29 de março de 2018

Hostis.


   Histórias que se cruzam, sofrimento e perdas. Uma vez mais, sem qualquer sinopse, para ser surpreendido. Na maioria das vezes, tão-pouco tenho qualquer ideia do que vou assistir. Em Hostis, o conflito pela terra, nuns EUA ainda em afirmação, após uma aparatosa guerra civil, marca todo o filme. Colonos e ameríndios, uns suportando-se na superioridade racial e outros no direito histórico, reclamam o território norte-americano. Aos índios, pouco mais resta do que recolher a reservas, todavia, a um deles, moribundo, o presidente dos EUA consentiu que fosse morrer no seu estado natal, no Montana, e incumbiu-se o capitão Blocker para que efectuasse o transporte do velho chefe, acompanhado de outros oficiais, entre os quais o jovem francês DeJardin, interpretado pelo Timothée Chalamet, que não esperava ver no filme, de todo.

   Crimes violentos perpassam os longos cento e trinta minutos, motivados por esse ódio secular, esse passado de confronto, como referi, entre colonos e autóctones. Acicatados pela revolta, algumas daquelas tribos atacavam os colonos, assassinando-os, pegando-lhes fogo aos pertences e roubando-lhes os cavalos. É num desses episódios que conhecemos uma história dramática, que teria consequências ao longo da narrativa, e que nos levará à constatação de que o amor pode surgir da fraqueza, da debilidade física e emocional mais profunda, como se fôssemos mais fortes ao juntar as dores, as nossas e as de quem escolhemos, admitindo que há escolha possível na fatalidade.

    Gostei muito.

28 de março de 2018

Maria Madalena.


   Não dava nada pelo filme. Julguei que se tratava de mais uma história sobre a vida de Jesus, com determinados episódios repetidos até à exaustão. Enganei-me. Sim, tem os tais episódios repetidos até à exaustão, mas a narrativa - apócrifa, que foge totalmente aos evangelhos - mostra-nos um Jesus mais humano do que deus, sempre na perspectiva de Maria Madalena, a personagem principal.

   O filme vem, à sua maneira, repor a verdade: Maria Madalena não terá sido nenhuma prostituta arrependida. Foi uma seguidora de Jesus, que no filme se contava, a ela própria, como um dos apóstolos; que baptizava, no limite, acompanhando Jesus e os demais apóstolos, o que seguramente desagradará aos cristãos mais conservadores. Aliás, esse papel da mulher, subalterno, surge na história quando Jesus exorta a que as mulheres, se preciso for, abandonem os seus maridos para que o possam seguir. Maria Madalena, ela mesmo, viu-se confrontada com a pressão familiar para que casasse e "honrasse a família", tendo optado por acompanhar o rabino.

   Notei que houve uma preocupação em afastar Jesus das parábolas e dos versículos bíblicos, como se o realizador o quisesse despir de todas as construções posteriores à sua morte - e tudo o que conhecemos não lhe é contemporâneo - para nos tentar mostrar como o Jesus histórico, que é diferente do religioso, pode ter sido. Não há belezas extasiantes, nem milagres que se operam como que num passe de mágica; aquele Jesus sofre sem ser apenas entre a traição e a morte, ri, chora, não é tão impenetrável às sensações humanas. É, ele mesmo, um homem, divino, seguramente, mas um homem, tão comum quanto possível. E é essa a preocupação com todas as personagens, até em Maria, sua mãe, que surge aqui como uma judia típica. Já Maria Madalena, pelo contrário, parece que absorve todas as características que estamos acostumados a ver nas recriações de Jesus e da Virgem. Há uma candura e uma beatitude, nesta personagem, intencionais.

   Garth Davis, o realizador, leu o Código da Vinci, e nele ter-se-á inspirado. Vemos, na Última Ceia, Maria Madalena sentada à direita de Jesus, e paira no ar, mesmo que a prudência o tenha levado a evitar aprofundar, se Jesus e Maria Madalena terão tido algo mais do que aquele amor de dois irmãos na fé, aquela relação de rabino e seguidora.
   De igual modo, estranhei a profusão de apóstolos de tez negra. Pedro é retratado como negro no filme, quando era judeu. Seria, no mínimo, moreno. Não quase como um etíope.

