11 de maio de 2018

A queda de José Sócrates.


   O ex-Primeiro-Ministro caiu, definitivamente, em desgraça. As investigações judiciais de que é alvo vieram demonstrar, se tanto, que sobre ele impendem fortes suspeitas da prática de ilícitos, e são muitos. Cova da Beira, Freeport, BES, licenciatura e currículos fraudulentos, enfim, um sem-número. O caso paralelo, mas que se toca, de Manuel Pinho, ministro de Sócrates, foi o rastilho, o que faltava ao PS para se demarcar do seu ex-dirigente, que prontamente entregou o cartão de militante, num divórcio abrupto após longo casamento. Há manifesto oportunismo do partido. As eleições legislativas terão lugar no próximo ano.

   Manuela Moura Guedes, que em tempos foi das poucas a denunciar os casos ligados a Sócrates, deu uma bofetada de luva branca à sociedade portuguesa e às vozes que contra ela se erguiam, acusando-a de encetar uma perseguição, movida pelo ódio, a José Sócrates. Demonstrou que o Jornal Nacional, populista, sem dúvida, se pautava pela investigação, em simultâneo com as tentativas do então Primeiro-Ministro de calar a Comunicação Social, ou pelo menos de domá-la. Conseguiu-o, efectivamente, com a TVI, pressionando o grupo Prisa para que este emprateleirasse Moura Guedes. Já se falava, na altura, do quão mal Sócrates lidava com o contraditório. Aliás, a irascibilidade de Sócrates era visível nas sessões parlamentares. Aceitava mal o jogo democrático. Nunca, como naqueles anos, a democracia esteve tão em perigo. A justiça estava manietada. A teia de interesses montada. Os procuradores-gerais faziam vista morta aos indícios. E nós, o povo, reelegemo-lo, a Sócrates. Fomos tão fáceis de enganar.

    Eu fui enganado também, e não, não conheci Sócrates. Não tive qualquer tipo de relação pessoal com o anterior Primeiro-Ministro, e tão-pouco defendo, ou acho moralmente correcto, que se ataque alguém já enfraquecido. Em todo o caso, estimava-o. Julguei-o um homem determinado, de personalidade vincada, forte, que granjeara inimigos. Era mais do que isso. Os casos sucediam-se vertiginosamente.

    Não me deixarei levar pelo populismo fácil. Não julgarei Sócrates antes de os tribunais, quem de direito, o fazerem. Mas não mais me verão a tomar o seu partido. Fui, enquanto português, uma vítima da sua personalidade manipuladora. Eu, como tantos, que agora só pedimos que se faça justiça. Exemplarmente.


7 comentários:

  1. Olá Mark.
    Não é para publicar este comentário. Please...
    Não será Manuel Pinho em vez de Marinho Pinto?
    Um abraço apertado
    P.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pedrinho, publico, claro. Obrigado! Até para poder te agradecer. Vou já rectificar. Coitado do Marinho Pinto!

      um grande abraço.

      p.s.: Não leves a mal ter publicado. Quis fazê-lo para te agradecer.

      Eliminar
  2. Ainda iremos pagar uma fortuna ao amigo socas, o PS bem que tem arquivado e impedido que haja julgamento...

    ResponderEliminar
  3. Julgamento dito de uma Estado de Democrático e não de um Estado Comunista

    Abraço amigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Esperemos que tudo corra conforme os ditames da justiça.

      um abraço, amigo.

      Eliminar
  4. Também devo fazer um "mea culpa, mea maxima culpa", pois fui dos que votou nessa vil personagem de opereta.
    Na altura, quando votei na criatura, não foi para evitar um mal maior, como o fizeram muitos amigos meus, pois não votar seria conceder votos a Santana Lopes, o que seria pior que "dar tiros no pé".
    Também não votei porque fosse socialista, o que não sou, nunca fui, nem acredito que venha a ser - aliás, não tenho qualquer queda partidária na vida política portuguesa, tenho mais tendência, e má, como se viu, em acreditar em pessoas. Sempre votei em indivíduos, se possível independentes, não em engrenagens partidárias, que não creio serem fiáveis, nem respondem cabalmente às necessidades do país. São estruturas com base num nepotismo encapotado. Como os "lobbies", em menor escala.

