30 de junho de 2018

Hereditário.


    Um filme que, no início, promete ser bom, ou pelo menos safar-se melhor do que os congéneres actuais. Não é implicância, juro; eu gosto de filmes de terror. O terror, todavia, padece do mesmo mal dos filmes de animação: efeitos a mais. Creio que me repito, mas é exactamente o que sinto sempre que saio de uma sessão de terror.

   Quando a avozinha começa por aparecer à filha, nas primeiras cenas, pensei: "Wow, temos filme!" A partir do momento em que a neta autista morre, a estória perde o encanto inicial entre fantasia e rituais satânicos a mais e espiritismo credível a menos. No final, fica uma mixórdia de temas desconexos. Alguns planos são assustadores, de facto. Saliento as entidades misteriosas que se esgueiram de portas e vãos. Nas derradeiras cenas, surgem uns quantos seres que parecem deslocados daquele núcleo familiar. Quando um sorri, à entrada da porta, sob um negrume de cortar a respiração, confesso que fiquei assustado. De resto, não creio ser o suficiente para nos roubar o sono. 
   Ao ler a sinopse, fiquei entusiasmadíssimo. Prometiam o filme de terror do ano, inesquecível. Julguei que se tinham esmerado. Conversei com pessoas que o viram e parece que a taxa de agrado é significativa. Provavelmente serei eu mui exigente.

   É perturbador, sinistro, incómodo. Não é dos piores; será, no limite, dos melhores entre o que se tem feito, no terror, nas décadas recentes. Notei, porque o é evidente, que houve uma tentativa de voltar às origens. Há ali um bocadinho de Shining, terror, crime e insanidade.

   O desempenho dos actores merece uma menção. Toni Collette e Alex Wolff estiveram muitíssimo bem: ela, enquanto aquela médium e mãe, que herdou as capacidades da sua estranha progenitora; ele, o adolescente comum que não está a conseguir lidar com o turbilhão de emoções suscitado com as mortes da avó e da irmã, a da irmã num trágico e brutal acidente de automóvel que deixou marcas profundas no equilíbrio de uma família já atormentada por fenómenos espirituais.

29 de junho de 2018

Campeonato do Mundo de 2018 (parte III).


    A fase de grupos deste Campeonato do Mundo - Rússia 2018 terminou. Das trintas e duas equipas iniciais em jogo, restam dezasseis, as que avançam para os oitavos-de-final. A atipicidade do torneio, já adivinhada, confirmou-se com a saída precoce da Alemanha, que há oitenta anos - leram bem - oitenta anos que não era afastada numa fase inicial. Foi-o em 1938, no Mundial da França. Desde que a FIFA introduziu a fase de grupos que a Alemanha a passava sempre, seguindo na competição.

   Bem como vos havia dito na publicação anterior, houve selecções que tiveram dificuldades para se qualificar à fase seguinte. Espanha, Portugal, Argentina, Colômbia. O próprio Brasil, que entrou tremido e que lá se conseguiu erguer. Ainda assim, teremos jogos interessantes na próxima fase, que já será a eliminar. Aliás, a última jornada da fase de grupos carrega essa probabilidade. A Argentina apurou-se com um golo marcado quase no tempo limite do último jogo, a Colômbia também se arriscou a ficar pelo caminho, o Japão protagonizou talvez os quatro minutos mais vergonhosos da história do futebol, ao trocar a bola entre os seus jogadores para “queimar” tempo. Portugal, desde logo, que por pouco não sofreu um golo do Irão no final da partida, o que automaticamente nos afastaria dos oitavos.

    De igual modo, surpreendeu-me o número de penáltis marcados, o mau comportamento de alguns seleccionadores, inclusive durante os jogos, e a polémica em torno do VAR. Se antigamente se pedia o cartão amarelo, agora qualquer jogada leva à intervenção do VAR e à visualização de imagens. Ajudará a corrigir problemas que há décadas conhecemos, é certo, roubando espontaneidade e originando outros erros. Onde há mão humana, há erros. O VAR ajuda a clarificar casos em que os jogadores caem sem falta, em consequência de disputas acesas pela bola; noutros casos, e até o slow motion a isso propicia, o árbitro vê tudo menos o que realmente ocorreu. A velha polémica se foi mão na bola ou bola na mão. Quem diz na mão, diz no braço.