   Já no final, ficamos a conhecer aquela que terá sido uma cisão entre Pedro e Maria Madalena, o que explicará o carácter patriarcal da Igreja, fundada por Pedro, que afastou a mulher do sacerdócio. Pedro acusou Maria Madalena de enfraquecer Jesus. Esse distanciamento, quer-me parecer, poderá estar na origem da posição de sujeição da mulher, face ao homem, para o catolicismo, ainda que Jesus tenha vindo pregar, e foi o primeiro a fazê-lo, a igualdade de todos os homens, criados à imagem e semelhança de Deus, numa sociedade romana estratificada e esclavagista. Esse contraste entre o pensamento de Jesus e de Pedro também ressalta. Judas Iscariotes não escapou à tentativa de desmistificação de Davis: surge, aqui, como um homem bom, que perde a família, e cujo desânimo na demora em ver o Reino de Deus terá levado àquela decisão imponderada.

    Não tenho ideia se o filme tem suscitado, ou não, a polémica. Que a procura, ou procurou, é certo.
   Gostei bastante, porque foge aos clichés e, pelo menos em mim teve esse efeito, tornou todas aquelas personagens bíblicas, tão distantes e tão fantasiadas, em pessoas que poderão realmente ter existido e sido assim, como ali vemos.

26 de março de 2018

Cultural Sunday [take 11].


  O tempo não me pregou uma rasteira, e se temi que o fizesse. Tive um dia de algum sol, sem ameaças de chuva. O frio não me intimida de forma alguma. Museu Bordalo Pinheiro, Museu da Cidade e Museu do Centro Científico e Cultural de Macau foram as escolhas para o dia de ontem.

  Começando pelo Museu Bordalo Pinheiro, no Campo Grande, numa vivenda unifamiliar do início do século XX. Quem passa por ali, talvez nem se dê conta do museu dedicado a este artista plástico português, conhecido, sobretudo, pelas suas surreais cerâmicas. Provavelmente, nos dias de hoje, Bordalo Pinheiro seria considerado um artista kitsch, e quem sabe já o fosse à época. As suas peças de faiança das Caldas, para decoração ou para uso diário, são, o mais das vezes, irónicas, satíricas e mordazes, com muitos elementos ligados à fauna e à flora. Os animais marinhos inspiravam-no sobejamente. A sátira também se encontra nas suas ilustrações, que davam conta da instabilidade política, com uma monarquia prestes a tombar. Entre elas, a sua criação mais conhecida, a figura popular do Zé Povinho, personificação e caricatura do povo português, que vive, apático, entre os desmandos da elite, embora não indiferente - como se vê no manguito.

  O museu é composto por dois blocos, cada um com dois pisos. No primeiro, terão acesso a parte da sua vasta colecção de faiança; no segundo, somos convidados a conhecer mais de perto a sua intimidade, as sátiras políticas em papel, trabalhos que foi desenvolvendo, e para os quais foi contratado, incluindo os instrumentos: aquarelas, utensílios, etc. Deixo-vos algumas fotos.




   O segundo museu, mesmo em frente, do outro lado do jardim do Campo Grande, não posso dizer que tenha sido uma novidade. Estive por lá em 2013. É um espaço que trata, sucintamente, da história da cidade, com enfoque no período do terramoto e posterior reconstrução. O piso inferior está fechado para remodelação. Foi uma visita rápida, que tinha outros planos, e para Alcântara, longe dali. De qualquer forma, é sempre bom revisitar o Jardim Bordalo Pinheiro, nas traseiras do Museu da Cidade, com as suas peças de cerâmica inconfundíveis.




