3 de maio de 2018

X Aniversário.


   No mesmo dia, duas publicações. Não sei se será um inédito. Invulgar será, definitivamente. Décimo aniversário, leram bem. O blogue perfaz dez anos, exactamente hoje, a três de maio. Pensei, no início do ano, em fazer algo diferente. Caramba, dez anos, num blogue, é muito tempo, considerando ainda a idade que tinha quando o criei! Depois, mais sereno, pensei que a melhor homenagem que lhe podia prestar seria a de continuar a mantê-lo, e aqui está ele, dez anos volvidos, e eu, dez anos mais velho, mais consciente e infinitamente menos feliz.

   São dez publicações a assinalar os aniversários. Dez vezes em que conto detalhes, em que esmiúço pormenores. Já tanto foi dito. Haverá outro tanto por dizer. Contei, em anos anteriores, como o blogue surgiu, a mudança que nele se foi efectivando, a última das quais já neste ano, quando a política deixou de o dominar, cedendo às minhas crónicas cinematográficas e aos meus passeios culturais. O blogue é, a bem ver, como cada um de nós: maleável, adaptável, à vida e às circunstâncias. Assinalo-lhe, desde 2008, quatro grandes mudanças: o período de 2008 a 2010, o período de 2010 a 2014, o período de 2014 a 2018 e o presente. Cada um deles diferente e sobejamente importante para mim. Analisarei sucintamente um por um.

   No primeiro período, de 2008 a 2010, o blogue vivia a sua fase preambular. Escrevia disparates, pontuados com textos de carácter um pouco mais sério. Muito canastrão, muito imaturo. Ninguém o lia. Apenas eu. Não seguia nenhum blogue e tão-pouco alguém me seguia.

   No segundo período, de 2010 a 2014, fui crescendo. Entrei na faculdade. Abri o blogue a leitores. Passei a comentar outros blogues. Deu-se quase a glória. Textos frequentes, quase diários, mas ainda lhe faltava aquele toque de maturidade. Eu não era exactamente o Mark que queria ser, que almejava ser. Comecei a escrever os primeiros textos políticos, a deixar a literatura de cordel de lado, a escrever progressivamente menos acerca de mim e da minha vida pessoal (tendência que se acentuou em 2014). Foi neste período que deixei de ser um nickname para ser uma pessoa de carne e osso, e arrependo-me amargamente de o ter feito. Conheci das piores pessoas com as quais algumas vez me cruzei.

   No terceiro período, de 2014 a 2018, o blogue tornou-se quase impessoal para alguns. Não o era. Foi o que eu quis que ele fosse. Análises políticas, dissertações históricas, com raras excepções pelo meio. A afluência foi diminuindo, os comentadores também. Deu-se o êxodo em massa para o facebook. Eu, entretanto, senti-me pleno enquanto bloguista. Orgulhoso mesmo.

   A presente fase é um produto das circunstâncias, do estado actual da blogo. O blogue não é bem o que quero, não sendo também algo totalmente alheio à minha vontade. Está no meio termo. Evoluir para sobreviver, conhecem? Pois então, apliquemos Darwin. Só os mais fortes vingam. Quem se limitava a falar de gatos, dos livros que lia, a publicar fotos de quadros - sem qualquer substância, apenas por publicar - cedeu e quebrou. Os despojos mortais continuam online. Alguns há que lutam por manter a cabeça à tona, mas nem eles acreditam naquilo que escrevem. E há sempre os que vivem em delírio, julgando-se os melhores. Cada um adapta-se como pode.


   Viver é uma constante aprendizagem. O blogue tem-me dado muito. Com ele cresci, aprendi a escrever. E tem a particularidade de tudo arquivar, para que voltemos atrás e possamos rir, ou ficar envergonhados. Em jeito de curiosidade, nunca agendei uma publicação. Nunca escrevi e deixei a publicação em banho-maria, aguardando pelo momento oportuno. Nunca tive hiatos de semanas ou meses. Quando me sento para escrever - e de momento faço-o num sítio com imenso ruído - começo e vou até ao fim, consciente de para onde vou e do que quero. Sempre foi assim. São dez anos de estórias, de pensamentos, de infortúnios, de poucas alegrias. Talvez euforias. O blogue conheceu três computadores, dois tablets, três telemóveis. Vários cortes de cabelo, oscilações de peso, infinitas mudas de roupa. Três casas. Duas cidades. Escapou à separação dos meus pais, mas não ao sofrimento que lhe adveio. Pergunto-me, aliás, se não terá surgido da minha necessidade de gritar, de fugir à solidão, de procurar novos amigos. De interagir. De me dar sentido.

    E, por falar em sentido, de uma forma ou de outra ele continua a ter. Provavelmente porque sou, e serei, um ser solitário. Como me sinto melhor a escrever do que a falar, desde sempre, o blogue é-me absolutamente essencial. É um modo que inventei para existir, para ser maior do que sou. O blogue filtra-me os defeitos e domina-me as emoções. Aqui, como referi acima, vou até onde quero. Lá fora, quando ajo, a minha personalidade frequentemente me leva para onde não quero ir, onde me arrependo de ir.

   Deixem-me, para terminar, que vos agradeça por me lerem. Sei que ainda há quem o faça. A vossa presença não é imprescindível para que continue, mas ajuda, ajuda muito. É tudo. Um muito obrigado a todos, e que nos continuemos a ver por aqui, por quanto mais tempo nos for permitido. Somos meros peões num jogo que não faz sentido algum.


   Com carinho,
   Mark

10 comentários:

  1. Olá Mark.

    Muitos parabéns pelos 10 anos de blogue.
    Fico muito contente por saber que estás decidido a continuar. É que, mesmo sem comentar, eu leio-te. E farias muita falta se nos deixasses sem as tuas aventuras (sejam elas sobre que tema forem).

