Analisar e estudar um pouco mais sobre a vida destes poetas torna-se verdadeiramente imperativo, sobretudo as relações conjuntas e pessoais existentes entre eles. A análise dos legados deixarei, como é evidente, para os críticos literários e especialistas.
Que existiram laços de amizade entre Fernando Pessoa, António Botto e Mário de Sá Carneiro é indiscutível, mas sempre me questionei sobre o teor e essência dessa amizade. A homossexualidade de Botto era manifestamente reconhecida pelo próprio, como demonstra o seu livro de poesia Canções. A admiração de Pessoa também, como o atestam vários artigos escritos por Pessoa em defesa do seu estimado amigo. O próprio Pessoa tinha um aparente problema de relacionamento com as mulheres, e não é difícil imaginar que terá encontrado em Botto um ombro amigo, ou mesmo um escape para algum líbido que estivesse a mais. Mário de Sá Carneiro era verdadeiramente neurótico e depressivo, apesar de lhe terem sido conhecidos casos com mulheres, no entanto, a hipótese de uma possível tendência homossexual sempre pairou no imaginário de várias pessoas.
Sabe-se hoje que o círculo intelectual pode ser bastante promíscuo e este exercício pretende demonstrar a profunda hipocrisia que reina até mesmo no elitista mundo literário. Não é conveniente que se associe Fernando Pessoa à sua eventual bissexualidade pois essa revelação poderia deteriorar a essência e imagem do poeta. É preferível ignorar os sinais por demais evidentes, como as relações com os outros dois poetas. Obviamente poderão dizer que para um poeta como Fernando Pessoa a preferência sexual não será mais do que um mero detalhe entre a sua vida e obra, mas mesmo que se resumam a episódios esporádicos e ocasionais, estas possíveis experiências homossexuais têm de ser estudadas e analisadas quando se pretender explorar a vida do poeta. Existem dados suficientes que permitem associar os factos à tese que pretendo demonstrar. Basta até, para o comum leitor, supor um elo de ligação e características comuns entre os três poetas que justifiquem as suas relações de amizade.
A História é inegável, para o bem e para o mal, e nunca Fernando Pessoa, e consequentemente Mário de Sá Carneiro serão verdadeiramente conhecidos enquanto existirem factos das suas vidas que permanecem ocultos.
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