   Chegado à Rua da Junqueira, em Alcântara, não tive dificuldade em descobrir o semi-escondido Centro Cultural e Científico de Macau, não obstante nada haver, excepto uma placa discreta, que nos informe de que por ali se encontra um excelente museu dedicado ao Oriente - e aqui lembra-me o Museu do Oriente, também na freguesia, curiosamente, do qual vos falei há pouco tempo. O museu não se detém apenas em Macau, embora dê amplo destaque, evidentemente, à antiga praça portuguesa, devolvida à China ainda nem há vinte anos. A arte e as tradições chinesas imperam. Gostei muito da ampla colecção de porcelanas chinesas, no piso superior, que vi com toda a calma - o lado bom de estar escondido, o museu, é esse mesmo: era a única pessoa, sem barulhos, sem ruídos e sussurros. O espaço está muito bem concebido, com uma decoração intimista e quente, como se quer. Reportou-me imenso aos pisos superiores do Museu do Oriente: pouca luz, espaços amplos, cores quentes, mas discretas, esbatidas, com predomínio dos castanhos e beges e, no caso do Museu do Oriente, negros. Há um senão para quem gosta de escrever crónicas destas visitas culturais: não deixam tirar fotos, o que já sabia, porque disponibilizam essa informação no site. Captei uma à entrada.
  Não deixem de visitar este museu. A deslocação vale bem a pena. Estando sol, poderão passear por ali, que a vista sobre a ponte não deixa de impressionar.



   Para o domingo que vem, e em virtude de se celebrar a Páscoa, não irei a lugar algum. Talvez o faça no sábado, que tenho lugares para visitar que encerram ao domingo. Em todo o caso, poderão acompanhar os registos fotográficos de ontem através, para quem me segue, das demais redes sociais.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.


22 de março de 2018

Red Sparrow.


   Mais uma sessão, mais um filme. A escolha de ontem recaiu no Red Sparrow, com a lindíssima Jennifer Lawrence, que aqui é uma espiã russa, apaixonada por um agente da CIA, norte-americano, claro está.
   Acredito que o filme seja tremendamente bom, contudo, para quem é apreciador e tem o sentido crítico apurado para filmes de espionagem e contraespionagem. Devo dizer que perdi o fio à meada, em linguagem comum. Quanto ao desempenho da actriz, diria que foi morno. Nada de excepcional, para quem já arrecadou um Oscar de Melhor Actriz. O filme é excessivamente longo e intrincado. Senti que tiveram alguma dificuldade para lhe encontrar um final decente, que não desanimasse, o que não conseguiram, lamentavelmente. Configurará um bom serão para quem gosta deste tipo de thrillers, destes bastidores das agências de informação. As cenas de tortura também eram escusadas. Fica de alerta para escolhas futuras.

21 de março de 2018

Final Portrait.


   Quando o Call Me By Your Name estreou, andaram por aí uns quantos malucos com o Armie Hammer, excepto eu. Ele é giro, sim, mas enfim. Preferi o Chalamet, como se sabe. Este Final Portrait, entretanto, vem na sequência, para mim, do outro filme. Descobri o Hammer, e tive curiosidade em revê-lo no grande ecrã.

   Final Portrait aborda a relação de amizade que se estabelece entre um velho artista plástico, que existiu efectivamente, Albert Giacometti, e um correspondente e jornalista norte-americano, James Lord, na Paris dos anos 60 do século passado. O filme desenrola-se inteiramente no estúdio de Giacometti, casado, todavia em regime liberal, mantendo relacionamentos extraconjugais, bem como a sua complacente e tolerante esposa, com prostitutas de baixo calão. Giacometti é o tradicional artista: meio louco, absolutamente inconformado e insatisfeito com o seu trabalho, desapegado do dinheiro e dos bens materiais. Fiquei com a ideia de que a finalização do quadro de Lord jamais se daria porque Giacometti precisava daquele amigo presente, que o visitava diariamente; que se preocupava, inclusive, com o seu estado de saúde.

  Tendi a não gostar do filme, a considerá-lo quase tortuoso. Os planos são estáticos, e demoram-se muito. Reflectindo mais, cheguei à conclusão de que é uma história com interesse, tão simples como pode ser a natureza humana. Entramos no quotidiano de um génio, com as suas manias e o seu trato difícil, que consegue, apesar disso, ser de um desprendimento surpreendente, de um carisma inigualável e de uma ingenuidade quase ternurenta.

  Hammer, que esteve meio canastrão em Call Me By Your Name, julgo que se terá redimido aqui. Quanto a Geoffrey Rush, foi impecável na caracterização, recriando, com esmero, Albert Giacometti e as suas sessões artísticas intermináveis.

20 de março de 2018

Cultural Sunday [take 10].


