25 de maio de 2019

As Europeias.


   A um dia das eleições, a publicação peca por tardia. Descansem que não venho fazer o tradicional apelo ao voto (útil), pelo contrário, que o mais certo será votar nulo. Não voto em branco porque o voto em branco é um perigo, e eu não confio em ninguém. Não vi qualquer debate, mas, a julgar pelos partidos e pelas pessoas, não é difícil imaginar o que defendem. Começando nos bastas e acabando nos blocos, temos tudo para todos os gostos, para alimentar o filão de Bruxelas e de Estrasburgo.

   Já sabem o que penso sobre a UE. É um grilhão de povos. Um invento franco-alemão, que surgiu com dignos propósitos de se evitar a guerra na Europa, é certo, e que décadas depois virou um instrumento de domínio. As desigualdades continuam a existir, e talvez, digo eu, seja bom para muitos que elas existam. Aqui, claro, não isento de responsabilidade os dirigentes que tivemos nos últimos trintas e tal anos, que se aproveitaram dos fundos estruturais, e não só, em proveito próprio. 

   Tão-pouco acredito que o voto para o parlamento europeu modifique seja o que for. As decisões são tomadas mais ao lado, em Berlim. A Europa, hoje, para estes senhores que nos representam, é mais um lugar seguro, fonte abundante de privilégios e prestígio. Se preciso for, em nome de uma qualquer vantagem para o país, deixa-se o barco e ruma-se a Bruxelas. Já nos aconteceu. A vantagem foi pessoal. Ninguém lucrou nada a não ser o próprio.

   Tenho ainda conhecimento das restrições que o direito europeu comporta para o nosso ordenamento jurídico. Os regulamentos, nomeadamente, vigoram automaticamente, sem necessidade de transposição. O direito europeu tem primazia sobre nacional. A nossa soberania, e não será excessivo dizer-se, está sequestrada por senhoras e senhores que representam interesses suspeitos. Longe vão os tempos do sonho europeu, que Portugal acalentou por anos, quando, despojados à força do império, nos disseram, em uníssono, Europa, Europa, Europa. E, por aqueles tempos, em nada mais acreditávamos. Julgávamos que iríamos ser recebidos de braços abertos numa Europa de comunhão e partilha. Ilusões.  Exceptuando-se Espanha, com quem mantemos, malgrado todo o passado de conflitos, uma história em comum, somos ilustres desconhecidos na Europa. Na Europa das instituições. Não na Europa das pessoas. Portugal, pelo tanto que tem a oferecer, seja na sua qualidade de vida - que não se afere apenas pelo dinamismo da economia e pela justiça social, mas também - na amabilidade do nosso povo ou no clima. 

  Há dias, assinalámos o 840º aniversário sobre o reconhecimento papal da nossa soberania. As comunidades europeias estão ainda longe dos cem anos, e a UE, como a conhecemos, nem tem trinta. Decerto que os mais atentos se perguntarão acerca da necessidade de se entregar o fundamento último da nossa existência nas mãos de terceiros, que desconhecem a nossa realidade e a nossa história. Lutámos tanto por algo que, de momento, trocamos por umas moedas. É tudo o que resta de nove séculos? A resignação? 

  Não, não acredito que os eurocépticos de hoje continuem, bem refastelados no parlamento europeu, desconfiados da UE. Não, não acredito que o voto, nestas eleições, faça a diferença. Não, não defendo o isolamento, o orgulhosamente sós do passado. Mas sim, não prescindo da nossa soberania, das nossas fronteiras, da nossa capacidade de fazer acordos comerciais com outros estados, sem intermediários.

   O voto nulo, que não acarreta o peso do desleixo, vislumbra-se-me a única opção possível. Um rotundo não à Europa. O branco, o voto, tem a mensagem política do descontentamento, e o nulo, a que eu lhe quiser pôr.

6 comentários:

  1. Existem momentos e circunstâncias em que, o que nos reta, é isto mesmo ... sem remorsos de uma possível omissão ...

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    1. Eu ficaria com remorsos, e por isso irei votar.

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  2. Nem fui lá ehehehehehehhehehe

    Abraço

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  3. Eu acredito que o futuro está na união, e não na separação. O melhor sistema para o fazer, ainda não o sei, mas enquanto não aparece outro mais favorável terá que ser este.
    Esta abstenção é significativa, pois todos nós sentimos que o nosso peso na comunidade é praticamente nulo, nada do que pensamos ou queremos não é tido em conta, parece que nos diluímos de uma forma algo anónima, mas
    é o preço que se paga por pertencer a uma grande massa da qual somos uma porção muito pequena.
    Mas, ainda assim, acredito que a união é o futuro, desde que não se passe uns por cima dos outros e que se continue a respeitar a existência do direito à diferença e à tradição. Uniformizar não é fazer de todos uma grande mole indiferenciada.
    No entanto, o sistema de partidos não me convence, nem nestas, nem em quaisquer outras eleições
    Uma boa semana
    Manel

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    1. A UE perdeu o norte. Passou de união económica e comercial a união política. Impossível. A Europa é um continente, e não um país.

      É a velha ditadura dos partidos, à qual também já aludi. Os partidos sequestraram a democracia.

      Um bom fim-de-semana, Manel. Perdoe a ausência.

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