O bom tempo chegou, afastando, definitivamente, o cinzentismo próprio da estação fria. A seu tempo virá a chuva ("Abril, águas mil"), o que por si só não basta para que neguemos a luz que beneficia - e em muito - o sul da Europa. As árvores ganham vida, colorindo-se os seus troncos nus de pequenas flores brancas, carregadas de pólen, aguçando o apetite voraz das abelhas que as povoam. A brisa é fresca à noite, contrastando com os dias de temperaturas amenas, por vezes roçando o exagerado, e já dizem que vamos oscilar pelas próximas semanas.
Um amigo confidenciou-me que os alemães não são tão distantes quanto nos querem dar a parecer. Que a vida em Berlim consegue ser mais dinâmica do que a que temos por cá, considerando que não têm este Sol fantástico de que dispomos. Não indo tão longe, passando la raya, o povo espanhol sai de casa, passeia-se, ri. Pelas ruas de Lisboa vemos jovens, sobretudo. Os mais velhos mantêm-se em casa. As senhoras de idade nas suas lides. Este povo não evolui. Identifico-me com o carácter soturno da dita alma lusitana, mas cansa. Décadas de ditadura que impuseram um estilo de vida sóbrio e discreto deixaram as suas marcas aqui e acolá. Como alguém disse, e ouvi ou li, Salazar morreu há mais de quarenta anos, porém a sua despótica presença e dura herança ainda perduram. Sente-se.
Saí, sentei-me numa esplanada. Falei e ri. Esqueci-me, por momentos, dos problemas que me perseguem. Passei, num ápice, de rapaz sério, compenetrado, a alguém que só quer estar em paz. E consegui. Depois voltou tudo, sim. Percebi uma realidade tão presente e comentada, tão óbvia, e talvez por isso tão pouco perceptível, acerca dos dias. O ontem tem uma importância relativa. Existiu, fez-se sentir, não o podemos modificar, é certo. O amanhã pertence-nos. Um novo dia tem necessariamente de nos fazer esquecer o anterior. Sendo mau, até agradecemos. "Já passou." Parece evidente, não é? Para mim não o era. É provável que ainda não o seja fixamente; penso nisso, conforta-me, anima-me. É a coragem. Existo, estou vivo, respiro, sinto, observo, sofro, e sei rir. Vi o precipício de perto e não gostei.
O caminho deve ser este. Ganhei um pouco de tranquilidade. Espero não esporádico. Tenho de ser forte. A ver se consigo chegar a velhinho. E que lá, por fim, não me importa que seja tardiamente!, consiga estar... bem.
É a primeira vez que sorrio durante o dia de hoje. E sorrio feliz, por te ver a descobrir essa "verdade". Gostei bastante! Espero que mais momentos assim se repitam ao longo dos teus dias!
ResponderEliminarAbraço e beijinho :)
Também espero. Obrigado, João. :)
Eliminarum abraço!
Que bom, Mark. É assim que tem que encarar a vida. Parece que despertou pra vida. É como eu costumo falar: vivemos querendo ou não, por isso escolhemos se queremos viver melhor ou pior. :)
ResponderEliminarVocês estão na primavera e nós aqui no outono. Felizmente em SP nunca faz aquele calorzão do Rio. Até que faz um friozinho gostoso.
Abraços!
Bom, ou um dia melhor ou uma nova tendência. Veremos. Mas hoje estive mais animado. O ontem, como referi, é um "imenso" passado. Está atrás, atrás das costas. E temos de olhar em frente.
EliminarHoje esteve muito quente em Lisboa. Não gosto de calor.
um abraço.
Hoje este um dia lindo de Sol e muito Calor :)
ResponderEliminarAbraço amigo
O que ajuda a estabilizar (-me) o humor. :)
Eliminarum abraço, Francisco.
Um belo texto! Inspirador eu diria... por aqui agora é a nossa vez de começar a ver o cinza chegar, hora de começar a buscar um cardigã (sou desses)... lendo seu relato, me veio a mente um trecho de uma poeta brasileira, que de certa forma acredito que tenha a ver com o que você escreveu... espero que goste! Abração grande.
