30 de dezembro de 2022
Cem anos da constituição da União Soviética.
27 de novembro de 2021
Freddie Mercury, trinta anos.
20 de novembro de 2021
Porque não o esqueceremos.
Foi há trinta anos, a 12 de Novembro de 1991, que ocorreu o massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste (oficialmente Timor Português, anexado à Indonésia, ilegal e ilegitimamente, a 7 de Dezembro de 1975, no seguimento da declaração unilateral de independência por parte dos timorenses nove dias antes). De 1975 a 1991, Portugal, de forma praticamente isolada, clamou nas Nações Unidas para que a comunidade internacional pusesse cobro ao genocídio da população timorense. A Indonésia era um aliado dos EUA naquela região do globo, e apoiou, pelo menos com a inércia e o silêncio, a anexação ordenada por Suharto. A independência timorense havia sido proclamada pela FRETILIN, partido ideologicamente próximo ao marxismo.
Naquele dia, um grupo de jovens dirigiu-se ao cemitério de Santa Cruz para prestar homenagem a um rapaz falecido que pertencera à resistência timorense. O exército indonésio abriu fogo indiscriminadamente, matando, ao todo, mais de 300 pessoas. Um repórter britânico estava presente no local e filmou o massacre, dando a conhecer ao mundo as atrocidades dos indonésios. Max Stahl, era o seu nome, e faleceu em finais de Outubro deste ano, por coincidência.
A partir de então, a causa timorense ganhou fervorosos adeptos lá fora. Organizaram-se protestos, compuseram-se e entoaram-se canções. Timor haveria de conquistar a sua independência em 2002, num processo iniciado em 1999, já a Guerra Fria terminara e a soberania do país não representava qualquer perigo à hegemonia norte-americana na região. Presentemente, o dia é feriado em Timor-Leste. É o Dia da Juventude, em memória dos que tombaram pela liberdade.
12 de setembro de 2021
11/09/01, 20 anos.
26 de abril de 2021
Cândida Branca-Flor (1949-2001).
Quiçá me tenha antecipado ligeiramente, mas este ano perfazem duas décadas desde que morreu Cândida Branca-Flor, uma flor frágil que não resistiu ao abandono do público, a um conturbado processo de divórcio, à falta de amigos e más companhias e aos problemas financeiros. Quem a conheceu de perto fala de uma mulher triste na intimidade, melancólica.
Decidi escrever sobre a Cândida agora, e não a 11 de Julho, data então dos vinte anos sobre o seu desaparecimento, porque, de tempos a tempos, ela vem-me à memória, e detém-se por uns dias. Existências trágicas, precocemente interrompidas, exercem um fascínio sobre mim que ainda não sei explicar bem. Provavelmente porque morrer-se antes de tempo e inesperadamente é anti-natural. Cândida Branca-Flor, que se apresentava sempre com uma imagem bonita e cuidada, era um turbilhão de emoções. A quem tiver curiosidade, há vídeos da artista no Youtube, e, num deles, a ansiedade com que falava sobressai visivelmente. Ali estava um ser humano que sofria e que foi completamente abandonado pela classe artística, por todos, enfim, até sucumbir a uma dose fatal de medicamentos e álcool numa cave da periferia de Lisboa. Triste e indigno fim para uma intérprete que foi mais do que uma cantora de música popular -também a rotularam de pimba, e isso introduzir-me-ia noutro tema, no dos complexos que os portugueses têm consigo e com a sua cultura. Cândida tinha voz para ser cantora lírica. Iniciou-se na música com a Banda do Casaco, algures em meados dos anos 70, que era tudo menos um conjunto musical imediato. Mais tarde, afastou-se do projecto e enveredou pela música popular, cantando velhos clássicos como os da Beatriz Costa em A Aldeia da Roupa Branca.
Noutros países, como aqui em Espanha, onde a música nacional é valorizada sem rótulos preconceituosos e desnecessários, Cândida Branca-Flor teria sido um nome primeiro do espectáculo. Em Portugal, arrastou-se por programas televisivos de má qualidade até cair no esquecimento que, a acrescer, a conduziu à morte.
