18 de novembro de 2014

November.


   O frio chega, timidamente. Instala-se no nosso quotidiano, impondo-nos roupas quentes, agasalhos de algodão. De igual modo, a cidade prepara-se para receber outra época de consumismo selvagem, visto pelas montras e pelas ofertas tentadoras, tecnológicas, na sua maioria. Somos escravos do digital e nunca estamos na vanguarda da tecnologia. É irrealista não se ficar confuso perante tanta diversidade. Um assomo de saudade dos tempos em que o game boy, no colégio, tinha o dom de me tornar logo no menino popular. Hoje, muito provavelmente, já haveria outro no dia seguinte, com mais aplicações... 

    O mundo está a ficar muito complicado para mim. Não será pelo avanço. Esse faz parte da humanidade. Estamos condenados à evolução. Os limites serão impostos por alguma entidade superior, a existir. Demasiado confuso porque ainda não aceitei inteiramente que cresci e que vou ficando só, que já não sou mais o menino de bochechinhas rechonchudas que quem passa por perto quer apertar. As bochechas, sim, continuam rechonchudas, mas têm barba, tornando-me num homem. E ser-se um homem envolve estar-se à altura de tal. Não apenas ter qualificações académicas ou dobrar anos. Contar meses não implica estar apto para se enfrentar o mundo de desafios e perigos que nos espera a cada esquina.


    Começo, no processo típico de por quem os anos passam, a sentir falta disto e daquilo. Das saídas com os pais, irrepetíveis. Dos jantares no penúltimo mês do ano, quando a decoração natalícia surgia pelas ruas da cidade, iluminando-as e aquecendo-nos o coração. Dos natais no Alentejo, da sua atmosfera gélida que tornava o ar expirado em fumo. De viver, por fim, no manto de ingenuidade e inocência próprio da parca idade. Aí era feliz, sem o saber, talvez sem o ser, mas, citando Maria Guinot, «troco a minha vida por um dia de ilusão». Já tive direito a esse dia, a esses dias.

16 comentários:

  1. Ai Mark, não digas estas coisas nesta tua idade, pois sem quereres estás quase a "enterrar-me" e olha que cá vou andando...
    Tens uma imensa vida para viver e ainda não atingiste o auge, lembra-te disso.

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  2. reconheço tão bem essa nostalgia. e se a tentação imediata é dizer-te que ainda és muito novo para a sentir, também me conheço o suficiente para saber que ela não tem nada a ver com a idade. agradeço-te por, hoje em especial, me teres lembrado disso, e sobretudo de que ainda haverá dias desses à minha espera lá à frente.

    e agradeço-te também por essa canção da Guinot que me deixaste a cantarolar baixinho. e troco a minha vida por um dia de ilusão, e troco a minha vida por um dia de ilusão.

    mas lembra-te que
    "Às vezes é no meio de tanta gente
    Que descubro afinal p'ra onde vou
    E esta pedra
    E este grito
    São a história d'aquilo que sou"

    acredita em mim. visto daqui, em que a minha sequência de dias é maior do que a tua, há, apesar de tudo, muito e muitos dias, dias desses, esses dias, a que ainda vais ter direito.

    abracinho

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    1. Sempre fui nostálgico. Devo mesmo dizer que vivo no passado uma boa parte do presente.

      Uma linda canção, que nem parece que concorreu a um festival de tão mau gosto. Não o era nos anos 60, 70 e até meados de 80. :)

      Obrigado, querido Miguel.

      um abraço.

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  3. eu sentia, ainda sinto, mas passa-se tempo sem me recordar, da minha meninice, da inocência, do tempo que fluía devagar (agora uma semana passa tão rápido que daqui a uns segundos é natal...). sim, tenho saudades desse tempo e até há alguns anos, de certas épocas, como esta. mas o facto é que a vida continua. e adaptamo-nos. quando aqueles que gostamos - e que continuavam as tradições nestas épocas - já cá não estão, não temos muita vontade de prosseguir com esses costumes. é o meu caso. o natal é cada vez mais um dia como outro qualquer, com a diferença que é feriado e descanso.
    o natal devia ser da família e da reunião e do amor, mas juntar numa noite pessoas que mal se vêem num ano e trocar prendas não faz, agora, o meu género. limito-me à família pequenina que me resta e é estimá-la.
    bjs.

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    1. Compreendo e já sinto essa passagem impiedosa do tempo, sobretudo agora com o mestrado à noite. O tempo passa depressa demais; passará igual, mas a valoração que lhe damos, com os anos, muda.

      Os natais perdem todo o sentido quando os que amamos se vão. Um dia passarei por isso, inevitavelmente, a menos que "vá primeiro". Para alguns, onde acredito que te incluas, eu não o farei por ti, seria melhor que terminassem. Qual a alegria de uma época que só nos traz à memória pessoas que não podemos mais abraçar e beijar? Não faz sentido.

      um beijinho.

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  4. Ao ler isto fiquei com saudades dos dias frios em que passava em frente á lareira a ler um qualquer livro. Nunca vivi muito o entusiasmo quanto ao consumismo feito no natal, mas nada como não ter nada para fazer, relaxar no quentinho do lar e não ter preocupações da vida de adulto. Fiquei nostálgico :)

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    1. Ainda podes passar uns serões em frente à lareira, a ler um bom livro e a beber algo quente. Talvez não tantas vezes como nessa época. :)

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  5. Esses dias podem sempre voltar, adaptados á realidade actual ;)

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  6. Estás a crescer e a ter outras obrigações e deveres :)

    C´est la vie,,, Como cantou Sandra Kim "J´aime la vie" em 1986

    Não custa viver, custa saber viver :)

    Abraço amigo

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  7. Cada dia que passa fico pensando o quanto é difícil crescer e ficar adulto...

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  8. Já tinha saudades dos teus textos <3

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