    Portugal x Uruguai, França x Argentina, Brasil x México e Colômbia x Inglaterra. Estes serão, a meu ver, os jogos dos oitavos-de-final que prometem mais espectáculo, quanto mais não seja pela qualidade das equipas envolvidas.
    No que respeita a Portugal, muito tenho ouvido. Uns teriam preferido o primeiro lugar do grupo - pelo facilitismo, porque defrontaríamos a menos forte, teoricamente, Rússia, vaticinando-nos agora o pior dos cenários. Em rigor, entrámos no mata-mata. Todas as selecções têm a sua qualidade, e provaram-no nos três jogos. Umas mais, outras menos. O Uruguai é uma excelente selecção e a Rússia também o é. Têm os seus pontos fracos e fortes, e seguramente que nenhuma é imbatível. Se jogássemos frente à Rússia, diriam que jogávamos com a equipa da casa, o que nos traria dificuldades acrescidas. O importante é que os jogadores se foquem no adversário e que não se dispersem com prognósticos e polémicas (sim, aludo a Queiroz e ao seu ressabiamento).

   Continuarei a acompanhar aquele que é o torneio mundial mais visto e até mais sentido pelas populações, ultrapassando sobejamente os Jogos Olímpicos. E para terem uma ideia do impacto que o futebol pode ter na vida de alguém, vejam, se quiserem, a comemoração do último golo do Uruguai pelo seu seleccionador, Óscar Tabárez, a quem diagnosticaram uma doença neurológica que o obriga a deslocar-se de canadianas. No golo que a sua selecção marcou ao Egipto, levantou-se, para estupefacção geral, sem as muletas, comemorando. Algum encanto este desporto deve ter.

21 de junho de 2018

Campeonato do Mundo de 2018 (parte II).


  O Campeonato do Mundo começou há uma semana. Tenho-me dedicado a ver os jogos, todos, que se sucedem a uma velocidade de três por dia. Rouba-me tempo para outras actividades, é certo, mas diz-se, vulgarmente, que «quem corre por gosto não cansa». É por aí.
  Não, não pensem que fico trancado em casa. Hmm, mais ou menos. Instalei a app da NOS TV no meu Surface, o que me permite assistir aos jogos fora de casa. Evidentemente que apenas está disponível para clientes NOS que também, no caso dos jogos, sejam assinantes da Sport TV.
  Recuando no tempo, acompanho estes torneios desde 2004. A febre do Euro 2004 contagiou-me a ponto de, desde então, sempre que possível, ver os jogos, anotar os resultados, escrever acerca. Para isso, tenho por hábito adquirir revistas especializadas, com detalhes sobre cada selecção participante, os jogos, os estádios, a história das competições. Gostos.

   Este Mundial, até então, e já vamos no início dos jogos da segunda jornada da fase de grupos, tem sido atípico. Selecções favoritas vêm empatando ou perdendo (Argentina, Alemanha, Brasil), outras com desempenhos aquém do esperado (Portugal, Espanha, França) e ainda há algumas surpresas (Senegal, Rússia, Islândia). É provável que tudo se equilibre mais para a frente e que o favoritismo se confirme, todavia, nos dias que correm, o nível competitivo é muito grande; esbate-se, cada vez mais, o fosso entre grandes selecções e selecções ditas fracas. Os jogos de Portugal com Marrocos e de Espanha com o Irão, hoje, assim o atestam. Equipas que defendem bem, que sabem fechar as suas linhas, procurando surpreender os adversários em lances de bola parada, os livres directos e similares. Assim, aos poucos, com confiança e muita vontade de vencer, podem chegar longe. Marrocos ficou-se pelo caminho, mas há outros exemplos na luta pela próxima fase de qualificação, os oitavos-de-final. 

