20 de abril de 2012

Odeio amar-te.


 No caminho para a livraria do Atrium Saldanha, no metro, aproveitei para esclarecer uns assuntos com uma amiga e colega. Talvez atordoado com a volatilidade das relações amorosas / paixonetas de hoje em dia, ainda não tinha tido a oportunidade ideal de conversar com ela sobre um namoro - supostamente sério e pejado de amor - que durou quatro semanas. Confesso que quando soube que ela namorava com o determinado rapaz, apostei que duraria bem menos. Perdi.
 Quem os visse, parecia que transbordavam todo um sentimento puro e verdadeiro. Os sorrisos escondidos e denunciadores, os olhares que não passavam despercebidos, o clima tórrido que se vivia quando ambos ocupavam o mesmo espaço, que sendo minúsculo praticamente consumia todo o oxigénio existente. Era um arfar sem arfar, um querer sem poder, uma vontade incontrolável.
 Começaram o prometido namoro. Simultaneamente, ao mesmo tempo, começaram as primeiras infidelidades da parte dele. O seu espírito "don juan" é avesso a compromissos sérios. Segundo soube, o desrespeito por ela atingia proporções inimagináveis. Sentar uma outra rapariga no colo, acariciando-lhe as pernas, em frente à namorada, vale? Pois tudo isso ele fez e ela, apaixonada, consentiu. Durou quatro semanas e a incompatibilidade de feitios determinou o expectável.

 Se o que sentiam não era mais do que um desejo recíproco, por que motivo terão banalizado a palavra amar? Da sua parte, só conseguia ouvir umas palavras distantes, muito devido ao barulho ensurdecedor da fricção entre as carruagens e as linhas do metro. As suas lamentações e a minha correspondente reacção a elas era visível na cara de sono e desconforto de um rapaz que, em pé, mal se segurava no corrimão. Se não soubesse que era impossível, diria que ele estava a adivinhar o que me apetecia fazer.
 Já à superfície, enquanto nos encaminhávamos para o centro comercial, apeteceu-me dizer-lhe que era mais do que natural que tudo tivesse terminado. António Variações cantou que "o amor não é o tempo, nem é o tempo que o faz", mas eu discordo. O desejo não é o tempo que o faz; o amor é o tempo que o faz.
 Se não tivéssemos muito para ler relativamente aos estudos, ter-lhe-ia recomendado um livro light de conselhos amorosos. Não que tenha alguma utilidade prática, porém, ficaria entretida.


18 comentários:

  1. Mark

    Hoje passou a ser comum a violência doméstica em versão namoro entre jovens! Elas (geralmente são mais elas) chegam literalmente a ser batidas, ofendidas fisicamente, estalos, empurrões, pontapés, e pelo mesmo motivo desta tua amiga inadjectivavel na atitude de permitir ao namorado o que referes.

    SE o namorado é tipo don juan, engatatão, whatever, então ela não pode pretender que ele venha a relacionar-se em modo compromisso. SE têm uma relação aberta, então também não o pode criticar. Mas, Mark, se o namoro era suposto (compromisso, fidelidade, entrega), então ter durado um mês foi já demasiado tempo que ela lhe concedeu em nome de uma amutoestima que se obnubila e perde perspectiva.

    São muitas as situações para se deixar fazer tanta coisa em nome do amor (como estas)... A pergunta é: o problema está em mim ou no outro? Nos dois? Sou eu que me anulo e nunca gostei de mim e por isso tolero tudo no outro, porque me faz sentir bem, ou será que simplesmente nada disto é amor mas sim desejo, o mero desejo de que falas, sem compromisso afectivo?

