Mostrar mensagens com a etiqueta Efeméride. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Efeméride. Mostrar todas as mensagens

30 de dezembro de 2022

Cem anos da constituição da União Soviética.


   A União Soviética foi formalmente criada há cem anos, a 30 de Dezembro de 1922. Surgiu dum ideal de igualdade social que nunca se concretizou, quiçá porque a igualdade seja uma utopia, uma bonita utopia cujo sonho de alcançar é meritório. Do sonho veio o pesadelo, e uma vez mais matou-se em nome de uma ideologia. É o que temos feito desde que existimos, portanto, mais do que escrever uma efeméride de exaltação ou condenação, quero tão-somente recordar a constituição de um Estado que escreveu, em autoria ou co-autoria, todos os manuais de História do século XX.

27 de novembro de 2021

Freddie Mercury, trinta anos.


   Há dias, a 25, assinalou-se o trigésimo aniversário da morte daquele que, na minha opinião, foi o maior vocalista de sempre. Há-os bons. Freddie foi completo. Reunia em si não somente a voz, inconfundível e portentosa, bem assim como um carisma, em palco e fora, que o imortalizaram. Como ele, há um em cada cem anos.

   A minha relação, se lhe podemos chamar assim, com os Queen e com Freddie à cabeça, porque ele e a banda se confundem, começou cedo, em casa. O meu pai era um fã incondicional do grupo, e aos fins-de-semana colocava sempre os seus discos a tocar. Discos, de vinil. Fui-lhe ganhando o gosto e, hoje, creio poder afirmar que a memória de Freddie é praticamente consensual entre os críticos e o grande público.


  Freddie teve um terrível golpe de azar. Contraiu, como milhões, a infecção por VIH demasiado cedo. Houvesse sido um pouco mais tarde e teria chegado aos nossos dias, fazendo a medicação adequada, que naqueles tempos era apenas uma miragem. Não sendo das primeiras figuras públicas de alcance internacional a morrer de SIDA, foi talvez a que mais visibilidade teve. Não nos esquecemos das suas derradeiras aparições, e inclusive em trabalhos dos Queen, nomeadamente no último álbum com Freddie vivo, Innuendo (1991), onde já se nos aparece muito magro e debilitado. Freddie sabia que se ia, e nós acompanhavamo-lo, no fundo, na expectativa de que esse dia não chegasse. Chegou, por fim, naquele final de Novembro de 1991, um dia depois de enviar um comunicado para a imprensa onde reconhecia que padecia de SIDA.

  Longe de cair no esquecimento, a sua voz e as gravações dos concertos que deu com os Queen continuam a ver-se e ouvir-se praticamente todos os dias. Parece-nos incrível que tenha partido, afinal, nunca nos deixou.



20 de novembro de 2021

Porque não o esqueceremos.


   Foi há trinta anos, a 12 de Novembro de 1991, que ocorreu o massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste (oficialmente Timor Português, anexado à Indonésia, ilegal e ilegitimamente, a 7 de Dezembro de 1975, no seguimento da declaração unilateral de independência por parte dos timorenses nove dias antes). De 1975 a 1991, Portugal, de forma praticamente isolada, clamou nas Nações Unidas para que a comunidade internacional pusesse cobro ao genocídio da população timorense. A Indonésia era um aliado dos EUA naquela região do globo, e apoiou, pelo menos com a inércia e o silêncio, a anexação ordenada por Suharto. A independência timorense havia sido proclamada pela FRETILIN, partido ideologicamente próximo ao marxismo.

   Naquele dia, um grupo de jovens dirigiu-se ao cemitério de Santa Cruz para prestar homenagem a um rapaz falecido que pertencera à resistência timorense. O exército indonésio abriu fogo indiscriminadamente, matando, ao todo, mais de 300 pessoas. Um repórter britânico estava presente no local e filmou o massacre, dando a conhecer ao mundo as atrocidades dos indonésios. Max Stahl, era o seu nome, e faleceu em finais de Outubro deste ano, por coincidência.

  A partir de então, a causa timorense ganhou fervorosos adeptos lá fora. Organizaram-se protestos, compuseram-se e entoaram-se canções. Timor haveria de conquistar a sua independência em 2002, num processo iniciado em 1999, já a Guerra Fria terminara e a soberania do país não representava qualquer perigo à hegemonia norte-americana na região. Presentemente, o dia é feriado em Timor-Leste. É o Dia da Juventude, em memória dos que tombaram pela liberdade.

