8 de dezembro de 2017

Jerusalém.


   Desde a constituição do Estado de Israel, em 1947, que a ONU estabeleceu, em resolução, que o mandato britânico para a Palestina daria lugar a dois estados: um judeu e um árabe, com Jerusalém, que hoje está no centro da discórdia, como de resto tem estado, que ficaria sob a alçada directamente da comunidade internacional, ou seja, não seria nem israelita, nem palestiniana. Jerusalém tem sido reivindicada, desde então, quer por palestinianos, quer por israelitas. Para Israel, Jerusalém é a sua capital. Por lá mantém os seus órgãos governamentais e políticos. Para a comunidade internacional, todavia, falta cumprir o disposto quanto à cidade e ao próprio estado da Palestina, que não vê a luz do dia.

    O reconhecimento dos EUA é simbólico, e constava no programa de Donald Trump. Há muito que Israel queria que as suas pretensões fossem reconhecidas. Os americanos têm sido sólidos aliados do Estado israelita. A influência da comunidade judaica nos EUA é por todos conhecida, e que não se duvide dos planos de Trump para a reeleição. As campanhas presidenciais envolvem gastos astronómicos, e têm de ser financiadas. Junte-se o clima de suspeição, justo, face ao mundo islâmico e encontraremos os motivos que levaram o presidente dos EUA a decidir-se por esse passo, seguramente ponderadíssimo, mas que vem aumentar a desconfiança numa zona do globo altamente instável. Há quem queira avançar para uma intifada. Os confrontos sucedem-se.

    A minha postura, na qual sou acompanhado também pelo Governo e pelo Presidente da República, é de profunda apreensão. Só alguém muito insensato, conhecendo-se todo o processo histórico e religioso no Médio Oriente, tomaria uma medida que já se sabia que despoletaria reacções hostis no mundo muçulmano. E eu sou um tradicional sionista, amigo de Israel. Não sou, entretanto, indiferente ao processo de paz necessário para o conflito israelo-árabe, que assim queda definitivamente enterrado. Jerusalém é a terceira cidade santa para os islâmicos, cidade santa para cristãos também, pela vida de Jesus que se cruza com a cidade, após o seu nascimento e na morte. Não é uma cidade apenas judaica. Deve, como consta desde o início pelas Nações Unidas, ser património de toda a humanidade. Reconhecê-la como capital de Israel é negar o seu carácter sagrado para as duas maiores religiões monoteístas do mundo, o Cristianismo e o Islamismo. Nego, inclusive, que se partilhe a cidade entre judeus e árabes. Enquanto cristão, Jerusalém é uma cidade que se reveste de especial simbolismo para a minha fé. Reitero o que defendi acima e que é o compromisso firmado pela ONU: Jerusalém seria uma cidade desmilitarizada, com um status político muito particular, à semelhança do que teria Bruxelas caso a Bélgica, um dia, se desfragmentasse, anseio de grupos rivais de língua francesa e flamenga, que integrariam as respectivas regiões na França e nos Países Baixos. Bruxelas seria administrada pela UE directamente, como uma cidade da organização internacional.

    E os EUA, que se crêem os polícias do mundo, devem parar de se investir nesse papel de juízes da humanidade. Há questões que lhes fogem à sensibilidade, e que homens como Trump não têm capacidade de discernir.

8 comentários:

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    1. Sim. (risos)

      Rio-me das expressões brasileiras, hehe. "Tenso" :D

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  2. Acredito que Donald Trump se tenha aliado a Israel e provocando todo o Mundo Árabe, após Putin ter abraçado o Líder Bashar al-Assad
    https://www.dn.pt/mundo/interior/presidente-russo-encontrou-se-com-homologo-sirio-em-sochi-8931911.html
    Para reconstrução da Síria com a Turquia (maior Aliado árabe da Nato)e com o Irão...

    Os Líderes muçulmanos estão preocupados nomeadamente a Arábia Saudita que é Sunita com o crescente XIItismo (digamos assim)

    Vamos ver os próximos episódios... Tudo tem um proprósito e estas decisões tem muito pano para mangas a meu ver do que apenas irritar muçulmanos

    Grande abraço amigo

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    1. Os EUA sempre, mas sempre, apoiaram Israel, e a medida, como disse, constava no programa de Trump.

      um abraço, amigo.

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  3. Trump pode ter pensado exactamente como disseste no post. Porém, esta equação política não será tão fácil de resolver na prática. Para além da escalada de terror que sempre existiu naquela zona do globo e que esta medida simbólica de Trump só vai piorar, Trump compra mais inimigos que certamente vão causar danos a pessoas inocentes no país que ele [des]governa e além fronteiras.

    Neste momento, o meu maior receio são as alianças contra os Estados Unidos da América que possam vir a emergir no futuro. Mesmo que Trump tenha pensado muito no assunto, desta vez ele colocou o pé bem fundo na poça... E o pior é o que poderá surgir como consequência para o resto do Mundo.

    Abreijos :)

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    1. Ele gosta de ser polémico. E, como sabemos, os norte-americanos são exímios a fomentar conflitos. Precisam de guerras para experimentar o arsenal. E a indústria da guerra, como fica? E os milhões que gastam em defesa?

      um abraço, amigo, e até de hoje a oito. :)

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  4. O Trump pode não ter discernimento mas o Bill Clinton, o Bush e o Obama não lhe ficam atrás. https://www.youtube.com/watch?v=GLfK6Ib6cXI

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    1. É como eu digo: a política externa dos EUA pouco muda. Há interesses enormes.

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