   Este domingo foi, e dúvidas houvesse, um dos mais proveitosos. Começou bem cedo, como todos, e foi transversal: entre museus, exposições e até mesmo passeios pelas ruelas de Lisboa. E por onde terei andado? Museu do Fado, Atelier-Museu Júlio Pomar, de manhã, sendo que pela tarde fui à exposição da história de Lisboa do Lisbon Story Centre.

   O Museu do Fado, ali para os lados de Santa Apolónia, foi a minha primeira opção, também pela proximidade. É um museu recente, relativamente, interactivo, com recurso a informação em audioguia. O Museu do Fado, até pelo reconhecimento da cantiga como património imaterial da humanidade, tem um acervo verdadeiramente único. Somos convidados a conhecer o género musical desde as suas origens - de canção clandestina, pelo século XIX - passando aos anos de oiro do século XX, quando foi internacionalizado com Amália Rodrigues, até à conotação com o Estado Novo e à rejeição da elite intelectual. Uma vez mais, tal como no Aljube, temos acesso a letras censuradas. O Museu está dividido por três pisos, um deles no subsolo. Temos ainda a possibilidade de ouvir alguns fados, através de três maples com auscultadores. Encontraremos quadros, instrumentos musicais e galardões, que os fadistas portugueses, pelos anos, arrecadaram, e que provavelmente, munidos de um espírito altruísta, legaram às futuras gerações. Deixo-vos algumas fotos.




   Apanhei, seguidamente, o autocarro para São Bento. Tive curiosidade de visitar o Atelier-Museu Júlio Pomar, na Rua do Vale, ali bem perto da Assembleia da República. É um atelier moderno, dividido em dois pisos, amplo e muitíssimo bem iluminado. De arte contemporânea, que não é a que mais me diz. Ainda assim, o conhecer não ocupa, definitivamente, lugar. Eis algumas fotos.



   A parte mais interessante do dia estava para chegar, quando um amigo, recente, se juntou a mim, pela baixa, após o meu almoço. Indecisos entre a minha sugestão, acabei por acatar a dele, visto que adoro História, e fomos à exposição interactiva do Lisbon Story Centre, que não é gratuita. Tem um preço de sete euros. Apresentam-nos a cidade através de mapas e vídeos, com recurso a audioguia por GPS, sem que precisemos manipular quaisquer botões. Há algum aparato, porque, de facto, procuraram recriar vários ambientes relativos à história da cidade de Lisboa, e com sucesso, como verão. Gostei particularmente do pequeno vídeo sobre o terramoto de 1755. Literalmente colocam-nos numa sala cujos efeitos, sonoros, visuais e até, diria, físicos, nos guiam até àquela manhã solarenga do dia de todos os santos. O Lisbon Story Centre encontra-se na Praça do Comércio.

   A visita, desde os primórdios da cidade até à actualidade, encerrando com um relato do quotidiano da Praça do Comércio enquanto salão nobre de Lisboa, leva uma boa hora, ou mais, pelo que compensa o preço.
   À saída, eu e o amigo passeámos pela cidade, um pouco mais (eu já havia fotografado bastante por São Bento), e decidimos passar pela livraria Ferin, na Rua Nova do Almada, ali pelo Chiado, que frequentei bastante, durante anos, porque fica lado a lado à Coimbra Editora, livraria jurídica. Andámos ali por entre os livros - ele, tal como eu, lê bastante. Aliás, ofertou-me um pequeno livro há dias. Aqui ficam duas fotos, uma do Lisbon Story Centre e a outra do piso inferior da Ferin.



   Um dia formidável, que terminou na Manteigaria - uma fábrica de pastéis de nata ali no Largo de Camões - com dois acabadinhos de sair, quentes e estaladiços. A fila chegava e ultrapassava a porta. Realmente, não lhes vejo grande diferença em relação aos de Belém.

   Passámos pelo Bairro Alto, Príncipe Real e pelas Amoreiras, descendo até à gare dos comboios. Moramos perto. Quem me segue no Instagram, pode acompanhar estes domingos com maior pormenorização e detalhe.

Uma das minhas favoritas, na Travessa da Arrochela, que levou a que me chamassem de "excelente fotógrafo".


    Se tivesse de escolher um dos domingos, a minha escolha recairia neste, por ter sido tão diversificado e pela companhia. Que venha o próximo.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

17 de março de 2018

Cultural Friday.


