30 de janeiro de 2024
A Inversão Sexual.
6 de janeiro de 2024
A Mulher que Há em Mim.
23 de outubro de 2023
Já então a raposa era o caçador.
9 de setembro de 2023
Por Quem os Sinos Dobram.
2 de julho de 2023
Dia Mundial das Bibliotecas (01/07).
3 de junho de 2023
A Peste.
27 de abril de 2023
1984.
16 de fevereiro de 2023
Crime e Castigo.
4 de agosto de 2022
Deus e a Fé
30 de maio de 2022
O deus das pequenas coisas.
16 de fevereiro de 2022
O Mar, O Mar.
26 de novembro de 2021
O Código Da Vinci.
Com vinte anos de atraso, é certo, mas ontem terminei O Código Da Vinci, a obra mais célebre de Dan Brown, que começara há umas semanas. Recordo-me de, ali por meados de 2003, o livro surgir todas as semanas no topo das tabelas portuguesas, e não só, dos livros mais vendidos. Sem tirar o mérito ao autor, o que fez de O Código Da Vinci um best-seller foi sobretudo a polémica que gerou. Tudo o que envolva o religioso vende. No livro, Dan Brown pega em teorias alternativas em torno da existência de Jesus Cristo e cria um enredo com elas. Neste caso, o mistério do Santo Graal e da hipotética relação sentimental de Jesus com Maria Madalena. Um escândalo.
Em rigor, pouco sabemos do Jesus histórico. O que sabemos, além do que vem nos evangelhos, são pequenos escritos de autores que não foram contemporâneos de Jesus. Há historiadores romanos das décadas e dos séculos seguintes que se referem ao proclamado Rei dos Judeus. Os historiadores actuais baseiam-se nessas fontes romanas de autores não-cristãos para afirmar que Jesus existiu realmente, e tudo parece indicar que sim. Tendo existido, e vamos presumir que sim, é quase certo que foi uma figura bastante diferente daquela que nos relata a Igreja (católica e não só). Um pregador, um homem que anunciava um novo reino, mas provavelmente que se casou e teve filhos. Se investigarmos acerca da sociedade judaica do tempo de Jesus, verificamos que o casamento era praticamente uma imposição social, e que os que não se casavam eram proscritos.
Um Jesus sujeito aos vícios e pecados humanos colidia com a imagem que a Igreja Católica (agora sim) foi criando da pessoa de Jesus: o Deus Filho que, entretanto, se fez carne para nos salvar. Não é necessário que Dan Brown o diga; intuímos que muito sobre o Jesus histórico se eliminou deliberadamente nos primeiros séculos do cristianismo primitivo. Quem foi realmente, é difícil precisar. O que podemos, sim, é conhecer o contexto em que viveu, e daí obter um padrão de condutas.
A narrativa tem interesse enquanto policial. No argumento central, exigia-se mais profundidade. A sequência que Dan Brown criou é lógica, todavia, eu senti alguma superficialidade num tema tão complexo e vasto. Também funcionará como atractivo a explorar a cidade de Paris, sobretudo (e Londres). Quem não foi ao Louvre, ficará com vontade de visitar o museu mais famoso do mundo.
Li-o em castelhano, a título de curiosidade.
12 de maio de 2021
As Vinhas da Ira.
Terminei de ler neste exacto momento as mais de quatrocentas páginas de um dos aclamados romances do século XX, e parece que levei um murro no estômago. As Vinhas da Ira é o mais duro retrato da exploração do homem pelo homem que li, aquela que cava miséria tal que nos trespassa a alma, inimaginável. Desde logo, apresenta-nos uns EUA diferentes daqueles a que estamos acostumados, mergulhados na Grande Depressão que forçou ao êxodo de milhões para a Califórnia, sujeitando-se a condições de subsistência indignas.
O autor foi acusado de colaborar com os socialistas, os vermelhos, como no livro se lhes chama. Eu não vejo a apologia do socialismo, senão um retrato vívido da desigualdade social gerada por um capitalismo que devasta tudo quanto toca, do pequeno proprietário ao assalariado rural. Oitenta anos depois, continuamos a discutir o tema que Steinbeck considerou pertinente em 1939. Naquele tempo, a URSS era relativamente recente, Mao ainda não havia tomado o poder em Pequim. O sonho de um socialismo utópico pairava. Como idealizado, assenta numa ideia de igualdade e distribuição da riqueza e da terra que nos parece justa. Este modelo, o que temos, de economia de mercado, falhou, como falhou, no início dos 90, o regime soviético. As terceiras vias, encarnadas por regimes como os de Oliveira Salazar, mostraram-se igualmente incapazes de cumprir com o arquétipo cada vez mais inatingível de igualdade que, sim, é imperiosa e desejada. Não encaro a desigualdade como uma condição inevitável de haver dois homens com características e capacidades diferentes, porquanto sabemos que as oportunidades não são iguais para todos, que muito há a fazer para se cumprir com aquilo com que os Estados da Europa Ocidental, nomeadamente, se comprometeram. Nos EUA, tudo muda de figura. Por lá, a noção de Estado social é encarada com profunda desconfiança.