ResponderEliminar"Aprendi com a primavera a deixar me cortar e voltar sempre inteira." (Cecilia Meireles)
Deve ser o meu escrito mais animado dos últimos dois anos. :)
EliminarCurioso mundinho o nosso. Nós rumamos ao Verão e vocês à estação fria.
Bonito verso. Não conhecia. Obrigado, Latinha.
abraço grande!!
Mark o melhor que se pode fazer é não tentarmos chegar a velhinhos, o tempo passa num abrir e fechar de olhos que quando deres conta, se tudo correr bem, nem de uma bengala irás precisar :-p E forte tu és, escrever requer mesmo isso, não na ponta dos dedos, mas à volta de todos os neurónios!
ResponderEliminarSempre pensei que morreria novo (e ainda penso um pouco). Às vezes acredito que não chegarei nem aos cinquenta. Por outro lado, seria engraçado chegar à provecta idade dos meus avós (mas com boa qualidade de vida).
EliminarTambém começo a acreditar que seja forte. Embora pareça, a minha vida não tem sido tão idílica assim...
um grande abraço, amigo No Limite. :)
Mark estou a ver que és como eu, pois por vezes penso que não chegarei aos 50 daí estar numa luta contra ao tempo, fazer um pouco do que já deveria de ter feito nos meus 20 e poucos anos.
EliminarAbraço :-)
Eu sempre tive a ideia de que não chegaria aos cinquenta anos. Sinto que morrerei jovem. Pode ser apenas uma parva intuição.
Eliminarum abraço.
Fico feliz que esteja mais animado. A primavera para vocês deve ser muito bonita, começam a nascer muitas flores incríveis, né?! Pelo menos no Japão é assim, fico encantado. Em São Paulo já não percebemos tanto as mudanças de estação, no máximo alguns dias mais friozinhos no inverno e uns dias mais quentes no verão, mas nada tão extremo. Rs
ResponderEliminarGrande abraço!
Sim, as flores brotam nesta altura do ano. Perto de casa da avó, uma laranjeira já está repleta de flores e de frutos. E o cheirinho!...
Eliminarum abraço grande, Eros. :)
Já não é a primeira nem a segunda vez que te oiço dizer essa "idiotice" de que tens a sensação de que não vais morrer velho...Que absurdo, com a tua idade pensares assim...
ResponderEliminarQue direi eu? Quando vejo partir tanta gente da minha idade e assim, de repente, uma análise, uns meses e pumba ....fim?
Apesar de tudo é positivo este post sobre a Primavera; só é pena que agora que estou a escrever este comentário, a chuva (aliás normal neste mês) tenha voltado.
Sabes, querido João, é um pressentimento. Infundado, sim. Sou saudável, dentro do possível, e nada parece indicar uma vida curta. Mas, sei lá, sinto-o.
EliminarAndo mais animadito, ainda que com chuva. :)
há dias em que nos sentimos mais em baixo, outros, em cima, em que apreciamos melhor o que nos rodeia. um dia de sol na esplanada, o verde da relva e os passarinhos (poesia, pois claro :D) anima-nos logo. eu tenho sorte, acordo com o chilrear da passarada aos fins-de-semana, que nas traseiras do meu prédio, para onde está virada toda a minha casa, existem diversas árvores (serão plátanos? não sei...)
ResponderEliminararriba mais vezes, Mark, que é bom ler este tipo de post.
bjs.
Ouvir os passarinhos é um deleite. Não posso ter aves, mas ouço o cantar de uns passarinhos da vizinha. :)
EliminarA tendência tem sido para andar mais animado. Espero que se mantenha - e nem atravesso uma fase especialmente tranquila (problemas familiares). Também não podia ser tudo mau. Ao menos que o humor estabilize. :)
um beijinho.
A primavera faz-nos tão bem :) E Mark, o segredo está no "rir" e deixar-nos flutuar na boa disposição perante as coisas :) Nem tudo é preto ou branco.
ResponderEliminarÉ verdade. Tens toda a razão, querido Namorado.
Eliminarum abraço. :)