30 de novembro de 2018

Beautiful Boy.


   Esperava há muito por este filme. Já o havia dito: o Timothée Chalamet é o meu crush desde que o vi em Call Me By Your Name. Ele tem ali qualquer coisa que o torna irresistível para mim. A par destas preferências mais pessoais, também o considero um excelente actor, talvez o melhor, ou um dos melhores, da sua geração. O miúdo tem mesmo jeito, e a interpretação neste Beautiful Boy veio comprová-lo; veio, por assim dizer, corroborar e legitimar tudo o que se tem dito sobre um actor que ainda não se deixou corromper pela indústria.

   É um filme com som e cheiro de filme independente. Foi buscar uma realidade que está meio fora de moda, a do mundo das drogas. E é nesse novelo, de dificílima saída, que cai Nicholas, "Nic", Sheff, de dezoito anos, que vive feliz com o pai, a madrasta e dois irmãozinhos mais pequenos. Chalamet tem encarnado miúdos, porque ele é um miúdo. Miúdos que estão na adolescência e que, de uma ou de outra forma, são problemáticos. Nic é-o excepcionalmente.


   É, no fundo, uma bonita estória de amor, de amor incondicional de um pai pelo seu filho - e podemos dizer que também do filho pelo pai, nos olhares, nas reacções e nas palavras que trocam. David Sheff, interpretado por Steve Carell, é o pai de três filhos que nutre um carinho especial pelo primeiro, Nic. Percebemo-lo a cada passagem do filme. Ele não se consegue abstrair da tragédia que se abateu sobre o seu primogénito, completamente dominado pelas metanfetaminas, na pior das drogas que usa. "Everything", como perceberão.

  A fotografia é outro ponto alto de Beautiful Boy. As pausas deliberadas, as retrospectivas. Um drama familiar, do impacto que a toxicodependência tem entre uma família que tinha tudo, incluindo estabilidade, para viver tranquilamente, entre sorrisos rasgados, que também os vemos, nos momentos em que o Nic sob o efeito das drogas alterna com o miúdo afável, brincalhão, amigo dos irmãos e divertido,  em processo de recuperação. Chalamet deve ter uma atracção por filmes ambientados em décadas anteriores. Se Call Me By Your Name era passado na doce Itália dos anos 80, Beautiful Boy mostra-nos a perigosa San Francisco dos 90.

  Mais do que um filme sobre a droga, sobre o tal mundo que referi acima, eu preferia defini-lo como um filme de amor, de amor e de renúncia, renúncia ao amor, quando necessário, e de forma particularmente dolorosa, e à dita droga, numa luta que é diária, e que o rapaz que inspirou o filme, e um livro, enfrenta ainda hoje. É isso.

26 de novembro de 2018

Christmas time is in the air... again.

 
  Estamos a um mês do Natal, e a cidade, Lisboa, já está a postos para o receber. No sábado passado, dia 24, com alguma chuva, as luzes natalícias acenderam-se pela primeira vez neste ano, mostrando-nos a magia dos enfeites que pelas próximas semanas irão ornamentar as principais artérias e praças da capital.

A Avenida da Liberdade, com os seus pendentes brilhantes

   Eu, claro está, interrompi o estudo e, munido de guarda-chuva, fui espreitá-las. Gostei imenso, como vem sendo habitual. Adoro o Natal, que para mim é este período que agora começa. Mais do que a véspera e o próprio dia 25, o que tem encanto é a quadra, as músicas, o espírito, os doces... Continuo a gostar infantilmente do Natal, sem ter vergonha de o assumir. Quando nos tornamos adultos, parece que, para muitos, gostar do Natal se torna ridículo ou despropositado. De todo, quanto a mim. Ontem mesmo, domingo, fui comprar uma nova árvore de Natal, que a que tinha, de quase nove anos, atingiu o limite. Esta é surpreendentemente alta. Tem 2,10 cm. Não vejo a hora de a montar. Costumo fazê-lo no dia 8 de Dezembro, que, como sabem, é o dia consagrado à Imaculada Conceição de Maria, cuja festa litúrgica assinalamos. Diz-nos a tradição que a árvore deve ser erguida nesse dia, quedando-se até aos Reis.

A bolinha onde todos querem entrar

   E, por falar em Natal, não se esqueçam do jantar de Natal que irei organizar no dia 22 de Dezembro. Quem ainda não confirmou a presença, poderá fazê-lo até ao dia 8, relembro. Para tudo saberem, cliquem no widget que encontrarão no canto superior direito do blogue.