   Aproveitando a gratuitidade das sextas-feiras à noite, ontem fui a Alcântara, ao Museu do Oriente. Não conhecia o museu, inserido na Fundação Oriente, que perfaz trinta anos neste mesmo ano, em 2018. O museu é interessantíssimo, dividido em vários pisos, com um espólio assinalável que vai atravessando a presença portuguesa na Índia, na China, no Japão, em Timor, nas Coreias, na Birmânia, em Macau (aqui individualizando do restante território da RPC), por aí.



  Frequentemente lembramo-nos da nossa presença nas Américas e em África, esquecendo o que o Oriente representou para nós durante séculos, quer na busca por riquezas, quer na evangelização daquelas civilizações milenares. As trocas, comerciais e culturais, enriqueceram-nos mutuamente, e o museu é um testemunho disso. Só tenho a lamentar, não obstante ter por lá estado mais de duas horas, não ter visto tudo com mais calma. Não deixem de visitar a mini-exposição, no piso -1, sobre a primeira gramática portuguesa e o início da colonização do Brasil - João de Barros, historiador e autor da nossa primeira gramática. No piso 2, terão uma exposição sobre a ópera chinesa, um encanto. Nos pisos intermédios, a colecção permanente. No piso térreo, uma exposição de José de Guimarães, da colecção Kwok On. Deixo-vos algumas fotos.



Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.







15 de março de 2018

Marvin.


   Ontem, fui ver um filme francês, Marvin, que descobri ao navegar pelo site do UCI. Interessou-me a sinopse. Não sou muito de atentar nas cotagens dos espectadores. Explorou um universo já por nós conhecido: o bullying homofóbico, na escola, no meio social e no seio da família, com as repercussões negativas, a longo prazo, que acarreta no equilíbrio do indivíduo. No caso de Marvin, acrescia a disfuncionalidade em casa: uma mãe que trabalhava como acompanhante (não tinha manifestamente figura para tal; o filho defini-la-ia, mais tarde, como uma puta), um pai, alcoólico, que tinha dificuldade em impor-se enquanto figura masculina, em adoptar um comportamento tradicional no homem, falhando e sentindo-se frustrado por isso, e um irmão mais velho que, apercebendo-se de que Marvin não era um rapaz comum, também o confrontou, ainda em criança, com a sua condição mais feminina - e em itálico porque Marvin, como verão, era um garoto absolutamente normal, que gostava de teatro, mas que não preenchia o estereótipo que a sociedade impõe num rapaz: agressividade, a prática de desporto, nomeadamente de futebol, entre outros.

  Já adulto, Marvin procura exorcizar esse passado doloroso através das artes, do teatro, no caso, frequentando a sociedade artística, e a alta sociedade parisiense, que lhe abre algumas portas, inclusive ao relacionar-se brevemente com um homem mais velho, que lhe serve quase de tutor.
  Marvin não desliga da família. Percebe-se essa preocupação com o seu bem-estar. Há amor, no fundo, que foi recíproco. Chegamos ao final da narrativa e percebemos que houve amor. Não souberam expressá-lo. Há essa carência, essa debilidade na forma como expressaram o afecto. Uma carência que se juntou a tantas outras, num estrato social baixo, de parcos recursos e insuficiente escolaridade.

  Marvin é um retrato cru da vivência de tantos jovens. É provável que muitos se identifiquem.

13 de março de 2018

Cultural Sunday [take 9].


   Este fim-de-semana foi, seguramente, um dos melhores, principalmente pelo primeiro museu que visitei. Deixei-me ficar ali por Santa Maria Maior, pela zona da Sé de Lisboa, e por onde terei andado em concreto? Museu do Aljube, Museu do Teatro Romano e Museu de Santo António, o último que havia visitado há uns anos.

