Parece-me incongruente pensarmos tão afincadamente no amanhã. O amanhã não é mais do que um bocado de coisa alguma, distante, enganador, e quase sempre tão frustrante quanto o são os planos que o acompanham. Todavia, o amanhã pode ser doloroso, mais ainda se lhe atribuirmos uma importância desmedida, o que quase sempre o fazemos.
Não gosto de reinícios, da rentrée ridícula e da falsa demonstração de alegria por esse facto. Não gosto de começar nada devido à minha personalidade não tão imediata e óbvia como praticamente todas que encontramos, vulgarmente, nas outras pessoas. São tão imediatos nos pensamentos, nos juízos de valor e até nos diálogos que me sinto sempre diferente entre os demais. No fundo, gosto de não sentir alegria pelo recomeço, gosto de sentir que as minhas prioridades são outras e que não sigo o que todos sentem e fazem.
Alterar as rotinas também se torna delicado. Somos tão perecíveis à preguiça e inconstantes que nos fixamos demasiado no quotidiano. Imagino já a cor da manhã fria, a porta automática abrindo as suas portas vidradas à minha presença. O chão brilhante, a cor da madeira envelhecida dos assentos, o ambiente pesado, as feições sérias e austeras... Por que razão não somos completamente livres, se nascemos com prados verdes, brisas agradáveis e águas límpidas abrilhantadas pelos raios do sol? Por que razão tivemos de garantir a segurança, a propriedade e a liberdade como Locke defendeu, se o mundo a tudo provê?
Creio que deveríamos fazer o que sentimos, completar com atos o que o sonho pede. Afinal, sendo a vida tão curta, cada dia vivido contra vontade é uma raiva acumulada, contida, transformada em tristeza que fica e perdura.
Ao menos, tenho consciência claríssima da infeliz vida maquinada dos homens.
Se pudéssemos ser assim tão livres como descreves no teu belo texto, viveríamos numa sociedade utópica.
ResponderEliminarNão haveria maldade, não haveria malícia. Viveríamos todos em paz e certamente daríamos as mãos, o Amor seria Rei e Senhor nessa sociedade.
Não faltaria pão e ninguém passaria fome. Todos seriam prósperos e viveríamos felizes até ao dia de retornarmos ao pó.
Haveria respeito por todas as coisas e por todas as criaturas.
Era bom poder viver assim. ^^