Entre notícias que povoam a imprensa escrita e os noticiários televisivos, dando-nos conta de adolescentes assassinados e de demais casos de violência juvenil, o fim do período de transição que marca o início da vigência, sem reservas, do Acordo Ortográfico, pouco passou despercebido. Uma vez mais, bem como aquando da ratificação e consequente promulgação do diploma, variadas vozes se insurgiram contra o que, em suas opiniões, é um atentado à língua portuguesa.
Se bem me lembro, abordei o Acordo Ortográfico há muitos anos, chegando ao limite de o aplicar. Voltei atrás, não por qualquer discordância relativa à pertinência do tratado, mas por dificuldades em adaptar-me às novas regras; dificuldades essas no sentido de, esteticamente, não ter conseguido ultrapassar algumas barreiras cimentadas pelo hábito. Digamos que ainda me é custoso escrever "ator". Porém, tenho sido um apoiante inequívoco do Acordo Ortográfico e não é difícil desabar o amontoado de críticas que lhe são dirigidas.
A língua portuguesa não é um idioma exclusivo de Portugal, e perante novidade alguma estamos. Desde o século XV que a língua de Camões deixou de nos pertencer, quando a soubemos impor, o mais das vezes pela força, a outros povos, que a assimilaram e adaptaram à sua realidade. Deu, inclusive, origem a novos idiomas desditosos, alvos fáceis de um preconceito linguístico que ainda hoje se faz sentir. Novas entidades surgiram do império colonial que construímos, incorporando e oficializando o idioma pelo tempo. A distância geográfica tratou de acentuar as diferenças, estimuladas pela influência dos vários povos em contacto com essa língua franca. Hoje, entretanto, podemos falar de uma língua portuguesa unitária que é falada de distintos modos, conferindo-lhe beleza e riqueza lexical e fonética.
No início do século passado, depois da revolução republicana e fruto dos assomos reformistas dos revoltosos, a língua portuguesa passou por uma reforma unilateral elaborada por Portugal, vigorando a partir de então no país europeu. À época, um país lusófono, independente, já existia - o Brasil, que não foi consultado acerca desse procedimento. Extirpou-se da língua portuguesa a maioria da sua raiz etimológica latina, perdendo farmácia o seu dígrafo ph, nomeadamente. Em resultado da atitude individualista do governo republicano, a língua portuguesa, já comum a dois países, ficou com duas ortografias opostas, originando o ciclo de acordos e reformas que pautou todo o século XX e o início do nosso século, tendo em vista a uniformização linguística possível.
Nos dias que correm, a língua portuguesa é idioma comum de mais de duzentos e cinquenta milhões de pessoas, seja como língua materna ou como língua de contacto diário, oficial, através dos estabelecimentos de ensino, dos meios de informação ou dos organismos estatais dos oito países que a adoptaram nas suas legislações e no quotidiano administrativo. Dividida em duas ortografias oficiais, a portuguesa, seguida também pelos PALOP e por Timor-Leste, e a brasileira, queda enfraquecida nos esforços para a sua afirmação como língua útil a ser ensinada e aprendida por estrangeiros não lusófonos e até no êxito das políticas portuguesa e brasileira procurando a sua oficialização junto de organizações internacionais, como a ONU, que a têm preterido por não saber por qual variante decidir-se.
A situação da língua portuguesa, mantendo-se o impasse, é precária, num mundo globalizado em que há outros idiomas, tanto ou ainda mais pujantes, que vão-se afirmando. A língua inglesa não está uniformizada, é certo. Contudo, compará-la no prestígio ou na importância ao português é insensato. O castelhano, conhecido internacionalmente por espanhol, está uniformizado na sua ortografia. O francês goza de igual força, não obstante algumas diferenças que separam a variante europeia da canadiana. Como referi acima, a uniformização é possível, com uma percentagem de harmonia ortográfica rondando os cem por cento.
Não seria de esperar que Portugal, com tiques revivalistas de gloriosa potência colonial, aceitasse ceder uma só letra procurando estabelecer e definir regras comuns para o idioma que propagou pelos continentes. O Acordo foi rejeitado embrionariamente. Inverdades surgiram e foram disseminadas sem conhecimento de causa. Recordo-me, por ora, do célebre facto, que muitos julgaram, e julgam, passar a fato, sem que se dêem ao trabalho de ler o Acordo e procurem inteirar-se do que é a dupla grafia (há palavras que, dada a pronunciação diferente, não podem ser uniformizadas). Juristas escreveram artigos na ânsia de adiar o inevitável, procurando protelar o fim do período de transição...
