26 de janeiro de 2024

Activos vs. Passivos.


   É mesmo verdade. Vou abordar isto. Talvez não haja muito que dizer, porém, sou gay, nunca falei disto no blogue, o que não invalida que seja um dos temas mais discutidos entre a comunidade homossexual. Basta acompanhar-se os youtubers gays, ler blogues gays, falar com gays. É um tópico que vem sempre à tona. Activo ou passivo? Top or bottom? Nas aplicações de engate então -que eu, como quase todos os gays da minha geração, utilizei em solteiro- é quase pergunta obrigatória. Às vezes até antes do nome (risos).

   Eu sou activo. Não importa nem ninguém mo perguntou. Quis dizê-lo porque, já que toco no ponto, começo por mim. Se calhar pareço passivo, porque sou mais para o delicado (outro preconceito entre os gays; aliás, a comunidade gay é profícua em preconceitos). Nunca fui passivo. Como diz um amigo meu, que agora é amiga (descobriu que era trans), não tenho fome no cu. Perdoem-me a brejeirada. Não experimentei. Sou capaz de passar a adorar quando experimentar, e nunca o fiz por medo da dor. Sou muito sensível à dor. Basicamente é por medo. Em todo o caso, a minha vida sexual é satisfatória, estamos felizes os dois, eu e o meu marido, por isso não é problema que represente.

    Creio que a comunidade gay se preocupa demasiado com esta velha questão. O sexo é importante, a compatibilidade na cama (ou em cima da máquina de lavar, tanto faz) é importante, contudo, acho que o amor é-o ainda mais. Há quem veja o sexo primeiro, o amor depois (já o dizia a Rita Lee naquele seu sucesso, Amor e Sexo). Eu não o vejo assim. Acredito que, com o amor, encontramos forma de compatibilizar o resto. E depois há quem goste de sexo por sexo, sem amor, o que também está bem. Cada um sabe de si. 

    E acredito ainda que é possível que dois passivos e dois activos, amando-se, consigam arranjar uma forma para que ambos se sintam satisfeitos. O sexo é muito, mas muito mais do que a penetração. Vou mais longe: a penetração é um detalhe. Evidentemente que pensamos no sexo anal quando se fala em passivos vs. activos, embora a questão se coloque também nas demais práticas sexuais. Há muitas formas de se chegar a um bom orgasmo. A dois. Ou até sozinho.

4 comentários:

  1. De facto, também concordo, os homens mais delicados e meigos tendem a ser mais ou só activos, enquanto que os ditos machões é tudo passivo

    Desde que ambos estejam de acordo dentro de uma relação, todos os cenários são possíveis :)

    Abraço amigo

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    1. Eu acho que tudo é possível havendo vontade, boa vontade.

      Um abraço,
      Mark

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  2. Ó Diabo, não contava com esta questão.
    Mas se a apresenta, porque não referir algumas linhas, visto que, sendo homossexual (ou gay, como soe dizer-se, pois parece mais ligeiro e atraente), a questão se me colocou muitas vezes.
    Iniciei a minha vida sexual em plena época da SIDA, pelo que relações com penetração anal só muito mais tarde, quando se soube melhor das formas de contágio, e, mesmo assim, com os máximos cuidados, e, depois de uma primeira relação que durou cerca de um ano, estive anos sem ter qualquer contacto sexual. Há muitas outras formas de satisfação sexual, e utilizei-as todas.
    Depois, quando tive a minha única relação mais duradoura, e que estive de corpo e alma nela, o sexo com penetração era sempre protegido, e creio que o que me interessava mais era satisfazer (e satisfazer-me igualmente, claro) o meu companheiro, e como ele era versátil, como é habitual ler-se e ouvir-se, eu tive as duas situações, e das duas tive imenso prazer. Sentir-me a dar prazer a uma pessoa de quem gosto não há melhor!!!!
    Quando, muitos anos depois fiquei só - e assim me mantive até ao presente - (excetuando algumas relações de pequena duração, dois ou três anos cada), houve sempre situações de sexo puro e duro e outras em que havia uma entrega mútua.
    Por qualquer razão (bem, na verdade sei bem porquê, mas não o irei abordar aqui) passei a assumir a posição de ativo 90% das vezes, e até hoje tem sido essa a situação. Mais porque o exigiram de mim, do que por por outra qualquer situação - visto que tenho prazer em qualquer situação.
    No momento presente raras vezes (mas mesmo muitas raras vezes) deixo de assumir a posição de ativo. Creio que, como em tudo na vida, aprendi a tirar grande prazer da posição.
    O assunto é algo estranho, para o abordar aqui, mas como não faço segredo da minha vida íntima com todas as pessoas que me conhecem bem e fazem o favor de ser minhas amigas, também não estou a cometer qualquer inconfidência. Aliás, poderia abordar a situação perante os meus íntimos, mesmo familiares
    Cumprimentos
    Manel

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    1. Manel,

      Obrigado pela partilha.

      Sobreviver àqueles terríveis anos do início da pandemia de HIV/SIDA, que ainda hoje se mantém com elevadas taxas de mortalidade nos países subdesenvolvidos, não era fácil. Muitos foram apanhados de surpresa e deixaram-se contagiar. O início da infecção coincidiu com a libertação sexual dos homossexuais. O sexo era visto como uma expressão dessa libertação, e era praticado, na maior parte das vezes, sem protecção.

      Pensei em se deveria escrever este post. Ontem, umas horas depois de o publicar, cheguei a arrepender-me. O sexo ainda não me é um tema fácil. Preciso derrubar os tabus e aprender a falar do sexo de forma mais normal. Este post foi uma tentativa, talvez o início de algo. Para mim, e não me pergunte o motivo (porque, que eu saiba, nunca fui violentado sexualmente), o sexo era visto como algo… “sujo” (e tão-pouco o vejo assim por motivos religiosos ou por preconceitos familiares). Queria falar do tema de forma mais espontânea e aberta, porém, sem cair na vulgaridade. Acho que o consegui neste post. Procurei não ser vulgar em cada palavra.

      Cumprimentos,
      Mark

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