   Portugal tem feito um percurso a que já nos habituou. Empates, jogos que se ganham à tangente. Ainda é cedo, bem sei, e a experiência ensinou-me a dar o benefício da dúvida - em 2016, nada dava pela selecção. Não praticamos um futebol bonito, a que dê gosto assistir. Aliás, o futebol está cada vez mais técnico, roubando o factor imprevisibilidade, que sempre vai tendo. Quando os jogadores entram em campo, já sabem bem para o que vão. E não, contrariamente ao que muitos pensam, não são "onze homens atrás de uma bola". É um desporto com elevada complexidade técnica. Os jogadores têm posições bem definidas em campo. Não há essa anarquia que muitos julgam haver por desconhecimento ou má vontade. Contudo, e pese embora  as jogadas estejam estudadas quase milimetricamente, o encanto poderá advir de um rasgo de criatividade de um talento maior - vide Cristiano Ronaldo - que nos abrilhanta os olhos. Já leva quatro golos em duas partidas. Se Portugal não joga bonito, este jogador é os seus pés, o seu cérebro, o seu concretizador. Não há futebol, a nível de selecção, na equipa principal, sem Cristiano Ronaldo.

   Falta-nos ainda um jogo, na fase de grupos, para provar que somos capazes de fazer melhor. E há os oitavos-de-final. Defrontaremos o Uruguai ou a Rússia. O grupo A já está fechado no que respeita a quem segue e a quem terá de esperar pelo próximo Mundial. Arábia Saudita e Egipto estão fora. Têm, todos, de cumprir ainda com os jogos de calendário que encerram os grupos. Ingratos, para quem já sabe que fica por ali. Regras são regras.

   Se me perguntarem por favoritos, não sei se, com os dados que tenho, vos conseguirei dizer. Há sempre os clássicos à vitória Como disse acima, a vontade de vencer não raras vezes faz milagres. Não me admiraria nada que viéssemos a ter um campeão do mundo inesperado. Seria até interessante. Até lá chegar, terá de passar por muitos desafios, e à medida em que a competição vai avançando, o confronto entre os melhores vai-se dando. Todos ficarão pelo caminho, excepto um. Saberemos quem no dia 15 do próximo mês.

15 de junho de 2018

Campeonato do Mundo de 2018.


   Apraz-me dizer umas quantas coisas sobre este Campeonato do Mundo, ou Copa do Mundo, como dizem os brasileiros, que para Portugal começa hoje. Passa da meia-noite. Não somos favoritos, nem de longe nem de perto, mas também não o éramos em 2016. Costuma-se dizer que os Mundiais são os Europeus mais Brasil e Argentina. Com a Argentina enfraquecida (viu-se aflita para se apurar, não fosse a magia de Messi), resta o Brasil, que tem uma selecção fortíssima, candidata ao título, o seu hexa. 
   Temos uma selecção razoável, creio que nos apoiamos demasiado, embora fosse inevitável, em Cristiano Ronaldo, e não temos tantas referências individuais quanto outros países. O nosso meio campo é sólido, com Moutinho à cabeça, e Bruno Alves e Pepe não nos têm deixado mal nas linhas mais atrás do meio campo.

    Os jogos de preparação a que assisti permitiram que me inteirasse de cada selecção. A assinatura da Sport TV, incluindo nos dispositivos móveis, smartphone e tablet, com a aplicação NOS TV, leva a que esteja permanentemente ligado ao que se passa, mesmo fora de casa.
    Lembram-se da Alemanha, campeã do mundo em título? Está irreconhecível. Perdeu, num particular com a Áustria, por duas bolas a uma, o que não sucedia há trinta e dois anos. Vinda de derrotas e empates, conseguiu bater a Arábia Saudita. Diz-se, no futebol, que "são onze contra onze e, no final, ganha a Alemanha". Veremos se se cumpre de novo.

    A França, em contrapartida, está longe da selecção que encontrámos na final do Euro 2016, e é outra das candidatas. Dispõe de um plantel que convence, é firme, determinada. O desaire no Europeu levou-os a uma reflexão e a uma mudança de atitude.

    Quanto ao Brasil, já dei uma achega em cima. Com figuras como Neymar, que recuperou totalmente da lesão que o apoquentava, vem de uma leva de vinte jogos, presumo, sem perder.

     Espanha é outra candidata ao título, com uma panóplia de individualidades que fazem toda a diferença nos rompantes de criatividade que, não raras vezes, decidem jogos. Também a Bélgica, que colocaria no patamar de Portugal, tem uma equipa que convence (com Eden Hazard como figura de proa), que sabe jogar, que pode fazer um brilharete. E, quanto a mim, a final discutir-se-á entre França, Brasil, Alemanha e Espanha. Ausências de peso, e cuja falta acarreta perda de qualidade no torneio, Itália, quatro vezes campeã do mundo, e Países Baixos, a laranja mecânica, desta vez triturada, não havendo entrado. Há outras selecções, sim, há-as, como a Austrália, o México, a Inglaterra, das quais esperamos sempre mais.

