31 de julho de 2019

O Culpado.


   Há suspense até ao último minuto, de facto. Thriller que nos faz sentir o desconforto desde a cadeira da sala. Os planos fechados, estáticos, a claustrofobia daquele gabinete - a acção desenrola-se toda na esquadra - e os segundos intermináveis de silêncio, entre grunhidos e ruídos, levam-nos a exasperar. Foi interessante, de certo modo, terem realizado um filme sobre os assistentes da linha europeia de emergência 112, que, no caso dinamarquês, parece ser operada pela polícia.

   Asger é um homem com problemas pessoais e no emprego, completamente dedicado, de corpo e alma, às funções que executa, não temendo em se comprometer, ao ponto de, a meu ver, violar alguma da ética profissional que o devia acompanhar.


   As coisas nem sempre são o que parecem, e embora o realizador tenha querido que nós participássemos naquela tentativa de resgate, um telefone, por si só, não funciona. É um filme de forte comprometimento com uma causa, salvar vidas, talvez também porque Asger esteve implicado na destruição de uma, o que o corrói e preocupa. O esmero em solucionar aquele verdadeiro bico de obra poderá estar relacionado com essa procura por uma redenção qualquer, naquilo que terá sido um acidente que o deixou marcado. Asger é um homem perturbado. Percebemo-lo pelo seus descontrolo pessoal, que desvenda alguma violência, porque a acção do filme não vai além de um caso despoletado por uma chamada de emergência.

28 de julho de 2019

The Lion King.


   O Rei Leão nunca foi o meu filme favorito da Disney. Vi-o, como todos da minha geração, em pequeno. Acredito que seja o filme de animação de eleição da maioria. A mim, contudo, nunca fascinou, nem convenceu.

   Tenho um amigo que me disse não querer ver este live-action com medo de sair completamente defraudado nas suas expectativas. Teme, em suma, que o remake lhe estrague as memórias de infância.

    Inversamente àquilo que sucedeu com o Aladdin, esta recriação d' O Rei Leão ficou, quanto a mim, perfeita. Foram absolutamente fiéis ao original (aperceber-se-ão disso nos pormenores), o que é bom. Não inovaram. Não se puseram com invenções que, no mais das vezes, só nos levam a sair completamente decepcionados - o que no meu caso seria impossível, só podendo sair a ganhar, e saí. Os efeitos computorizados atribuem ao filme uma percepção de realidade e uma minúcia que o desenho-animado dos anos 90 não tinha, porque nem podia ter. A banda-sonora, que, sim, sofreu alterações, ficou interessante. Não tem o impacto das canções épicas da versão original, mas a escolha de Beyoncé Knowles foi acertada.




    O facto de o remake ser maior do que a versão original ajuda a explorar melhor as personagens. Nala, a mãe de Simba, as hienas e o próprio Scar, o icónico vilão, que continua malignamente cínico, são-nos dados a conhecer com mais profundidade. Claro que encontramos todos os personagens, como o divertido Zazu, o feiticeiro Rafiki ou os destrambelhados Timon e Pumba, que nos sacam risadas a bandeiras despregadas com a sua sagacidade e que continuam divertidíssimos. O contexto da convivência difícil entre hienas e leões, que se verifica realmente nas savanas africanas, ganhou outra dimensão, inclusive nas cenas de luta entre os animais, ultra-realísticas. Eu vejo, aqui, a computorização como um acrescento à fantasia.

   A cena da morte de Mufasa, uma das mais emocionantes da história da Disney e até, direi eu, da cinematografia em geral, continuará a comover. Os efeitos conseguiram extrair da cena o que ali se jogava: toda a maldade de Scar, o desespero de Mufasa e o profundo pesar e sentimento de culpa que se abatem sobre Simba. É o apogeu do filme em realismo e drama.

