24 de abril de 2019

Medellín.


   Quando ouvi a nova canção da Madonna, perguntei-me: "Onde estarão as influências portuguesas?" Não as há, é verdade. Há quem garanta que o álbum as terá. Não sei. É claro que Madonna não foi indiferente ao último ano e meio que passou em Lisboa. Acredito que o álbum contenha, quando mais não seja, um cheirinho a Portugal. Ela assumiu, inclusive, que a ideia do Madame X nasceu aqui. Os serões nas casas de fado tê-la-ão inspirado.
    É de lamentar que, depois da polémica com o cavalo, na quinta, a artista se tenha decidido a deixar, zangada, o país. Não sou dos que considera que Madonna tenha dado muito a Portugal, como ela julga. A bem dizer, Portugal já estava na moda antes de Madonna. A própria, estou em crer, foi mais uma das conquistadas pela nossa paz social, pelo clima e pela beleza das nossas paisagens naturais e monumentos. Quando ganhámos o Europeu de 2016, por aí, começámo-nos a tornar apetecíveis para os estrangeiros. Mas não nos afastemos do seu próximo trabalho.

   Ao olhar para o alinhamento das músicas do disco, deparei-me com colaborações brasileiras (Anitta, e um Faz Gostoso), um toque cabo-verdiano e, depois, aquele reggaeton latino-americano misturado com a pop. É, de resto, assim que se apresenta Medellín, a faixa que inaugura Madame X, ainda a ser lançado. A canção já está disponível no YouTube e nas plataformas digitais de streaming, como a Apple Music. Já a adicionei à minha biblioteca pessoal.

    Não se deixem levar pela primeira impressão. De facto, ao ouvi-la, pela primeira vez, odiei-a. Camille Paglia, uma célebre feminista norte-americana, acusou, há uns bons anos, Madonna de se ter rendido ao marketing. Com efeito, a rainha da pop já não é o que era. Os tempos também mudaram, verdade seja dita. Madonna foi a primeira artista a criar um pop de massas, a mostrar um lado sensual e erótico da mulher, no despontar dos 80. Não sendo particularmente bonita ou boa cantora (como Cher frequentemente lembrou, talvez por algum despeito…), Madonna soube vender bem o produto. Vender-se bem. Ela vende o que tem como ninguém, e deu certo. Deu certo até hoje. Longe dos lugares cimeiros das tabelas nos anos 80 ou 90, Madonna é Madonna. Sempre se fala nela, sempre se ouve o que ela manda cá para fora. Nos últimos anos, e o último álbum seu que comprei foi o Hard Candy, em 2008, Madonna tem procurado resgatar um público mais jovem, colaborando com artistas como Justin Timberlake, Timbaland, Nicki Minaj, etc. Ela sabe, porque é perita no assunto, que o mercado musical é particularmente mau com as mulheres. Os homens, com a idade, ficam charmosos; as mulheres, ficam trapos. Às cantoras internacionais, quando atingem certa idade, resta uma de duas: ou viram lendas, e todos as admiram mas já ninguém compra um produto novo que lancem, ou caem no esquecimento.

   Voltando a Medellín, é uma canção imprópria para se ouvir por mais de duas vezes, correndo o risco, o incauto, de ficar viciado num ritmo que nos faz querer dançar até amanhã, de refrão pegajoso que se gruda à nossa pele e de lá mais não sai. Conta com a participação - que há quem diga até em doce excessiva - de Maluma, um cantor colombiano (e giro, até), que veio a Portugal a convite de Madonna. Andou pela noite lisboeta na companhia da diva, tirou fotos na Praça do Comércio, e, pelo visto, divertiu-se. Menos mal que nos queda Portugal. Deixo-a aqui.


7 comentários:

  1. Sinceramente penso que Madona ícone já era. Assim como Almodôvar, rendeu-se ao marketing fácil. Ela incluir Anita como artista em seu disco é algo deplorável.

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    1. De facto, tenho a concordar. Ela está (ainda mais) vulgar.

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  2. Como creio ter-lho dito antes, Madonna, como cantadeira, não é significativa para mim, não a ouço de forma voluntária, não possuo qualquer música dela guardada, e, apesar da sua fama planetária, dos muitos rios de tinta que fez correr, dos muitos milhões de discos vendidos, das suas poses de diva (que o é), a sua presença é-me indiferente, como o é à maioria dos portugueses, creio; e, quanto à sua voz, e aqui falo por mim, não pertence às que me fazem ficar "com borboletas no estômago" nem com "pele de galináceo".
    Não conseguiria identificar a sua voz, se não estivesse devidamente etiquetada ou anunciada, e creio que só reconheço uma única música dela, porque vivi com uma pessoa que a passava de forma exaustiva.
    Ouço esta composição que aqui deixou, e deixa-me completamente indiferente, não ouviria duas vezes. Tenho o ouvido dirigido noutras direções completamente distintas, nem melhores nem piores, só distintas.

    Achei-a uma atriz passável nos pouquíssimos filmes que vi dela - não gostei da sua Evita, pouco convincente, e um "Swept Away" meio medíocre fizeram com que desistisse das suas capacidades para encarnar papéis diferentes dela mesma; no entanto reconheço-lhe os dotes no mundo do marketing, o que, para mim, continua a não dizer nada, em termos de classificação da sua voz como fundamental no mundo artístico ou capaz de ser credível na forma como vestiu os papéis que lhe couberam no cinema - talvez não seja por acaso que a sua fama como atriz seja pouco consistente.
    Reconheço, no entanto, que haverá quem goste dela como intérprete de música e ainda bem – não é por acaso que foi considerada uma das mulheres mais poderosas dos finais do século XX, e classificada como Rainha da Pop. A diversidade é importante em todos os campos, e na arte, é fundamental!

