30 de maio de 2018

How to talk to girls at parties.


   Ambientado nos 70s, psicodélico, na Londres de peace & love, em meio da cena «punk», após a morte do «blues». Trata-se de uma estória quase extra-sensorial, envolvendo um rapaz irreverente, como todos os jovens com alguma consciência política, e uma alienígena que anda no planeta em passagem, pertencendo a uma colónia de seres que bem poderiam ter saído de um vídeo de Lady Gaga, com práticas antropofágicas e adoptando comportamentos que nós seríamos levados a considerar como "disfuncionais", no mínimo.

   Gostei do inusitado, e gostei também da forma como abordaram aquela relação que se estabeleceu entre Zan e o jovem anarco-comunista. A páginas tantas, é como se estivéssemos a viver um intenso sonho provocado pelo abuso de substâncias ilícitas. Tudo escapa à nossa realidade, à nossa lógica, à nossa intuição. A exploração de mundos desconhecidos não é uma novidade no cinema, mas, aqui, é retratada de modo original. Nicole Kidman dá o toque que falta, de elegância, numa interpretação bastante boa da sua parte. Creio que o objectivo de nos deixar destroçados falhou, mas conseguiram terminar o filme com um final, vá, sweet, que nos saca um sorriso de satisfação.

    Saliente-se que o filme é baseado na obra de banda-desenhada de Neil Gaiman.

28 de maio de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 20].


   Este sábado, fui até Belém. Há por lá um museu que há muito queria visitar. Entretanto, fui protelando e protelando, colocando outros na minha lista de prioridades. Em abono da verdade, esta seria a semana em que me aventuraria para fora dos limites de Lisboa. Acabei por não o fazer por alguns contratempos, contudo, é certo que o farei neste sábado que se aproxima. E por onde andei? Museu do Combatente, que adorei, e Torre de Belém, numa revisita após dez anos.

    O Museu do Combatente, no Forte do Bom Sucesso, não é de entrada gratuita. Está dividido em pequeno blocos. É óptimo para passear em dias soalheiros, como o de ontem, porque dispõe de um magnífico terraço repleto de arsenal bélico desactivado. No primeiro bloco, pelo qual fui aconselhado a começar, encontrarão centenas de aviões em miniatura, feitas pelo Engenheiro José Maria Sardinha, que começou naquela arte com a idade de dez anos. São miniaturas feitas à escala própria, fiéis aos originais. Aviões de guerra, como calculam, desde os primeiros, dos irmãos Wright e de Santos Dumont, aos que participaram na Guerra Colonial, passando pelas duas Grandes Guerras Mundiais. Um encanto! Depois, ao longo das salas, podemos ver vários objectos usados pelos combatentes, inclusive utensílios pessoais, como os cantis e talheres, cartas que escreviam, baralhos de cartas, etc. Tudo devidamente identificado e com fotografias contemporâneas aos conflitos. Gostei realmente muito da última sala deste primeiro pavilhão, digamos assim, que dá amplo destaque à Guerra Colonial, tão presente ainda no imaginário português. A propósito, e a visita é livre, podem e devem ir à capela mortuária em honra dos caídos na Guerra Colonial. Encontra-se ao lado do museu, junto à fonte memorial. Não obstante estar bem visível uma placa para que se faça silêncio, as pessoas passeiam-se indiferentes aos nomes, inscritos em pedra, daqueles homens, bravíssimos, que deram o seu sangue por Portugal. Fiquem com algumas fotos.

O tristemente célebre "Enola Gay", que a 6 de Agosto de 1945 lançou a "Little Boy" sobre Hiroshima




   Como vos disse, o museu está dividido em pequenos blocos ao longo de todo o recinto. Convém que explorem o espaço com cuidado, para que nada vos escape à vista. Num piso inferior, descendo-se umas escadas de pedra, têm as exposições temporárias. Adorei uma delas, aquela na qual se recria uma trincheira com maquetes em tamanho real. Percorre-se um labirinto, bem sinalizado, e vão-nos dando indicações de cenas do quotidiano dos nossos militares.
  Os ditos pequenos blocos estão dedicados aos ramos das Forças Armadas (Exército, Marinha, Força Aérea), mais um à GNR, que é uma polícia militar, e até à PSP que, não sendo militar, nem por isso desempenhou um papel menos importante, nomeadamente no início da guerra em Angola, em 1961.


   Saindo do museu, tinha outros planos. O plano inicial não era o de ficar em Belém. Iria, a priori, a outro museu, um que ainda não conheço, relativamente distante dali. Ficará para outro momento. Com um dia tão convidativo, e apercebendo-me eu de que a fila para a Torre de Belém nem era tão extensa assim, decidi-me pela revisita àquele monumento. Quando estive no Mosteiro dos Jerónimos, em Fevereiro, quis aproveitar para rever a torre também. Dada a afluência desmesurada, acabei por desistir da ideia. Ao domingo, a entrada é gratuita até às 14h, o que aumenta o número de curiosos. Ontem, paguei, e fi-lo sem hesitar. Já mal me recordava do seu interior. A última vez havia sido em 2009, com o pai.