12 de setembro de 2021

11/09/01, 20 anos.

   
   Foi há precisamente 20 anos, mas poderia ter sido ontem. As memórias permanecem nítidas. Tinha faltado ao primeiro dia de aulas por capricho. Ia almoçar com os meus pais quando se deu o primeiro embate. Julgou-se um terrível acidente. No momento em que nos preparávamos para nos sentarmos à mesa, já com os olhos postos na televisão, surge um segundo avião que nos deu a certeza de que tudo fora deliberado.

   Mudou o mundo e o nosso entendimento sobre ele. O 11 de Setembro, tão dramático que se apropriou de uma data do calendário, deu início a uma nova era no dealbar do século XXI. Uma era securitária, de guerras preventivas, de choque entre civilizações e religiões, de incumprimento dos preceitos do direito internacional. Todos passámos a ser potenciais vítimas e suspeitos. Os seus efeitos prolongar-se-ão por tempo indefinido.




26 de abril de 2021

Cândida Branca-Flor (1949-2001).

 

   Quiçá me tenha antecipado ligeiramente, mas este ano perfazem duas décadas desde que morreu Cândida Branca-Flor, uma flor frágil que não resistiu ao abandono do público, a um conturbado processo de divórcio, à falta de amigos e más companhias e aos problemas financeiros. Quem a conheceu de perto fala de uma mulher triste na intimidade, melancólica.

   Decidi escrever sobre a Cândida agora, e não a 11 de Julho, data então dos vinte anos sobre o seu desaparecimento, porque, de tempos a tempos, ela vem-me à memória, e detém-se por uns dias. Existências trágicas, precocemente interrompidas, exercem um fascínio sobre mim que ainda não sei explicar bem. Provavelmente porque morrer-se antes de tempo e inesperadamente é anti-natural. Cândida Branca-Flor, que se apresentava sempre com uma imagem bonita e cuidada, era um turbilhão de emoções. A quem tiver curiosidade, há vídeos da artista no Youtube, e, num deles, a ansiedade com que falava sobressai visivelmente. Ali estava um ser humano que sofria e que foi completamente abandonado pela classe artística, por todos, enfim, até sucumbir a uma dose fatal de medicamentos e álcool numa cave da periferia de Lisboa. Triste e indigno fim para uma intérprete que foi mais do que uma cantora de música popular -também a rotularam de pimba, e isso introduzir-me-ia noutro tema, no dos complexos que os portugueses têm consigo e com a sua cultura. Cândida tinha voz para ser cantora lírica. Iniciou-se na música com a Banda do Casaco, algures em meados dos anos 70, que era tudo menos um conjunto musical imediato. Mais tarde, afastou-se do projecto e enveredou pela música popular, cantando velhos clássicos como os da Beatriz Costa em A Aldeia da Roupa Branca.



    Noutros países, como aqui em Espanha, onde a música nacional é valorizada sem rótulos preconceituosos e desnecessários, Cândida Branca-Flor teria sido um nome primeiro do espectáculo. Em Portugal, arrastou-se por programas televisivos de má qualidade até cair no esquecimento que, a acrescer, a conduziu à morte.

    Um dos auges da sua carreira teve-o com Carlos Paião, também de trágico fim, a quem acompanhou no Festival da Canção de 1983 com Vinho do Porto, Vinho de Portugal, que não ganhou entretanto, conquistando um honroso 4º lugar e um carinho especial do público. É uma canção patriótica que põe em evidência todo o talento de Paião como autor e compositor.



13 de abril de 2021

Gagarin e a chegada ao espaço.

    

   Há sessenta anos, Yuri Gagarin, correspondendo aos anseios de toda a humanidade e encabeçando a investida e primazia (até então) da União Soviética na conquista do espaço, foi o primeiro ser humano a transpor a atmosfera terrestre, demonstrando que sim, dispondo dos equipamentos adequados, era possível sobreviver para lá da protecção conferida pelo planeta azul. Para que Gagarin chegasse em segurança, sacrificaram-se outras vidas, como a de Laika, que merece uma menção neste dia simbólico.

   A chegada ao espaço deu-se mais por rivalidade e antagonismo das superpotências da época do que por verdadeira curiosidade científica, muito embora a curiosidade ajude a definir o homem e as suas várias conquistas: a inconformidade, a necessidade de superação. A dúvida e a inquietude são as razões do progresso.