O Acordo Ortográfico não está imune a críticas. Pelo contrário, bombardeado que é! Carece de ser reformado, de uma revisão. Há incoerências, há pontos a debater e a modificar, mas não prescindo da sua aplicação. É imprescindível, para a unidade da nossa língua, que procuremos chegar a consensos com todos os países-irmãos, sem arrogância, sem pedantismo. O maior património de que dispomos é este idioma, a ponte que nos leva das Américas ao Oriente. Não jaz na Europa a possível salvação de Portugal, e sim no estímulo dos laços histórico-culturais com os territórios que outrora dominámos. E a língua é essa travessia. Caso contrário, arriscamo-nos a pagar um preço demasiado elevado.
Queremos uma língua portuguesa. Uma. Dispenso uma miríade delas, com outras designações e completamente desvirtuadas ortograficamente. Vale o esforço, assim creio.
Olá Mark
ResponderEliminargostei do teu texto e no geral concordo contigo. Para te ser franco, acho até um bocado exagerada (para não dizer mesmo um pouco pateta! Sem ofensa para ninguém, claro) esta polémica toda, o furor patriótico, o rasgar de vestes, enfim tudo isto a que temos assistido.
E aproveito o teu texto para dizer o que penso do assunto. Que é pouco. Acho importante, pelas razões que apontas, que haja uma norma, um padrão, uma espécie de 'português escrito oficial'. E o acordo ortográfico não passa disto, de um padrão. A lei o que fez foi dizer que esse padrão foi adoptado.
Há duas coisas que o AO não é: não é uma lei, para mais penal, cuja violação constitua qualquer tipo de ilicitude. Ou seja, não só as pessoas podem continuar a usar o português pré-AO que não vão presas, como até mesmo aquelas que já não sabiam escrever o português pré-AO podem continuar a escrever mal que não lhes acontece nada :)
A outra coisa que o AO não é, é uma qualquer espécie de código moral. Ninguém tem obrigação de escrever o português do AO. Se eu apresentar um requerimento ao Estado, por exemplo num tribunal, ele não vai ser indeferido por estar escrito em português pré-AO. E se ninguém é menos patriota por escrever com a nova grafia, também ninguém o é por escrever na antiga. Vale tudo!
Por mim, vou continuar a fazer como até agora: no trabalho escrevo pelo novo AO. Em casa pelo antigo. Pela simples razão de que tudo depende do corrector ortográfico que tenho instalado no processador de texto (yes, I'm that easy). Quando não tenho corrector automático, escrevo pré-AO porque é esse, pelo menos por enquanto, que sai automaticamente.
O que é importante é ler muito e escrever sem erros de sintaxe e de ortografia, seja ela a nova ou a antiga. O resto não tem importância nenhuma.
Olá, Miguel.
EliminarPreconceito, puro preconceito. Os portugueses ainda se acham os legítimos proprietários de um bem imaterial que não lhes pertence apenas. A língua portuguesa é de todos. Depois, crêem, a isso sou convencido, que os "sacrifícios" recaíram apenas sobre Portugal, quando não foi assim. O Brasil também alterou a sua grafia. Casos houve em que ambos alteraram, convergindo. Naturalmente, suprimimos as consoantes mudas. Mais fácil do que eles reincorporá-las.
E dizes bem, o AO não é um diploma penal. É um tratado internacional, devidamente ratificado por Portugal e já promulgado pelo PR. Está em vigor. A lei é para ser cumprida. Ninguém será prejudicado por usar no dia-a-dia a norma anterior ao Acordo. A avó continua a escrever certas palavras tal qual as aprendeu, como "flôr", "côr", e há muito que o circunflexo deixou de as acompanhar.
E poderás continuar a apresentar requerimentos na versão pré-AO. :) Em Processo Civil, exige-se apenas que os actos judiciais estejam em língua portuguesa.
Bom, eu lá terei de me adaptar ao AO, até por coerência. Se o defendo, convém que o aplique. Cheguei a escrever aqui no blogue já reconhecendo o AO, mas voltei atrás. "Ator", "atriz", "ação", hummm, ainda me perturba um pouco. :) Nos relatórios que escrevo, e mesmo em testes, nos anos anteriores, uso e usei o português pré-Acordo.
Essa parte ficou por abordar no artigo. Fariam melhor se utilizassem todas essas energias nas críticas ao mau português. Com ou sem AO, pairam por aí muitas "ortografias" pouco oficiais da língua portuguesa...
um grande abraço!
Estou muito de "acordo" com o que você escreveu, Mark!
ResponderEliminarObrigado, Eduardo. :)
EliminarNão sou totalmente contra o acordo, tem aspectos que concordo. E no meu trabalho sou obrigado a usar o acordo e já o usamos desde 2011. Por aqui por casa, vigora o antigo por uma questão de preguiça.