  Pensei em dedicar uma única publicação ao Museu do Aljube, um testemunho bem preservado do que foi o Estado Novo português no que respeita à repressão. O edifício, que actualmente é museu, albergou a antiga prisão do Aljube, um cárcere do regime onde permaneceram homens e mulheres durante décadas, muitos à espera de julgamento sem acusação formada, sujeitos aos tratos mais desumanos e degradantes. São quatro pisos de penosas memórias. Há fotos e relatos impressionantes. Aconselho vivamente a que o visitem. O pessoal que por lá está é de uma simpatia extrema. Terão acesso, ainda, a documentação vária, a recortes censurados de jornais, a uma excursão histórica pelo período de '33 a '74, inclusive no Ultramar, designadamente. Um piso é, todo ele, dedicado às práticas inquisitórias brutais da PIDE/DGS. Que nunca caia no esquecimento. Deixo-vos algumas fotos.



   Tantas e tantas fotos que tirei, e que irei publicando espaçadamente nas minhas demais redes sociais. Há relatos de vítimas da perseguição política encetada pelo regime. Relatos duríssimos, de uma violência, quase gráfica, que impressiona qualquer um. A voz de Oliveira Salazar ecoa por todos os espaços, emanada de um filme de 1936, do décimo aniversário sobre o golpe de Maio de 1926. Sinistro. O museu está muitíssimo bem idealizado, com a informação e a documentação bem expostas e de um modo atractivo para os visitantes. Adorei, e repetirei brevemente.



  Como era cedo, e uma vez que estava por ali mesmo, fui ao Museu do Teatro Romano e às ruínas. O Museu do Teatro Romano guarda um núcleo arqueológico de extraordinário interesse que a cidade de Lisboa escondeu durante séculos e que o terramoto de 1755 pôs a descoberto. O museu abriu portas ao público em 2001, finalmente, após décadas em que não se sabia bem o que fazer a um património histórico milenar que nos pertence. Encontra-se a umas ruas acima do Museu do Aljube, portanto, não deixem de o visitar.







   Para finalizar o domingo, aproveitei a proximidade e fui ao Museu de Santo António, que já conhecia, como referi, e à Igreja de Santo António, onde terá nascido o mais português de todos os santos - lisboeta, sem sombra de dúvida, por mais que isso incomode aos italianos, que o vendem de Pádua. É um museu pequeno, com muita iconografia de Santo António, os seus responsos e lendas associadas. No vosso périplo pela zona, não deixem também de o visitar, que por ali andarão. 

Na segunda foto, o pequeno cubículo, no subsolo, onde Santo António terá nascido.




   Fui contemplado com chuvas intermitentes, que felizmente caíram quando estava dentro dos museus. Ainda dei um pequeno passeio, pela zona, antes de regressar. Para o próximo domingo, tenho já em mente dois destinos, um deles se o sol despontar. Entretanto, e na medida em que irei acompanhado de um amigo, à partida, que ainda não conhece muitos dos espaços que eu já conheço, é provável que me repita. Vamos ver o que irá acontecer.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

10 de março de 2018

Get Out.


   Sendo sincero, pensei seriamente em nada escrever sobre este filme. Nem tinha previsto vê-lo, até que os cinemas UCI resolveram reexibi-lo. E eu lá fui, como apreciador de terror. O terror que encontrarão, contudo, se se decidirem por Get Out, será bem mais psicológico. Esqueçam o sangue e os monstros, que só o verão, ao sangue, já perto do final, e em doses minuciosas, quase tanto como o instrumento cirúrgico.

  Não gostei muito do filme, não o achei particularmente bom, tão-pouco, daí que tenha alguma dificuldade em compreender quaisquer das nomeações para os Oscars. Daniel Kaluuya não foi além do que se pedia, e o que é se pede a um actor? Que seja convincente. O enredo não é diferente de outros. Digam-me lá quantas vezes, em filmes de terror, viram um carro atropelar um animal, uma pessoa ou uma entidade qualquer desconhecida? Depois, lá saem do carro e blá, blá, blá. Milhentas. Foi mais um filme, enfadonho, até, e pouco, muito pouco, assustador. Os mais sensíveis evitarão algumas cenas finais. Fora isso, eu defini-lo-ia como de suspense. Nós ficamos a tentar descortinar, ao longo dos 104 minutos, o que é que se passa de errado com aquela família estranhíssima, e staff..., e com o seu círculo de amizades. Aborda, pelo meio, as questões raciais, que também são tão caras aos realizadores norte-americanos. De uma forma surreal, como verão, mas fá-lo.

9 de março de 2018

Lady Bird.


