24 de junho de 2017

O patamar.


   Na semana passada, para ser rigoroso no sábado, uns amigos convidaram-me para marchar pela cidade. Uma marcha de orgulho lgbt. Não, não marchei. Entretanto, dei com o final do evento na Ribeira das Naus, junto ao Tejo. Ouvi uns discursos e umas palavras de ordem, vi muita bandeira ondulando, balões multicores. Dezenas de jovens em pé e sentados na relva, confraternizando.

    O activismo por causas nunca despertou em mim o interesse, nem pela afamada causa lgbt. Falar de sexualidade não é tabu, nunca o foi, mas faz parte da minha e da intimidade de cada um, pelo que sempre procurei manter certo recato quanto a esse assunto. No que diz respeito às marchas e às manifestações, estive numa em frente à embaixada da Rússia. Creio que aí há o que fazer. Temos pessoas em campos de trabalhos forçados, tidas como criminosas quando o único delito foi o de amar um ser do mesmo género. É absurdo, transtorna qualquer um. Associei-me por um imperativo de consciência. Já as marchas, não fazem sentido num país cujo ordenamento jurídico prevê leis iguais para hétero e homossexuais, proibindo toda a discriminação em função da orientação sexual. Os transexuais também podem sujeitar-se à operação de redesignação sexual e usufruem de protecção legal. Nessa matéria, estamos evoluidíssimos. Figuramos entre os mais avançados da Europa. As marchas, se tanto aqui, perderam o fulgor. E não se lida com o preconceito assim, no meu entender, mas educando as pessoas. Tão-pouco peço para que se escondam, é evidente, até porque a visibilidade da dita comunidade lgbt é manifesta. Há pessoas lgbt na televisão, na rádio, na imprensa escrita. Não se vêem na política e no desporto, é verdade.

    Amanhã será o dia do arraial. Estarei presente, à partida. Passei por um há uns anos. Estive pouco tempo. Não custa ir e ver. Da mesma forma como não ligo a activismos, não os diabolizo. Encaro como mais uma noite quente de Verão, agradável, num ambiente descontraído, sem imposições ou horas de entrada e saída. Se não gostar, venho para casa, naturalmente. O conhecimento só enriquece.


     Posto isto, eu faria tudo diferente. A opinião é livre e responsável: a sexualidade não deve ser uma bandeira, seja ela qual for, e nem deve ser motivo de orgulho ou de vergonha. Não devemos dar tanta importância àquilo que os outros pensam que fazemos na cama. Já passámos esse patamar de afirmação. A sociedade está cansada de saber que há homossexuais, transexuais (e perdoem-me os mais ais que há, que são muitos; não os conheço a todos). Não será promovendo marchas que lutaremos devidamente contra os obstáculos que se erguem diariamente a quem é homossexual e transexual, quer seja no local de trabalho, na escola ou na família.

      Na lei, tudo está feito. Como referi acima, precisamos educar as pessoas para a diferença na igualdade, para a imperiosa necessidade de respeitar para colher o respeito. Esse trabalho faz-se desde tenra idade. A alguém formatado, e embora acredite que as pessoas possam mudar, o processo será mais difícil, mas igual. Educar, educar e educar. Leva o seu tempo. Portugal avançou substancialmente. Se compararmos à realidade do Estado Novo e mesmo à das duas primeiras décadas após Abril, facilmente verificamos o salto qualitativo.

       Não me alongo mais. Um bom São João, sendo caso disso.

10 comentários:

  1. Concordo inteiramente com você meu caro Mark. Não sou ligado a ativismos sejam eles quais forem. Sem dúvida estamos em outro patamar. Hoje por aqui também vou celebrar o São João lá no Arraial de Santa Tereza. A festa promete, embora esteja com uma virose brava que me causou uma sinusite brava. Mas vamos assim mesmo.

    Beijão

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    1. Gostei do dito arraial. Foi muito divertido. Fiz bem em ter ido. Assim posso falar com propriedade. :)

      Espero que se tenha divertido, meu amigo, e que esteja melhor da virose.

      um abração.

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  2. Andas muito saído e em boa companhia :)

    Abraço amigo

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    1. É bom descontrair. Senti algumas pessoas muito tensas. :)

      um abraço, amigo.

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    2. Achei toda a gente muito contente e relaxada! E que multidão!!

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    3. Eu falo entre as pessoas com quem fui. :)

      Sim, muita gente. Gostei imenso.

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  3. Algumas pessoas tensas ? Quem foram Mark ? ;)

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  4. Só marchei no ano passado, com o meu namorado, porque foi mesmo a seguir ao evento de Orlando. Estava muita gente. E foi muito bonito. As pessoas nos prédios à janela, nos passeios, aplaudiam a passagem da marcha e pessoas de várias idades. Senti uma comunhão bastante grande. Este ano estava fora de Portugal.

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    1. Eu nunca marchei. Fui à manifestação em frente à embaixada da Rússia.

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