A meritocracia é uma falácia. Sabemos, hoje, que crianças nascidas em meios pobres se ficam aquém nos estudos comparativamente àquelas que nascem em meios favorecidos, ou seja, já se nasce inquinado, quase fadado a determinada sorte, salvo em raras excepções, que contudo não contrariam a regra.
Provavelmente, as Vinhas da Ira é aquela obra a que não se deve chegar aos trinta anos sem ler. Redimi-me. Parece-me mais que aconselhada: obrigatória.
23 de abril de 2021
Día de la Lengua Española en las Naciones Unidas y Día Internacional del Libro.
Hoy se señala el día de la lengua española o castellana en el seno de las Naciones Unidas y, simultáneamente, el día internacional del libro. La lengua castellana, terminología que yo prefiero, es la segunda lengua materna más hablada en el mundo, sobre todo en el continente americano, además lengua oficial de varios organismos internacionales, entre los cuales está la ONU. Son más de 400.000.000 los que la hablan. Su importancia no ha dejado de crescer. Progresivamente, se incrementa como lengua de los negocios y del turismo. Se estima que en los EE.UU será el idioma principal a mediados de este siglo.
Paralelamente, este día se complementa con el día internacional del libro. He leído más desde que estoy en España, probablemente por el exceso de ocio. Leer es más que cultura; leer nos transporta a una otra realidad. Nos hace vivir situaciones y conocer lugares recorriendo solamente a nuestra imaginación.
Para ambas ocasiones, escogí un poema de una antigua compilación que mi marido me regaló hace poco tiempo (Las Mil Mejores Poesías de la Lengua Castellana, de Juan Bergua). Es un poema del siglo XVI, de Baltasar de Alcázar, y se llama Los Ojos de Ana.
“Que bellos ojos tienes, Ana, / mas, ¿por qué a mi parecer se inclina el mundo a tener por más bellos los de Juana? Haz que te preste los tuyos, / y álzate después con ellos, / que nos es bien que ojos tan bellos / se diga que no son tuyos”.
22 de abril de 2021
O Botequim da Liberdade.
Há umas semanas, terminei de ler O Botequim da Liberdade, um livro de Fernando Dacosta sobre o famoso bar lisboeta que Natália Correia ergueu, local de peregrinação de muitos vultos da política e dos meios intelectuais e literários que por ali se juntavam para recitar poesia, bradar contra o regime, exaltar os ânimos, provocar os demais presentes. Por lá se organizavam tertúlias, saraus, sempre tendo Natália como anfitriã e figura central. Senhora de forte personalidade, contundente nas opiniões, assertiva nas premonições, lúcida nas análises que fazia a Portugal e ao mundo, Natália Correia era irascível, autoritária e arrogante quando queria, granjeando inimizades, ainda que também soubesse encetar boas e longevas relações de amizade. Algo, todavia, parece certo: vínculos com quem lhe poderia ofuscar o brilho estavam afastados.
Na obra, Dacosta pretendeu dar a conhecer ao grande público quem foi, de facto, Natália Correia, contando, ao longo de vários capítulos, aventuras, episódios e peripécias que terá vivenciado ou de que terá tido conhecimento, sempre envolvendo a polémica escritora, deputada, poeta (e não poetisa, termo que, à semelhança de Sophia de Mello Breyner, rejeitava - e as semelhanças entre as duas ficam-se por aqui). Natália Correia foi profundamente livre, e a liberdade acarreta a solidão, não raras vezes, que quem se dá ao luxo de ser livre e não ceder à hipocrisia social arrisca-se a terminar só. Natália Correia não terminou só, tinha amigos, muitos, pessoas que sabiam lidar com o seu forte génio; uma figura magnética, tão encantadora como repulsiva, suscitando reacções de extremo.
Identifico-me largamente com Natália Correia, salvas as devidas distâncias. Longe de mim querer equiparar-me a uma das mais destacadas figuras femininas do século XX português, e convém frisar-se bem o feminina porque Natália foi, antes de mais, uma femininista, e não feminista (termo que também recusava), acima de qualquer dúvida, defensora da igualdade entre os sexos. Identifico-me com Natália na liberdade, no inconformismo, na transparência. Liberdade de ser, pensar, agir. Liberdade crítica, criativa.
