30 de junho de 2018

Hereditário.


    Um filme que, no início, promete ser bom, ou pelo menos safar-se melhor do que os congéneres actuais. Não é implicância, juro; eu gosto de filmes de terror. O terror, todavia, padece do mesmo mal dos filmes de animação: efeitos a mais. Creio que me repito, mas é exactamente o que sinto sempre que saio de uma sessão de terror.

   Quando a avozinha começa por aparecer à filha, nas primeiras cenas, pensei: "Wow, temos filme!" A partir do momento em que a neta autista morre, a estória perde o encanto inicial entre fantasia e rituais satânicos a mais e espiritismo credível a menos. No final, fica uma mixórdia de temas desconexos. Alguns planos são assustadores, de facto. Saliento as entidades misteriosas que se esgueiram de portas e vãos. Nas derradeiras cenas, surgem uns quantos seres que parecem deslocados daquele núcleo familiar. Quando um sorri, à entrada da porta, sob um negrume de cortar a respiração, confesso que fiquei assustado. De resto, não creio ser o suficiente para nos roubar o sono. 
   Ao ler a sinopse, fiquei entusiasmadíssimo. Prometiam o filme de terror do ano, inesquecível. Julguei que se tinham esmerado. Conversei com pessoas que o viram e parece que a taxa de agrado é significativa. Provavelmente serei eu mui exigente.

   É perturbador, sinistro, incómodo. Não é dos piores; será, no limite, dos melhores entre o que se tem feito, no terror, nas décadas recentes. Notei, porque o é evidente, que houve uma tentativa de voltar às origens. Há ali um bocadinho de Shining, terror, crime e insanidade.

   O desempenho dos actores merece uma menção. Toni Collette e Alex Wolff estiveram muitíssimo bem: ela, enquanto aquela médium e mãe, que herdou as capacidades da sua estranha progenitora; ele, o adolescente comum que não está a conseguir lidar com o turbilhão de emoções suscitado com as mortes da avó e da irmã, a da irmã num trágico e brutal acidente de automóvel que deixou marcas profundas no equilíbrio de uma família já atormentada por fenómenos espirituais.

29 de junho de 2018

Campeonato do Mundo de 2018 (parte III).


    A fase de grupos deste Campeonato do Mundo - Rússia 2018 terminou. Das trintas e duas equipas iniciais em jogo, restam dezasseis, as que avançam para os oitavos-de-final. A atipicidade do torneio, já adivinhada, confirmou-se com a saída precoce da Alemanha, que há oitenta anos - leram bem - oitenta anos que não era afastada numa fase inicial. Foi-o em 1938, no Mundial da França. Desde que a FIFA introduziu a fase de grupos que a Alemanha a passava sempre, seguindo na competição.

   Bem como vos havia dito na publicação anterior, houve selecções que tiveram dificuldades para se qualificar à fase seguinte. Espanha, Portugal, Argentina, Colômbia. O próprio Brasil, que entrou tremido e que lá se conseguiu erguer. Ainda assim, teremos jogos interessantes na próxima fase, que já será a eliminar. Aliás, a última jornada da fase de grupos carrega essa probabilidade. A Argentina apurou-se com um golo marcado quase no tempo limite do último jogo, a Colômbia também se arriscou a ficar pelo caminho, o Japão protagonizou talvez os quatro minutos mais vergonhosos da história do futebol, ao trocar a bola entre os seus jogadores para “queimar” tempo. Portugal, desde logo, que por pouco não sofreu um golo do Irão no final da partida, o que automaticamente nos afastaria dos oitavos.

    De igual modo, surpreendeu-me o número de penáltis marcados, o mau comportamento de alguns seleccionadores, inclusive durante os jogos, e a polémica em torno do VAR. Se antigamente se pedia o cartão amarelo, agora qualquer jogada leva à intervenção do VAR e à visualização de imagens. Ajudará a corrigir problemas que há décadas conhecemos, é certo, roubando espontaneidade e originando outros erros. Onde há mão humana, há erros. O VAR ajuda a clarificar casos em que os jogadores caem sem falta, em consequência de disputas acesas pela bola; noutros casos, e até o slow motion a isso propicia, o árbitro vê tudo menos o que realmente ocorreu. A velha polémica se foi mão na bola ou bola na mão. Quem diz na mão, diz no braço.