   Acredito que alguns esperassem mais, talvez algumas diferenças face ao original. Sendo O Rei Leão um símbolo da cultura pop e um filme quase de culto, intergeracional, o realizador temeu que quaisquer mudanças pudessem causar um efeito de afastamento das pessoas das salas de cinema. Fez muitíssimo bem em seguir o guião original. A falta de expressão no rosto dos animais é um ponto que poderia ter sido melhor trabalhado, é verdade, contudo é importante que as pessoas percebam que a tecnologia não faz milagres. O resultado final da antropomorfização nunca é perfeito. O desenho-animado, e já o disse aqui noutras publicações, permite uma liberdade que a procura pela perfeição ainda não atingiu. Os bonecos, em itálico, ficaram pouco expressivos? É provável que sim. Julgue-se, porém, o filme no seu todo. Eu nunca vi uma savana tão natural, tão real, tão viva e criativa numa animação por computador.

   Sob pena de ser torturado - estou a brincar convosco - superou o original. Eu aprendi verdadeiramente a gostar d' O Rei Leão com esta versão. Antes tarde do que nunca. Um trauma de infância que superei, afinal, como não gostar deste filme?

20 de julho de 2019

That's one small step for man, one giant leap for mankind.


   Há exactos 50 anos, Neil Armstrong protagonizava a chegada da humanidade à Lua com uma frase que jamais esqueceremos, os que assistiam pela televisão e os que a conheceram a posteriori, ou muito a posteriori, como eu, que estava a largos anos de vir a nascer. Os EUA pisavam no único satélite natural do planeta, levando a dianteira sobre os seus rivais, os soviéticos, que em 1961 haviam posto o homem no espaço. Terá sido uma vitória para os americanos, ainda que eu a veja como uma vitória colectiva. Demos um passo decisivo. Armstrong teve consciência da importância de ter sido o primeiro, ele que tinha tido um percurso pessoal e profissional relativamente discreto e apagado.

   Por cá, vivíamos nos anos da primavera marcelista. Salazar agoniava a olhos vistos. As imagens chegavam-nos a preto e branco, durante toda a madrugada, através do sinal da RTP, claro está. É provável que alguns se tenham lembrado do que fizemos séculos antes, no século XV, quando, com menos conhecimentos do que aqueles de que os americanos dispunham, nos lançámos num mar de incertezas. A nossa façanha, não querendo com isto tirar os louros aos americanos, foi porventura mais surpreendente. Tecnologia, se é que lhe podemos chamar assim, tínhamos pouca. Muita, herdada dos sarracenos. Os meios, também eram escassos. Os homens, enfezados e malnutridos, sobretudo quando comparados aos neerlandeses e outros. Ora, diga-se lá se não fomos mais corajosos? Encarar o oceano, sem a certeza de encontrar terra firme, assemelha-se-me mais heróico do que ir à Lua, afinal, a Lua estava lá. Já sabiam que a encontrariam, na melhor das hipóteses. Os nossos homens, na melhor ou na pior das hipóteses, não sabiam nada. Sabiam, quando muito, que tinham Deus consigo. Levavam a fé e a esperança de regressar. 



    Não deixa de ser curioso que conheçamos mais dos planetas e asteróide que compõem o sistema solar do que do fundo dos nossos oceanos, das suas fossas abissais. Embora já tenha havido explorações, mantêm-se amplamente desconhecidas. Demos primazia ao espaço em detrimento dos oceanos. Acredito que tal se deva à conquista do ar. A aviação e a exploração espacial, pela inovação, desviaram-nos a atenção. A guerra tecnológica com os soviéticos ajudou a incrementar uma vantagem que já vinha de trás.

   Uma das décadas mais apoteóticas e conturbadas do século XX terminava com um feito extraordinário. Após Armstrong e Aldrin, vários outros astronautas tiveram a honra de pisar o solo lunar, até 1972, data da última missão ao satélite, pela Apolo 17. De lá para cá, a Lua passou para segundo plano. Fala-se em enviar o homem a Marte na década de 2030. Se assim for, e se lá chegar, certamente serei um dos que ficarão agarrados ao ecrã noite fora, como os nossos pais e avós, na emocionante madrugada de 20 de Julho de 1969.

