Caminhar pela cidade parecera-lhe bem. Descera a Avenida da Liberdade, tomara um café nos Restauradores e vira as montras das lojas na Rua Augusta. A pressa não o caracterizava e Rodrigo não sairia do trabalho antes das dezoito. Sentiu-se só quando observou casais de namorados de mãos cerradas. Apreciava os seus olhares ternos, os mesmos que não evitava quando sentia o calor de Rodrigo a entrar por entre o nylon da sua blusa.
O musgo deixado por anos de contacto com a água tornava a passagem de pedra especialmente escorregadia. A fraca aderência das botas em contacto com o solo poderia provocar uma queda, mas a atracção pelo cheiro do rio não o deixou inerte junto ao cais. Nem o som das gaivotas atraídas por pedaços de pão lançados por uma transeunte afastá-lo-ia daquela brisa fluvial que aprendera a gostar, que lhe levara os medos e que o apaziguara nos momentos mais difíceis. Faltava ainda meia hora.
Quis descer pelo areal. Quis sentir a magia dos escritos de um qualquer turista seduzido pela Europa. Um homem fotografava a ondulação junto ao rebentamento, indiferente ao roçar do seu casaco comprido pela água turva. As siderurgias sentiam-se culpadas, ao longe. O flash das objectivas poderia ser para si, não fosse mais um visitante de origens certas, anónimo como o sem-abrigo que enrolava o tabaco nas mãos sujas e calejadas. Um quarto para as seis.
Rodrigo aguardava pela mudança do sinal do lado de lá da estreita estrada que conduziria à praça principal. Vendo-o tão perto, sentiu o acelerar do seu coração, a solidão que fugia mais depressa do que o peixe assustado pelo impacto de uma garrafa de cerveja vazia no rio. A aragem levantava a franja do cabelo de Rodrigo, para si desenhada por Deus. Abraçaram-se indiferentes à multidão. Aquele momento pertencia-lhes. Mereciam-no.
O relógio não mentira. Rodrigo chegara cinco minutos mais cedo, a tempo de assistirem ao ocaso, ali, junto ao Tejo, um casal entre outros.
O Sol desapareceria por trás da ponte, contemplando-os com a tarde das suas vidas.
que belo texto, sem dúvida, fizeste com que eu "entrasse" na história e conseguisse imaginar com semelhantes detalhes tudo :)
ResponderEliminaradorei, és um bom escritor!
Mas tu tens mesmo a certeza de que não queres ser escritor?
ResponderEliminarpergunto-me o mesmo
EliminarObrigado a ambos! :)
EliminarAdoro ir a esses sítios xD
EliminarÉ bonito lá. :)
EliminarComo sempre bem escrito e muito bonito.
ResponderEliminarClaro que ele ainda pode vir a ser escritor e tem todo o tempo do Mundo :-)
Abc :-)
Obrigado, sad. :)
Eliminarabraço '-'
Ainda na semana estive nesse mesmo sítio e agora ao ler, senti o calor e a luz do sol a pôr-se.
ResponderEliminarJá há algum tempo que não vou ao Terreiro do Paço. No Verão, adoro ir lá. :)
EliminarQue vontade de poder dar as mãos ao Shu e poder ver um pôr de sol com ele, sentados na praia - algo que ainda não tivemos oportunidade de fazer...
ResponderEliminarMas enfim, pude viver um doce momento, neste pequeno mas muito belo texto.
[Como sempre, aliás! ^^]
Hughie :3
Ainda poderás fazê-lo, Kuma. Não percas o desejo, nem a crença.
EliminarObrigado pelas tuas palavras.
abraço '-'
podias também começar a escrever uma série de histórias :) é linda.
ResponderEliminarestou desejosa de deixar o casaco de inverno e o guarda-chuva e caminhar sem rumo até à baixa. gosto cada vez mais de Lisboa.
bjs.
Obrigado, querida. :)
EliminarComo tu, estou cansado deste tempo. Tomara que a Primavera regresse depressa.
beijinho.
Segui todos os passos.
ResponderEliminarÉ tão belo o momento que descreves.
Insisto na pergunta do João: '... não queres ser escritor?'
Sabes, nem precisavas assinar. Já conheço o teu estilo - e é muito bonito.
O uso do pretérito mais-que-perfeito é quase tão perfeito como o que escreves.
'Tivera' eu esse dote e seria escritor.
Abraço com toda a ternura :)
PS: Não dispenso falar de ternura quando te escrevo
Obrigado pelas tuas palavras, Pedro.
EliminarSabes, fico embaraçado com a vossa amabilidade e simpatia. Agradeço imenso.
abraço '-'
Belíssima crónica, muito bem escrita. Adorei cada pormenor deste encontro de amantes.
ResponderEliminarAbraço Mark.
Obrigado, Arrakis. :)
Eliminarabraço '-'
Ando a ler os primórdios do teu blog, e apesar de desde o inicio teres um escrita impecavel e cativante. Sem dúvida que tens evoluido bastante...
ResponderEliminarCada vez melhor...
Ainda nao sei a area que seguiste (ainda nao cheguei la), mas talento para escritor.... tens e muito
Obrigado. :)
EliminarOh, eu digo-o: estou em Direito. Lá por 2010 falo bastante da entrada na faculdade, das primeiras impressões, etc. :')
OH pah... alerta spoiller lolol
Eliminarmas tambem ja presumia que tivesses escolhido direito.
E depois tens uma personalidade que por vezes me faz lembrar o meu BF, também direito.... coincidência?? XD
Ahahah, pois, quem sabe... :)
EliminarGosto muito de descer a Avenida da Liberdade, e adorei o teu texto :)
ResponderEliminarAbraço :3
Obrigado, Francisco. :)
Eliminarabraço '-'
De génio! Gostei muito!
ResponderEliminarObrigado. :)
EliminarQue história linda! Bem detalhada
ResponderEliminarÉ Lisboa, acertei? :)
Abraços!
Obrigado. Sim, é Lisboa. Certinho. :)
Eliminarabraço '-'
Fantástico! Como aqui já foi dito, e eu volto a insistir, acho que Portugal iria enriquecer muito com um escritor como tu. Só mais um empurrãozinho para que ponhas mãos à obra, porque o talento é inato!
ResponderEliminarParabéns Mark, e por favor, repensa nessa opção!
xxx
K.
Oh, K., muito obrigado! :)
EliminarNeste momento a faculdade ocupa-me o tempo. Poderei pensar nisso daqui a uns anos.
abraço '-'
Sim, sim, não digo para já. Mas tu sabes. Tu vais conseguir. Obviamente, primeiro há que terminar tudo o que te propuseste. Mas daqui a uns anos, propõe-te um livro! :) (Porque eu, compraria!)
EliminarOh, que querido! :)
EliminarAssim até me sinto cheio de ânimo! :D
Curiosamente, precisamente nesse dia fiz mais ou menos esse percurso, apenas com a diferença que fiz uma incursão ao Chiado e ao Largo do Carmo, e que não abracei ninguém porque estava com amigos.
ResponderEliminarNo dia em que escrevi este conto? Oh, que coincidência! :)
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