    Portugal x Uruguai, França x Argentina, Brasil x México e Colômbia x Inglaterra. Estes serão, a meu ver, os jogos dos oitavos-de-final que prometem mais espectáculo, quanto mais não seja pela qualidade das equipas envolvidas.
    No que respeita a Portugal, muito tenho ouvido. Uns teriam preferido o primeiro lugar do grupo - pelo facilitismo, porque defrontaríamos a menos forte, teoricamente, Rússia, vaticinando-nos agora o pior dos cenários. Em rigor, entrámos no mata-mata. Todas as selecções têm a sua qualidade, e provaram-no nos três jogos. Umas mais, outras menos. O Uruguai é uma excelente selecção e a Rússia também o é. Têm os seus pontos fracos e fortes, e seguramente que nenhuma é imbatível. Se jogássemos frente à Rússia, diriam que jogávamos com a equipa da casa, o que nos traria dificuldades acrescidas. O importante é que os jogadores se foquem no adversário e que não se dispersem com prognósticos e polémicas (sim, aludo a Queiroz e ao seu ressabiamento).

   Continuarei a acompanhar aquele que é o torneio mundial mais visto e até mais sentido pelas populações, ultrapassando sobejamente os Jogos Olímpicos. E para terem uma ideia do impacto que o futebol pode ter na vida de alguém, vejam, se quiserem, a comemoração do último golo do Uruguai pelo seu seleccionador, Óscar Tabárez, a quem diagnosticaram uma doença neurológica que o obriga a deslocar-se de canadianas. No golo que a sua selecção marcou ao Egipto, levantou-se, para estupefacção geral, sem as muletas, comemorando. Algum encanto este desporto deve ter.

21 de junho de 2018

Campeonato do Mundo de 2018 (parte II).


  O Campeonato do Mundo começou há uma semana. Tenho-me dedicado a ver os jogos, todos, que se sucedem a uma velocidade de três por dia. Rouba-me tempo para outras actividades, é certo, mas diz-se, vulgarmente, que «quem corre por gosto não cansa». É por aí.
  Não, não pensem que fico trancado em casa. Hmm, mais ou menos. Instalei a app da NOS TV no meu Surface, o que me permite assistir aos jogos fora de casa. Evidentemente que apenas está disponível para clientes NOS que também, no caso dos jogos, sejam assinantes da Sport TV.
  Recuando no tempo, acompanho estes torneios desde 2004. A febre do Euro 2004 contagiou-me a ponto de, desde então, sempre que possível, ver os jogos, anotar os resultados, escrever acerca. Para isso, tenho por hábito adquirir revistas especializadas, com detalhes sobre cada selecção participante, os jogos, os estádios, a história das competições. Gostos.

   Este Mundial, até então, e já vamos no início dos jogos da segunda jornada da fase de grupos, tem sido atípico. Selecções favoritas vêm empatando ou perdendo (Argentina, Alemanha, Brasil), outras com desempenhos aquém do esperado (Portugal, Espanha, França) e ainda há algumas surpresas (Senegal, Rússia, Islândia). É provável que tudo se equilibre mais para a frente e que o favoritismo se confirme, todavia, nos dias que correm, o nível competitivo é muito grande; esbate-se, cada vez mais, o fosso entre grandes selecções e selecções ditas fracas. Os jogos de Portugal com Marrocos e de Espanha com o Irão, hoje, assim o atestam. Equipas que defendem bem, que sabem fechar as suas linhas, procurando surpreender os adversários em lances de bola parada, os livres directos e similares. Assim, aos poucos, com confiança e muita vontade de vencer, podem chegar longe. Marrocos ficou-se pelo caminho, mas há outros exemplos na luta pela próxima fase de qualificação, os oitavos-de-final. 

   Portugal tem feito um percurso a que já nos habituou. Empates, jogos que se ganham à tangente. Ainda é cedo, bem sei, e a experiência ensinou-me a dar o benefício da dúvida - em 2016, nada dava pela selecção. Não praticamos um futebol bonito, a que dê gosto assistir. Aliás, o futebol está cada vez mais técnico, roubando o factor imprevisibilidade, que sempre vai tendo. Quando os jogadores entram em campo, já sabem bem para o que vão. E não, contrariamente ao que muitos pensam, não são "onze homens atrás de uma bola". É um desporto com elevada complexidade técnica. Os jogadores têm posições bem definidas em campo. Não há essa anarquia que muitos julgam haver por desconhecimento ou má vontade. Contudo, e pese embora  as jogadas estejam estudadas quase milimetricamente, o encanto poderá advir de um rasgo de criatividade de um talento maior - vide Cristiano Ronaldo - que nos abrilhanta os olhos. Já leva quatro golos em duas partidas. Se Portugal não joga bonito, este jogador é os seus pés, o seu cérebro, o seu concretizador. Não há futebol, a nível de selecção, na equipa principal, sem Cristiano Ronaldo.

   Falta-nos ainda um jogo, na fase de grupos, para provar que somos capazes de fazer melhor. E há os oitavos-de-final. Defrontaremos o Uruguai ou a Rússia. O grupo A já está fechado no que respeita a quem segue e a quem terá de esperar pelo próximo Mundial. Arábia Saudita e Egipto estão fora. Têm, todos, de cumprir ainda com os jogos de calendário que encerram os grupos. Ingratos, para quem já sabe que fica por ali. Regras são regras.