15 de julho de 2019

Veliero Amerigo Vespuccio.


   Na quarta-feira, o navio-escola da Marinha Italiana, o Amerigo Vespucci, em homenagem ao célebre cartógrafo de Florença, Américo Vespúcio, atracou em Lisboa. É uma embarcação lindíssima, imponente, que se via ao longe, desde a estação de Santa Apolónia, por um lado, ou do Terreiro do Paço, pelo outro. Os seus mastros, longos e esguios, elevavam-se no céu. Isso despertou-me a curiosidade. Nós, portugueses, temos o navio-escola Sagres, que cumpre as mesmas funções, viajando por esse mundo fora e acolhendo jovens cadetes em formação.


   Só na sexta-feira, já fora de horas, é que descobri que se podia visitar o veleiro por dentro. Por sorte, sábado, ou seja, anteontem, era o último dia. Decidi passar por lá, à tarde.

    Bom, não há muito para apreciar, verdade seja dita. Só nos deixam andar pelo convés e espreitar pela cabine de controlo. Visto por fora, julguei  que a visita interessaria mais. O que é interessante, sim, é observar o mapa da viagem que o veleiro efectuará pela Europa. Neste momento, já vão a caminho da Irlanda. Passarão pela Noruega, Alemanha, Espanha…
   Achamo-lo num excelente estado de conservação. Extremamente bem cuidado. Passou por uma remodelação recente. Com 88 anos, parece estar longe da reforma. Lisboa, curiosamente, foi uma das suas primeiras passagens, quando, em 1931, foi lançado aos mares.


   O Amerigo Vespucci é, de certo modo, um símbolo de Itália, país reunificado tardiamente, já no século XIX, mas terra, também, de homens ligados ao mar. Desde logo, Cristóvão Colombo, um dos maiores. Poderia ainda mencionar Giovanni da Verrazano ou o seu homónimo Caboto, dois dos primeiros navegadores a explorar o continente norte-americano.
   Une-nos, a portugueses e italianos, não só uma origem comum, a Lacio, com tudo o que isso implica - língua, direito, arquitectura (clássica) -, mas também as façanhas em alto-mar, e os feitos italianos são vulgarmente esquecidos. Quando se pensa no descobrimento da América, lembramo-nos dos Reis Católicos, de Espanha e de Colombo. Colombo que era genovês - ainda que subsistam várias teorias, díspares, sobre a sua proveniência. Do que ninguém duvida é de que Itália, reunificada ou não, imprimiu o seu nome na história dos descobrimentos. E merece figurar lá.



   Deixo-lhes algumas fotos, por mim tiradas.

9 de julho de 2019

O fim... do ano lectivo, com c.


   Com o início do título, até se assustaram, não? O fim. Será que é agora que ele vai encerrar de vez o blogue? Não, ainda não é desta, embora ande ligeiramente afastado destas lides. 

  O que é que tenho feito, perguntar-se-ão. Algumas coisas; umas que gosto mais, outras que gosto menos. Na última semana, fiz uma oral de Contencioso Administrativo, na quarta. Uma oral de passagem. Gosh, o raio da cadeira deu-me imenso trabalho a fazer. A regente pôs a mão na massa, como um assistente disse, e corrigiu alguns testes e exames. Como sou um tipo cheio de sorte, foi ela quem corrigiu o meu teste e o meu exame. Não será difícil imaginar que a nota não foi um espanto, obrigando-me a ir à oral. Sim, uma oral, com um júri. Eu, de fatinho e gravata, perante dois professores até acessíveis e simpáticos - rezei para que não fosse a regente. Passei. A algum custo, mas passei. Fiz todas as cadeiras a que me comprometi, seis. Parabéns a mim.