    Onde estou nestas variações e onde está o outro? E embora também tenhamos de reconhecer que nao é facil agir só porque a razao sabe que assim é, certo é que a dignidade e o respeito que nos merecemos devem levar-nos a ver além do amor, e isso ja está mais perto do afecto, do nosso afecto, que temos de gostar de nós sem nos enchermos de egoísmos nem vaidades, mas gostar o suficiente para usar a inteligência emocional (não já cognitiva), e sacrificando o anmor que quer´+iamos viver com esse alguém, acabarmos por ensinar-lhe que os actos têm consequências, que somos pessoas e não coisas, e que a menos que fomentemos as atitudes (que, como no caso da tua amiga têm necessariamente um fim breve porque começou mal), jamais nos sentiremos dignificados, porque a dignidade Mark, ao contrário do que tantas vezes pensamos, não vem dos outros, mas da capacidade de sermos tao humildes connosco quanto lúcidos, e dessa forma amara quem verdadeiramnte nos mereça...

    UM abraço huge. O teu :)

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  2. "O desejo não é o tempo que o faz; o amor é o tempo que o faz".

    O mais curioso é que tenho notado isso há um tempo. Ficava pensando se era só eu a achar que faziam pouco caso do amor,tratando-o como algo fútil, dos que se encontram na rua. A verdade é que as pessoas se confundem, e o colocam no mesmo patamar da paixão. E até onde sei, a paixão, sim, é um sentimento repentino. Mas, vamos ficar por aqui,senão esse comentário ficará extenso.

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  3. Há pessoas que brincam com o amor...
    Ainda se aprendessem...

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  4. Daniel: Concordo absolutamente contigo!
    A relação deles era uma relação normal, normal no sentido de que não era "liberal", ou seja, pressupunha-se algum tipo de respeito mútuo. Ele não é mau rapaz; é promíscuo. Ela apaixonou-se de facto e pela pessoa errada. Queria algo estável e ele é imaturo demais para entender do que isso se trata...

    Abraço, o teu! :)

    Emilie: Fica à vontade para comentares com a extensão que te aprouver. :)
    O amor hoje está totalmente banalizado, salvo raras - e boas - excepções... :/ Eles, claramente, não se amavam.

    João: Mesmo! :/

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  5. "Se o que sentiam não era mais do que um desejo recíproco, por que motivo terão banalizado a palavra amar?"

    já pensaste que talvez tanto a tua amiga como o ex-namorado sejam bastante imaturos e como tal não conheçam o verdadeiro significado da palavra amar?

    Infelizmente a realidade que abordas é apenas mais um triste exemplo daquilo a que está a chegar a nossa sociedade. As pessoas, em especial as crianças e os jovens adolescentes estão a perder imensos valores. Preocupa-me muito isso.
    Daqui a 20 anos eles serão adultos muito problemáticos, incapazes de respeitar os outros e de lidar com as adversidades da vida. É certo que o tempo muda as pessoas. Mas existem valores que se não forem ensinados na infância e pré-adolescência, dificilmente "entrarão" nas cabecinhas deles.

    [Sim eu sei que estamos a falar de uma rapariga de 20 e poucos anos, mas atendendo ao comportamento dela e dele, mais diria que são jovens de 13 ou 14.]

    Espero sinceramente que ela tenha aprendido alguma lição com este episódio. E faça bom uso da mesma! ^^

    P.S. - Mark, muito obrigado por tudo. Terminei agora de ler o teu blog. Muita coisa ficou por dizer nos meus comentários aqui e ali. Por vezes já estava tudo dito, daí nem sempre ter deixado "um pouco da minha magia". Outras vezes não disse nada com receio de te fazer relembrar algo que por ventura quisesses esquecer. Obrigado por tamanha partilha de sentimentos e de conhecimentos!

    *

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  6. Hórus: Também me preocupa a perda de valores e a banalização dos sentimentos. Hoje, "ama-se" por tudo e por nada; no fundo, pouco "se ama" de verdade.
    Há valores que são adquiridos na infância, caso contrário, é bem mais difícil. E, a acrescentar, cada vez mais renuncio à minha convicção de que as pessoas mudam. Enfim...

    Obrigado pela gentileza de leres o meu blogue. Deve ter custado um pouco. Já escrevi imenso por aqui.
    Eu é que agradeço o carinho e a atenção!

    Abraço. :3

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  7. Olá Mark!