   Se me perguntarem por favoritos, não sei se, com os dados que tenho, vos conseguirei dizer. Há sempre os clássicos à vitória Como disse acima, a vontade de vencer não raras vezes faz milagres. Não me admiraria nada que viéssemos a ter um campeão do mundo inesperado. Seria até interessante. Até lá chegar, terá de passar por muitos desafios, e à medida em que a competição vai avançando, o confronto entre os melhores vai-se dando. Todos ficarão pelo caminho, excepto um. Saberemos quem no dia 15 do próximo mês.

15 de junho de 2018

Campeonato do Mundo de 2018.


   Apraz-me dizer umas quantas coisas sobre este Campeonato do Mundo, ou Copa do Mundo, como dizem os brasileiros, que para Portugal começa hoje. Passa da meia-noite. Não somos favoritos, nem de longe nem de perto, mas também não o éramos em 2016. Costuma-se dizer que os Mundiais são os Europeus mais Brasil e Argentina. Com a Argentina enfraquecida (viu-se aflita para se apurar, não fosse a magia de Messi), resta o Brasil, que tem uma selecção fortíssima, candidata ao título, o seu hexa. 
   Temos uma selecção razoável, creio que nos apoiamos demasiado, embora fosse inevitável, em Cristiano Ronaldo, e não temos tantas referências individuais quanto outros países. O nosso meio campo é sólido, com Moutinho à cabeça, e Bruno Alves e Pepe não nos têm deixado mal nas linhas mais atrás do meio campo.

    Os jogos de preparação a que assisti permitiram que me inteirasse de cada selecção. A assinatura da Sport TV, incluindo nos dispositivos móveis, smartphone e tablet, com a aplicação NOS TV, leva a que esteja permanentemente ligado ao que se passa, mesmo fora de casa.
    Lembram-se da Alemanha, campeã do mundo em título? Está irreconhecível. Perdeu, num particular com a Áustria, por duas bolas a uma, o que não sucedia há trinta e dois anos. Vinda de derrotas e empates, conseguiu bater a Arábia Saudita. Diz-se, no futebol, que "são onze contra onze e, no final, ganha a Alemanha". Veremos se se cumpre de novo.

    A França, em contrapartida, está longe da selecção que encontrámos na final do Euro 2016, e é outra das candidatas. Dispõe de um plantel que convence, é firme, determinada. O desaire no Europeu levou-os a uma reflexão e a uma mudança de atitude.

    Quanto ao Brasil, já dei uma achega em cima. Com figuras como Neymar, que recuperou totalmente da lesão que o apoquentava, vem de uma leva de vinte jogos, presumo, sem perder.

     Espanha é outra candidata ao título, com uma panóplia de individualidades que fazem toda a diferença nos rompantes de criatividade que, não raras vezes, decidem jogos. Também a Bélgica, que colocaria no patamar de Portugal, tem uma equipa que convence (com Eden Hazard como figura de proa), que sabe jogar, que pode fazer um brilharete. E, quanto a mim, a final discutir-se-á entre França, Brasil, Alemanha e Espanha. Ausências de peso, e cuja falta acarreta perda de qualidade no torneio, Itália, quatro vezes campeã do mundo, e Países Baixos, a laranja mecânica, desta vez triturada, não havendo entrado. Há outras selecções, sim, há-as, como a Austrália, o México, a Inglaterra, das quais esperamos sempre mais.

    Para Portugal, que em 2010 perdeu nos oitavos-de-final e em 2014 nem passou da fase de grupos, espera-se mais do que em 2006, quando disputámos o terceiro lugar com a Alemanha, perdendo-o. Recuando no tempo, em 2002 tivemos uma prestação vergonhosa, saímos pela porta dos fundos e ainda com agressões a árbitros à mistura. Em 1986, também não passámos a fase de grupos. A nossa primeira aparição foi vinte anos antes, em 1966, no período áureo do futebol português. O Benfica sagrava-se campeão europeu por duas vezes. Melhor marcador da competição, o lendário Eusébio, que na disputa do terceiro lugar marcou um golo. José Torres marcou outro, e conseguimos afastar a União Soviética do pódio. É a nossa melhor classificação em Mundiais até hoje. Cabe a Fernando Santos, campeão da Europa, provar que somos capazes de ir além desse resultado histórico. Bem assim como disse por ocasião do Euro 2016, não há vitórias morais. Não aceitamos esse argumento e nem ele convence os portugueses. Já sabemos o que é ganhar, o que é sair em ombros. A final de Saint-Denis está-nos nos lábios. Ainda lhe sentimos o gosto.

    O primeiro teste, de fogo, será daqui a umas horas, frente à Espanha. A vitória, a verificar-se, será fundamental para a confiança do grupo. Entrar a ganhar é importantíssimo, pelos pontos e pela psique. Força, Portugal.