Descobri recentemente a Galiza. Em verdade, não a conheço. Aproximei-me gradualmente do povo galego através de incursões minhas em grupos temáticos que exaltam o nacionalismo galego. Espanha, que sabemos ser uma realidade forjada, tem muitos nacionalismos periféricos. O catalão será o mais conhecido, mas o galego, antigo, sobrevive. A Galiza é a comunidade autónoma espanhola na qual o idioma autóctone é mais falado do que o idioma do Estado, o castelhano. Os mais recentes estudos indicam que a situação está prestes a mudar. Vive-se, na Galiza, em diglossia. O idioma de prestígio empurra o idioma autóctone para uma condição de ostracismo conotado à ruralidade, por um lado, ou ao nacionalismo galego, pelo outro. Falar-se galego, na Galiza, cada vez mais é associado a uma destas realidades. Nos grandes centros urbanos, fala-se castelhano; os jovens, também eles, adoptam progressivamente o castelhano em detrimento do galego, num processo lento de linguicídio, prática comum em Espanha.
A Galiza - tão bucólica - pela mansidão do seu povo e pelas suas paisagens de incontornável beleza, deveria representar bem mais para os portugueses. O nosso idioma nasceu na Gallaecia, que outrora o norte do país e a actual Galiza conformaram. Em jeito de peregrinação, como os islâmicos fazem a Meca, na Galiza descobrimos as nossas origens, até quanto ao idioma. Pelo norte do país, identicamente. E constatamos em como a fronteira política, imposta pelo Estado espanhol, é, a par de um erro grosseiro, uma farsa. Os falares de uma e de outra margem do rio Minho confundem-se. E é na Galiza profunda que descobrimos que o nosso idioma comum ainda não morreu, pese embora haja políticas agressivas por parte do Estado espanhol, com a cumplicidade dos órgãos galegos, como a Xunta de Galicia e a Real Academia Galega, esta última com competências no domínio da linguagem, tendo procedido a reformas que aproximaram o galego do castelhano, numa união anti-natural, quando o certo teria sido aproximá-lo do português, idioma com o qual divide séculos de história. Para mim e para outros reintegracionistas, o galego e o português são duas variantes de um mesmo idioma, e as diferenças que lhes encontramos prendem-se aos séculos de imposição e de influência nefasta do idioma castelhano.
Nem tudo está perdido. Há uma nova geração orgulhosa do seu passado e das suas origens, consciente de que a Galiza deve olhar a sul. Porque a Galiza, que não tem a pujança económica e social de uma Catalunha, tem o que mais nenhuma região de Espanha tem: uma ligação fortíssima a outro Estado soberano, neste caso Portugal, que lhe pode seguir de guia e de exemplo. Há grupos galegos que defendem essa aproximação a Portugal, à língua portuguesa e à Lusofonia, através da CPLP. Em 2008, fundou-se a Academia Galega da Língua Portuguesa, que nos seus estatutos reconhece que o Português é o idioma da Galiza, e que foi recentemente aceite na CPLP como observador consultivo. Afinal, galego e português são dois nomes para um mesmo idioma. Divergências políticas levaram a nomenclaturas distintas. Como disse, a seu tempo, Carvalho Caeiro, «o galego, ou é galego-castelhano ou é galego-português».