Talvez seja cedo para antecipar as eleições presidenciais no Brasil. A bem dizer, esta publicação vem ao encontro de um desejo meu, antigo, de explicar o que me passou a mover contra alguns políticos brasileiros, nomeadamente de esquerda. Dilma Rousseff e Lula da Silva não são uma novidade no blogue. Durante todo o processo de destituição da anterior Presidente, e não Presidenta, dei ampla cobertura a estes dois ex-dirigentes e à realidade que se vivia no Brasil.
A Comunicação Social é um verdadeiro quarto, ou quinto, poder, dependendo das formulações. Eu coloco-a em quinto porque, à tradicional divisão tripartida, acrescento o poder moderador. É outro assunto. Quando os ecos da destituição de Dilma chegaram a Portugal, iniciou-se o movimento de solidariedade com a, à época, Chefe de Estado e de Governo. Sabemos em como a esquerda é prodigiosa em adulterar dados e factos; em promover-se, sendo directo. E aqui falo da esquerda radical. Esta mesma esquerda é aquela que ombreia uma eventual candidatura de Lula às presidenciais do ano vindouro. Temer substituiu Dilma, as hashtags populistas inundaram as redes sociais e chamou-se de golpe a um processo que cumpriu todos os trâmites e formalidades constitucionais e legais.
Os portugueses, claro está, observam à distância de um Atlântico. É mais fácil, e cómodo, perfilhar do óbvio sem procurar aprofundar, ver além do que buscam impingir. Eu também, assumo, pela minha adolescência, nutri alguma simpatia por Lula. Vi-me embalado na propaganda de um país mais justo, menos pobre, mais solidário e igualitário. Cedo percebi que a idoneidade da classe política brasileira é discutível da esquerda à direita, e apoiar por apoiar, apoio quem demonstra respeito, ao menos respeito, por Portugal. E encontrei esse respeito na direita brasileira, eventualmente em Temer.
Lula e Dilma não gostam de Portugal. Odeiam a herança portuguesa. Odeiam a norma culta do idioma. A esquerda brasileira encetou uma política clara de aniquilamento da herança portuguesa no Brasil e de exaltação das componentes africana e indígena. Marcos Bagno, linguista (já entenderão o porquê do itálico), afecto à ex-Presidente, defende que o português falado no Brasil é outro idioma, que já se afastou o suficiente da norma portuguesa-africana-asiática para assim ser considerado. Defende, nesse sentido, a institucionalização de um português mal escrito e mal falado que desrespeita todas as regras gramaticais. O motivo é simples: o ressentimento visceral face a Portugal, uma negação do legado linguístico, cultural, histórico, social e étnico português no Brasil. Parecer-vos-á um absurdo, certamente, como a mim, porque não há paralelo de algo semelhante na América de línguas castelhana ou inglesa. Também Lula, há não muito tempo, culpou Portugal dos males que afligem o Brasil, esquecendo-se dos duzentos anos de independência daquele território e do desinvestimento da república brasileira na educação do seu povo. Reconheço os erros de Portugal, mas não falamos dos PALOP, independentes há quarenta anos. Portugal é o bode expiatório de políticas posteriores à independência que levaram o Brasil ao estado caótico em que se encontra, em inúmeras áreas.
A direita brasileira, que não padece, quanto a Portugal, de um mal chamado xenofobia, reconhece o inestimável contributo português na formação e consolidação de um país de proporções continentais como o é o Brasil. Portugal é o obreiro do Brasil. Para tal, analise-se o mapa daquele país aquando da independência. O império, nomeadamente com Dom Pedro II, concretizou o que Portugal iniciara séculos antes, que houve movimentos secessionistas após 1822, prontamente sufocados. Há, da parte desses brasileiros, interesse em manter acesa a chama do nosso vínculo cultural e linguístico. Exorta-se a história que nos une. Ora, enquanto português, não conseguiria ser indiferente a tamanho apreço e até, em alguns casos, dedicação. Procura-se repor a verdade, adulterada por um fenómeno conhecido como marxismo cultural, ou seja, pura campanha demagógica e populista de uma esquerda radical, intolerante e ignorante.
Simpatizo com Michel Temer, sim, e não tenho de me sentir mal por isso - alguma esquerda também lida mal com a livre expressão e com a livre opção política. Além de me parecer um homem informado, tenho-o como minimamente educado: sabe estar, conversar, os seus discursos são lógicos e coerentes. E tem políticas que - e repare-se que a minha análise é e pretende ser a de um português tradicionalista quanto à História - são fundadas e equilibradas no que concerne a Portugal e à Lusofonia. Procurou reverter a abominável Lei do Espanhol, de Lula da Silva, que vendia o Brasil aos países parceiros e vizinhos, consagrando-se o ensino daquele idioma sem se averiguar da reciprocidade desses países no ensino do português. Em suma, Temer e a direita brasileira vêm adoptando medidas que manifestamente protegem o legado português e a identidade brasileira, que é muito portuguesa - e o tanto que isto incomoda a essa esquerda.
A seu tempo, acompanharei a par e passo as eleições presidenciais no Brasil, um país irmão que estimo e que procuro ver próximo a Portugal tanto quanto possível.