   Mandada edificar como fortificação militar, por Dom Manuel I, recaiu em Francisco de Arruda o dever de concretizar o plano do rei. Ao longo dos séculos, a torre foi perdendo importância. Com Filipe II de Espanha, I de Portugal, serviu de prisão política, o que se manteve no reinado seguinte, já com O Restaurador Dom João IV. Aliás, desta vez, e tenho absoluta certeza de que nunca antes havia por lá estado, desci aos paióis, já submersos, abaixo da linha do rio, transformados em calabouços por Filipe I. Imagino as condições degradantes em que os detentos eram por lá mantidos.


   Subir aos pisos superiores também se revela tarefa complicada. A longa escada, estreita e íngreme, não permite duplo sentido. Há uma sinalização luminosa e sonora que orienta as direcções, alternando entre subir - descer. Com tantos e tantos turistas, e só são permitidas cento e vinte pessoas na torre, à vez, podem imaginar o caricato que é subir-se e descer-se aquele lance de noventa degraus em espiral. Vale bem a pena, pelo monumento que é, pela história que tem e, porque não se dizer, pelas fotos, belíssimas, que poderão tirar, de Belém, do Tejo, do Restelo…
   O custo do bilhete desanima um pouco. Ultrapassa o razoável. Têm de fazer negócio, não é... Senti-me um entre os estrangeiros. Pelos idiomas que ouvi, julgo que era o único nacional na minha leva de cento e vinte visitantes. 


   Porque já se fazia tarde, muito tarde para almoçar, fui de imediato à baixa, confortar o estômago.

   Neste sábado, sairei, finalmente, assim espero, da cidade. Nas semanas seguintes, e em virtude de começar o Mundial de 2018, competição que adoro e que pretendo acompanhar, é provável que faça um interregno. Não é provável; fá-lo-ei. Restam-me, então, dois finais de semana ainda. Neste que vem, sei por onde estarei. No seguinte, tenho uma vaga ideia, que se foi formando durante o dia de hoje. Terá de ser maturada ainda, pensada com calma. Irei, se tudo correr bem, a uma cidade que não conheço, visitar um monumento que nunca vi, só em fotos. Vamos lá ver, com calma, sem obrigação nenhuma. A seu tempo, tudo saberão, as usual.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

25 de maio de 2018

Submergence.


   O Submergence, como estória de amor, é um fracasso. Forçada, ou esforçada, se preferirem. As interpretações também não são brilhantes; meramente razoáveis, a roçar o satisfaz menos. Aceitáveis. O filme não é um desespero de cento e vinte minutos (anda lá perto...), mas está longe, tão longe como os dois membros do casalzinho, de convencer e de nos fazer render.

   O lado relevante do filme, quanto a mim, prende-se à realidade somali. A Somália é um dos países mais pobres do mundo. Está dominada por jihadistas, que impõem a lei islâmica sem o menor respeito pelos direitos humanos. É nesse contexto de profundo fanatismo que uma das personagens do filme é feita refém, mantida nas mais degradantes condições durante semanas a fio, tendo deixado uma cientista / biomatemática apaixonada... em alto-mar, uma especialista em profundezas oceânicas, que procura descobrir as origens da vida na Terra e relacioná-las com a potencial existência de vida em Marte, o que seria bombástico e daria, no mínimo, uma capa na revista Nature.

   Esperava-se mais de Wim Wenders. A narrativa alterna entre o Atlântico Norte e a atmosfera árida e perigosa da Somália, com cenas de melancolia e saudade, retrospectivas de um passado recente, onde ambos, Danielle e James, se arrastam. É um melodrama, que se perde ali entre ambições maiores, incoerências e confrontos de fé. Os diálogos são, de igual modo, superficiais. As coisas não resultaram bem. A fotografia tem interesse, e o filme deve ser interpretado, por nós, desde essa perspectiva panorâmica. O resto é que falha, tal como o fim, que vem já na sequência de um tanto de mau: é confuso e estranhíssimo. Até este Submergence merecia algo mais digno.

23 de maio de 2018

You Were Never Really Here.


   Desconcertante. É o melhor adjectivo que me ocorre para descrever este filme. Um mercenário, solitário, que vive com a mãe e que recebe dinheiro para aplicar a vindicta privada, ou seja, fazer justiça em nome de quem lhe paga. Um homem que é uma verdadeira máquina de matar, impiedosamente, embora atormentado, e como não poderia deixar de ser, por memórias fortíssimas e permanentemente presentes ligadas a um passado de violência. O filme é de uma brutalidade extrema, perturbador, profundamente inquietante. Joe, monossilábico, sombrio, aparentemente impenetrável a qualquer emoção, cheio de cicatrizes pelo corpo e suicida frustrado, é interpretado, na minha opinião magistralmente, por Joaquin Phoenix. O filme, diga-se, recebeu ovações entusiastas no Festival de Cannes. Bem dirigido, de excelente fotografia, disse o que havia a ser dito sobre o desempenho de Phoenix

  Este sujeito, que nos atemoriza pelo olhar vago e numa primeira impressão desprovido de qualquer sentimento bom, consegue ser terno com a mãe, já idosa, e com as raparigas que salva dos mais hediondos esquemas de abuso sexual. Em momento algum somos levados a odiar Joe. Lynne Ramsay, mais uma vez, depois de We Need to Talk about Kevin, a trazer-nos um estado de profunda perturbação mental, com todas as consequências inerentes, em meio de uma sufocante atmosfera neo-noir. Joaquin Phoenix terá, aqui, um dos melhores papéis da sua carreira.