    Para Portugal, que em 2010 perdeu nos oitavos-de-final e em 2014 nem passou da fase de grupos, espera-se mais do que em 2006, quando disputámos o terceiro lugar com a Alemanha, perdendo-o. Recuando no tempo, em 2002 tivemos uma prestação vergonhosa, saímos pela porta dos fundos e ainda com agressões a árbitros à mistura. Em 1986, também não passámos a fase de grupos. A nossa primeira aparição foi vinte anos antes, em 1966, no período áureo do futebol português. O Benfica sagrava-se campeão europeu por duas vezes. Melhor marcador da competição, o lendário Eusébio, que na disputa do terceiro lugar marcou um golo. José Torres marcou outro, e conseguimos afastar a União Soviética do pódio. É a nossa melhor classificação em Mundiais até hoje. Cabe a Fernando Santos, campeão da Europa, provar que somos capazes de ir além desse resultado histórico. Bem assim como disse por ocasião do Euro 2016, não há vitórias morais. Não aceitamos esse argumento e nem ele convence os portugueses. Já sabemos o que é ganhar, o que é sair em ombros. A final de Saint-Denis está-nos nos lábios. Ainda lhe sentimos o gosto.

    O primeiro teste, de fogo, será daqui a umas horas, frente à Espanha. A vitória, a verificar-se, será fundamental para a confiança do grupo. Entrar a ganhar é importantíssimo, pelos pontos e pela psique. Força, Portugal.

12 de junho de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 22].


   Último fim-de-semana antes do Mundial de 2018. Tal como na semana passada, saí de Lisboa, quedando-me pelos seus arredores, desta vez pelo concelho de Oeiras. Estive no Aquário Vasco da Gama e no Centro de Arte Manuel de Brito, ambos na mesma freguesia, em Algés.

   O Aquário Vasco da Gama, aventando eu que por incúria dos meus pais, foi uma novidade para mim. É provável que lá tenha estado algures na minha infância, numa visita qualquer da escola. Se assim foi, essas lembranças estarão entre as brumas da memória, que não consta nenhuma no registo. Lamentável, tratando-se o Aquário Vasco da Gama de um dos mais antigos da Europa e primeiro aquário português. É um espaço agradável, que transpira a antigamente. Não fossem os ruídos de algumas crianças pequenas (continuo sem entender o motivo pelo qual levam bebés de colo / berço a museus, monumentos, etc.) e teria conseguido concentrar-me mais no que via.


   No piso rasteiro, e logo à entrada, encontrarão vitrines com animais conservados em formol, a maioria dos quais capturados, e alguns a vários metros de profundidade, pelo penúltimo monarca da Casa de Bragança, aficionado pelos oceanos, como se sabe. Falo-vos de Dom Carlos, que nas suas incursões marítimas, com o iate Amélia, em muito contribuiu para o espólio deste velho aquário e para o incremento dos conhecimentos oceanográficos. O piso superior alberga o Museu do Aquário, com vários exemplares embalsamados, de aves a peixes, passando por mamíferos, muitos também que nos reportam a Dom Carlos.


   A parte mais interessante do Aquário, e que justifica que assim se chame, são os aquários propriamente ditos, e o Aquário Vasco da Gama tem-nos em abundância, a vários, muitos, recheados de espécies exóticas. Nem tudo são maravilhas: nota-se uma decadência e uma depauperação latentes naquele espaço. Presumo que o Oceanário de Lisboa, que este ano comemora o seu vigésimo aniversário, seja o responsável pelo quase abandono do Aquário Vasco da Gama. A percepção quanto à dignidade da vida animal não-humana também mudou através dos tempos, é certo, mas o recinto das tartarugas não alberga nenhuma e o recinto das focas tão-pouco. O Aquário vai sobrevivendo, a precisar de remodelações, de uma transformação qualquer que lhe dê novo ânimo.


