2 de abril de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 12].



   Bem assim como vos havia dito, em virtude de se celebrar a Páscoa neste domingo, escolhi sábado para passear um pouco pela cidade e por alguns dos seus museus. Visitei, a saber, a Casa Fernando Pessoa, na Estrela e pela manhã, e em jeito de revisita, pela tarde, o Museu Colecção Berardo, em Belém, aproveitando a gratuitidade dos sábados neste espaço.

   A Casa Fernando Pessoa está localizada um pouco acima do Jardim da Estrela. É a moradia em que viveu o maior, ex aequo com Camões, poeta do nosso idioma. Está dividida em três pisos. No piso 0, temos algumas telas do poeta, incluindo a sua mais famosa, de Almada Negreiros. Escolhi, entretanto, para a foto, a de Júlio Pomar, que é exactamente a que vos deixo. No piso 1, a recriação, mui fidedigna, do quarto de Pessoa, com a sua mobília: a cómoda em que terá criado, num assomo, Alberto Caeiro e alguns dos seus maiores poemas e a sua última máquina de escrever. No piso 2, há apenas um auditório, chegando, por fim, ao piso 3, por onde vos será aconselhado começar, com dados sobre a vida do poeta, alguns jogos interactivos para que testem os vossos conhecimento e ainda, em vitrine, os seus pertences pessoais: óculos, bilhete de identidade, cigarreira, etc. A entrada não é gratuita, contudo, o preço é simbólico. Esperava mais, confesso, e saí desapontado.




   Vista a Casa Fernando Pessoa, desci até ao Jardim da Estrela e passei pela Basílica. Entrei. Alguns turistas e umas duas a três pessoas a orar, pouco até, considerando que estávamos num Sábado de Aleluia. Detive-me por ali. Fazia-se silêncio. A basílica é linda por dentro. Quis subir ao terraço e à abóboda, mas pedem um valor absurdo, que só engana tolos. Aproveitei e, uma vez mais, estive diante do túmulo da minha monarca favorita, a quem a Basílica da Estrela deve a sua edificação: Dona Maria, a primeira de seu nome a reinar em Portugal e nos vastos domínios ultramarinos. Passei, ainda, pelas Amoreiras, e estive perto da Mãe d'Água.





   Fui almoçar ao Chiado, aos Armazéns, não me demorando, que Belém esperava por mim. Um sábado quente, tanto que me vi obrigado a despir o casaco de pêlo, carregando-o entre os braços. O Museu Berardo, que o Centro Cultural de Belém acolhe desde 2007, não foi uma novidade para mim. Perdi a conta às vezes em que já lá estive. A última, precisamente no ano passado. Não pude perder a visita guiada, totalmente gratuita, que ofereceram, e para a qual me havia inscrito previamente. Como referi noutra publicação, arte moderna não é o que mais me seduz. A primeira foto é da exposição permanente; a segunda, é da exposição temporária, subordinada ao tema das photo-metragens, por João Miguel de Barros. Se passarem por lá, aproveitem ainda as outras duas exposições temporárias: Linha, Forma e Cor e, a mais interessante e criativa, No Place Like Home, como verão.



   Para não perder o hábito, e porque estava um dia excelente, passeei um pouco por ali mesmo, pelos jardins circundantes à Torre de Belém e pelo passadiço de Alcântara, que termina na ponte 25 de Abril.


   Um dia em cheio. Lisboa tem turistas a mais. A juntar-se ao fenómeno preocupante de gentrificação, temos transportes públicos apinhados de turistas, que enchem qualquer zona da cidade. Começamos - e há algum tempo que alerto para isto - a sentir-nos como se fôssemos estrangeiros no nosso próprio país, na nossa própria cidade. Já vejo os turistas como uma praga urbana, tipo ratos ou pombos. Chega. A cidade transformou-se num enorme parque temático, cheio de tuk-tuks. Lisboa perde o espírito de pequena metrópole tradicional do sul europeu. É triste, mas é assim.

