Às vezes, tenho a noção de que sou idealista demais. Quando imagino algo, quando construo uma sucessão de imagens na minha cabeça, um projecto qualquer que, à partida, não teve começo nem fim, tudo é idílico e perfeito. Esqueço-me de que as coisas não são assim. De que no meio de um jardim solarengo, também cai a chuva; de que uma fatia de bolo, por mais deliciosa que seja, também faz mal em demasia; de que aquele que parece o mais perfeito dos dias pode trazer dissabores até ao cair da noite; de que atrás de uma alegria, muitas vezes espreita uma desilusão.
O mesmo se aplica aos relacionamentos. Não tenho experiência, mas sempre tive a estranha noção de que para mim teria de ser mágico, quase sagrado. Talvez nos moldes de um filme de cinema. Uma cena pensada ao pormenor, concebida com um esforço monumental e com as palavras certas, ditas depois de tardes seguidas a estudar um guião. A luz suficiente, o cenário imaginado, a pessoa certa e os diálogos mais belos, improváveis e certeiros.
O que queria - porque não tive a ousadia de pedir - não existe.
A vida não é um filme e nós não somos actores, contrariamente ao que muitos defenderão.
Em todo o caso, cenas como esta ficam sempre bem.