ResponderEliminarAté nas escolas, segundo o que a minha professora de Português do secundário disse, já ensinam a língua portuguesa pós-AO há três anos.
EliminarEstas reformas visam as gerações seguintes. É sempre assim.
Ainda não vi qualquer vantagem neste acordo, melhor. Baixámos as cuecas (aquilo que ese povo diz que só os gays fazem), mas baixámos todos, desde que venham diamantes e petróleo. Só não vendem a mãe, porque ninguém lhes compra lolololololololololo
ResponderEliminarGostei do texto, mas quanto a mim, na minha forma de ver as coisas. É algo que não se aplica. Entendemos-nos todos, porquê uniformizar o que já se entende?!
Com coisas mais importantes para serem discutidas. Portugal deveria levar à Eurovisão, uma música em inglês ou na nova versão do acordo?! Referendo já
Grande abraço amigo Mark
Inúmeras vantagens, Francisco. Algumas subentendem-se, a contrario, no meu artigo. O facto, e não fato, de ter duas ortografias oficiais diminui o prestígio do português. É o maior inconveniente.
EliminarNão entrarão mais diamantes ou petróleo do que já entram. Talvez entrem uns livrinhos, heheheh. x)
Não podemos referendar tudo. A AR tem a legitimidade emanada do povo. Se deixássemos medidas importantes directamente nas mãos deste, arriscar-nos-íamos a impasses sucessivos. Referendos atrás de referendos dá certo na Suiça...
Hahahah, já levámos músicas em inglês e não deu em nada. Eurovisão? Portugal tem de ganhar juízo!
um grande abraço, amigo. :)
Olha, eu uso, porque fui obrigado quando fui professor a adotar. Hoje já não me causa comichão o "ator" ou o "facto" e ambos me saem naturalmente. Contudo, causa-me muita confusão os meses do ano com minúscula, por exemplo...
ResponderEliminarTambém a mim! Quando referi o "ator", fi-lo meramente a título de exemplo. Não só os meses do ano como as estações.
EliminarAtenção: o "facto" continua a ser "facto"!
EliminarSim, Namorado. Eu menciono isso no artigo. :)
EliminarA língua portuguesa é algo de muito valioso, concordo e é algo a preservar.
ResponderEliminarMas não vejo qualquer problema em manter uma duplicidade de termos conforme o uso tradicional dos mesmos, territorialmente falando.
Não concordo que me imponham o uso de termos, que jamais poderei aceitar e na minha escrita manterei sempre aqueles termos que sempre usei, salvo aqueles, que também os há e muitos são, que nada me repugna aceitar porque não me confundem ou complicam a compreensão do contexto em que estão inseridos.
A duplicidade de ortografias debilita o português, João. Estou convencido de que um dos motivos que leva a ONU a não oficializar a língua portuguesa prende-se nesta querela.
EliminarOs termos não mudam. O que se procura é uma harmonização ortográfica. Não se impõem termos; palavras próprias do léxico brasileiro não serão "impingidas", passo a expressão, no léxico português, e vice-versa.
Evidentemente, cada um escreve como quer, salvo seja. Regras, a bem ver, sempre houve.
A questão do acordo ortográfico é mais um tema sujeito a discussão, até porque as pessoas nunca gostam de mudança.
ResponderEliminarEu pessoalmente não percebi a necessidade de alterarmos a forma como se escrevia certas palavras, mas se pensarmos bem, a nossa língua ao longo dos tempo foi evoluindo. É tudo uma questão de seguirmos os outros, ou talvez não...
Acresce o facto de nós, portugueses, sermos os causadores de tudo isto. Antes de 1911, a língua tinha uma única ortografia em Portugal e respectivas possessões e no Brasil.
EliminarNo caso, os outros, neste caso o Brasil, é que tiveram de nos seguir. Só que isto as pessoas não sabem e quem sabe faz-se de esquecido.
Esse é também um problema: mudar. As pessoas são avessas à mudança.
A língua é dinâmica, todos o sabem, mas este AO é tudo menos um acordo; foi tirado a fórceps e mudar só para dizer que se está modernos é pura idiotice! Para dar um exemplo, mesmo não sendo pronunciadas,existem vogais mudas que servem para abrir as vogais: por exemplo, 'receção' sem P lê-se como recessão. As restantes consoantes mudas não me incomodam porque talvez nunca lá devessem ter estado, como "acto" ou "factor", mas pouco mais. Sem falar da supressão da acentuação (para / pára) e outros dislates do género. Uma coisa é não sermos conservadores e querermos que a língua evolua; outra é que evolua tolamente... Por isso, não...
