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11 de abril de 2016

O Papa Francisco.


    Após a resignação de Bento XVI, o Cardeal Joseph Ratzinger, o mundo católico vibrou com a possibilidade de o Colégio Cardinalício eleger um Sumo Pontífice africano, asiático ou até mesmo sul-americano. Efectivamente, a escolha recairia em Jorge Mario Bergoglio, cardeal argentino, um homem disposto a abrir a Igreja à realidade dos nossos tempos.

  O Papa Francisco, nome que adoptou após a eleição, demonstrou ser uma pessoa elevada na sua simplicidade, revestida de certa bonomia que a ninguém deixou indiferente. Eu diria que é o Papa mais consensual das últimas décadas, recolhendo uma aprovação generalizada entre crentes e não-crentes. Honrando a São Francisco de Assis, aquele de quem se diz ter sido um santo homem durante a sua vida, o Papa Francisco tornou-se o primeiro jesuíta a alcançar o topo da hierarquia da Igreja Católica. O seu sorriso e a leveza do seu semblante frequentemente me reportam ao não menos carismático Papa João XXIII.

    O seu carácter trouxe consigo um capital de esperanças, que não vêm sendo defraudadas. Falamos de alguém que conhece a realidade da Igreja Católica fora dos muros do Vaticano; que tem presente a sua erosão junto dos jovens; que sabe que muitas das posições têm obrigatoriamente de ser revistas, por forma a se adequarem ao estado actual da humanidade. E Jorge Mario Bergoglio fá-lo sem prescindir dos valores basilares da Igreja Católica, como o respeito pela vida humana, desde a concepção, e a relevância do matrimónio e da família como estruturas fundamentais no são desenvolvimento da personalidade.

     Na exortação papal Amoris Laetitia, não encontramos verdadeiramente uma inovação, mas um reforço do que tem sido a linha do pontificado do Papa Francisco: respeito; tolerância (inclusive com a orientação sexual homossexual e com os divorciados); definição de prioridades; exaltação da família; integração; condenação da interrupção voluntária da gravidez, em coerência com os ensinamentos da Igreja quanto ao valor sagrado da vida humana, e valorização da componente sexual como um acrescento à união entre o casal, primordialmente.

    Definiria o pontificado do Papa Francisco como uma "evolução na continuidade", sem euforia excessiva. Não estaremos diante de um verdadeiro reformista, de um Bispo de Roma que promoverá mudanças estruturais no catecismo da Igreja; o Papa Francisco é, antes de mais, um homem que não teme o diálogo, inclinado aos concertos necessários para que ninguém se sinta excluído.


* Por deferência e por considerar o lógico e o correcto, o substantivo "Papa" surge escrito a maiúscula inicial, à semelhança do que sempre fiz com os demais cargos institucionais e com órgãos de soberania.

26 de março de 2016

Páscoa.


     A tradição cristã, mormente a católica, leva-nos, cá por casa, a comemorar a Páscoa. É a festividade religiosa preferida da mãe, que não gosta particularmente do Natal. Devo dizer que a Páscoa nunca assumiu significativo relevo para mim. Não goza do brilho do Natal, com todos aqueles enfeites, luzes e brilhos. Como passo bem sem amêndoas e nem sou fã de chocolate, a Páscoa resumia-se, e não era pouco, aos quinze dias de férias, que a faculdade fez questão de reduzir.

      Entretanto, fui percebendo o que a Páscoa implicava. Não que não o soubesse em pequeno, que o sabia, mas não determinava o seu alcance. É uma época de comunhão, como o é o Natal, revestindo-se de especial importância para os crentes. Jesus morreu para a redenção dos nossos pecados, permitindo-nos obter a vida eterna.

      É-me importante acreditar. Não somos um fruto do acaso, que nem o acaso seria inteligente. Haverá uma fonte primária. Bem sei que nos tempos actuais é moda criticar-se a religiosidade alheia, associando-a ao fanatismo. Como se crer na palavra de Jesus fosse antiquado, extemporâneo. Confundem os conceitos. Religião com Deus, com Jesus, assumindo que são uma mesma realidade - que não são. Eu diria que cada um tem o seu rito pessoal, a sua fé, manifestando-a ao seu jeito.

      A palavra de Jesus propagou-se pelo Império Romano pelo seu carácter inovador. Pela primeira vez, um homem teve a coragem de desafiar a autoridade do Imperador e do seu Cônsul, arguindo que o poder que detinham provinha do Altíssimo. Fez-nos a todos iguais, irmãos de sangue, com o dever de nos amarmos; de amar não só a quem nos ama, que nenhuma recompensa traria, mas amar aos nossos inimigos. Um profeta dos escravos, dos doentes, dos oprimidos, dos criminosos - Jesus prometeu o Paraíso ao bom impostor crucificado a seu lado. Que trouxe a salvação consigo. A esperança justificou a adesão, e em poucos séculos Roma estava rendida a Cristo.
        Não há maior pecado do que aquele que possa ser perdoado, assim confiemos na misericórdia infinita de Deus.