Encantador, o antigo Palácio dos Estaus, hoje Teatro Dona Maria II

   Deixo-vos algumas das fotos que tirei com o meu iPhone. Quem me segue por outras plataformas, terá acesso às restantes e a tantas outras que ainda quero tirar. Não explorei todas as ruas.

Laços e mais laços que iremos tirar dos embrulhos




19 de novembro de 2018

Dieses Bescheuerte Herz.


   Estranho o título, não? O filme é alemão. Decidi-me por este Dieses Bescheuerte Herz ao ler várias sinopses de filmes. Não ia ao cinema há uma semana, por aí, o que para mim já é incomportável.

   É um filmito que foge à lógica e aos holofotes de Hollywood. Cinema europeu. O argumento tem interesse e é baseado numa história verídica. Sucintamente, temos um tipo - giro, por sinal - que aos trinta anos é um boémio de primeira. Mora com o pai, não termina o curso, só quer saber de engates e copos. Do outro lado, um miúdo de quinze anos, gravemente doente, com a vida comprometida. As suas existências cruzam-se abruptamente. Lenny e David, de seus nomes, criam um laço fortíssimo, como se dois verdadeiros irmãos se tratassem.


   O filme, pelo que li, fez imenso sucesso na Alemanha. Longe de ser inesquecível, a narrativa é bonita. É meiguinho, vá. Daqueles que se vêem bem em família, sobretudo nesta quadra natalícia. E tem a vantagem de terminar bem, quando tudo aponta para o contrário. Às vezes, salvamo-nos mutuamente. Às vezes, tudo quanto precisamos é de um ombro verdadeiramente amigo, que está lá naqueles momentos-chave. Lenny ensinou David, ensinou-o como um irmão mais velho; David orientou Lenny, no sentido de se encontrar, de dar valor ao que importa, de se tornar mais responsável.

   O objectivo era o de se conseguir que David chegasse aos dezasseis anos. Hoje, David está com vinte. É, o amor tem destas.

Não se esqueçam do Jantar de Natal. :) Têm até ao dia 8 para se inscrever. Podem consultar tudo aqui.

11 de novembro de 2018

Portugal na I Guerra Mundial, por ocasião do centenário do Armistício (1918).


   A I Guerra Mundial terminou há precisamente cem anos, com a assinatura do Armistício, a 11 de Novembro de 1918. Há historiadores, entre os quais Boxer, que discordam desta nomenclatura, "I Guerra Mundial", aplicada ao conflito de 1914 - 1918, argumentando, e bem, a meu ver, que a verdadeira primeira guerra mundial terá sido o conflito que opôs Portugal à República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, travada em todos os continentes da Terra e envolvendo potências terceiras, designadamente a Inglaterra e Castela.

   Independentemente destas divergências, a I Guerra Mundial, cujo final hoje assinalamos, foi o primeiro conflito a ceifar a vida a tanta gente, acrescendo-se-lhe, ainda, esforços de guerra nunca antes vistos - precisaríamos de mais vinte anos para assistir a algo em maior escala.

   Portugal participou na I Guerra Mundial a partir de 1916, com a formal declaração de guerra da Alemanha na sequência do aprisionamento de navios alemães em portos nacionais, não obstante já estarmos envolvidos em escaramuças com os germânicos desde 1914, pelas ambições territoriais destes em Angola e em Moçambique, sobretudo neste último. A nossa participação veio, também, num quadro de aliança com os britânicos, secular, e em colaboração com estes. No início do século passado, Portugal vivia um período conturbadíssimo a nível político, com a I República. A decisão desta, de se envolver no conflito, terá ajudado a ditar o seu fim abrupto, em 1926, com o golpe de estado que instituiu a ditadura militar. Conta-se, de modo desapropriado, quanto a mim, que a nossa entrada na guerra se deu unicamente à acção dos britânicos, que alguns anos antes, em 1890, até nos haviam sujeitado a um humilhante ultimatum. Não é verdade, como se sabe, porque urgia defender as nossas possessões africanas. Uma eventual vitória alemã escorraçar-nos-ia de territórios cuja presença remontava há quatro séculos e meio. Além disso, a  República Portuguesa, com meros seis anos, carecia de legitimação internacional. Houve um conjunto de factores que nos empurraram para as trincheiras.