  Antes disso, na segunda-feira, fui a Lisboa com a minha mãe. Ela teve de tratar de uns assuntos e pediu-me para que a acompanhasse. E eu lá fui, claro. Adoro andar com a minha mãe. Da parte da tarde, passámos pela baixa, onde almoçámos numa hamburgueria de decoração retro-chic, comprei um polo na Springfield e um livro na Bertrand. O polo é muito giro, vermelho, e é para estrear quando o tempo melhorar, ou eventualmente no Algarve, se for para lá neste Verão, que ainda não sei. O livro, pois, não era  para o ter comprado, porque, como bem se lembram, comprei imensos livros na edição deste ano da Feira do Livro. Acontece que tinha um montante a caducar no meu cartão da Bertrand. Um montante não desprezível, por assim dizer. Com o remanescente, trouxe um clássico, outro que ainda me faltava. Deixo-lhes as fotos.






    Tem sido assim, um começo de Verão tímido. Tão tímido quanto a temperatura, que ainda não é de Verão, mas que agradeço: continue. Ah, acompanhei a Copa América e a Gold Cup, competições que terminaram ontem. Parabéns aos vencedores, o Brasil e o México, respectivamente.

2 de julho de 2019

2ª mostra de cinema do Brasil em Lisboa / Aos Teus Olhos e O Beijo no Asfalto.


   Subscrever newsletters tem um lado bom. O mau, já conhecemos: a nossa caixa de e-mails a abarrotar; o bom, é este: ter conhecimento de eventos, de festivais. Assim foi. Soube que o Cinema São Jorge estava a exibir a 2ª mostra de cinema brasileiro. Já o soube a dias do final, mas a tempo de ver os filmes que me interessavam. Anteontem, domingo, vi estes dois: Aos teus olhos e O Beijo no Asfalto. Em rigor, era para ter visto um no sábado e outro no domingo; acontece que adiaram o de sábado, Aos teus olhos, para domingo às 18h, que se juntou ao O Beijo no Asfalto, às 21h. Foi uma maratona, maravilhosa maratona, que não me é inédita, nem em festivais (aconteceu no Queer, no ano passado), nem em cinema comercial (já vi dois também, seguidos).


   Começando pelo Aos teus olhos, é um filme dramático, que nos conta a história de um professor de natação que, de um momento para o outro, é acusado pela mãe de um dos seus alunos, um miúdo menor, pequenito, de o ter beijado inapropriadamente. A mãe, ao ter conhecimento do sucedido através do próprio filho, divulga o caso nas redes sociais, primeiro no grupo da escola de natação, que depois, com as partilhas, que os brasileiros chamam compartilhamentos, chega a várias outras pessoas. 

   O realizador nunca nos conta o que verdadeiramente aconteceu. Em momento algum. Somos levados, cada um de nós, por indícios que nos são deixados, a acreditar numa ou noutra versão, e também somos confrontados com os nossos preconceitos. Chegamos a saber que o beijo terá sido no rosto da criança. Será que ficamos igualmente preocupados se uma professora beijar um aluno no rosto? E sendo um homem? Porque é que a nossa tolerância muda? Não serão ambos professores? É aqui que entra a homofobia, que por diversas vezes surge no filme. Aliás, a confusão entre pedofilia e homofobia é uma constante. O pai do menino teme que chamem o filho de viadinho. O professor é vítima de insultos homofóbicos. A directora da escola de natação, que primeiramente apoia o seu funcionário, também o questiona sobre a sua orientação sexual, sabendo que não o pode fazer, porque as leis laborais, também no Brasil, protegem os trabalhadores quanto a questões que se prendam à sua intimidade.



   É evidente que há indícios que nos levam a pôr em causa a sinceridade de Rubens. Por que motivo leva o menino para o vestiário, a única parte da escola sem sistema de videovigilância? Por que motivo guardou a sunga do menino no cacifo, não a devolvendo logo? Alegou que os meninos perdem pertences diariamente, e que lhes compete guardá-los. Será correcto um professor guardar pertences dos alunos no seu cacifo? São perguntas retóricas. Algumas terão resposta. E contundente.

