24 de julho de 2013

Quando os corpos se tocam.


    Neste fim de semana, saí com um amigo. Já nos conhecemos há algum tempo, embora haja entre nós apenas uma relação de cumplicidade. Vagueámos pela cidade ao longo do dia. Ele tem por hábito andar, e anda imenso, sempre em passo acelerado. Admiro a sua descontracção e informalidade. Já eu, naturalmente, caminho devagar e gosto de abrandar o ritmo, sentando-me com frequência. O facto de ser asmático ajuda a que mantenha alguma cautela. Não consigo determinar com rigor a última vez que nos vimos, mas sinto - sentimos - que a distância não diminui a vontade de estarmos juntos.

    Gostei de o ver. Está mais maduro. Deixou crescer os poucos pêlos faciais que tem como se de barba cerrada se tratasse. Detesta-a. Fá-lo pouco homem, garante. Digo-lhe que os homens não são os brutos de barba rija; os homens são os que usam o que de bom têm para mudar o mundo. Basta que se convençam disso.
    Cuida de mim. Ao atravessarmos as avenidas e as ruas agitadas, quase que estende a sua mão na direcção da minha. Controla-se. Avisa-me do degrau; sabe-se lá se poderei cair e quebrar a porcelana toda. Faz com que me sinta seguro. Protege-me dos males de um mundo que deveria conhecer tão bem quanto o conhece. Não, eu tive a sorte de ter um pai que zelasse por mim. Ele é órfão. Aprendeu a comunicar com cada pedaço de betão, trocando as horas de monotonia por passeios agitados. Corre do seu infortúnio, deixa-o para trás, quem sabe se o enfrenta à sua maneira.
    Pacientemente, ouve-me e acerca-se do que digo. Ri das tontarias que falo, ri da imaturidade e até de um mau humor pontual. Em troca do 'Pol Pot' (que não conhecia), salvo seja, e das correcções inusitadas do seu péssimo inglês, faz com que veja a cor do Tejo como raramente a vi. Faz com que sinta a vida a correr-me nas veias, faz com que acorde do torpor que me leva os sentidos e me torna irreal. Ah, fala-me do exame nacional de Matemática e, inocentemente ou não, pergunta-me se percebo algo daquilo. Como explicar que alguma da tabuada ficou lá pelo 4º ano e nunca mais voltou?

    Por acidente ou descuido, o beijo aconteceu nos jardins da Gulbenkian, depois de me ajudar a atravessar as pedrinhas que se sobrepõem ao pequeno charco que corre debaixo. As copas das árvores são testemunhas da não intencionalidade. A carne é fraca, já diz o povo em sábia voz.
    Foi bom; não deveria ter sido porque se tratou de um erro. Vingou o desejo, e ao primeiro seguiu-se outro e mais outro, e às tantas já não éramos dois, mas um, e tudo veio à tona como o azeite que jamais se dilui na água.

    Esgotaram-se as palavras. O retorno foi mudo. Confundiram-se os sentimentos como nunca antes. Tudo se perdera.


     O telemóvel acordou-me mais cedo. Tinha uma sms de 'bons dias' e um obrigado. Passou um pano. Passei uma borracha, de leve, bem de leve, porque ainda tenho em mim o seu sabor e isso não pretendo apagar.

34 comentários:

  1. Você viveu momentos bonitos, deve guardá-los com carinho agora :) Aconteceu e o que tem de acontecer tem muita força, não esquece!

    Abraços!!

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    1. É... aconteceu, e eu ainda nem sei como. :)

      abraço.

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  2. Ai filho... adorei. A maneira como pintas a tua vida é deveras contagiante. E é assim... uma pessoa afasta-se da internet e já te encontro aos beijos num espaço público. Ai ai ai

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    1. LOL :D

      Até eu fiquei surpreendido comigo. Bom, foi numa zona do jardim totalmente coberta pelo arvoredo, ninguém viu... :$ Não teria coragem para 'beijoquices' em público. :)

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  3. ##
    Boa Mark...

    adorei

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  4. Mark, quanto tempo não passo aqui. Estive pensando dia desses que suas aventuras foi um dos primeiros cantos que visitei nesse mundão da blogsfera. Já tem bem uns dois anos, se não me engano. Sabes bem, que tenho uma simpatia enorme por ti. Dia desses sonhei que te escrevia uma carta, loucura não? E cá estou eu pra saber das suas últimas aventuras, quando me deparo com esse texto lindo, cheio de intensidade, de amor, de verdade! Certas coisas, nem mesmo nossa razão mais concreta vai nos dizer como aconteceu ou mesmo o porquê, mas vamos agradecer todos os dias por ter acontecido. Tem um texto novo lá no meu cantinho. Espero sua visita tão querida.