11 de fevereiro de 2016

A Guerra dos Trinta Anos.


   No Sacro Império Romano-Germânico, apesar da paz religiosa de 1555, subsistiam alguns conflitos religiosos. As vitórias militares da Contra-Reforma no Baixo Reno e na Baviera recrudesceram os temores do partido protestante; consequentemente, em 1608, alguns Estados reformistas congregaram-se na União Protestante, que, no ano seguinte, em 1609, se opôs à Liga Católica, sob o comando da Baviera, ambas aliadas a potências estrangeiras que lhes davam cobertura.

     A Guerra dos Trinta Anos despoletou devido ao clima de tensão entre  a nobreza protestante da Boémia e os Habsburgos, mais concretamente a eleição do arquiduque Fernando como rei da Boémia, carecendo do beneplácito  das ordens sociais desta entidade política; destruição de igrejas protestantes e generalizado menosprezo pelos direitos da nobreza local protestante. Todavia, em 1618 surgiu o pretexto para o início da guerra: a Defenestração de Praga, que afectou os conselheiros imperiais, seguida da escolha do príncipe eleitor, Frederico V do Palatinato, como rei da Boémia, originando repercussões em boa parte do império e do Reino da Dinamarca. Os exércitos católicos iam triunfando, sob o comando de João Taerclaes, o conde de Tilly, e posteriormente de Albert de Wallenstein, conde de Friedland, enquanto os opositores aos Habsburgos permaneciam à margem. A Espanha, por seu lado, reiniciou a ofensiva contra as Províncias Unidas.

      Em 1629, o protestantismo alemão foi todo ele subjugado, vendo-se a Dinamarca coagida a assinar a paz. Os intentos de Fernando II, imperador de 1619 a 1637, e do seu chefe militar, Wallenstein, rumavam, aparentemente, a bom porto. Nesse ano, o imperador submeteu os protestantes e fez exigir, através do Édito de Restituição, a devolução dos bens eclesiásticos confiscados a partir de 1552. A pressão que exerceu sobre os príncipes aumentou, e em tudo este cenário fazia lembrar o de Carlos V, no seguimento da sua vitória sobre a Liga de Esmalcalda. Porém, Fernando II viu-se obrigado a reconhecer que os príncipes alemães e as potências rivais não estavam dispostos a consentir tão impavidamente à hegemonia da Casa de Habsburgo. Os príncipes católicos, liderados por Maximiliano da Baviera, exortaram, pela força, à destituição de Wallenstein; e, em 1630, o rei Gustavo Adolfo da Suécia, com o suporte financeiro da França, desembarcou na Pomerânia. A campanha dos príncipes alemães suscitara-lhe o interesse, contudo os seus objectivos de soberania política, mormente na zona do mar Báltico, ameaçada por Wallenstein, em 1629, eram-lhe caros.

   A jornada vitoriosa da Suécia, através da Alemanha até à Baviera e às fronteiras dos domínios hereditários dos Habsburgo, foi entusiasticamente apoiada pela França, uma vez que o líder carismático da política francesa, o Cardeal Richelieu, antecipava, na situação, a oportunidade de romper por definitivo com a preeminência dos Habsburgos. Para o dignitário da Igreja Católica, o vínculo de uma religião comum por si só não bastava para lograr na união política; a razão de Estado tinha de se impor. Na sequência da morte de Gustavo Adolfo na Batalha de Lutzen, em 1632, e do assassinato de Wallenstein, dois anos depois, os protestantes assinaram a paz com o imperador. Ainda assim, a guerra prosseguiu por forma a estabelecer um equilíbrio e uma hegemonia em solo europeu. A França viu-se impelida a intervir, auxiliando a Suécia, após o seu desaire em Nördlingen. O Sacro Império tornou-se, assim, o maior campo de batalha da Europa, jogando-se o destino do continente pelos países em litígio.