Um dos auges da sua carreira teve-o com Carlos Paião, também de trágico fim, a quem acompanhou no Festival da Canção de 1983 com Vinho do Porto, Vinho de Portugal, que não ganhou entretanto, conquistando um honroso 4º lugar e um carinho especial do público. É uma canção patriótica que põe em evidência todo o talento de Paião como autor e compositor.
13 de abril de 2021
Gagarin e a chegada ao espaço.
Há sessenta anos, Yuri Gagarin, correspondendo aos anseios de toda a humanidade e encabeçando a investida e primazia (até então) da União Soviética na conquista do espaço, foi o primeiro ser humano a transpor a atmosfera terrestre, demonstrando que sim, dispondo dos equipamentos adequados, era possível sobreviver para lá da protecção conferida pelo planeta azul. Para que Gagarin chegasse em segurança, sacrificaram-se outras vidas, como a de Laika, que merece uma menção neste dia simbólico.
A chegada ao espaço deu-se mais por rivalidade e antagonismo das superpotências da época do que por verdadeira curiosidade científica, muito embora a curiosidade ajude a definir o homem e as suas várias conquistas: a inconformidade, a necessidade de superação. A dúvida e a inquietude são as razões do progresso.
Gagarin foi o primeiro homem a desafiar a solidão espacial. O risco a que se sujeitou fê-lo um herói, e aproximou-nos de uma realidade que, seis décadas depois, continua a ser amplamente desconhecida.
1 de abril de 2021
Os duzentos anos da extinção da Inquisição (1821-2021).
Assinalou-se ontem o ducentésimo aniversário sobre a extinção da Inquisição em Portugal, promovida após a Revolução Liberal de 1820. A Inquisição, que fora introduzida cerca de trezentos anos antes, no reinado de Dom João III, por forma a combater as heresias protestantes que então assolavam a Europa, estava já em franca decadência desde o consulado de Sebastião José, o Marquês de Pombal, que pôs cobro àquela que era, talvez, a actividade mais conhecida e foco principal da acção da Inquisição: a perseguição aos cristãos-novos. Entretanto, a jurisdição da Inquisição abarcava também a prática de quaisquer crimes que violassem a ordem moral estabelecida: bruxaria, sodomia, nomeadamente, cujo conhecimento era da sua competência.
Um dos mitos que se propagaram durante séculos sobre a Inquisição diz respeito aos seus métodos. Tudo o que provoca o medo estimula a imaginação dos homens. Não é de todo verdade que a maioria das vítimas tenha perecido nos autos-de-fé, quiçá o método mais tenebroso que lhe está associado, como tão-pouco é verdade que a Igreja participasse das execuções. A Inquisição julgava, o braço secular executava. Era uma hipocrisia, era-o, mas assim se evitava que a Igreja, investida na fé cristã, manchasse as suas mãos de sangue. Muitos dos processos eram arquivados e tantos outros terminavam com pequenas penalidades, como multas e vexames públicos, chamemos-lhes assim. Pequenas tendo como termo comparativo a penalidade máxima, a morte, numa época em que não havia a proibição da tortura para a obtenção de confissões nem códigos que assegurassem direitos aos suspeitos.
A Inquisição portuguesa jamais logrou da fama da sua congénere espanhola. As instituições acompanham a força dos Estados, das coroas. E também é bem verdade que à sua cabeça não teve um Tomás de Torquemada, figura sombria que é a face mais conhecida da Inquisição.
28 de outubro de 2020
Miguel, um ano depois.
O Miguel morreu perfaz um ano este mês. Na altura, publiquei aqui tudo o que me passava pela cabeça naquele momento. A incredulidade, disparatada até, uma vez que o Miguel estava gravemente doente havia muito tempo, deu lugar a um vazio enorme. O Miguel e eu já não éramos amigos como o fomos anos atrás, como na ocasião tive oportunidade de dizer, mas a sua partida foi quase como um confronto com a minha própria finitude. Afinal, não somos muito mais do que aquilo.