    Um super beijo
    http://venenosemacas.blogspot.com.br/

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    1. Olá Tainá! É verdade, há quanto tempo! :)

      Oh, eu sei dessa simpatia e é totalmente recíproca. Que engraçado, o sonho. *-* Eu também sonho assim com coisas super estranhas, mas esse foi 'cute'. :)

      Passarei, com certeza, no teu cantinho. Com todo o prazer!

      beijinho.

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  5. É o post mais positivo que já publicaste aqui.
    Deste um enorme passo na tua vida e estou muito feliz por ti...

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    1. Oh, não foi um momento inédito na minha vida. :) Bom, em jardins, talvez. :)

      Obrigado, João, mas não estou a namorar. :)

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  6. As grandes histórias de Amor começam mais ou menos assim, como esta :)

    Fico muito, mas muito feliz por ti :D

    Abraço amigo

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    1. Diz-se que sim, apesar de não acreditar nisso no que a mim diz respeito. :) Foi algo momentâneo, tinha de acontecer naquela altura e ali. As palavras que trocámos, o lugar, este período em concreto das nossas vidas, enfim.

      Obrigado, Francisco.

      abraço. :)

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    2. amanhã contas mais ;) mas gostei muito de ler.
      bjs.

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    3. Sabes, pensei muito em se deveria relatar este episódio aqui. Contudo, quando meditei no assunto, apercebi-me de que durante anos escrevi bastante sobre alguns aspectos da minha vida pessoal. Era mais novinho, sem dúvida.

      Fi-lo sem complexos. Sei que não rocei, sequer, a vulgaridade. Aliás, nem poderia ser de outra forma. O que vivi no sábado foi tudo menos vulgar. :)

      beijinhos.

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  7. Daqui às saunas é um pulo de esquilo.
    Joking.

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  8. Muito bem, a aproveitar as coisas boas da vida ;). Gosto de te ver neste registo.
    E compreendo as reticencias em relatar o episódio, e quiça a ponderação das palavras utilizadas para o fazer.

    fico feliz por ti

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    1. É um registo raro, mais pessoal.

      Nem ponderei muito nas palavras porque, realmente, elas saem-me assim no momento. :)

      Obrigado! :)

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  9. estes momentos podem a longo prazo não significar nada, pode não ter passado de uns beijos mas de certeza que no dia a seguir acordaste com melhor humor e melhor auto-estima, mais satisfeito.
    se te deixaste ir é porque havia atracção e vontade. não olhes como um erro, não foi um erro. podes não querer voltar a repetir, podes até querer voltar a repetir, independentemente, na altura foi o que quiseste e o que te fez bem :)

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    1. Sem dúvida!, acordei muito melhor e até sem o típico mau humor matinal. :D

      Não me recrimino, de todo. Olhando para trás, foi algo bonito na sua simplicidade. Não nos esfregámos, nem fizemos nada sujo ou indecente. E fez-me bem. :)

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    2. então foi tudo menos um erro :)

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    3. Um erro porque poderia (ou poderá, ainda nem sei) por em causa a nossa amizade. :| Foi nesse sentido.

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  10. Já te disse anteriormente que gosto bastante destes teus relatos sobre a tua vida pessoal, é algo raro, mas é bonito.
    A vida é feita de experiências, de emoções. Esta foi mais uma.
    Será que foi mesmo um erro? Ou um desejo reprimido entre os dois? :D

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    1. Pois é, eu até me recordo de um texto muito antigo (lá por 2010) em que comentaste precisamente isso, que gostavas destes relatos. :)

      Acho que foi o momento, alguma carência... :)

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    2. Um momento magnífico que muito contente me deixa.
      Por outro lado, o regresso aos teus escritos pessoais que tanto me agradam. Não fales em carência, erro... Entendo o que queres dizer mas não terá sido magia? Assim começam as mais belas histórias de amor.
      Pelo que entendi, o rapaz é super educado dadas as atitudes durante os percursos e diálogos. Tal leva-me a crer que a amizade não está comprometida. Espero, muito sinceramente, que esteja fortalecida.
      Vive Mark. Não cometas os meus erros (onde já terei escrito isto? E quantas vezes?)

      Para ti, votos de muita luz.
      Abraço

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    3. Ele é um querido, sim. É muito meigo e atencioso. É maduro, também, acredito que devido ao facto de se ver obrigado a crescer depressa...

      Obrigado pelas palavras, Paulo.

      abraço. :)

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  11. Pareceu-me um momento muito bonito, muito íntimo. O amor tem que começar por algum lado, e uns beijos roubados são sempre um começo auspicioso :)
    Grande abraço Mark.

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    1. Não foram bem roubados. Beijámo-nos em simultâneo. :) Foi um momento bonito, sim, e simples.

      abraço grande, Arrakis. :)

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  12. Nada melhor do que realizar os desejos...
    E se ambos querem, devem ir além e realizar os desejos sem restrições...
    Abraços!

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  13. Foram momentos bastante bonitos e "fofinhos"! ^^

    Tenho a certeza que a vossa amizade se vai manter e ambos recordarão com muito carinho aquela tarde! Não tenhas medo de viver! :)

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