ResponderEliminarMas claro, é a minha opinião...
Abraço
Como eu referi, o AO carece de uma revisão para tentar resolver ou minimizar as incoerências e as imprecisões. No caso da palavra "recepção", há outro problema: a consoante "p" é pronunciada no Brasil, mas não por cá, onde "caiu"; ou seja, o AO aqui não resolve nada.
EliminarTambém discordo da supressão da acentuação em "pára / para", mas, se reparar, já temos esse problema com "cor" (saber de cor, por exemplo) e "cor" (tonalidade). E "cor" escreve-se sem circunflexo há décadas. Desde os anos setenta, salvo erro. O que sinto é que há uma tendência, errada, a meu ver, de banir a acentuação. Apesar de tudo, a importância do AO não diminui por isto.
Não creio que pretendam mudar para ser "moderno" ou para "evoluir"; não nego que essas vontades constem no texto do Acordo; acredito, contudo, que o objectivo principal seja o de uniformizar.
um abraço. :)
Entendo, Mark, mas não se pode uniformizar tudo; existem barreiras intransponíveis, por haver palavram que são próprias de uma cultura, quer em Portugal, quer em S. Tomé, Angola ou Brasil! Este é um estudo que mereceria a reflexão que não teve e depois saem disparates destes, pelo que este AO além de ser tudo menos um acordo, está também feito às três pancadas, tirando aqui, suprimindo ali (deve ficar mais giro e moderno) e por aí fora, sem falar noutros preciosismos como a manutenção da consoante muda nalgums casos mesmo os que se não lêem, ou ainda as letras minúsculas em início de palavra, etc etc... Oh well,,, nada komo xcrever já dacourdo kom o prócimo acourdo hortográficu... ;)
ResponderEliminarHugs, Mark! ;)
Sim, há casos em que é impossível uniformizar, como nos substantivos próprios António e Antônio, nos quais as diferentes pronunciações levam a que a dupla acentuação seja permitida.
EliminarAs palavras que são próprias de cada nação não trazem nenhum problema. Já temos regionalismos dentro das fronteiras de cada país. O AO não se imiscui nas singularidades de cada país, nem na pronúncia. O que se procura é unificar quando possível. Não vejo nenhum ponto no Acordo que diga que a palavra x, portuguesa, passará a constar no Brasil. O AO não versa sobre isso.
Se está feito às três pancadas, não sei. É de 1990. Com todos os impasses, e não duvidando da idoneidade dos seus pais, teve mais do que tempo para ser elaborado com calma. Há "distracções", há. E para uniformizar, ou se extraía ou se inseria.
abraço. :)
Muito bom texto. Os portugueses têm que ter noção de que a língua portuguesa não é (só) deles. E para os outros todos (umas vinte vezes mais do que os falantes em Portugal) não fazia sentido ter acento no "para", forma verbal, como não faz em "tara", "cara", "vara", etc. Quando muito, seria o "para", preposição a ter acento, porque é exceção, mas apenas o é cá (no Brasil e PALOP não é feita essa distinção, creio). Portugal cedeu sobretudo na questão das consoantes mudas, que refletem a evolução da língua desde o latim: são sequências cultas que repugnam ao português, como se pode ver em palavras como "oito" ou "feito" (octo, facto). As que restam são cultismos de introdução tardia e que não sofreram por isso as alterações ocorridas ao longo da história da língua portuguesa. E é um facto que "recepção" é a forma usada no Brasil para o nosso "receção", mas o essencial é que, pela primeira vez na história, a regra de escrita que seguimos é a mesma. Escrevíamos antes "recepção" precisamente porque no Brasil a consoante pode ser pronunciada nesse caso.
ResponderEliminarObrigado, Anónimo.
EliminarDevo dizer que em ""recepção" temos um caso curioso: antes do AO, tanto cá como no Brasil se escrevia com o "p"; por lá sendo pronunciado, por cá nem tanto. Com o AO, a palavra perdeu a consoante muda em Portugal. No Brasil, é natural que persista. É lida. Resumindo: o Acordo terá criado uma divergência numa palavra de ortografia comum.
Os PALOP seguem a norma europeia, sem excepção, julgo.
As línguas evoluem, é um facto incontornável. Na medida em que já perdemos a maior parte da raiz latina, não compreendo a celeuma.
Por aqui ainda me confundo um pouco com os acentos, como diarreia que antes era diarréia, dos tremas eu já me acostumei a tirá-las. Rs
ResponderEliminarPor cá, palavras como "ideia" nunca tiveram acento. No Brasil, perderam, sim. Nestes casos, atingiu-se a uniformização, por exemplo. :)
EliminarExacto, por aí escrevia-se "conseqüência"; o trema assinalava que a vogal "u" é pronunciada. Em Portugal, creio que palavras como "consequência" perderam o trema há muitas décadas.