   Rubens parece só encontrar apoio real na namorada. Uma namorada que, a meu ver, também serve aqui apenas para nos confundir. Uma namorada de 19 anos. Ele tem 33. Ou seja, e concluindo o raciocínio e aonde os quero levar a chegar, o realizador, propositadamente, quis-nos deixar cheio de interrogações. Explorou, ainda, olhares cúmplices entre a criança e o professor. Olhares que nunca chegamos a desvendar se de apoio e carinho ou se de algo terrível. Há, ainda, um aluno mais velho, que surge sempre com diálogos indecifráveis com Rubens. Parece que o rapaz é gay e que Rubens o terá ajudado em algo que, tal como com o pretenso crime, nunca fica claro.

   O filme, como se vê, trata de questões actualíssimas, como o julgamento sumário nas redes sociais, verdadeiros barris de pólvora, o preconceito, a desinformação. Não o enquadraria no selo LGBT, porque lhe falta essência e vontade para isso. Gostei das interpretações, dos planos, da simplicidade das actuações, que torna os filmes verosímeis. Quando um actor dá o que tem, isso sobressai. Daniel Oliveira deu.

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   O Beijo no Asfalto foi o segundo do dia (da noite?). É, na verdade, uma peca de teatro televisionada, porque assim nasceu, em 1960, já tendo conhecido três adaptações para o cinema. Esta última, especialíssima, porque vemos os cenários, que são de teatro, a aparecer no filme. É quase como uma peça dentro de um filme. Conta com nomes de peso, como Stênio Garcia, que se sai muitíssimo bem, e Fernanda Montenegro. Sucintamente, um homem vai ao penhores para deixar uma jóia e, no regresso a casa, assiste a um atropelamento, indo ao encontro do acidentado para o socorrer. A vítima, a exalar os últimos suspiros, pede-lhe um beijo. E ele dá. Claro que tudo viria a suscitar uma enorme polémica, desde logo porque o seu sogro está presente e assiste a tudo. Sogro esse interpretado por Stênio Garcia.

   O beijo, na púdica e fechada sociedade brasileira, gerou uma onda enorme de revolta e homofobia. Nisso, ambas as longas comungam. Nisso e no clima de suspeição: no Aos teus olhos, ficamos na dúvida se o professor era um predador sexual; neste, Arandir é, ele mesmo, alvo de suspeições durante todo o filme / peça.

   O preto e branco, o filme foi rodado a preto e branco, representa uma vantagem. Como se houvesse uma enorme solidão entre aquelas personagens. Uma sensação de vazio, de abandono.



   A ideia de colocarem os actores numa mesa redonda, ensaiando, sendo que, depois, os ensaios se misturam com as gravações, foi bem conseguida. Os ensaios servem quase como uma introdução / explicação àquilo que vemos, um acrescento, que serve para tornar aquele argumento mais real, mais palpável. Às tantas, o preto e branco leva-nos a crer estar num sonho.

   Notei que o filme conjuga duas posturas antagónicas: desde logo, a pureza de Arandir, um homem bom, que atende a um último pedido de um estranho, motivado apenas pelo desejo de fazer o bem; do outro, Aprígio e Amado Ribeiro, o sogro e o jornalista de índole ruim. Um, motivado por uma angústia com a qual não consegue lidar (ficarão surpresos); o outro, incorporando o que de pior tem o jornalismo, querendo, seja por que meios for, atingir vendas astronómicas, nem que para isso se valha da difamação. Aqui, de certo modo, também encontro semelhanças com o Aos teus olhos: através da imprensa, nos anos 60, ou das redes sociais, presentemente, deparamo-nos com meios de informação que podem ser potencialmente lesivos.

   O Beijo no Asfalto é ousado, e acredito que o tenha sido muito para a época. De sentimentos reprimidos, pelo menos em duas personagens, a uma pretensa homossexualidade, o encenador / realizador apresenta-nos a morte, no início e no fim; a morte que nos faz espiar velhos desejos, e que descobre outros. À medida em que as cenas vão aumentando em intensidade, a nossa alienação também: não sabemos onde estamos, onde eles estão, e estamos longe de imaginar o final imprevisível.

    Um festival que soube a pouco, se bem que, em Setembro, o São Jorge traz sempre novidades.