    Desejo que invertas essa do ´infinitamente menos feliz´
    Amigo, a vida merece que a usufruas na sua totalidade e, nela, sejas cada dia mais feliz.

    Um forte abraço com a amizade do
    P.

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    1. Olá, Pedrinho.

      Sim, estou. Creio mesmo que nunca - nunca, decididamente - me ocorreu deixar o blogue. Nem penso nisso.

      Muito obrigado pelo carinho. Sinto mesmo que é sincero.

      Um grande abraço.

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  2. Parabéns pelos teus dez anos de blogue e este comentário não foi "agendado" ahahahahahhahahahahahhahahahahahha

    Continua por cá, que eu continuarei por aqui a ler-te :)

    Grande abraço amigo

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    1. Heheh, não pensei em ninguém especificamente quando escrevi o que escrevi. Apenas que muitos cederam à falta de reciprocidade. No fundo, escreviam para ser lidos, não por prazer.

      Um abraço grande, e obrigado por me acompanhares.

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  3. Parabéns e mil felicidades e sucesso a você e a seu Blog. Ele é adorável ...

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  4. «...No primeiro período, de 2008 a 2010, o blogue vivia a sua fase preambular. Escrevia disparates, pontuados com textos de carácter um pouco mais sério. Muito canastrão, muito imaturo. Ninguém o lia. Apenas eu. Não seguia nenhum blogue e tão-pouco alguém me seguia.»

    ...

    Não foi apenas por curiosidade - afinal já "tinha andado" pelo gatinhar do blogue - mas também foi por isso. Tenho consciência de que o texto que de lá "saquei", não pode considerar-se um bom termo de comparação.

    É assim:

    ...

    «Dizem que sim, apesar de serem apenas opiniões e não passarem disso mesmo. Confesso, sou diferente, é certo, no entanto, sinto-me fantasticamente bem com essa suposta diferença, na medida em que não sei se realmente o é.

    Serei diferente? Por que dizem que o sou? Será porque desconfio de todos, e tenho muitíssima dificuldade em gostar de alguém? Para ser considerado "dos normais" tinha de ser dado, dizer "sim" a tudo, mesmo que não me agradasse, e sobretudo, com muita hipocrisia à mistura como é normal. Não gosto de ser assim e não pretendo agradar a ninguém.

    No fundo, eu sei, eles sabem, que não são muito diferentes de mim, mas sim muito mais experientes e ardilosos na forma como se relacionam em sociedade. Como não tenho pretensões de fazer parte do "grupo", o que pensam ou deixam de pensar a meu respeito é-me completamente indiferente... Mantenho-me suficientemente afastado, e simultaneamente próximo para me aperceber de tudo o que se passa ao meu redor; quando me abordam tenho sido sempre educado em todas as situações, no entanto, não posso fugir à minha natureza e nem quero fazê-lo...

    Quando sinto que interferem na minha forma de ser e me tentam moldar segundo os seus próprios princípios (principalmente quem não gosto), sinto-me no direito de me manifestar, sendo por vezes muito pragmático e directo, mesmo que possa ser entendido como um desrespeito ou algo semelhante.»

    ...

    Talvez fosse interessante saber o que diria o "novo" Mark a propósito desta espécie de confidência!... De que forma evoluiu o "canastrão"? O "imaturo"?

    Vá lá, repito que aquele "existo...", talvez possa ser uma das excepções, mas... "Imaturo"? "Canastrão"?

    Será que o "novo" Mark consegue ser mais denso? Mais intenso?

    Talvez não seja uma má ideia aguardar por mais duas mãos cheias de anos...!

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    1. Olá, gunnar s.

      Talvez não fosse tão canastrão, ou talvez estivesse apenas inspirado nesse dia. Recordo-me vagamente de o ter escrito. E continua a ser extraordinariamente actual. Corroboro cada palavra, uma por uma. O que vale é que continuo a ser incrivelmente coerente na disfuncionalidade.

      O "novo" Mark, felizmente, ainda consegue ter a sua dignidade intacta. No dia em que a perder - no dia em que a perdesse, melhor - melhor seria afastar-me de tudo e de todos. Não diria "evoluído". Ou adaptei-me ou involuí. O germe continua intacto, todavia.

      Eu, embora não acredite que chegue lá, presumo que serei um sujeito com interesse aos cinquenta anos. Terei lido bem mais, a vida ter-me-á ensinado, polido as arestas. Ajo muito por impulso.

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  5. Há dois anos que venho de uma forma mais ou menos regular a este seu espaço. E nunca me arrependo, antes pelo contrário.
    Quando tenho necessidade de partilhar faço-o, e sempre com prazer, pois, doutra forma, também não mereceria a pena.
    E agradeço-lhe abundantemente a paciência para me ler, pois, como me exprimo melhor pela escrita (tendo a fechar-me num mutismo até algo desagradável para o interlocutor, quando em companhia), abuso.
    Parabéns pelo espaço que aqui mantém.
    Ter-me-á por aqui, como ameaço sempre ... :)
    Um bom final de semana
    Manel

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    1. Dois anos, já? O tempo passa!

      Manel, aprendo consigo. A escrita e os comentários aproveitam a todos. Presumo que lhe dê algo; o Manel dá-me outro tanto. Não há paciência alguma; há prazer em ler os seus comentários. Até certa expectativa, devo dizer, para saber a sua opinião sobre este ou aquele assunto. Quando fui ao Palácio Azurara, fiquei expectante com o seu comentário, aguardando-o. Sei que me acompanha.

      Um bom fim-de-semana, caro.

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