    Gagarin foi o primeiro homem a desafiar a solidão espacial. O risco a que se sujeitou fê-lo um herói, e aproximou-nos de uma realidade que, seis décadas depois, continua a ser amplamente desconhecida.

1 de abril de 2021

Os duzentos anos da extinção da Inquisição (1821-2021).

 

   Assinalou-se ontem o ducentésimo aniversário sobre a extinção da Inquisição em Portugal, promovida após a Revolução Liberal de 1820. A Inquisição, que fora introduzida cerca de trezentos anos antes, no reinado de Dom João III, por forma a combater as heresias protestantes que então assolavam a Europa, estava já em franca decadência desde o consulado de Sebastião José, o Marquês de Pombal, que pôs cobro àquela que era, talvez, a actividade mais conhecida e foco principal da acção da Inquisição: a perseguição aos cristãos-novos. Entretanto, a jurisdição da Inquisição abarcava também a prática de quaisquer crimes que violassem a ordem moral estabelecida: bruxaria, sodomia, nomeadamente, cujo conhecimento era da sua competência. 

   Um dos mitos que se propagaram durante séculos sobre a Inquisição diz respeito aos seus métodos. Tudo o que provoca o medo estimula a imaginação dos homens. Não é de todo verdade que a maioria das vítimas tenha perecido nos autos-de-fé, quiçá o método mais tenebroso que lhe está associado, como tão-pouco é verdade que a Igreja participasse das execuções. A Inquisição julgava, o braço secular executava. Era uma hipocrisia, era-o, mas assim se evitava que a Igreja, investida na fé cristã, manchasse as suas mãos de sangue. Muitos dos processos eram arquivados e tantos outros terminavam com pequenas penalidades, como multas e vexames públicos, chamemos-lhes assim. Pequenas tendo como termo comparativo a penalidade máxima, a morte, numa época em que não havia a proibição da tortura para a obtenção de confissões nem códigos que assegurassem direitos aos suspeitos.

  A Inquisição portuguesa jamais logrou da fama da sua congénere espanhola. As instituições acompanham a força dos Estados, das coroas. E também é bem verdade que à sua cabeça não teve um Tomás de Torquemada, figura sombria que é a face mais conhecida da Inquisição.

28 de outubro de 2020

Miguel, um ano depois.

 

  O Miguel morreu perfaz um ano este mês. Na altura, publiquei aqui tudo o que me passava pela cabeça naquele momento. A incredulidade, disparatada até, uma vez que o Miguel estava gravemente doente havia muito tempo, deu lugar a um vazio enorme. O Miguel e eu já não éramos amigos como o fomos anos atrás, como na ocasião tive oportunidade de dizer, mas a sua partida foi quase como um confronto com a minha própria finitude. Afinal, não somos muito mais do que aquilo.

  Somos todos iguais em dignidade e direitos, contudo, há pessoas que fazem cá mais falta do que outras. O Miguel, julgo eu, era uma dessas pessoas. Era um homem atencioso, erudito, letrado. Morreu alguém das letras, da cultura, e é sempre de lamentar quando tal sucede.

  Nem eu e provavelmente nem o Miguel poderíamos imaginar que a sua morte me marcaria como marcou, e a verdade é que marcou. Um ano decorrido, evoco de novo o Miguel, a sua lembrança em mim, e sinto novamente o mesmo vazio, a mesma incredulidade. É realmente verdade que ele já cá não está?

   Querendo-o, poderão ler o seu blogue aqui.

31 de agosto de 2020

Duzentos anos da Revolução Liberal de 1820.


   A Revolução Liberal teve lugar há exactamente 200 anos, que se cumpriram no passado dia 24 de Agosto. Com outros, foi dos momentos mais catastróficos, pelas consequências, da história portuguesa. A curto prazo, antecipou a independência do Brasil e arrastou Portugal para uma guerra civil que colocaria o país num quadro permanente de crises sociais e económicas cíclicas, aproveitadas por potências estrangeiras, como Reino Unido, que exerceram uma quase tutela sobre os nossos destinos. 

  Por forma a mitigar, atenuar, a sua influência devastadora, Pedro IV outorgou uma Carta Constitucional para o Reino, em 1826 -o mais longevo texto constitucional que vigorou em Portugal-, em tudo semelhante à Constituição brasileira de 1824. Aquela Carta assentava, então, num compromisso entre a legitimidade e soberanias do Rei e a da Nação. 