   Da parte da tarde, depois de um almoço rápido, fui ao Centro de Arte Manuel de Brito, que não conhecia e que vi por acaso quando pretendia regressar a Lisboa. O meu plano para a tarde era outro. O centro, dividido também por dois pisos, encerra uma colecção apreciável de arte contemporânea. Não esperava encontrar três quadros de Paula Rego. Mas há mais: Júlio Pomar, Eduardo Batarda, por aí. É uma pequena jóia que Algés tem, seguramente, que nada conheço por lá. 

Carmen, 1983 (Paula Rego)

   É tudo neste primeiro semestre do ano. Farei, então, um pequeno intervalo nas próximas semanas, aproveitando para descansar. Mais de vinte fins de semanas a explorar as riquezas de Lisboa, também naturais, que fui a jardins botânicos, com os dois últimos fora do município. Estou cheio de ideias para futuras visitas, umas cinco, que terão de ser bem ponderadas. Por ora, e em vésperas de início de Mundial, irei dedicar-me ao torneio desportivo, com análises não-exaustivas, embora atentas, ao conjunto das selecções participantes e, naturalmente, com destaque sobre a nossa equipa nacional.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

9 de junho de 2018

Feira do Livro de Lisboa / 2018.

   
  Este ano, como em todos, de resto, fui à Feira do Livro de Lisboa, que vai na sua octogésima oitava edição. Vou pelos descontos e pelo espírito da iniciativa. Creio que ornamentam bem aquela zona da cidade, que em tempos, e talvez ainda continue, escondia um flagelo social enormíssimo, com aquele terrível desfecho que tão bem conhecemos. E há mais do que a estrita venda de livros a preços mais acessíveis: é um ponto de encontro e de convívio durante duas semanas, além de polo cultural.

  As temperaturas andam descomunalmente baixas para a época, com chuva e vento. Acredito que isso desmotive o público. A primeira quinzena de Junho é o momento ideal para a organização. Provavelmente terão em mente o período de exames e férias. A depressão a noroeste da Galiza trocou-nos as voltas. Não se vê - pelo menos eu não vi - a afluência de outros anos. Também não é menos verdade que opto por dias úteis, procurando contornar as enchentes.

   No primeiro dia, 6, quarta, uma tarde amena, nublada. Andei ali pelo recinto da Leya, e comprei três livros, a saber: Dom Quixote da La Mancha, de Cervantes, um clássico da literatura espanhola e do idioma castelhano; O Botequim da Liberdade, de Fernando Dacosta, com os célebres saraus de Natália Correia, terminando, paradoxalmente, com um imprescindível, eu diria, livro de citações do Professor Salazar, Citações de Salazar, compiladas por Paulo Neves da Silva.



   Ontem, 7, quinta-feira, tive menos sorte. As nuvens bem que ameaçaram, e cumpriram. O temporal abateu-se sobre a cidade ao final do dia, justamente quando andava pela feira. Oportunamente, trazia o guarda-chuva comigo. Comprei mais três livros, e deixei-me ficar inteiramente pela ala esquerda do Parque, isto para quem vem do Marquês. Foram eles: A Peste, de Albert Camus (Porto Editora); 1984, de George Orwell (Antígona), e um livro de pensamentos de Oscar Wilde, precisamente de seu nome Pensamentos (Relógio D'Água). Dois clássicos. Havia lido, há muitos anos, o 1984, numa edição antiga do meu avô, entretanto falecido. Quis comprá-lo para a minha biblioteca pessoal.

















   


























   

   Procuro aproveitar sempre a Hora H - das 21h às 22h - com descontos de 50 % em todos os livros com mais de 18 meses sobre a primeira edição e que não tenham a etiqueta Novidade. Por algumas dezenas de euros, trouxe seis livros. E é provável que lá torne, antes que termine, no dia 13, para comprar um último, também um clássico. É o dinheiro que melhor dou por empregado.

Todas as fotos foram captadas com o meu Iphone. Uso sob permissão.

7 de junho de 2018

Cabaret Maxime.


