26 de agosto de 2025

Os alfaiates da democracia.


   Em Lisboa, o Palácio Ratton não costura vestidos, mas corta leis. Com tesoura invisível e linha jurídica, os senhores da toga ajustam a bainha da República. E, tal como um alfaiate que decide que o cliente fica melhor sem mangas, podem devolver ao Parlamento uma lei cuidadosamente cosida… agora reduzida a trapos.

   Nos Estados Unidos, este ofício é velho. Lá, nove alfaiates supremos, vitalícios e bem pagos, reparam há muito tempo que a Constituição é um tecido elástico: estica quando convém, encolhe quando muda o vento. Um dia cabe um direito ao aborto; noutro, já não. É a magia da interpretação, essa arte discreta de mudar o mundo sem sujar as mãos de votos.

   Portugal sempre teve menos paciência para estas alfaiatarias. Mas o veto à lei dos estrangeiros mostrou que também por cá se faz alta-costura política. A maioria parlamentar quis alargar a roupa da cidadania; os juízes apertaram-na. Tecnicamente, a peça tinha defeito. Politicamente, foi um ajuste que alterou o modelo inteiro.

   Chamam a isto judicialização da política; quando a passadeira do poder passa pela sala de audiências. É um desfile peculiar: os deputados são modelos de ocasião, desfilam com as suas leis novas, e no fim os juízes decidem se o corte está dentro das tendências constitucionais.

   A democracia veste-se de preto e jura que é apenas guarda-roupa. Mas quando os alfaiates começam a ditar a moda, é caso para perguntar: quem manda, afinal? O povo que escolhe os tecidos ou os juízes que decidem se a saia é demasiado curta?


21 de agosto de 2025

Incêndios.


   Gira o disco e toca o mesmo, e não pensem que é só em Portugal. Em Espanha é igual. Este ano foi-me particularmente terrível, porque pela primeira vez soube o que é lidar com um incêndio. Vivo numa das províncias espanholas mais afectadas pelos terríveis incêndios deste ano. Tive-o aqui, atrás de casa, muito perto, a ameaçar o que temos. A nós e a outros vizinhos. Os montes circundantes estão calcinados. Foi uma tragédia. Na noite de domingo para segunda, ninguém dormiu. O meu marido fora, de mangueira na mão. Vizinhos a ajudá-lo. Outros que estavam nas suas próprias guerras. O fogo ameaçou todos. Aqui, em vários concelhos. Parecia um cenário apocalíptico. Eu saí em torno das 2h da madrugada. Não aguentava mais. Fui tentar dormir um pouco. O M. entrou em casa às 7h da manhã, cansadíssimo. O fogo estava controlado. Felizmente temos um vinhedo enorme atrás, e as vinhas não ardem com facilidade.






    Ficou o stress pós-traumático, além do fumo entranhado nos pulmões. As fotos que lhes deixo são elucidativas.

11 de agosto de 2025

Praias Fluviais.


   Eu adoro praia. Não é novidade. Dado que vivo longe  da costa, a solução passa pelas praias fluviais, ou de rio, que podem ser lindas. Para alguns talvez não sejam o mesmo que a praia de costa. Admito que sim. Assim mesmo, são praias, ajudam a refrescar; a água é doce, cristalina. A relva não suja. A areia sim. O verde substitui a imensidão do oceano. Foi assim o dia de ontem, numa praia fluvial a 70 km de onde moro. Chama-se Playa Fluvial de Vega de Espinareda, e é um pequeno paraíso no Bierzo (Castela e Leão).






2 de agosto de 2025

Guimarães.


  No fim-de-semana passado, aproveitando que o M. esteve dois dias de folga (milagre!), fomos a Guimarães. Nenhum dos dois conhecia a cidade-berço, sendo que eu tenho mais obrigação do que ele, que sou português.


Belíssimo castelo


  Ficámos alojados num hotel muito simpático no centro da cidade. Cidade linda, diga-se. Gostei muito. Bem cuidada, arranjada, com muito para ver, a nível de monumentos e assim, e além disso -acredito eu que por ser património da humanidade desde 2001- tem imensos turistas de todo o mundo, o que lhe confere uma atmosfera vibrante e animada.


O vibrante centro histórico 


 Percorremos os locais mais emblemáticos, designadamente o Castelo, o Paço dos Bragança, o casco histórico e várias das igrejinhas cheias de encanto. Sem dúvida alguma, Guimarães merece a pena. 


Dom Afonso Henriques, 1° Rei de Portugal 


   Agora exploro o norte, por fim. Estou mais perto do Minho e de Trás-os-Montes do que estava quando vivia em Lisboa, portanto, é-me mais fácil aventurar-me naquelas paragens.