15 de maio de 2024

José Castelo Branco.


   Simpatize-se ou não, este senhor conseguiu pôr o país todo, mesmo todo -incluindo jornalistas de renome-, a falar dele durante dias a fio. Eu, por José Castelo Branco, não sinto nada. É verdade que algumas das suas bichices me dão vontade de rir, o que se verificava sobretudo há uns vinte anos, quando ele se tornou mediático. Portugal era mais cinzento, e Castelo Branco surgiu assim como uma personagem irreverente e profundamente diferente. Deu o corpo às balas, é certo, porque hoje já vai sendo comum ver homens maquilhados e vestidos com roupa feminina. Usar-se estes termos, como “roupa feminina”, é controverso. Eu acho que não há roupas femininas nem masculinas. Somos nós quem lhes colocamos rótulos. Refiro-o assim para me fazer entender.

   Entretanto, havia um aspecto que era quase consensual em Castelo Branco: a atenção que dedicava à sua esposa, a joalheira Betty Grafstein, inglesa radicada nos Estados Unidos que herdou um império do segundo marido. Independentemente dos motivos de Castelo Branco (com uns a dizer que se casara por interesse), a senhora aparecia sempre bem cuidada, estimada, ele parecia levantar-lhe a moral, e a mim parecia-me bem. Estas pessoas, a partir de uma certa idade, devem ser estimuladas, caso contrário acabam numa cama, prostradas, e parar é morrer. As acusações de violência doméstica vêm trocar-nos as voltas.

    Eu não sei se Castelo Branco é culpado ou inocente. Ninguém sabe, excepto ele e a alegada vítima ou quem terá presenciado as cenas de violência. Compete à justiça apurar a verdade. O que sei é que esta personagem granjeou muitos inimigos ao longo dos anos, pela sua personalidade e excentricidade. As opiniões sobre ele e a sua relação pública com Betty Grafstein são díspares. Há, evidentemente, um aproveitamento por parte de algumas pessoas que aparecem agora, vindas do nada. Há contradições, há aspectos que parecem não coincidir e há muita suspeição. Quanto a mim, até que se prove o contrário, prefiro manter uma postura cautelosa e acreditar na inocência de Castelo Branco.

6 de maio de 2024

Os 50 anos do 25 de Abril.


   Houve anos nos quais escrevi, aqui no blogue, sobre a Revolução. A determinado momento, não há nada mais para dizer. A história é conhecida, os intervenientes também. Todos os anos é a mesma ladainha. A Revolução de Abril de 1974 foi imprescindível para Portugal. Eu não o vivi, tal não me seria possível, mas conheço o retrato do Portugal da época: super atrasado, miserável, com uma taxa de analfabetismo a rondar os 30%, uma guerra colonial terrível. Demos um pulo, em liberdade e em modernidade. A Revolução foi um êxito. Ponto final. Os factos são factos. Entretanto, há muito a fazer, muitíssimo, que já deveria ter sido feito, e nem tudo o que fizemos, que foi muito, justifica o que não foi feito e deveria ter sido. Portugal continua na cauda da Europa Ocidental, e começa a ser ultrapassado pelos países de leste. Fomos num ascendente até finais dos anos 90, sempre a crescer, e depois estagnámos. É verdade que nem tudo depende da nossa vontade e competência -somos pequenos, periféricos, pobres em matérias-primas-, mas tem havido um autêntico descaso da classe política com o país. Eles são incompetentes e, como se não fosse suficiente, corruptos. 

    Eu, ao contrário de muitos, não acho que o 25 de Abril continue por cumprir. Acho que se cumpriu, e cumpriu bem o seu propósito: terminar com a guerra colonial, restituir as várias liberdades e desenvolver, este último no sentido de correr atrás do prejuízo. O resto é um imperativo lógico: adequar o país ao contexto em que se insere, uma Europa moderna, justa, solidária e desenvolvida, e aí continuamos a falhar. 

4 de maio de 2024

XVI Aniversário.


   O aniversário do blogue foi ontem, no dia 3 de Maio, não obstante, com a azáfama em torno da nova casa, das mudanças, das obras pontuais, passou-se-me assinalá-lo. Todos os dias 3 de Maio, nos últimos dezasseis anos, tenho escrito sobre o aniversário do blogue. O que poderei acrescentar este ano que ainda não tenha sido dito? Dezasseis anos de um blogue. É obra! Surgiu quando a blogosfera estava no auge; sobreviveu ao advento do Facebook, do Twitter; às minhas desgraças pessoais (às mais terríveis), ao desgaste do tempo, ao esquecimento, a tudo. E aqui está ele e aqui estou eu, mais presente, mais omisso, conforme as exigências da vida, mas continuo. Continuo e continuarei, porque, como disse uma vez, adoro escrever. Necessito escrever. É um exercício de catarse. Alivia-me. E isso não se esfuma com o tempo. É uma característica minha, que me irá acompanhar sempre. Portanto, é mais do que provável que o blogue continue, enquanto eu conseguir escrever.

     Um bem-haja a todos e obrigado pelos 16 anos de companhia.

3 de maio de 2024

Venda do apartamento.


    Depois das mudanças, colocámos o apartamento à venda. Ali não fui feliz. Contei-no por aqui, e custa-me fazer propaganda a algo que não gosto. Mais, custa-me mentir. Como poderei escrever coisas nos anúncios como “vende-se fantástico apartamento, soalheiro, luminoso, sossegado” se seria tudo uma enorme mentira? É… isto tem um nome: escrúpulos. Os meus não me deixam fazer propaganda desonesta. Em todo o caso, tenho de vendê-lo. Nem tanto pelo dinheiro, que não necessito, senão porque, uma vez que não fui feliz ali, não é algo que queira manter como meu. Haveria a opção de arrendá-lo, contudo, sendo um tema que creio já ter abordado no blogue, em Espanha há um fenómeno social muito comum chamado okupas - que só agora começa a ter dimensão social em Portugal, timidamente-. Arrendar um apartamento é um risco: ao risco habitual de que nos estraguem tudo, ao não lhes pertencer, acresce o de deixarem de pagar a renda, e depois é um cabo dos trabalhos para os despejar. Se têm filhos pequenos então…

    Entretanto, hoje mostrei, pela primeira vez, o apartamento a um casal de hipotéticos compradores. Não lhes vi muito interesse. Eu tão-pouco consegui dissimular a minha falta de encanto com o apartamento, e tentei, tentei. Provavelmente sentiram o que eu senti desde o primeiro dia: que não seria feliz aqui, e não fui. O motivo que nos levou a ficar com ele é conhecido, e se não é, conto-o agora: o meu marido começava a trabalhar numa sexta-feira aqui, ninguém nos quis arrendar um apartamento devido ao facto de termos um cão, logo, não nos restou outro remédio que comprar um apartamento à pressa, sem poder escolher devidamente. Não foi a compra de uma vida, isto é, não foi excessivamente caro, mas convém, como dizem os espanhóis, quitármelo de encima.