  Bruno de Almeida engendrou esta estória em torno do velhinho cabaret Maxime, que durante décadas animou a noite lisboeta. Inaugurado antes dos ecos da liberdade soarem aos ouvidos dos portugueses, em Abril de 1974, o Maxime impôs-se como casa de variedades, de comédia e de burlesco, striptease e música ao vivo, onde meninas voluptuosas, quais feiticeiras, seduziam homens susceptíveis com os seus encantamentos. O pai, que tem já a provecta idade de 69 anos («belo número», nas palavras de Mota Amaral), contou-me episódios do Maxime, que chegou a frequentar nos seus tempos de menino e moço, quando a noite lisboeta não tinha o perigo de hoje. Não havia Urbans, nem enchentes de brasileiras e de mulheres do leste europeu. Outros tempos, em que tudo parecia divertido, e era-o.

  Cabaret Maxime não é ambientado no antigamente. É um filme actual, que retrata os nossos dias - os últimos anos da velha casa de espectáculos, que sobrevive em meio da concorrência com os seus números de palco gastos. A decadência sobressai ali pelos lados da Praça da Alegria. Os donos dos bares são intimidados para que cedam os estabelecimentos a novas realidades, no conhecido fenómeno de gentrificação. Bennie Gaza enquadra-se no alvo ideal. Paga uma renda baixa pelo Maxime, que o proprietário procura aumentar, sem sucesso, recorrendo à chantagem.

  Gostei das interpretações do americano Michael Imperioli e da veterana Ana Padrão, portuguesa, que dá alma e corpo àquela performer / artista de personalidade instável, profundamente perturbada, talvez porque tudo tem a sua época, e a dela já havia passado. A noite, para estas mulheres, pode ser de uma violência brutal. Todavia, entre Bennie e Stella há amor, com uma cena impactante que o deixa claro. Curioso, num meio com tanta exploração e proxenetismo, falar-se de amor, como se nos quisessem mostrar um qualquer contraste, uma qualquer esperança no meio daquele caos, o caos da personagem de Ana Padrão e o caos de um cabaret acabado.

   O núcleo do filme é restrito. Não há uma abundância de personagens. O realizador quis dar grande destaque às actuações de palco, com direito até a anedotas de baixo-calão (ouvirão uma de Brigitte Bardot fenomenal…). Uma palavra para a malograda Celeste Rodrigues, que nunca sobressaiu por ser irmã de quem é, e que aqui dá ar da sua graça numas poucas cenas.

   A noite ou o lusco-fusco são o pano de fundo de Cabaret Maxime. Noite, copos, fumo, descontrolo físico e emocional, prostituição de rua, compondo. Imprescindível para quem quer conhecer mais sobre os meandros que envolvem estas casas de má fama.

5 de junho de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 21].


   Neste sábado, como vos havia dito, ultrapassei a barreira administrativa da cidade de Lisboa. Não o fiz sozinho, contudo. Um amigo, de Coimbra, acompanhou-me. 
   Temi que chovesse, pela nebulosidade, o que não se verificou. A neblina, que me acompanhara em Dezembro, aquando da minha visita à Pena, é que, afinal, se fez sentir. Já terão uma ideia de por onde andei, não é? Sim, estive na deslumbrante vila de Sintra, com a sua serra característica, inserida naquele microclima que lhe confere uma misticidade única. Mais concretamente na Quinta da Regaleira, uma estreia para mim.



   O meu amigo tem carro próprio. Apanhou-me no Oriente, e seguimos de imediato. Pusemo-nos lá em menos de nada. A região de Lisboa tem óptimas acessibilidades rodoviárias entre a periferia. Como imaginam, estacionar na zona histórica da vila exige alguma paciência e algum engenho.



   A Quinta da Regaleira, também conhecida pela sua outra designação, Palácio do Monteiro dos Milhões, andou de mão em mão até ser adquirida pelo proprietário que lhe mandou imprimir as feições actuais que conhecemos, António Augusto de Carvalho Monteiro, incumbindo, para o efeito, o arquitecto Luigi Manini. Estávamos no dealbar do século passado.
   Envolta em bosques, numa aura de mistério, a entrada não é gratuita, mas o preço é mais do que razoável tendo em conta tudo aquilo que nos é permitido ver, e muito é. A par dos frondosos jardins e do palacete, há fontes, quedas d'água, labirintos e túneis, trilhos sinuosos, poços e grutas.



   Beneficiando da ampla publicidade que Sintra goza, a Regaleira é alvo da curiosidade de muitos turistas. Aventurarmo-nos nos seus túneis e caminhos implica estarmos rodeados de senhores e senhoras de meia-idade, estrangeiros, que se passeiam e procuram registar, em fotografia, os melhores momentos no palácio.