    Foi um gosto! ^^

    P.S. - 1 dos Vaporeon é para te oferecer! Por isso é que Vaporeon disse que ele e o irmão já tinham chegado! E por isso demorei a escrever o post com a tua dedicatória, pois só queria publicar quando tivesse recebido o Vaporeon! ^w^

    Hughie :3

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  8. Awwwwwwn :$ Muito obrigado! Não tenho palavras. Há momentos em que nada há a dizer. Este é um deles. Muito obrigado pelo teu gesto, mais uma vez. Espero ter o prazer de um dia receber esse Vaporeon. :)

    Hughie! :3

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  9. Olá anjo hoje em dia é mais que normal banalizar a palavra amar... já é mais um cliché que um sentimento. se é que me compreendes :s Beijinho no coração

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  10. Mark: Já nos habituaste a descrever situações de forma a prenderes a nossa atenção do princípio ao fim. Escreves muito bem e demonstras sempre um bom senso e uma análise primorosa. Tens razão na apreciação que fazes neste relato e, como tal, nada a acrescentar. O meu comentário é apenas para, mais uma vez, te dizer como te aprecio. Não sou o único - eu sei ler. Continua a ser assim: um jovem lindo e culto que dia a dia vai mostrando que o seu limite é a perfeição. Li muito do que escreveste até aqui e gosto cada vez mais do Mark que tu és hoje.
    Desculpa por ser tão simples o meu escrito mas se tiver conseguido transmitir-te a minha admiração por ti, então já valeu a pena.
    Um abraço, forte e amigo.

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  11. Denise: Olá, querida! Infelizmente, é verdade. É mais um clichê do que verdade, mas ainda existe muito amor por aí, é o que nos vale!

    Beijinho! '-'

    Pedro: Obrigado por tudo, Pedro, mas eu tenho defeitos como qualquer outra pessoa e longe de mim tentar - sequer - ser perfeito. Estou a anos-luz disso. :)
    Mais uma vez, eu é que tenho a agradecer tanto carinho. Como já disse anteriormente, não me sinto merecedor. :)

    Abraço! :3

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  12. O que as pessoas por vezes se sujeitam só para dizer que estão num relacionamento :S

    Abraço amigo

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  13. Francisco: Não foi bem o caso dela; ela gostava dele. "Amor" não era, mas, de uma forma ou de outra, ela gostava dele. :s

    Abraço! :3

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  14. os primeiros tempos de namoro são sempre avassaladores, principalmente dos mais jovens. E a palavra "amar" dá-se hoje em troca de pouco. Banalizada mas que se aprende a respeitar à medida que amadurecemos.

    Abracinhos fortes Mark :)

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  15. Speedy: Não poderia estar mais de acordo. :)

    Abraço forte, tartaruguinha! ^^

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  16. Antes de ler a última frase estava quase em pânico. Tu a recomendares literatura light? Não pode! Mas terminei o teu texto com uma grande gargalhada. :D

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  17. "Segundo soube, o desrespeito por ela atingia proporções inimagináveis. Sentar uma outra rapariga no colo, acariciando-lhe as pernas, em frente à namorada, vale? Pois tudo isso ele fez e ela, apaixonada, consentiu."

    Tradução: Corna mansa. ahahah
    Desculpa, não resisti!
    Tem que ser muita otária para aturar esse tipo de coisa. Cadê a autoestima da tua amiga? foi pra lua total!

    A questão é que hoje em dia as pessoas banalizarem a palavra
    "amor." Confundem desejo com amor, paixão com amor. Amor é muito mais do que um simples desejo pelo outro. É querer estar juntos da pessoa amada em todos os momentos da vida, tanto momentos ruins quanto bons. É querer RESPEITAR o outro. É estar feliz pelo simples fato da outra pessoa está feliz. É a vontade mútua de fazer a relação dar certo. Não ser somente uma simples relação passageira, uma relação só pra curtir.

    Grande abraço do Brasil!

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  18. Coelho: Ahahah, para ela seria o indicado. :D

    Citizen: Concordo... Quanto ao facto de ela ser, digamos, permissiva demais... concordo também. :)

    Abraço a ambos. ^^

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