As últimas semanas têm sido particularmente profícuas em casos aos quais o Direito, nomeadamente o Penal, é chamado a intervir. Bem como o fiz aquando da agressão a um jovem adolescente, e no seguimento de uma conduta que adopto, procurarei ser discreto nas apreciações e nos comentários a um episódio recente que está em processo de investigação.
Todos, inevitavelmente, fomos alguma vez confrontados com a velha máxima de que "o homem faz-se na tropa". O serviço militar, que actualmente não tem carácter obrigatório em Portugal, assume uma conotação vincadamente misógina. Prepara os homens para as adversidades, testa-lhes os limites. Tratando-se de tropas especiais - de elite - como os comandos, a exigência redobra. É importante que tenhamos presente o seguinte: aqueles jovens são preparados para a guerra, que não temos, felizmente, mas que poderemos vir a ter. E num campo de batalha há mortos, feridos, incontáveis perigos, situações em que o ser humano vê o fim da vida diante dos seus olhos. Compreende-se a dureza dos exercícios e das provas; todavia, não se concebe que morram na instrução, se, quanto muito, justificar-se-iam as suas mortes lutando em defesa da Pátria.
Fazendo fé no que ouvimos e lemos, e que nos tem chegado através de fontes internas do Exército, de militares, aqueles homens estão sujeitos a condições extremas: água racionada, privações de sono, de alimentação; física e psicologicamente extenuantes. Não sou médico, estando, no entanto, tentado a dizer que é impossível suportar todo esse rigor, acrescendo a ele uma temperatura ao sol intolerável sob esforço físico. Morreram dois rapazes e outros tantos estiveram hospitalizados.
Sabemos que há um código de honra entre os militares, não sendo, por isso, de estranhar que haja uma tentativa para, de certa forma, minorar o sucedido. Houve uma leva de baixas naquele dia. Os instruendos foram transportados para uma tenda e apenas horas depois foi accionado o INEM, ou seja, é notório que tudo se fez para evitar que aquelas ocorrências chegassem ao conhecimento de uma unidade de cuidados de saúde civil. Presumindo que aqueles homens estão aptos à frequência dos cursos, terá havido negligência médica, um diagnóstico falhado? Terão os exercícios excedido, muito embora tenhamos presente a natureza do esforço e o contexto em que se produziu, o humanamente tolerável? Questões em aberto que um inquérito, que faço votos para que isento e célere, tentará responder.
Não afasto a hipótese de estarmos perante dois casos que fundamentem a tutela penal, confirmando-se as suspeitas e atestando-se a veracidade das declarações que alguns militares prestaram em anonimato. Pelo que soube, o Ministério Públicou abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte destes recrutas, a par do que já decorre por parte do Exército e levado a cabo pela Polícia Judiciária Militar. E ficar-me-ia por aqui.
Os novos cursos de comandos estão suspensos, como sucedeu no passado, e estas mortes tão-pouco são um inédito. Exige-se firmeza, treinos adequados e vigorosos, contudo no respeito pela dignidade humana. Um militar deve, acompanhando a destreza física, manifestar um espírito de solidariedade e de humanidade irrepreensível na relação com superiores e subordinados. Deverá procurar ser um homem e um militar exemplar, evitando ao máximo qualquer abuso de poder que lhe advenha da sua posição hierárquica privilegiada.
Estes acontecimentos fazem-me lembrar os exercícios que ocorriam no filme G.I. Jane, com a Demi Moore.
ResponderEliminarHmm, hei-de ver. Creio que nunca vi esse filme.
EliminarSe ainda não viste, recomendo-te. é muito bom e mostra a dura realidade dos treinos dos Seals. A Demi Moore faz o papel de uma mulher que pretende entrar nesse universo, na altura completamente fechado ao universo feminino.
EliminarExtremamente complicado tudo isto.
ResponderEliminarBeijão
Quando as pessoas não se comportam como tal...