Natália Correia abandonou-nos em 1993. Portugal não teve muitas mulheres que se tenham elevado da penumbra e dos entraves que os homens constantemente colocam ao Outro. De entre elas, Natália Correia é a que melhor recordamos.
8 de abril de 2021
O Segundo Sexo.
Terminei O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir, aquele que dizem ser o grande clássico do feminismo. É uma edição de 1976, do Círculo de Leitores, e eu tenho uma predilecção por edições antigas. Parece-me que tudo o que é feito à moda antiga tem mais qualidade.
Beauvoir traça um retrato duro, sem grandes floreados, daquele que tem sido o papel atribuído à mulher desde que a humanidade existe. A autora identifica-a como o Outro. Os homens vêem-se como iguais, e depois têm o outro, que ora subjugam, ora divinizam, ora demonizam, mas sempre sob a premissa de que este mundo lhes pertence. Ainda que a mulher possa ser a sereia encantada, a ninfa, a feiticeira, quando a elevam ao divino ou a rebaixam às trevas pretendem justificar o seu alheamento dos negócios deste mundo.
Sem esquecer as suas convicções ideológicas, Beauvoir acredita que a exploração da mulher surgiu com a propriedade e com a escravização do homem pelo homem. Foi exactamente a transmissão que se faz da propriedade, de pai para filho, que levou ao desaparecimento do direito materno. A mulher, como membro da espécie humana, congratulava-se com as vitórias do homem, que também eram suas. Cada superação da espécie humana, cada avanço técnico, científico, através do homem, era seu, e o facto de nunca ter contraposto interesses aos do homem levou a que, gradualmente, lhe ficasse subjugada.
Há algumas menções, poucas, ao religioso, mas é evidente que a tentação de Eva que levou à queda do homem, segundo as religiões abraâmicas, ajudou ao estigma milenar em torno da mulher.
"O homem criou a mulher com uma costela do seu deus", disse Nietzsche, um dia.
Com efeito, a mulher apenas se libertará do jugo que a escraviza quando parar de se encarar também como o Outro que o homem a vê, quando deixar se existir para o homem, ao seu serviço e/ou para seu deleite. Quando, por fim, participar na liderança da ordem internacional, opondo a sua vontade, contrapondo os seus interesses, unindo-se com outras mulheres em razão do seu sexo, e não da sua classe social ou estatuto.
24 de março de 2021
Livros, livros e livros.
Numa vila pequenina, com o meu marido sempre no consultório médico, ler tem sido uma das minhas grandes companhias. Tenho comprado inúmeros livros, uns em castelhano, outros em português, e procedido, até, a fazer algumas colecções. No mês passado, adquiri duas colecções do Círculo de Leitores: Reis de Portugal, 34 volumes relativos aos monarcas que nos governaram por nove séculos, um por monarca, e Rainhas de Portugal, uma colecção composta por 18 volumes das rainhas consortes que acompanharam os nossos monarcas, mais 2 volumes (20, ao todo) dedicados aos únicos reis consortes que tivemos, Dom Pedro III e Dom Fernando II.
Faço todas as compras através da internet: pedindo-os de Portugal, ou daqui de Espanha.
A par das colecções mais históricas, chamemos-lhes assim, tenho comprado tomos de filosofia (Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Heiddegger) e outros tantos de simples prosa ou romance (Mário de Sá Carneiro, Miguel Torga, John Williams, Italo Calvino), ou ainda ciência política (Marx e Engels e Kissinger). Simultaneamente, a minha mãe tem-me enviado desde Lisboa alguns livros que deixei por lá na minha biblioteca pessoal e que me fazem falta aqui. De entre eles, uma edição de 1976 de O Segundo Sexo de Beauvoir e uma biografia do Marquês de Pombal por Veríssimo Serrão, que surge na foto de cima.
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A colecção dos Reis e das Rainhas de Portugal do Círculo |
Neste exacto momento, ando às voltas com O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir, que naquele que é o seu magnum opus literário nos traça um retrato crudelíssimo das origens da subordinação da mulher ao homem desde os primórdios da civilização aos nossos dias. Ficará para outro momento. Deixo-lhes algumas fotos dos livros que tenho adquirido.
6 de outubro de 2020
Memórias de Adriano.
Ontem à noite, terminei um livro que me fora dado há dez anos pela minha professora de língua portuguesa do secundário: Memórias de Adriano. Ofertar um livro a alguém que está prestes a entrar no ensino superior, para mais em Direito, é o mesmo que assumir que esse livro ficará numa prateleira à espera de um momento oportuno. O bom dos livros é que nunca passam de moda. Foi o que aconteceu com este clássico da literatura mundial da escritora belga Marguerite Yourcenar.