Há um ponto no Acordo que terei de pesquisar (já o li, mas não me recordo): sei que "húmido" se escreve "úmido" no Brasil. Como terá ficado com o AO? Tenho de pesquisar.
até no trabalho não uso o AO, fui às opções do word e desmarquei :p
ResponderEliminarsim, somos obrigados, mas enquanto não existir esta revisão de que falas, a não ser que me chamem à atenção, não o farei. há excepções, sim, por exemplo, uma informação que fica dentro da casa, é antes do AO, uma informação que vai para o exterior, um ofício, um email, escrevo com o novo AO, é a imagem da casa que está em jogo, não a minha.
uma canseira estar a pensar em como se escreve agora, dado que não fui habituada. e quando leio 'para' e é 'pára' e outras palavras semelhantes, custa-me aceitar. é o meu acto de rebeldia.
bem, suponho que será uma questão de tempo. quando a minha geração já cá não estiver, o AO estará bem implementado e sem pruridos de uso.
antigamente farmácia escrevia-se com ph...
bjs.
"Para" e "Pára" também me perturba. Até porque o acento faz toda a falta nesse caso. Lá está, o AO tem de ser revisto e os próprios linguistas já chegaram a essa conclusão bastante evidente. Não pode ficar assim como está. O problema é que já há datas, já se gastou dinheiro. O AO, como em tudo o que envolve Portugal, traz "defeitos de fabrico". Faz-me lembrar os computadores Magalhães, que traziam erros. :)
EliminarE chique era, já viste? Pharmacia. Bem giro. A Reforma de 1911, unilateral, estragou tudo.
beijinhos.
Para/pára foi uma perda, embora o primeiro podia ter assumido de vez sua forma mais popular e amplamente utilizada (PT-BR?) "pra", daí mantinha-se a distinção. Também preferia pêlos a pelos, mas neste caso não há muito contexto em que se confundam.
Eliminareu passei a mão pelo pelo da Alice. terrível. :-P
EliminarMark você estaria inteiramente correcto se o AO90 tivesse unificado as ortografias dos paises de lingua portuguesa.
ResponderEliminarInfelizmente é publicidade enganosa e não unificou rigorosamente nada. Ora vejamos:
Entre Portugal e o Brasil as ortografias continuam distintas apenas mudando as palavras que as diferenciam.
Há palavras que se escreviam de forma diferente mas agora convergiram: actor / ator
Há palavras que se escreviam de igual forma mas que agora sao diferentes: Recepção/receçao
Há ainda as palavras que se escreviam de forma diferente e que assim continuam: Humido/umido, Singapura/Cingapura ou Andebol/handebol
Portanto, convergência de ortografia com o Brasil ? Nenhuma. Foi baralhar e deixar tudo na mesma...
E com os países africanos? Aqui o AO foi mais assassino porque havia uma convergencia total com Portugal que acabou.
O problema é que os PALOP e Timor não usam o AO - nenhum deles. Angola e Moçambique nem sequer ratificaram. Os outros ratificaram mas não utilizam nem ensinam na escola.
Mark vá consultar os sites oficiais dos PALOP. Tiro-lhe o chapéu se encontrar um, basta um, que esteja escrito pelo AO90.
Resultado do AO: O português tinha duas variantes - agora tem três!!!!
Como reagiram os organismos internacionais ?
Continuaram a escrever, com AO ou sem AO, nas variantes portuguesa ou brasileira consoante estejam mais ligados a Portugal ou ao Brasil. Por exemplo, a Comissão Europeia escreve pela versão portuguesa do AO.
A ONU não considerava e continua a não considerar o português como língua oficial.
Mais inteligente foi a FIFA: utilizava a ortografia brasileira pre-acordo mas assim que começou a confusão à volta do AO pura e simplesmente baniu o português do seu site. Simples e eficaz.
Cpts
Pedro Oliveira Reis
Olá, Pedro. Muito bem-vindo ao meu blogue e obrigado pela participação.
EliminarPedro, eu próprio referi, na resposta a um anónimo, acima, o caso de "recepção / receção", em que não se conseguiu uniformização alguma, pelo contrário.
De facto, o Acordo precisa de uma revisão. Há palavras que não foram uniformizadas, mas poderiam. Pegando num exemplo que deu, "Cingapura" vs "Singapura", eu creio que aí não conseguiram chegar a um acordo porque nenhuma forma pode levar preferência, ou seja, não seria justo ceder a ortografia brasileira ou a europeia. Como justificar dar primazia, supondo, a "Cingapura" sobre "Singapura"?
