9 de agosto de 2018

Backstabbing for Beginners.


   A quem se interessa por thrillers com romances improvisados pelo meio, aconselho. 
  Gostei deste Backstabbing for Beginners, inspirado no escândalo financeiro ligado ao programa de ajuda das Nações Unidas para o Iraque, Petróleo por Alimentos, que atingiu algumas das figuras de topo da organização e altas individualidades do mundo da política e da banca. Um esquema dado a conhecer por um jovem assistente da organização, contratado para acompanhar um subsecretário, o cabeça da ONU na teia de interesses que ligava as Nações Unidas a Saddam Hussein, a grandes empresários e banqueiros. O narrador é Michael Sullivan, personagem principal, o assistente de 24 anos que nos conta como tudo se passou, recuando às semanas que antecederam a invasão do Iraque pela administração Bush.

  Michael Sullivan, aqui interpretado por Theo James, vê-se entre a espada e a parede. Revela o que sabe, põe em causa o seu futuro como diplomata e arrisca a sua vida ou cede à pressão da CIA, da rapariga curda com quem se envolveu numa das suas idas ao terreno e da própria consciência. Sob a aparência de ajuda humanitária, os curdos continuavam a ser massacrados pelo regime de Saddam. Recebiam metade das reservas de comida e medicação fora do prazo de validade. Tudo com o conhecimento de Pasha, o subsecretário da ONU (Bem Kingsley), e de uma máfia que operava no Iraque e que funcionava como vértice entre todos os interessados: os funcionários da organização e as empresas e entidades espalhadas pelo mundo, bem assim como vários políticos influentes. O resto é história: Sullivan denunciou o caso no Wall Street Journal e a ONU passou por uma enorme reestruturação. Os subornos tornaram-se públicos.

  É um filme interessante, um testemunho histórico daquele período conturbado que medeia o pós-invasão e a nova administração provisória do território. Bem interpretado. Quanto ao desempenho dos actores, nada a apontar. O tal romance é que não teve força para mais. Temos ali uma historieta de amor meio sem pés nem cabeça, subaproveitada. O filme não se perde em direcções paralelas, e aí tenho-lhe a dar nota positiva. É bastante objectivo. É-nos dado a conhecer o cinismo que envolve aquilo a que chamam de diplomacia, que às tantas faz com que sangue escorra. Uma vez mais, verbas que podiam ser usadas em benefício de milhões de pessoas carenciadas são desviadas. Tão bem conhecemos como tudo se processa. Para Sullivan, restava fazer a diferença, como queria, ou seguir os conselhos de Pasha e deixar-se enlear naqueles estratagemas que ninguém conseguiria parar, afinal. Pouca ou muita, sempre chegava alguma ajuda aos iraquianos. Fala-se de escrúpulos, em suma. O que é moralmente aceitável ou não. Actualmente, Pasha está a viver no seu exílio de luxo, no Chipre, que não tem acordos de extradição, e Michael Sullivan conseguiu repor alguma credibilidade à ONU.

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