    Considerei que a sua mudança para Lisboa seria possivelmente benéfica para a cidade, mas esta existiu antes, existe agora e, espero, continuará a existir, depois da cantora se ter ido embora.
    Talvez, como todos nós que fazemos uma cidade, tenha tido um papel importante para tornar Lisboa, senão melhor, pelo menos mais conhecida. No entanto, a sua procura por situações de exceção dentro do tecido social onde se inseriu, como diva que é, não a ajudou muito.
    Parece que a senhora julgou ter chegado à "República das Bananas" e deve ter acreditado que poderia passar por cima de todas as tradições e modus operandi" locais, inaugurando uma nova era da cidade.
    A senhora deve ter acreditado que qualquer lugar no planeta que escolhesse para viver sofreria um incremento inesquecível para todo o sempre – não seria a primeira, pois as cabeças coroadas e demais realezas que se instalaram em Portugal durante a 1ª metade do século XX fizeram sensação e mudaram costumes.
    Não quero diminuir a importância que pode ter trazido a sua presença entre nós, mas temos de analisar a situação de forma global, tirando conclusões com conhecimento de causa.

    Voltei a partir o comentário em dois! A Google interpõe-se :)

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  3. Quanto ao que lhe sucedeu em Sintra, talvez fosse o culminar de uma sucessão de outros fatores que não conhecemos. No entanto, devo salientar que me custa perceber como uma pessoa decida fazer "birra" porque não a deixaram andar a passear-se em cima de um cavalo dentro de um edifício histórico português que, note-se, NÃO LHE PERTENCIA!! Sobretudo quando lhe foi explicado que a estrutura do edifício, por ser muito antiga e fragilizada, poderia sofrer danos com este tipo de esforço a que seria submetido!
    Acho no mínimo estranho que contactasse pessoas de alguma influência no estrangeiro para que exercessem pressão sobre as autoridades portuguesas (creio que visava mesmo o 1º ministro!!!!) no sentido de a deixarem levar a sua avante.
    Claro que só temos conhecimento do que foi tornado público, não sabemos os contornos completos da história, mas é no mínimo estranho.
    Imagine-se, hipoteticamente, e até de forma caricata, que à senhora lhe apeteceria passear-se a cavalo pelo interior de Buckingham Palace, e que, para tal, fosse queixar-se ao Sr. Trump que a rainha de Inglaterra não a deixava, e solicitava que o dito senhor intercedesse junto da real senhora para que tal lhe fosse permitido!!!!!
    Parece-nos ridículo, certo? Mas há algumas analogias.
    Claro que Madonna conhece os seus limites e nunca teria este tipo de comportamento nesta situação, então porque se permitiu tê-lo aqui???? Qual a diferença? Os nossos limites não são de levar em conta? Os nossos edifícios históricos são menos importantes dos que os dos outros países considerados do 1º mundo?

    Os portugueses sempre tiveram noções básicas em como acolher as pessoas. Não somos dados a "embandeirar em arco", nem a ostracizações severas, somos cautelosos nas emoções, mas não creio que tratemos mal as pessoas, como acontece com algumas cidades por onde tenho passado.
    Alguns de nós (há sempre uns tontos deslumbrados na sociedade), podem ser sensíveis ao "épater le bourgeois" que algumas pessoas feéricas experimentam connosco, mas, de uma forma genérica, sabemos o nosso lugar e até conseguimos, por vezes, colocar os outros no lugar.

    Claro que, de certa forma, lastimo sempre os maus entendidos que se levantam em situações que não se apresentam de forma bem explícita e clara, e julgo, ou melhor, quero acreditar, que Lisboa pode ser um lar para todo o tipo de pessoas (quer gostemos ou não da sua presença), e fico feliz se chego à conclusão que quem vive cá, tem prazer em o fazer, como acontece comigo, por exemplo, no entanto não devemos, nem temos necessidade de nos "vender" ou “rebaixar”, para que tal aconteça.

    Um bom feriado!
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Já eu, feliz ou infelizmente, conseguiria identificar a sua voz, mesmo desconhecendo a música. A voz de Madonna é pequenina, mas relacionável, parece-me.

      É, cantora e actriz medíocre. Ela é uma performer. Vale mais, segundo dizem, pelos espectáculos ao vivo. Nunca a vi. Diz quem viu que vale a pena. É uma entertainer. Lembro-me de uma polémica sua aquando da eleição do Trump. Disse que faria sexo oral a todos os que não votassem no actual presidente americano. Se calhar foi por isso que ele ganhou. :D

      O episódio do palácio e das pressões só a deixa malvista. Nada mais a argumentar. Julga-se superior só porque é mundialmente conhecida e rica. Pensou que nós, pequeninos, não teríamos dignidade. Enganou-se.

      Cumprimentos!

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  4. Se isto é o cartão de visita, :( snif snif snif snif

    Esperava bem mais

    abraço

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    1. Eu também pensei assim, mas depois ouvi mais umas vezes e pus-me a dançar. O furor passou. Já mal a ouço.

      um abraço.

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