Os PALOP e Timor ainda não ratificaram o Acordo porque a aplicação do mesmo envolve grandes custos e, é verdade, implica reformular os programas escolares, formar os professores nesse sentido, enfim, há uma resistência forte por tudo isso, nem tanto por discordarem do AO politica ou linguisticamente. Acabarão por fazê-lo, acredite.
A ONU não integra a língua portuguesa nas suas línguas oficiais por, até à data, não saber qual variante escolher e por outros motivos alheios à polémica em torno do Acordo. O português é a única língua falada por mais de cem milhões de habitantes em que nenhum país que a reconhece como oficial faz fronteira com outro que igualmente a reconheça como tal. Isso enfraquece as nossas chances. O francês é falado por uma "mancha" de países africanos, e é a língua da toda poderosa e prestigiada França; o árabe, embora contemple várias diferenças entre a variante norte-africana e a arábica, é língua oficial e nacional de todos os países daquela faixa; o russo é língua oficial de um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e é uma língua importantíssima no leste europeu e em vários Estados da ex-URSS; o castelhano, vulgo "espanhol", é língua oficial e nacional de uma miríade de Estados na América Latina e segunda língua informal nos E.U.A; escuso-me a falar do inglês... E o português? Exceptuando o Brasil, não tem relevo.
Tem razão: agora há uma divergência com os países africanos. No entanto, cabe-lhes honrar os compromissos firmados, porque, ao que sei, comprometeram-se a ratificar e aplicar o AO.
Cumprimentos! :)
Bom dia,
Eliminareu defendo um acordo ortográfico que faça com que um texto escrito por um brasileiro não se distinga de um escrito por um português. Sem duplas grafias obviamente.
Não sei se será possível algo assim. O que sei é que não é de certeza esta porcaria deste AO90. E não tem revisão possível - há que acabar com ele para voltarmos a ter uma ortografia igual à dos PALOP.
Os governos dos PALOP foram mais inteligentes que os portugueses: assinaram e ratificaram tudo mas assim que perceberam que o AO não servia para nada fizeram marcha-atrás e recusaram aplicá-lo.
Mark responda-me em consciência: Em países com necessidades básicas tão grandes vão gastar dinheiro para implementar um AO que não serve para nada ?
Para terem uma ortografia igual a Portugal é mais fácil e mais barato ser Portugal a alterar a sua.
Explique-me por favor uma coisa porque nunca entendi:
Se o objectivo do AO era unificar ortografias qual é a vantagem de não implementarem todos em simultâneo ?
Cpts
Pedro Oliveira Reis
As duplas grafias, algumas, são inevitáveis. Veja "António" / "Antônio". Não há como contornar a dupla grafia neste caso, uma vez que a pronunciação é diferente no Brasil e em Portugal.
EliminarDiscordo. Os PALOP é que têm de ratificar e aplicar o Acordo, e comprometeram-se a fazê-lo, para harmonizar as suas ortografias com o Brasil e Portugal.
Está enganado, e no seu primeiro comentário, inclusive, faz menção a Angola e Moçambique que não o ratificaram. Poderão tê-lo assinado, mas a ratificação é impreterível. Só não o aplicam porque se escusam à ratificação.
Fui eu quem fez menção às fragilidades económicas e sociais desses países e às necessidade mais perenes, o que obsta à aplicação do Acordo. Mas, firmando-o, têm a obrigação de o ratificar e aplicar. Respondo-lhe em consciência.
Não faço ideia, respondendo à sua última questão. Provavelmente porque são questões de soberania. Estando tudo conforme, cada Estado aplica quando sente que deve fazê-lo.
Cumprimentos.
Há ainda efeitos perversos do AO. Chamei a atenção de uma colega brasileira que aqui em Portugal não se escreve 'fato' nem 'contato' podendo apenas tolerar 'aspecto', 'cacto' ou 'recepção' porque era assim que se escrevia aqui antes do acordo ortográfico.
ResponderEliminarRespondeu que a ortografia actualmente está unificada e que ela como brasileira pode escrever pela versão brasileira do acordo ortográfico.
Pedro
Tudo pode ter efeitos perversos. Devo dizer que não me incomoda em nada que um brasileiro possa escrever "fato" por cá, se assim o AO a isso não obsta. É natural que, num quadro de AO, um cidadão de um país lusófono possa manter a ortografia do seu país em determinado vocábulo, havendo reciprocidade, claro.
EliminarFalta publicar o comentario que fiz antes do ultimo.
EliminarPedro
Não recebi nenhum outro comentário seu, Pedro. Não deve ter submetido.
EliminarPelo que já se sabe hoje é notório que o objectivo do acordo ortográfico nunca foi o de uniformizar as ortografias portuguesa e brasileira.