Alegoria à Revolução de 1820


   Não nos é possível explicar a Revolução Liberal sem empreender uma excursão pelo turbulento século XIX português. Portugal, sem o querer, viu-se compulsivamente obrigado a participar das investidas belicosas de franceses, espanhóis e ingleses, quando mais interessado estava em assentar as fundações da sua matriz transcontinental no Brasil. O Padre António Vieira já o sugerira no século XVII, e a Constituição de 1822, emanada da Revolução de 1820, estabelecia as regras que regiam o funcionamento do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Dado que tudo se precipitou para o fim do Reino Unido, nunca sequer chegou a vigorar em Terras de Vera-Cruz.

   Com a derrota de Napoleão e o advento da Revolução -ou golpe de estado no tradicionalismo, como prenunciara Dona Mariana Vitória, apercebendo-se de que a a execução da família Távora dava início a um tempo em que os homens não têm honra nem passado, valendo mais o dinheiro do que os serviços prestados à coroa-, ao longo de oitocentos verificamos uma tendência dos sucessivos governos de se procurarem aproximar dos modelos europeus. O seu expoente terá sido com Fontes Pereira de Melo durante o período da Regeneração, embora algumas das medidas remontassem já a Mouzinho da Silveira.

   A título de curiosidade, também aqui, na vizinha Espanha, companheira de sorte e de infortúnio, ocorreu uma revolução similar no ano de 1820, recuperando-se o espírito que presidiu à elaboração da Constituição de Cádiz, que viria a ter a maior das influências na feitura da Constituição Portuguesa de 1822, de efémera vigência. 

    No domínio da justiça e da previsibilidade, estabilidade e segurança da lei, o liberalismo, investido de um ânimo codificador, dotou o Reino de códigos (nomeadamente o primeiro código civil de 1867 e o código comercial de 1833, substituído pelo ainda em vigor, conquanto profundamente revisto, de 1888). A ressaltar ainda o não menos relevante código penal de 1852 (substituído pelo congénere de 1886), que veio pôr cobro à parca transparência e inclusive alguma iniquidade na aplicação da medida das penas. A existência de um poder judicial independente é um dos lados positivos do liberalismo. O uso da lei penal para favorecer vinganças pessoais era comum em Portugal. Pombal, um século antes, servira-se dela para levar a cabo os seus objectivos na prossecução de uma política de centralismo régio.

31 de julho de 2020

Salazar, cinquenta anos.

   No passado dia 27, completaram-se cinco décadas desde que Salazar morreu. A 27 de Julho de 1970, o homem que liderara os destinos de Portugal desde 1933 sucumbia, após dois anos de doença que o deixou profunda e irremediavelmente diminuído nas suas capacidades.

   Acerca de Salazar, há todo o tipo de literatura, de quem o detesta a quem o idolatra. Eu recomendaria as obras de Jaime Nogueira Pinto e Paulo Otero, designadamente, que procuram ter uma visão mais humana e íntima do homem. 

  Quando me deparo com grandes vultos, e Salazar encaixa-se plenamente na categoria, procuro sempre vê-los além da condição humana, como se a nossa vulnerabilidade os diminuísse. Como tal, é do Salazar estadista que gosto de lembrar, e é o líder que vou evocar.




 Salazar, de raízes humildes, vingou por mérito próprio, por ser um aluno de altíssimo gabarito, destacando-se como jurista e professor de Finanças. Chegou ao poder imbuído de uma visão para Portugal, que aplicou como soube e pôde, sujeito ao erro, evidentemente, que Salazar não se julgava a si próprio acima de Deus, muito embora Marcelo Caetano tenha dito, nas suas exéquias fúnebres, que estávamos acostumados a ser governados por um homem superior. Salazar foi-o.

  E como nunca é demais lembrar -e tanto incómodo causa porque vivemos entre gente desonesta, a quem a honestidade faz mossa-, Salazar representou, sim, a dedicação em prol da Nação sem qualquer interesse pessoal subjacente. Salazar serviu Portugal. Como o prelado dedica a sua vida às causas de Deus, Salazar descobriu a sua real vocação e dedicou-se às causas da Nação. 

  Há cinquenta anos, perdemos, sobretudo, um dos últimos grandes portugueses. A partir de Salazar, esfumou-se a dignidade na política. Tudo o que veio depois, e foi tão mau, apenas vem ajudar à exaltação -lúcida e esclarecida- deste homem. Homenagem lhe seja feita.