Despedida de militares portugueses antes da partida para a Flandres

   Por forma a que saibam mais sobre o dia a dia dos militares portugueses que partiram para a Flandres, para combater, eu aconselhar-lhes-ia um livro de uma autora que também foi minha docente de História no Secundário e que é uma das mais destacadas especialistas nacionais nesta matéria. Falo-lhes de Isabel Pestana Marques. Tem várias obras editadas, destacando eu Das trincheiras, com saudade - a vida quotidiana dos portugueses na Primeira Guerra Mundial, da Esfera dos Livros. Como é sabido (e retratado no cinema e na literatura), as tropas estavam mal preparadas, desnutridas, exauridas. A participação do Corpo Expedicionário Português entre os Aliados foi desastrosa. Perdemos milhares de homens, sofremos uma derrota em La Lys, ainda que a ofensiva alemã haja sido sustida. Destacou-se, nesta batalha, o célebre soldado Milhões, Aníbal Augusto Milhais, que, sozinho, cobriu com fogo a retirada de soldados portugueses e ingleses, munido de uma metralhadora. Tal acto de heroísmo e coragem levou-o a ser condecorado com a mais alta insígnia militar portuguesa.

   A I Guerra Mundial pôs cobro aos grandes impérios europeus, o Alemão, Austro-Húngaro, o Russo e o Otomano. Criou-se uma ineficaz Sociedade das Nações, precursora da ONU e, sobretudo, enfureceu-se a Alemanha, sedenta por vingança. Os termos de paz impostos foram considerados vexatórios da sua honra e dignidade, e vieram permitir que Hitler, mestre da retórica, incendiasse a ira do povo. O caminho estava aberto para a guerra de 1939 - 1945.

10 de novembro de 2018

The Wife.


   Estava com expectativas razoavelmente elevadas com este The Wife, sobretudo pelos elogios velados que a crítica tem prestado ao desempenho de Glenn Close. Devo dizer que as corroboro: a actriz, uma vez mais, para não destoar, tem aqui um desempenho inenarrável. 

   Neste filme, o argumento, as interpretações, os figurinos e a fotografia concorrem para o tornar num produto de valor, desde logo porque nos leva a reflectir sobre os limites do amor, ou, melhor dizendo, sobre as diferentes formas de amar. Amar implicará anularmo-nos, prescindirmos de quem somos pelo outro ou para fazer com que determinada fórmula familiar resulte? É disso que se trata. De uma mulher, intelectualmente dotada e criativa, que alimenta, com o seu engenho literário, um casamento que, a páginas tantas, não entendemos se feito de amor ou de interesse. Talvez uma mistura de ambos. Joe Castleman, o afamado escritor, vencedor do Prémio Nobel, realmente tece elogios insistentes à mulher, quem sabe por se sentir em dívida, mas trai-a descaradamente, sem pudor algum, chegando ao limite de brincar com isso. E ela, condescendente, aceita-o. É talvez das poucas - a única! - crítica que posso apontar ao argumento: nunca chegamos a saber o porquê de Joan, a mulher, consentir com tamanho abuso, abuso duplo: as infidelidades e a apropriação da sua arte, do seu intelecto, das suas ideias. Medo de não ser aceite num mundo de homens - ao longo do filme, vamos conhecendo a estória do casal Castleman desde que se conheceu, com outros actores, claro, que encarnam Joan e Joe em novos, pelos anos 50 ou 60 - ou simplesmente por não conseguir viver sem aquele homem, por depender emocionalmente dele.


   Também seria leviano descartar-se a ideia de que aquele casal seja um corpo de duas cabeças (lembram-me, por ora, um célebre casal da nossa praça, em que uma dá o nome e o outro é que escreve): Joan escreve sobre a vida de ambos, sobre os episódios de traição. Ele inspira-a e ela escreve. Eram quase como uma dupla. O que sentimos, pelo menos eu senti, é uma imperiosa necessidade de que tudo se descubra: acreditei que o filho denunciaria a situação, ou o pretenso biógrafo, ou eventualmente a própria Joan, em meio da cerimónia em Estocolmo. Nada se vem a concretizar, como viram, ou como verão, depende de quem lê.

  Close, uma vez mais, tem um desempenho arrebatador. Tanta veracidade. A forma como se impõe, a subtileza em determinados olhares, gestos. Um mimo. Daquelas actrizes que nunca desiludem nem deixam qualquer realizador ficar mal, tipo Meryl Streep. Foi bem acompanhada por Jonathan Pryce, que esteve à sua altura, e por Max Irons, o giríssimo filho problemático, actor que não conhecia.

  Se Joan não ganhou o Nobel da Literatura, que Glenn Close ganhe, de uma vez por todas, o Óscar de Melhor Actriz. Já é tempo de a Academia reconhecer, com a estatueta, o valor desta mulher.

8 de novembro de 2018

Jantar de Natal - Lisboa/2018.