Memórias de Adriano consiste num desafio extraordinário de Yourcenar, procurando recuperar uma autobiografia perdida no tempo do imperador romano Adriano. É uma biografia ficcionada, não sabendo nós até que ponto Adriano nela se reveria caso a pudesse ler.
Adriano, aqui, relata-nos a sua vida na primeira pessoa. É o narrador. Não há diálogos. É a retrospectiva de um homem que se aproxima do final e que faz um balanço sobretudo dos quase vinte anos que reinou em Roma, desde o início conturbado, com uma adopção polémica e a eliminação de dissidentes políticos, criando-se-lhe dissabores insanáveis com o Senado. Melhor dizendo, pouco em Roma. Adriano foi o imperador que mais tempo despendeu viajando e instalando-se pelas várias províncias do Império. Interessou-se mais por assegurar o que os romanos haviam conseguido do que em expandir as fronteiras, ao contrário do seu antecessor e pai adoptivo, Trajano. Foi o imperador das artes e do mundo helénico. Nascido na Hispânia, venerava como nenhum outro a Grécia e a sua cultura. Tentou o mais possível recuperar o prestígio de Atenas, tornando-a a capital cultural do Império. Era um homem letrado, poeta. Na sua personalidade, oscilava entre uma capacidade de fazer o bem, de pôr cobro a medidas e velhas leis que lhe pareciam injustas, como, em assomos de raiva, de vazar o olho a um secretário. Vejo-o como liberto de preconceitos. Já sabemos que os romanos aceitavam quaisquer religiões que não pusessem em perigo a sua autoridade (tal aconteceu com o judaísmo, nomeadamente), mas Trajano procurou mesmo conhecer mais acerca da seita que então alastrava no Império, o cristianismo. Desdenhou-a, claro. Um espírito romano não teria como perceber as motivações de um deus dos fracos e dos escravos.
Yourcenar dedica grande parte da obra a relatar a aventura amorosa de Adriano com o efebo Antínoo, uma relação de pederastia tão comum na Antiguidade. A morte de Antínoo, o imberbe catamita, arrastou o imperador àquilo a que nós hoje designaríamos por depressão, provavelmente. Adriano consagrou-o aos deuses, estabeleceu o seu culto e mandou-lhe construir uma cidade, Antinoópolis.
Memórias de Adriano é de leitura indispensável em quem quer ter conhecimento do melhor que se escreveu lá fora, e é um dos melhores romances do século XX. Yourcenar recheou-o de inúmeras referências políticas, literárias e filosóficas da Antiguidade. Nesse sentido, é também uma belíssima fonte de informação sobre aquela época. Devo dizer que comecei a leitura desconfiado, mas determinado, e terminei-a com um sentimento de empatia pela figura de Adriano.
10 de setembro de 2020
Kafka à beira-mar.
Antes de viajar para Portugal de férias, dei por terminada a leitura de mais uma saga de Haruki Murakami, Kafka à beira-mar, que me ocupou por alguns dias. Este livro é o segundo do autor que leio, depois de, no ano passado, ter terminado O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo, que me vi necessariamente obrigado a conjugar com leituras jurídicas visto estar em época de exames. Este ano, não foi o caso.
Kafka à beira-mar, à semelhança da obra que lera de Murakami, aborda estórias entrecruzadas, no universo surrealista que envolve o emaranhado de relações que se estabelecem nos seus romances. Desta feita, temos um jovem de quinze anos que foge de casa, afligido por um complexo de Édipo mal-ultrapassado, e um velho que sabe falar com gatos antropomorfizados. O que os une, nunca chegamos a perceber, intuindo, em contrapartida, que as suas vidas se cruzam no deslindar de segredos e suspeitas. O velho, Nakata, é das mais enternecedoras personagens que encontrei em ficção, pela candura e ingenuidade. É provável que tenha vindo preencher uma lacuna que guardo em mim; quiçá o ternurento avô que nunca tive, ou, pelo contrário, porque não mais é possível encontrar-se alguém assim, tomando como certo de que ainda subsistem pessoas como Nakata. No que respeita ao rapaz, a mãe, que desaparecera, é objecto de afeição e desejo, a que se soma uma culpa que lhe é imputada pelo pai, um sujeito vil e odioso. Um fardo pesado num rapaz de tenra idade, que se abstrai em leituras e no culto de um corpo forte, capaz de resistir a todas as intempéries pessoais.
O que há, de resto, em todos é a solidão. Nos dois livros de Murakami que li, há uma solidão presente em cada personagem, nos seus momentos a sós e com terceiros. As existências conjugam-se, mas, no fim, o que resulta é a própria condição humana, o vaguear na incerteza e no infortúnio.
18 de fevereiro de 2020
Bookslover.
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