    Para o fim-de-semana que vem, provavelmente sairei no sábado também. Isto porque os sítios que quero visitar estão, pelo menos um deles está, encerrados ao domingo. Não me preocupa, que acerto todos os detalhes sempre com antecedência, muita antecedência.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

3 comentários:

  1. A basilica da Estrela é uma obra de arquitetura fulcral de finais do XVIII, obra de dois arquitetos e do eminente escultor Machado de Castro.
    É uma obra que foi em parte um equívoco, pois realizou-se num período em que o neoclássico já se instalava em Lisboa por toda a baixa pombalina, mas obedece a normas barrocas, com um pé no rocaille.
    Digamos que é o conflito entre as novas necessidades mais económicas, dinâmicas e rápidas para levantar uma Lisboa completamente destruída (que obedecem ao classicismo) e o gosto do "ancien régime" tão grato a uma realeza em decadência. Gosto deste contraste e do digladiar das diversas linguagens presentes neste edifício.

    D. Maria, bem, creio que é uma personagem trágica da nossa história, e não foi pelo facto de se ter tornado louca, mas porque nada na sua vida correu como ela teria gostado. Obedeceu aos interesses políticos de outrém, e acabou por ser extremamente infeliz, tendo a desdita de ver o seu primogénito morto.
    Não casou com o seu escolhido, o duque de Lafões, seu primo, e foi obrigada a casar com um homem com idade de ser seu pai, pois era o seu tio, o célebre e ignorante "capacidóneo", Pedro III.
    Claro que a morte da sua parente próxima, Maria Antonieta de França, deixou-lhe marcas profundas que acentuaram a propensão para a perda da razão.
    Mas é uma rainha simpática e as suas medidas estiveram à altura do que então se pedia dela, pois soube rodear-se de políticos considerados capazes.
    Infelizmente já o mesmo não posso dizer da sua descendência ... mas isso é outra história.
    Sei que a opinião de terceiros não é importante, mas continuo a achar que os seus passeios são muito bons
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Em primeiro lugar, deixe-me agradecer-lhe o comentário. Numa blogosfera que já morreu - antes eram só ameaças - é bom saber que há uma alma que nos lê.

      Sim, a Basílica já é do barroco tardio. Todavia, é magnífica. Só é pena que andem a explorar os turistas.

      Dona Maria era muito católica, fervorosa, e nasceu numa época em que as mulheres não deviam reinar. O seu direito a reinar, inclusive, teve de ser defendido publicamente por juristas. Sabemos que Pombal queria substitui-la, enquanto herdeira de Dom José, pelo filho, também ele Dom José, em honra ao avô. O plano não vingou e foi mesmo Dona Maria quem viria a suceder ao pai e a afastar Pombal dos destinos do país, muito embora se recusasse a condená-lo.

      Dona Maria foi obrigada a casar-se com o tio por ser a herdeira presuntiva do trono. Casando-se com um príncipe estrangeiro, podia pôr em perigo a independência nacional. Ao mesmo tempo, não se conspurcava o sangue da casa real, adicionando-se-lhe outra - o que viria a suceder com Dona Maria II, que casou com Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, passando, a Casa de Bragança, a designar-se de Bragança e Saxe-Coburgo Gotha.

      Não só a morte de Maria Antonieta; a morte da mãe, em 1781, do marido, em 1786, do filho - e sobretudo esta - em 1788, que era o seu herdeiro, e de varíola.

      Dona Maria, para terminar, foi uma excelente monarca, infelizmente propensa ao melancolismo. A morte do seu confessor mais próximo também ajudou a que perdesse a razão e mergulhasse pelas brumas nos últimos vinte e quatro anos de vida.

      Ora essa, aprecio a sua opinião. Perdoe a longa resposta, mas adoro Dona Maria e não conseguiria deixar de aclarar alguns pontos.

      Cumprimentos, e obrigado, uma vez mais.

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    2. A propósito, meses depois, respondi ao seu comentário no post sobre Carlota Joaquina. :)

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