Eliminarum grande abraço.
Os Sargentos e Capitães deveriam ser enforcados porque gastam dinheiro ao Estado e não o Servem. Apenas servem para tirar a vida a jovens como aqueles dos anos 90 altura em que eu fui para a tropa que era obrigatória.
ResponderEliminarA Espanha invade-nos em Meia Hora, e o Estado Islâmico em 5 minutos lololololololol
A merda dos Generais, Capitães, e todos os oficiais já saíram à rua?! É tudo uma cambada de bêbados e parasitas da sociedade...
Eles não servem rigorosamente para nada...
Lamento, mas é um facto. Apenas servem para ganharem dinheiro do Estado sem nada produzirem
Grande abraço amigo
Francisco, só tu. :)
Eliminarum abraço.
É curioso o comentário do Francisco quando diz que eles não servem para nada, mas talvez saiba mais do que eu...tirando isso e falando com outra perspectiva, acho que infelizmente há limites para tudo, e no casos dos dois rapazes ele foi ultrapassado. Entendo que nesse tipo de "exercícios" os limites do Homem têm que ser testados, mas nunca ultrapassados.
ResponderEliminarConcordo inteiramente contigo.
EliminarOra aqui está um assunto em que estamos de acordo pelo menos a 80%. Os comandos são uma força de elite e é-lhes esperado que possam aguentar as adversidades das missões que lhes sejam confiadas (não temos guerra mas temos cooperação internacional).
ResponderEliminarA nível político muitas foram as barbaridades que ouvi da esquerda, à excepção do PC que teve uma posição muito correcta (jamais esperei dizer algo assim). Acabar com aquela instrução é o mesmo que dar azo a que se acabem um sem número de outras actividades/missões só porque existe a possibilidade dos soldados não aguentarem.
É claro que deve ter havido algum exagero naqueles dias, mas também é certo que temos de preparar os nossos soldados para teatros de guerra mais complicados atmosfericamente. Refiro-me por exemplo ao Médio Oriente, onde a guerra deverá mais tarde ou mais cedo ser um teatro de operações internacionais a que as nossas forças armadas poderão ter que intervir.
Quanto às leis de nada entendo, só sei que a Lei Militar é uma, a Civil é outra e há que unir as duas e analisá-las com o cuidado que se lhes exige para a situação que aconteceu.
Não sei em que é que não estaremos de acordo, porque não obstaste a nada do que eu escrevi. Eu frisei isso claramente: são uma tropa de elite e, nesse sentido, são treinados arduamente para morrer se preciso for. E são enviados para missões de paz, correcto.
EliminarBom, se suspendessem indefinidamente não seria inédito. Estivemos muitos anos sem cursos de comandos. Questiona-se a sua pertinência nos dias que correm. Sendo sincero, Portugal é um país europeu, desempenhando a diplomacia o papel que lhe compete. Longe vão os tempos em que resolvíamos os atritos com o envio de forças militares.
Dizes bem. Temos um Código de Justiça Militar que, e segundo o enunciado no seu artigo 1.º, n.º 1, se aplica a crimes de natureza estritamente militar. O Código Militar, regra geral, regula os crimes praticados em tempo de guerra, as relações entre os militares e os crimes cometidos contra a Pátria. O Código Penal "comum" pode ser aplicado se outra disposição do Código de Justiça Militar não o contrariar, ou seja, pode haver lugar - não quer dizer que haja - à aplicação da lei penal "comum". Aliás, o Código Penal "comum" refere expressamente que as suas disposições podem ser aplicadas aos factos puníveis pelo direito penal militar. Ainda assim, quando me referi a tutela penal, não excluí a hipótese de se aplicar apenas direito penal militar. Direito penal militar não deixa de ser direito penal. Terão de ser articulados, até porque a parte geral do Código Penal "comum" é de extrema importância.
E pronto só restam 1% de discordância (só para me fazer "mula"). rsrsrs
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