   Os poços são incríveis. Húmidos e lúgubres, com goteiras, bem assim como os labirintos, que nos levam até ao lago, às quedas d'água, que já referi, e a outros recônditos enigmáticos.


   O Poço da Iniciação é uma das principais atracções da Quinta. Diz-se que, por lá, a Maçonaria organizava reuniões e rituais secretos.


   Saltitar de pedrinha em pedrinha, no lago, também é bastante engraçado. Não temam, porque as pedras não são escorregadias. A profundidade não vai além dos 80 cm.


   O palacete deve ser visitado. É evidente que a vegetação nos arrebata e nos consome a maior parte do tempo que despendemos na visita. Não deixem de passar também pela capela, de estilo revivalista manuelino e renascentista. Um encanto.







Muito mais haveria para vos mostrar, mas o dia não acabou em Sintra. Poderão ainda, como sabem, acompanhar todas as fotos que irei publicando através do Instagram e do Facebook. De tudo o que já pude visitar na vila, a Regaleira é, de longe, o que melhor guardarei na memória. É um local magnífico, apaixonante. Excede, em meu entender, o Palácio da Pena.

    O meu amigo é de rotinas fixas e de horários que se cumprem. Propôs-me irmos almoçar a Carcavelos, a um restaurante que frequenta assiduamente quando anda por estas bandas. Aceitei, claro. Tive de me antecipar e fazer a reserva, enquanto ele arranjava lugar para estacionar. Segundo me disse, os grelhados são a grande especialidade. A julgar pela espetada de porco preto que comemos, deliciosa, seguida de um doce da casa soberbo, compreende-se a fama. Satisfeitos, passeámos pela localidade do concelho de Cascais, junto à praia.


   Acabámos a conversar no Parque das Nações, pelas 19h, animados e de espírito cheio. O dia havia sido longo e proveitoso. Só pensava em regressar a casa para acompanhar o jogo de preparação de Portugal frente à Bélgica.

   Para o sábado que se adivinha, e antes, então, do interregno por conta do Mundial de 2018, que pretendo acompanhar, tenho em mente o que farei. Será, tal como a Regaleira, uma novidade. Devo dizer que se trata de um local que há muito quero conhecer. Curiosos? Falta pouco para que tudo saibam.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

2 de junho de 2018

I Feel Pretty.


   Comédia deliciosa, bem escolhida por mim para dar ânimo ao fim-de-semana. Este I Feel Pretty tem a capacidade de nos permitir uma introspecção imediata, durante e após o filme. Como Renee, e bem, descobriu, nós somos mais do que os comentários e as opiniões maldosos que ouvimos a nosso respeito, e o caminho do sucesso - a fórmula mágica - passa também por sermos superiores ao bota abaixismo, aprendendo a valorizar o que temos e o que somos.

   Renee, uma rapariga solitária, com baixa autoestima, dada à depressão, quer subir na carreira e vingar enquanto recepcionista de uma grande empresa de cosmética. Entretanto, falta-lhe confiança. Vem-na a encontrar, exacerbadamente, de forma inusitada, após um pequeno acidente no ginásio que a transforma noutra pessoa; a bem dizer, Renee continua igual a si própria, mas crê que algo se operou na sua imagem. Só no final do filme se apercebe de que não houve magias. A atitude havia partido de si. Fez-se um clique, sim, todavia foi ela que mudou a percepção que tinha do corpo, das suas capacidades, levando a que isso se reflectisse nos que a rodeavam; no caso das amigas, levou a um afastamento gradual, mas obteve o cargo que quis, o namorado com que sempre sonhara, atraindo ainda o musculado e sedutor irmão de Avery LeClaire, a neta da fundadora da LeClaire. Pessoas de topo cederam à sua determinação. Tudo lhe corria de feição, até uma nova queda a despertar para a realidade.

   Li que o filme recebeu críticas negativas. Incompreensivelmente, a meu ver. As interpretações estiveram ao alcance do que se pedia, o filme consegue ser divertido - hilariante em algumas parte - e contém uma mensagem iminentemente positiva, a meio de todo aquele exagero, normalíssimo numa comédia.