Somos todos iguais em dignidade e direitos, contudo, há pessoas que fazem cá mais falta do que outras. O Miguel, julgo eu, era uma dessas pessoas. Era um homem atencioso, erudito, letrado. Morreu alguém das letras, da cultura, e é sempre de lamentar quando tal sucede.
Nem eu e provavelmente nem o Miguel poderíamos imaginar que a sua morte me marcaria como marcou, e a verdade é que marcou. Um ano decorrido, evoco de novo o Miguel, a sua lembrança em mim, e sinto novamente o mesmo vazio, a mesma incredulidade. É realmente verdade que ele já cá não está?
Querendo-o, poderão ler o seu blogue aqui.
31 de agosto de 2020
Duzentos anos da Revolução Liberal de 1820.
A Revolução Liberal teve lugar há exactamente 200 anos, que se cumpriram no passado dia 24 de Agosto. Com outros, foi dos momentos mais catastróficos, pelas consequências, da história portuguesa. A curto prazo, antecipou a independência do Brasil e arrastou Portugal para uma guerra civil que colocaria o país num quadro permanente de crises sociais e económicas cíclicas, aproveitadas por potências estrangeiras, como Reino Unido, que exerceram uma quase tutela sobre os nossos destinos.
Por forma a mitigar, atenuar, a sua influência devastadora, Pedro IV outorgou uma Carta Constitucional para o Reino, em 1826 -o mais longevo texto constitucional que vigorou em Portugal-, em tudo semelhante à Constituição brasileira de 1824. Aquela Carta assentava, então, num compromisso entre a legitimidade e soberanias do Rei e a da Nação.
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Alegoria à Revolução de 1820 |
Não nos é possível explicar a Revolução Liberal sem empreender uma excursão pelo turbulento século XIX português. Portugal, sem o querer, viu-se compulsivamente obrigado a participar das investidas belicosas de franceses, espanhóis e ingleses, quando mais interessado estava em assentar as fundações da sua matriz transcontinental no Brasil. O Padre António Vieira já o sugerira no século XVII, e a Constituição de 1822, emanada da Revolução de 1820, estabelecia as regras que regiam o funcionamento do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Dado que tudo se precipitou para o fim do Reino Unido, nunca sequer chegou a vigorar em Terras de Vera-Cruz.
Com a derrota de Napoleão e o advento da Revolução -ou golpe de estado no tradicionalismo, como prenunciara Dona Mariana Vitória, apercebendo-se de que a a execução da família Távora dava início a um tempo em que os homens não têm honra nem passado, valendo mais o dinheiro do que os serviços prestados à coroa-, ao longo de oitocentos verificamos uma tendência dos sucessivos governos de se procurarem aproximar dos modelos europeus. O seu expoente terá sido com Fontes Pereira de Melo durante o período da Regeneração, embora algumas das medidas remontassem já a Mouzinho da Silveira.
A título de curiosidade, também aqui, na vizinha Espanha, companheira de sorte e de infortúnio, ocorreu uma revolução similar no ano de 1820, recuperando-se o espírito que presidiu à elaboração da Constituição de Cádiz, que viria a ter a maior das influências na feitura da Constituição Portuguesa de 1822, de efémera vigência.
No domínio da justiça e da previsibilidade, estabilidade e segurança da lei, o liberalismo, investido de um ânimo codificador, dotou o Reino de códigos (nomeadamente o primeiro código civil de 1867 e o código comercial de 1833, substituído pelo ainda em vigor, conquanto profundamente revisto, de 1888). A ressaltar ainda o não menos relevante código penal de 1852 (substituído pelo congénere de 1886), que veio pôr cobro à parca transparência e inclusive alguma iniquidade na aplicação da medida das penas. A existência de um poder judicial independente é um dos lados positivos do liberalismo. O uso da lei penal para favorecer vinganças pessoais era comum em Portugal. Pombal, um século antes, servira-se dela para levar a cabo os seus objectivos na prossecução de uma política de centralismo régio.