7 de março de 2018

Cultural Sunday [take 8].


   Eu supus, e com razão, que a chuva me estragaria - alguns - planos. A mãe aconselhou-me a não sair. A menos que estivesse uma terrível intempérie, nada me prenderia a casa e à cama. Daí ter saído, e munido do meu guarda-chuva mirim, que facilmente se arruma na mala, para mais um domingo cultural. E por onde andei? Fácil. Museu de São Roque, pela manhã, e Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, pela tarde.

  O Museu de São Roque, no Largo Trindade Coelho, pelo Chiado, está inserido na Igreja de São Roque; não na igreja em si, mas num edifício contíguo. Não o conhecia, e devo dizer que adorei, tendo-me surpreendido pela positiva. Como é de imaginar, o espólio é de arte sacra. Muitíssimo bem organizado, com as devidas informações. Notei - já o havia reparado no Mosteiro de São Vicente de Fora - que todos os museus ligados à Igreja estão melhor protegidos, com mais segurança. Este, e sobretudo na requintadíssima igreja, tinha mais de cinco. A entrada na igreja não comporta qualquer gasto. Já no museu, sim.



   Pela tarde, fui até às Amoreiras, a uma fundação-museu que adorei. Gostei realmente muito. Vieira da Silva, pela sua sensibilidade, é uma das nossas principais criadoras contemporâneas, e depois teve um percurso muito curioso com aquele húngaro, Árpád Szenes, por quem se deixou apaixonar e a quem acompanhou, primeiro no Brasil, depois em França, onde lhes reconheceram o talento e lhes atribuíram a cidadania. O casamento duraria 55 anos. A par de guardar e expor o espólio de ambos, a fundação-museu tem exposições temporárias. Eu destacaria a do piso superior, adorável, da artista austríaca, que desconhecia, Maria Lassnig, falecida em 2014. É precisamente de Maria Lassnig que vos deixo as fotos das telas, que considero, no limite, mais interessantes. Muito autobiográficas.




   Como era cedo ainda, não fosse a chuvada que caiu de um momento para o outro e teria feito uma terceira visita, conquanto, vulgarmente, faça apenas duas a cada domingo. Ficará para uma próxima oportunidade. Será, provavelmente, por onde começarei neste próximo domingo, se o tempo mo permitir. As duas que se seguirão, essas sim, estão devidamente planeadas - ou planejadas, como preferem os amigos brasileiros (ambos os adjectivos estão dicionarizados). Falta executá-las.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

2 comentários:

  1. A obra de Vieira da Silva é absolutamente cheia de qualidade, no que, infelizmente, não é acompanhada pela do seu marido que, se não fosse marido de quem é, com certeza nem seria recordado com uma Fundação/Museu em Portugal.
    Como é do domínio público, a saída para o Brasil deveu-se ao facto de Salazar não os ter acolhido em Portugal, apesar dos insistentes pedidos de Vieira da Silva.
    Mas fazendo uso de uma tecnicalidade burocrática, dado o seu casamento com Árpád, Maria Helena perde a nacionalidade portuguesa, tornam-se apátridas, e a sua presença em Portugal tornou-se muito difícil. Eu julgo, e é minha opinião, que o facto do marido ser judeu deverá ter contribuído.
    Ainda bem que o Brasil os acolheu de braços abertos.
    Maria Helena Não esqueceu a afronta, e passada a guerra, acabaram os dois por se naturalizar como franceses. E, novamente, ainda bem, pois a sua carreira torna-se universal, destruindo barreiras.
    Fico sempre a pensar se, caso tivesse ficado em Portugal a sua carreira teria o desenvolvimento fenomenal, e merecido, que teve!

    O edifício onde está instalada a Fundação, a antiga Fábrica dos Tecidos de Seda, do séc. XVIII, é um edifício do traço de Mardel, e esteve durante muito tempo entregue "à bicharada". Ainda bem que lhe deram esta função tão condigna e apropriada.

    Tem passeios muito interessantes. Continue!

    Um resto de boa semana

    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa noite, Manel.

      Sim, essa informação consta na parede da fundação. Temos acesso a toda essa excursão pela vida de ambos. Infelizmente, tornaram-se apátridas, e teve de ser o Estado francês a reconhecer-lhes o talento e a obra deixada. Hoje em dia, nada seria assim, porque a lei portuguesa permite acumular mais do que uma nacionalidade e veda por completo a apatridia, pois um indivíduo nunca perde a nacionalidade portuguesa se outra não tiver. Não fica sem vínculo algum jurídico que o ligue a um Estado.

      Obrigado! São visitas para continuar. :)

      Um resto de boa semana também para o Manel.

      Eliminar