   Alguns pensarão: "Já?". Já. O Atrium Saldanha, em Lisboa, está decorado. O El Corte Inglés, idem, e eu, que ainda não estou festivo, sei que estes eventos devem ser previamente divulgados, não só para que as pessoas adiram como também para que afiram a sua disponibilidade. O Jantar de Natal - Lisboa/2018 é a terceira edição de uma tradição com dois anos. Em 2016, organizei inteiramente o Lanche de Natal, e no passado, pela primeira vez, o extraordinariamente bem sucedido Jantar de Natal - Lisboa/2017, antecedido por um lanche, da parte da tarde, e antecedendo um after-dinner maravilhoso, com um grupo bem-humorado e divertido.

  Este ano, a ideia repete-se. O jantar de Natal terá lugar num sábado, dia 22 de Dezembro, em data ainda provisória. Acredito que seja tarde para algumas pessoas. Se assim for, e para quem estiver interessado em ir, faça o favor de me sugerir, então, outra dia através do e-mail que facultarei adiante. Em virtude de ter recomeçado os meus estudos, terei provas até ao dia 18, daí ter optado pelo dia 22, que é o sábado imediatamente a seguir. Temos disponíveis, portanto, os dias 19, 20 e 21.


   Uma vez mais, impõe-se que se diga: não será um jantar de blogues. Será um jantar de amigos, de conhecidos e, eventualmente, de novas pessoas, novas caras, o que também se quer. Poderão vir acompanhados também, desde que mo comuniquem previamente.
  Não descarto a ideia do lanche, ainda a cozinhar. Dependerá da vontade de quem se decidir a participar. O mesmo se aplica ao after-dinner. O evento será o jantar. Pelo feedback do ano passado, a maioria foi ao jantar e nem tanto ao lanche, pelo que, por agora, deixo apenas a sugestão a pairar sobre vós. O que haverá, sim, será o nosso amigo secreto, simbólico.

  Com uma blogosfera moribunda, é um acto de alguma coragem anunciar-se um jantar de Natal por aqui. Não o faço pelos números. Ainda que só apareçam duas pessoas, será sempre bom, terá sempre valido a pena. Adoro o Natal, a sua magia, luminosidade e o seu espírito. É o que subjaz, no fundo, à ideia: confraternizar-se numa época tão bonita. Poderão confirmar a vossa presença através do e-mail do blogue: asaventurasdemark@hotmail.com, e até ao dia - anotem nas vossas agendas, pf., 8 de Dezembro. Não quero que vos falte tempo.

   Está lançado o mote. É tudo. Quaisquer dúvidas que surjam, já sabem, têm a caixa de comentários e o próprio e-mail, para questões que exijam mais recato. Obrigado pela vossa atenção.

p.s.: Espero que tenham gostado do banner, hm? :) O texto a verde, ao clicarem, encaminhar-vos-á para as respectivas hiperligações.

4 de novembro de 2018

Bohemian Rhapsody.


   Bohemian Rhapsody, deliberadamente escolhida para título por figurar entre as melhores criações dos Queen, e de Freddy, sobretudo, que a escreveu, é um filme sobre a vida artística do performer. Começa em 1970 e termina em 1985, quando Freddie já era seropositivo. A caracterização é o ponto alto do filme. Rami Malek faz o melhor Freddie que já vi, e não o digo apenas pela prótese. Tudo foi estudado milimetricamente: os maneirismos, as poses, os olhares. Não admira que, perante um ser tão magnetizante, as outras personagens, entre as quais os membros da banda, quedem eclipsadas. O argumento podia ser melhor, é verdade. É só morno.  Vemos um Freddie quase doméstico, que alterna com o cantor. Falta-lhe um toque qualquer que o tornasse verdadeiramente arrebatador.

  Este Bohemian Rhapsody é um daqueles filmes, e há tantos assim, que se salvam (tanto quanto possível…) por uma interpretação e por uma caracterização de excelência. Não é fácil recriar-se Freddie Mercury. O meu maior medo, suponho que partilhado pelos ultra-fãs dos Queen também (eu não sou ultra-fã; apenas fã), era o de que Malek se espalhasse ao comprido, tornando aqueles 138 minutos numa experiência tortuosa. Longe disso. O realizador só não foi ambicioso. Os momentos musicais ajudam a carregar o filme até ao final. Final que, diga-se, também não gostei. Não compreendi o raciocínio de se ficar no Live Aid. Zénite da banda? Quiçá. Freddie já estava doente. Já tinha tido episódios da fase aguda da infecção. Os ensaios para o grande evento angariador de fundos para a Etiópia haviam sido complicados. A voz ressentia-se da paragem que os Queen fizeram, na qual Freddie se lançou autónoma e fracassadamente no mercado musical. Claro que nada transpareceu para o público. Um bilião e meio de pessoas acompanhou os Queen em Wembley, naquela que é, com o Live at Wembley, do ano seguinte, em 1986, uma das suas melhores actuações.