ResponderEliminarO objectivo foi fazer uma reforma que mantivesse distintas as ortografias portuguesa e brasileira. No entanto seria apoiada por uma publicidade massiva que criasse na opinião pública de ambos os países a ideia de que se estava a harmonizar as ortografias.
Apesar de existirem algumas pessoas mais perspicazes tanto cá como no Brasil que não se deixaram enganar, convenhamos que a estratégia resultou em pleno.
Vou dar-lhe exemplos de uniformização ortográfica viável que não foi contemplada no AO:
Nos pares úmido / húmido e handebol / andebol era possível pôr todos a escrever de igual forma em vez de se manter a divergência.
Colocar a consoante 'c' ou 'p' desde que fosse pronunciada num dos países: Os brasileiros habituavam-se a escrever 'facto' e 'contacto' enquanto nós escreveríamos 'aspecto', 'cacto' ou 'recepção' - isto claro se o objectivo do AO fosse a uniformização ortográfica dos falantes de português...
Não concordo consigo, e nem é notório. O AO teve como objectivo uniformizar as ortografias divergentes. E obrigado por me chamar, implicitamente, de pouco perspicaz. :)
EliminarEm relação a "úmido" e "húmido", tal como já lhe disse com "Singapura" vc "Cingapura", é provável que não tenham chegado a qualquer entendimento por nenhum querer ceder, a par de que não são vocábulos tão comuns quanto "ação", "direção", "ator", etc.
No demais, concordo consigo. Seria mais fácil incorporar a consoante no Brasil para se atingir a uniformização, mas provavelmente seria uma ideia mal recebida nas terras de Vera-Cruz.
Em qualquer acordo tem de haver cedências de parte a parte. Durante a negociação do acordo seria plausível que o representante português dissesse ao brasileiro: 'Vocês tiram o 'h' de handebol enquanto nós tiramos o 'h' de húmido e passamos a escrever todos igual. Habituem-se a escrever 'polaco' em vez de 'polonhês' e em contrapartida nós passamos a escrever 'Cingapura'... seriam menos 4 duplas grafias.
ResponderEliminarConvém esclarecer o que é uma dupla grafia: é uma divergência ortográfica entre Portugal e o Brasil. Se fossem duas ou três ainda se poderia falar em uniformização ortográfica mas quando são vários milhares lá se vai a convergência por água abaixo.
Atentemos agora no que vem escrito nos manuais escolares do 8ºano em Portugal:
"Antes do Acordo Ortográfico, a língua portuguesa era a única no mundo com duas normas ortográficas o que necessariamente lhe retirava prestígio. Agora isso acabou porque passou a existir uma única norma e com apenas 3 variantes: a brasileira, a europeia e afro-asiática".
Portanto, está assumido no sistema de ensino em Portugal que a língua portuguesa tem actualmente 3 variantes. Vamos agora fazer de conta que os PALOP e Timor aderiam de repente ao AO e que voltávamos a ter duas variantes como sucedia antes.
Se antes do AO a ONU tinha dúvidas sobre qual variante do português escolher, agora que o AO está implementado por qual variante vai a ONU optar ? Ou continua com dúvidas ?
Todos os que apoiam o acordo ortográfico não se convencem daquilo que salta à vista:
O acordo ortográfico não uniformizou a forma de escrever entre portugueses e brasileiros, as variantes continuam diferentes e o prestígio do português continua rigorosamente na mesma. Se a ONU alegava que não colocava o português como língua oficial por estar indecisa sobre qual a variante a escolher, então com AO ou sem AO vai continuar indecisa... talvez algum dia se decida...
Pedro Oliveira Reis
Pedro, permita-me que lhe diga que vejo muito preconceito no seu comentário, a par de tiques de supremacia. Por que motivo teria o Brasil de passar a designar os naturais da Polónia de "polacos" se tem o seu próprio gentílico? Acho que vai por aí alguma confusão na sua cabeça, desculpe.
EliminarHouve cedências. Acredite que houve. O Brasil suprimiu o trema (¨), suprimiu os acentos agudos em vocábulos como "ideia" ("idéia), "europeia" (européia), e por aí fora. Naturalmente, tratando-se de consoantes mudas, fará mais sentido Portugal extirpá-las do que o Brasil reinseri-las. O AO poderia ter ido mais longe, ser mais arrojado, sem dúvida. Eu mesmo proporia modificações, algumas que você referiu.
Duplas grafias são inevitáveis. Já falámos sobre isso. Não é possível uma uniformização total. Isso vem no meu artigo. Aliás, sinto que me repito desnecessariamente. E não são milhares, como diz.