    Mas voltando a esta criatura, tinha preenchido as pastas do ambiente com Guterres, e, na altura, não me pareceu que tivesse andado mal. Sensível a esta área, considerei que a sua prestação, apesar de nada de extraordinário, não tinha sido má, e possivelmente teria ideias boas para o país e princípios válidos para a governação .... julguei, na minha triste ingenuidade - como eu me rio amargamente de mim mesmo!!!

    Mas, passado pouco tempo após a subida ao poder, logo descobri que tinha votado "mal e porcamente"! Passei o resto do tempo a enfernizar-me com o que tinha feito, e a escarnecer-me da minha decisão.
    Espero, apesar de não ter certeza alguma, pois a justiça portuguesa é algo de volátil e uma espécie de cata-vento político (basta ver a última decisão relativa a Manuel Vicente), que este "espertalhoco" (um grau muito abaixo de "espertalhão") ganhe um lugar na cadeia por muitos e muitos anos, (eu até sou bonzinho, pois há quem lhe deseje muito pior), pois, enquanto ele, o responsável maior do governo, se banqueteava e vivia uma vida de "nababo", eu e não sei quantos mais portugueses, passámos a sofrer cortes regulares no ordenado (esta foi só uma das muitas consequências), que por pouco não me levaram a uma banca-rota, outros ficaram mesmo nela!
    Claro que Passos Coelho, e a sua camarilha, seguiram-lhe as pisadas, tornando a vida do português médio e baixo num completo inferno.

    Eu acredito, e luto por isso, que os votos em branco se reflitam nas bancadas parlamentares, com assentos vazios. Eu voto em branco, para que, quando isso tenha significado, a classe política repense sobre qual o futuro quando houver maior número de assentos vazios que preenchidos. Não sei se algum dia verei esta situação aplicada, mas continuo a ter este ensejo.
    Uma boa semana
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Manel.

      A parte inicial do seu comentário fez-me lembrar daquilo que dizia um meu professor de Direito Constitucional: a nossa democracia está minada pelos partidos. Não existe sem eles. Aliás, não é possível ser-se deputado sem, ao menos, estar-se incluído numa lista partidária, independentemente se enquanto independente ou não. Os partidos têm esse monopólio.

      Eu, infelizmente, fui próximo ao socialismo. Ainda há dias, a propósito, comentei, numa rede social, sobre o que me levou a afastar-me do socialismo: o pouco apreço que a esquerda tem pela nossa história e pelo nosso legado; sucintamente, a esquerda americana, e a africana, diaboliza a presença portuguesa, e a esquerda europeia, a nossa, ainda bate palmas. Ser-me-ia impossível, a mim, um nacionalista histórico, compactuar com a demonização do meu próprio povo e dos seus feitos, que tanto orgulho me dão.


      Indo a José Sócrates, o que mais terá suscitado a desconfiança nas pessoas foi o seu modo de vida. Sem heranças, com um ordenado de político, como era possível viver tão faustosamente em Paris? E os casos, não é, que se foram sucedendo. Hoje mesmo li que recaem suspeitas sobre um ex-professor meu, da faculdade, de lhe ter feito a tese de mestrado a troco de dinheiro. Uma vergonha!

      Em branco, nunca votei, porque temo que ponham lá uma cruz qualquer por mim, mas em nulo sou bem capaz de o fazer, de facto. Ou simplesmente passo a abster-me. Estive a ponto de o fazer nas eleições autárquicas, que, embora sendo poder local - teoricamente, o mais próximo do cidadão - muito pouco me dizem.

      Uma excelente semana, Manel.

      Eliminar