  Uma vez que adoro tudo o que é retro, deliciei-me com aquelas roupinhas e com as músicas da fase inicial dos Queen, nos anos 70. Nos anos 70, Freddie conheceu Mary Austin, com quem se relacionaria até ao final da sua vida. O que os unia era singular. Freddy, bissexual, tinha aventuras com homens e com mulheres. Dos homens, buscava o sexo louco, regado a muito vodka, champagne e cocaína, mas Mary dava-lhe uma segurança e uma tranquilidade ímpares. Era aquele colo amigo. Deve ter sido, direi eu, a única pessoa que amou verdadeiramente. A ela deixou a maior fatia da sua colossal fortuna. Isto dirá muito acerca do carinho e da confiança que lhe tinha. Sobre a vida sexual de Freddie, li algures que criticam no filme o facto de não ter sido mais explorada. A menos que estivessem à espera de um grande bacanal com o público, ficou claro que Freddie se entregava a excessos de todo o tipo. Vemo-lo naqueles pubs estranhíssimos, cheios de homens envergando cabedal e transpirando sexo, vemo-lo a segui-los em casas de banho, ou seja, esse lado obscuro está lá, em Bohemian Rhapsody, com toda a excentricidade dos milhentos gatos com um quarto para cada.

  Os Queen são umas das maiores bandas rock de sempre, com milhões de seguidores. Desde que foi anunciado, este filme corria logo inúmeros riscos. Já falei da interpretação de Malek, e não só: a música, quais os segmentos escolhidos, a modo como se abordaria a sua sexualidade e a SIDA, enfim. Nem tudo consegue ser uma obra-prima. O Bohemian Rhapsody, sem o ser, é uma das visões possíveis de Freddie Mercury. Só acrescentar um pormenor: quando os filmes terminam, as pessoas levantam-se logo e saem. Com os créditos, foi exibida uma apresentação de Freddie no lado esquerdo da tela. Ninguém saiu da sala, lotada, enquanto não terminou. Trinta anos sobre a sua morte, Freddie Mercury continua a prender-nos, literalmente, ao ecrã.

  De sublinhar que, em 2019, estreará um filme sobre o nosso Freddie, o irreverente António Variações. Desnecessário dizer-se que estou ansioso, não?

2 de novembro de 2018

Halloween (2018)


   Os típicos filmes de Halloween, que, aliás, não é uma festividade portuguesa, senão importada do norte da Europa. Com tudo o que incorporamos de países culturalmente mais fortes, como os EUA, passámos a dar mais importância e visibilidade a tradições não-autóctones em detrimento das nossas, e temos tantas e tão bonitas, máxime no norte do país, nas regiões do Minho e de Trás-os-Montes. Bom, isto levar-nos-ia a outra discussão.

   A saga Halloween começou em 1978. De lá para cá, já se sucederam uma panóplia de filmes que exploram sempre, ou quase, a vida de Michael Myers, o terrível psicopata, encarnação do mal, que matou a irmã, no primeiro filme, e que persegue a mais nova, bebé aquando do início da sua actividade criminosa. Devo dizer que não vi os filmes todos da saga. Vi um remake, salvo erro, aqui há uns anos, que me surpreendeu pela violência gráfica. É isso, aliás, o que nos leva a procurar estes filmes.



   Neste Halloween de 2018 encontrarão mais do mesmo. Um psico que se evade de uma prisão de alta segurança e que desata a matar todos, impiedosamente, quantos encontra pelo caminho. Surpreendidos? Imagino que não. Como nestes filmes não há muito a dizer no que toca às interpretações, que passam quase despercebidas, diria que temos um filme razoavelmente interessante para um 31 de Outubro ou qualquer sexta-feira de tormenta. Já vi pior, muito pior, até no género.

   Creio que o resultado final teria sido melhor se tivessem explorado mais a componente psicológica naquela tensão de quarenta anos entre Laurie e Michael. O realizador dispersou-se demasiado num conjunto de personagens que não acrescem nada de substancial ao que se pretendia. Uma filha traumatizada pela psicose de Laurie com o regresso de Myers, uma neta adolescente com vive uma desilusão amorosa e grita por socorro no meio dos bosques. É o que venho dizendo: as fórmulas estão desgastadas, e repetirem-nas exaustivamente não faz com que nos habituemos a gostar delas, não.

  Não sabemos se Myers morre ou não, no final, mas, admitindo que tenha morrido, o filme, ao menos isso, deu-lhe um enterro digno. Não foi ruinoso.