6 de maio de 2018

Museu dos Descobrimentos.


   Portugal não possui um museu dedicado inteiramente à sua história. Tem-nos, a alguns, divididos, que exploram um ou outro período, mas persistimos na lacuna quando se trata de aglomerar, num espaço, o nosso período de ouro, a nossa idade de ouro, que não foram apenas a Inglaterra e a Espanha a tê-la. Nós também a tivemos. Só que, enquanto por lá têm orgulho nos seus feitos, por cá dedicamo-nos a escondê-los ou a dar-lhes outra aparência. A esquerda é particularmente prodigiosa nisso.

    Fala-se num novo museu, um espaço que estaria dedicado à nossa expansão marítima, aos nossos descobrimentos - oh, palavra maldita! - com a designação lógica e historicamente coerente de "descobrimentos", porque efectivamente o foram. Estando a reconquista terminada e a independência assegurada, lançámo-nos ao mar e descobrimos, descobrimos caminhos marítimos, terras, povos, fauna e flora que o mundo então civilizado (perdoar-me-ão, porque os sacrifícios humanos e a antropofagia não têm nada de civilizado), a Europa, não conhecia. Inclusive ofertámos animais exóticos ao papa - Dom Manuel I, a Leão X, numa embaixada memorável. Fomos os pioneiros da globalização, unindo todos os continentes e os povos. Estabelecemos rotas que só muito mais tarde haveriam de ser equiparadas e ultrapassadas. São factos, não é doutrina, ideologia. Alguma esquerda lida mal com o rigor e a coerência, mas gosta de neles se suportar quando carece de sustentar os seus delírios. Influencia as nossas crianças e jovens, incute-lhes ódio, não só por quem foram; também pelo seu próprio povo e pelos seus antepassados. Ensinam que fomos terríveis colonizadores, bandidos, que usurpámos terras e riquezas, e nisso não há fronteiras geográficas: tão obtusa é a esquerda americana como a europeia. Talvez a de cá seja mais polida, politicamente correcta.

    Querer substituir a designação original por museu da interculturalidade, ou outra, é faltar com o rigor, é ser-se anacrónico, irrealista, odioso. É ser-se impreciso, porque se eu chego a algum lugar que não conheço, eu descubro-o, integro-o à já minha realidade. E o museu estaria sediado em Lisboa, seria na nossa perspectiva, o nosso olhar, sobre aqueles tempos. Portugal descobriu, não achou nada. Odiar-se palavras - odiar-se a História - é mesquinhice, a mesma que demonstraram, por cá, quando quiseram mudar o nome da Praça do Império, em Belém, como se não houvéssemos tido um império. Tivemo-lo. Todos o sabem. O mundo sabe-o. Muda apenas o respeito e a admiração que lhe temos, o que nessa esquerda extremista, e respeito-o, são nulos, e estão no seu direito. Não queiram, entretanto, porque nem deixaremos, branquear a verdade, passar-lhe uma borracha feita de censura e ódio. Eu tenho orgulho em quem fomos, nas pontes que erguemos, na cultura que levámos, estando inteiramente consciente dos erros. Quem não os comete? Será a esquerda imune à mancha do erro, qual espectro político imaculado? Sabemos que não. A esquerda, através dos inúmeros regimes socialistas / comunistas, tem, ela mesmo, um passado de extermínio, intolerância. Genocídios, inclusive, figuram no seu currículo.

    A influência da doutrina esquerdista é mais forte do que pensava. Não me admirava nada que levassem a melhor, conseguindo que se substituísse o controverso nome por um que fosse mais do seu agrado. A polémica chegou lá fora. Um coro odioso já se juntou aos extremistas deste lado, pressionando, adulterando, como, de resto, é apanágio dos intolerantes, que vêem a poeira no olho do outro.

    Museu dos Descobrimentos, sim, por todas as razões que elenquei. E que alguém tenha a coragem de se opor, de fazer frente a esta gente.

10 comentários:

  1. São obtusos, hipócritas, ditadores ... mas chegará o dia em que extirparemos estes canalhas da face da terra.

    #odeioesquerda

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    1. Deus te ouça, meu amigo. Só consigo ter respeito pela esquerda racional, admitindo que a haja.

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  2. Sou brasileiro e sei que no período da expansão marítima poderíamos ter
    sido "descobertos" ou por Inglaterra, Espanha, mas ainda bem que fomos por Portugal, adoro falar português. Mas isso não tira a responsabilidade do Império português ter levado nossas riquezas! Aliás, todas as potências europeias que colonizaram América/África se esbaldaram com suas colônias e agora que as pessoas nativas dessas colônias querem ir para a Europa são tratadas a maioria das vezes com Xenofobia pela direita desses países!
    Nick

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    1. Não roubámos nada; o Brasil era Portugal e não se imaginava que pudesse deixar de o ser. Como território português que era, explorámos os recursos. Dou um exemplo: sei que há movimentos secessionistas no sul do Brasil. Suponhamos que se descobre ouro, petróleo ou um minério qualquer valioso no Paraná, em Santa Catarina ou no Rio Grande do Sul. O Estado brasileiro irá explorar esses recursos. Se um dia esses estados se emanciparem num novo país, o que dirão? Que foram roubados? Haja coerência e responsabilidade no que defendemos. Ah, e hoje já há movimentos de separação nesses estados; naquela época, nem se pensava num Brasil independente.

      Quanto à xenofobia, aqui há milhares de brasileiros, e todos adoram cá estar.

      Um abraço.

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    2. Não disse em relação dos brasileiros em Portugal, mas eu sou mais de esquerda do que de direita e vejo que a direita europeia e xenófoba, não sei a de Portugal! E vejo que no Brasil está surgindo um ódio a esquerda como a que ocorreu antes da ditadura militar! E gostei da sua resposta e do seu argumento em relação a Portugal=Brasil e dar exemplos dos estados com movimentos de secção!
      Nick

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    3. Meu amigo, a esquerda também consegue ser bem xenófoba. A brasileira, por exemplo, é-o, quando propaga o ódio por Portugal e pelos portugueses.

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    4. Sim, é verdade! Mas é que aqui no Brasil está uma polarização direita x esquerda muito grande. Eu acho "engraçado" que muitos brasileiros descontentes com a esquerda daqui, que eles dizem que querem transformar a bandeira do Brasil em "vermelha" tem como opção se mudar para Portugal, e pesquisei hoje depois de uma discussão com uma dessas pessoas que Portugal está sendo governando por pessoas de esquerda, estou certo ou errado?
      Nick

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    5. Pois é, essa polarização é bem evidente aí. Eu jamais poderia apoiar a esquerda brasileira, que tem vindo a destruir a herança portuguesa e a educação no Brasil. Nos últimos cinquenta anos, a língua portuguesa vem perdendo identidade, muito devido ao facilitismo e permissividade que a esquerda tem e defende no ensino.

      Sim, o governo português, de momento, é um governo minoritário socialista com o suporte do partido comunista e de um outro também da extrema-esquerda.

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  3. O velho Mark aqui. Tão bom.

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    1. Essa teve piada! (risos) Eu sou exactamente a mesma pessoa. Escrevo sobre o que considero pertinente. O país também anda desinteressante, se bem que há um tema que pretendo explorar. Talvez o faça por estes dias. Entretanto surgem outros acontecimentos, que levam a que vá adiando e adiando, até julgar que o 'timing' passou.

      Podia ter assinado. :)

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