13 de setembro de 2011

Nunca gostei de contagens decrescentes.




Parece-me incongruente pensarmos tão afincadamente no amanhã. O amanhã não é mais do que um bocado de coisa alguma, distante, enganador, e quase sempre tão frustrante quanto o são os planos que o acompanham. Todavia, o amanhã pode ser doloroso, mais ainda se lhe atribuirmos uma importância desmedida, o que quase sempre o fazemos.

Não gosto de reinícios, da rentrée ridícula e da falsa demonstração de alegria por esse facto. Não gosto de começar nada devido à minha personalidade não tão imediata e óbvia como praticamente todas que encontramos, vulgarmente, nas outras pessoas. São tão imediatos nos pensamentos, nos juízos de valor e até nos diálogos que me sinto sempre diferente entre os demais. No fundo, gosto de não sentir alegria pelo recomeço, gosto de sentir que as minhas prioridades são outras e que não sigo o que todos sentem e fazem.

Alterar as rotinas também se torna delicado. Somos tão perecíveis à preguiça e inconstantes que nos fixamos demasiado no quotidiano. Imagino já a cor da manhã fria, a porta automática abrindo as suas portas vidradas à minha presença. O chão brilhante, a cor da madeira envelhecida dos assentos, o ambiente pesado, as feições sérias e austeras... Por que razão não somos completamente livres, se nascemos com prados verdes, brisas agradáveis e águas límpidas abrilhantadas pelos raios do sol? Por que razão tivemos de garantir a segurança, a propriedade e a liberdade como Locke defendeu, se o mundo a tudo provê?

Creio que deveríamos fazer o que sentimos, completar com atos o que o sonho pede. Afinal, sendo a vida tão curta, cada dia vivido contra vontade é uma raiva acumulada, contida, transformada em tristeza que fica e perdura. 
Ao menos, tenho consciência claríssima da infeliz vida maquinada dos homens.



1 comentário:

  1. Se pudéssemos ser assim tão livres como descreves no teu belo texto, viveríamos numa sociedade utópica.

    Não haveria maldade, não haveria malícia. Viveríamos todos em paz e certamente daríamos as mãos, o Amor seria Rei e Senhor nessa sociedade.

    Não faltaria pão e ninguém passaria fome. Todos seriam prósperos e viveríamos felizes até ao dia de retornarmos ao pó.

    Haveria respeito por todas as coisas e por todas as criaturas.

    Era bom poder viver assim. ^^

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