" é com toda a certeza uma expressão que também não te veria a proferir!

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    1. Hahahah, conheces-me mal. Não sou elitista, preconceituoso ou intelectual de algibeira, Horatius. :)

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  13. Eu viajo essencialmente em companhias low coast e durante muito tempo viajei na Germanwings, na escala em Colónia a caminho de Belgrado. Depois apareceram outras companhias com melhores preços e mudei, mas não tenho qualquer razão de queixa da companhia.
    Aliás este acidente da forma como aconteceu e sendo a Germanwings uma companhia pertencente à Lufthansa, só a esta última poderá eventualmente ser pedida alguma responsabilidade sobre o estado psíquico do co-piloto.
    Mas, por tudo isto, e embora sabendo que a percentagem de acidentes aéreos é ínfima quando comparada com a dos acidentes rodoviários, eu tenho sempre consciência que "vou lá em cima" e que nada posso fazer caso algo aconteça...
    Por isso nunca entro no espaço físico do avião a não ser com o pé direito...

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    1. Engraçado, mas recordei-me imediatamente de ti e da tua recente viagem à Alemanha.

      É, um acidente de aviação tem uma baixíssima taxa de sobrevivência. Deve rondar os 0 %. Tenho medo. A grande Amália também tinha este medo, daí dizer que morria sempre um bocadinho de cada vez que viajava de avião.

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