Leu bem? Não sei se o que transcreveu é ou não o que consta nos manuais escolares, mas assumindo que sim, o que li é que há uma norma com algumas variantes. Nada de novo e nem de chocante. Cada língua tem os seus dialectos. O AO não pretende submeter uma variante a outra ou importar ou exportar termos, expressões ou vocábulos entre as variantes, e muito menos alterar o jeito com que cada povo lusófono se expressa.
Não há duas variantes, caro. Há muitas, tantas quantos países que falam o português. O que havia era duas normas ortográficas. Há aí outra confusão entre norma e variante. Esclareça-se. :)
O AO uniformizou, disso não há qualquer dúvida. Quanto muito, poderia ter uniformizado mais, ser mais coerente e abrangente. Pois, o prestígio continuou na mesma, sim, mas por motivos alheios ao AO (e escuso-me a repetir o que já disse). Ainda assim, o AO veio ajudar nessa matéria, acredite.
Cumprimentos.
Quando ouvi falar em uniformização das ortografias do português fiquei entusiasmado. Parecia uma excelente ideia. Até ver esta 'coisa' que fizeram.
ResponderEliminarNão tenho preconceitos nenhuns. Só não gosto é de ser enganado. Não gosto que me enfiem o barrete que foi o que foi feito com o acordo ortográfico.
Em termos ortográficos, quando o português do Brasil continua diferente do português de Portugal e alguém vem falar em uniformização eu chamo a isso de publicidade enganosa, logro, aldrabice, vigarice...
Há uns dois anos houve um tradutor defensor do AO e uma professora adversária do AO que se puseram a contar as palavras que tinham divergido e as que tinham convergido. Chegaram a conclusões diferentes mas isso é irrelevante. Se o objectivo do AO fosse a uniformização ortográfica não poderia existir uma única palavra que escrevendo-se da mesma forma passasse a escrever-se de forma diferente.
Não se podia dar um passo frente e de seguida dois para trás.
Aquilo que escrevi de Polonhês/Polaco e Cingapura/Singapura eram exemplos de possíveis convergências que não foram sequer tentadas.
Quanto à supremacia que refere o que lhe digo é que Portugal não é dono da língua portuguesa e não tem o direito de obrigar os países africanos a alterarem a forma de escrever. Se eles entendem que o AO não serve para nada e não querem implementá-lo, Portugal não tem que pressioná-los (pressão só se for sobre S.Tomé ou Cabo Verde porque Angola não se deixa pressionar por ninguém).
Neste contexto que estamos a discutir, norma e variante são a mesmíssima coisa e o AO não alterou absolutamente nada.
No entanto, estou disponível a retractar-me (se eu seguisse o AO você ía pensar que eu ía tirar uma selfie...) se colocar aqui um texto, basta um, escrito ao abrigo do AO nessa dita ortografia unificada e comum ao Brasil e a Portugal - pode tirá-lo de onde quiser, sites, jornais, livros, revistas, etc...
Pedro
P.S: Eu não queria opinar como anónimo mas não sei fazer de outra forma
Pedro, veja, o português do Brasil não tem de ficar igual ao português europeu. Lá está o que lhe disse no comentário anterior: nenhum tem de ficar igual ao outro. Têm de convergir, cedendo ambos.
EliminarTambém já lhe disse, e aliás disse-o no artigo, que a uniformização é a possível. Não se pode uniformizar tudo; a fonética é diferente, há vocábulos cuja acentuação é uma por cá e outra por lá. Fez-se o que se pode. Não é possível uniformizar o "polonês/polaco" porque cada país tem o seu gentílico e nenhum pode preferir pelo outro. Não seria justo e nem adequado. Levaria a grande querelas e impasses.
Mas aqui ninguém quer obrigar ninguém. Estamos perante Estados soberanos, todos eles, que só assinam e ratificam o AO se quiserem. Isso nem se aplica sequer. No uso dos seus poderes de soberania, nenhum discordou politica ou linguisticamente do AO.
Neste contexto ou em qualquer outro, norma e variante não são a mesma coisa. Norma ortográfica, no caso, é o padrão linguístico adoptado por cada país na sua legislação. Assim, tínhamos a norma portuguesa, seguida pelos PALOP e Timor-Leste, e a norma brasileira, seguida pelo Brasil. Depois, cada país tem os seus términos próprios de cada cultura. Temos o "pequeno-almoço" em Portugal, o "café da manhã" no Brasil, o "mata-bicho" em Moçambique, e assim sucessivamente. Claro que, aqui, o AO não alterou nada, e nem podia. E nem a isso se propôs. Cada país comporta, nas suas fronteiras, diferenças, regionalismos.
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