      A Paz de Vestefália selou, por assim dizer, o conflito, triunfando a França e a Suécia. O Sacro Império saiu derrotado. A França distendeu o seu território desde a fronteira leste até ao Reno. Conseguiu incorporar, definitivamente, os bispados de Metz, Toul e Verdun e pequenas áreas da Alsácia, à custa do Império e de alguns domínios dos Habsburgo. A Suécia anexou a foz dos mais relevantes rios alemães, consolidando a sua posição na Pomerânia ocidental - a zona do Báltico. A Suiça e as Províncias Unidas desvincularam-se do Sacro Império, seguindo o seu caminho como entidades políticas, na lógica de equilíbrio que a paz de Vestefália trouxe à Europa. Por sua vez, alguns príncipes alemães, como, por exemplo, o de Brandeburgo e o da Baviera, alargaram os seus domínios, fazendo perder, assim, a solidez e a unidade do Império, pelo reforço dos regionalismos locais. Todos estes Estados alcançaram a plena soberania, podendo firmar alianças com potências estrangeiras. À partida, estava vedada a possibilidade de se estabelecer qualquer aliança que fosse contra o imperador ou os seus interesses; no entanto, a imposição foi ignorada pelos príncipes.

       O território austríaco não se ressentiu sobremodo da guerra, mas o enfraquecimento do Império teve como consequência a diminuição do poder do imperador, facto agravado pelas potências que saíram vitoriosas, França e Suécia, os garantes da Paz, que ganharam a possibilidade de ingerir nos assuntos internos do Império.

         No campo confessional, as cláusulas da paz religiosa de Augsburgo, de 1555, abrangeram também os calvinistas do Sacro Império. Foram reconhecidos os mesmos direitos a todos os cultos e, a partir de 1624, dever-se-ia tornar normativa a inserção de cada confissão num determinado espaço geográfico.

       A Guerra dos Trinta Anos atingiu, para a época, perdas significativas em homens e bens. Não obstante, o conflito, que resultou na Paz de Vestefália, traria, para o quadro das relações internacionais, o conceito de Estado-Nação.

6 de janeiro de 2016

A fuga dos hebreus no Êxodo.


   Recordo-me, em menino, de os pais me ofertarem um atlas das múmias. Era enorme, quase da minha altura. Dispunha-o ao longo da cama, sentando-me de lado. Com cuidado, folheava as páginas duras de cartão colorido. Ainda o tenho, guardado algures pela arrecadação da avó. Não fiquei apaixonado pelo Antigo Egipto, não tanto quanto pelas Idades Moderna e Contemporânea, mas curioso o suficiente para me interessar.

    Ramsés II foi um dos maiores faraós do Novo Império. Filho de Seti I, casou com a magnífica Nefertari. Ficou associado, indelevelmente, ao episódio bíblico do Êxodo, segundo o qual Deus - o Deus de Abrãao, de Isaac e de Jacob - prometeu a Moisés (príncipe do Egipto, colhido das águas do Nilo pela filha de Ramsés I, Bithia), no Monte Sinai, libertar o povo hebraico do jugo egípcio. O coração do Faraó mostrou-se endurecido pelo Senhor, que o sujeitou às famosas dez pragas, sendo que, à última, - a morte dos primogénitos - Ramsés, O Grande, viu-se obrigado a deixar partir Israel.

     Não há qualquer prova arqueológica que demonstre, sem equívocos, que Ramsés II foi, de facto, o homem que liderava os destinos do Egipto aquando da libertação dos hebreus. Todavia, ficou para a posterioridade, e muito para tal ajudou Hollywood, relacionado ao Êxodo judaico.

      Já no Monte Sinai, Moisés subiu ao Senhor e recebeu as Tábuas do Testemunho - os Dez Mandamentos, a meio de leis que regularam as condutas do povo e de instruções várias, incluindo a feitura da Arca do Testemunho, que viria a desaparecer, pelos séculos, após permanecer em mãos dos sacerdotes e dos inimigos de Israel. A Arca continha as Tábuas da Lei, primeiramente, a vara sagrada de Aarão, irmão de Moisés, objecto que serviu de intermédio para que o poder de Deus se manifestasse através deste último, e demais utensílios.

       Vendo, pois, que Moisés tardava, o povo obrigou Aarão a fazer para si um bezerro de ouro. O Senhor não consumiu o povo a pedido de Moisés, que, descendo, destruiu o ídolo e mandou executar os idólatras. Ulteriormente, Moisés receberia de Deus novas tábuas.


      Numa análise pelo Pentateuco, não é difícil perceber que Deus manifestava ira, arrependimento, cólera. Não diria que era vingativo - quem sou eu para sondar os Seus desígnios?, mas um Deus diferente daquele que nos trouxeram os Evangelhos e as Epístolas do Novo Testamento. O Deus de Moisés revela-se perante um povo obstinado, «inclinado ao mal», nas palavras de Aarão (Êxodo 32: 22).

       O maior legado do Êxodo foi, certamente, o Decálogo, inspirando as leis dos homens nos milénios seguintes.