   « Há pessoas que não nascem para ser felizes, sabes? »

  Quando Julie remata, deste modo, o diálogo que estava a ter com Christine, eu só consegui sorrir. A vida é tão assim, efectivamente, que às vezes nem precisamos de justificação alguma para sermos infelizes. Somo-lo. Ponto final.

   Não ia muito expectante - devo dizer que Timothée Chalamet quase que me empurrou para a sala de cinema, e adorei o filme. Constará no meu top 3 dos nomeados para Melhor Filme. É que Lady Bird não é apenas um coming-of-age sobre uma adolescente inquieta que descobre o amor, o sexo e discute com a mãe; é um filme sobre uma miúda que quer vingar e ser feliz, que tem expectativas, que mantém ali uma chama qualquer que a impulsiona para a frente. Há percalços, dificuldades e desilusões pelo meio (quem não os tem?), mas Christine descobre-se e descobre o mundo. A viagem final, quando vai para Nova Iorque frequentar o Ensino Superior, é quase o ponto de partida, começando, por fim, a trilhar o seu caminho, a construir o seu destino, a ter responsabilidades. A cuidar de si, em suma.

   Identifiquei-me extraordinariamente com Christine. Por um lado, ter consciência disso amedrontou-me. Eu preciso de fazer o que ela faz, eu penso e busco o mesmo que ela (até no plano sentimental), com a diferença de que sou uns anos mais velho e de que o processo está atrasado. Não tenho uma mãe igual, que ama, embora desdenhe, ainda que a minha nem sempre acredite em mim e naquilo de que sou capaz. Também eu gostaria de lhe provar o que valho, talvez até, como Christine, em intenção, pagando-lhe tudo o que tem gasto comigo ao longo destes muitos anos, e as semelhanças entre a sua mãe e a minha - entre a sua família e a minha - ficam-se por aí. "Lady Bird", como gostava de ser chamada até deixar a adolescência para trás (terá deixado?), teria, no limite, um ambiente mais familiar do que eu. Os pais estavam juntos e bem, lá com os seus problemas, inclusive de ordem financeira.

   Para não me afastar mais do filme, e dos filmes, não sei o que se passou neste ano, mas temos um sem-número de mães que fazem toda a diferença: em Tonya, em Three Billboards, em Florida Project. O que uma mãe - o que o papel de uma mãe - acarreta na composição de uma narrativa. Mães fortíssimas que Hollywood nos apresentou em 2017/2018, umas boas, outras mais frívolas.

   Ambientada em 2002, nas paisagens cálidas de Sacramento, costa oeste e sul dos EUA, a história é, em si, comum, sem fantasias ou sem um enredo que a torne excepcional. As interpretações são inenarráveis, do início ao fim, convincentes, o que lhe dão uma extrema correspondência com a realidade. Não gostei do papel do Timothée Chalamet. Julgava que o veria num tom mais romântico, e a sua personagem é a de um playboy em miniatura, que não se importa em brincar com os sentimentos e as idealizações de uma rapariga ingénua e sonhadora.

   Escrito e realizado por Greta Gerwig, das poucas mulheres a receber uma nomeação para Melhor Realização, Lady Bird é um filme sobre adolescentes, todavia direccionado a todos. É original dentro do tradicional, não foge a alguns lugares-comuns e consegue ser divertido e dramático na dose certa, para a densidade que tem.

7 de março de 2018

Cultural Sunday [take 8].


   Eu supus, e com razão, que a chuva me estragaria - alguns - planos. A mãe aconselhou-me a não sair. A menos que estivesse uma terrível intempérie, nada me prenderia a casa e à cama. Daí ter saído, e munido do meu guarda-chuva mirim, que facilmente se arruma na mala, para mais um domingo cultural. E por onde andei? Fácil. Museu de São Roque, pela manhã, e Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, pela tarde.

  O Museu de São Roque, no Largo Trindade Coelho, pelo Chiado, está inserido na Igreja de São Roque; não na igreja em si, mas num edifício contíguo. Não o conhecia, e devo dizer que adorei, tendo-me surpreendido pela positiva. Como é de imaginar, o espólio é de arte sacra. Muitíssimo bem organizado, com as devidas informações. Notei - já o havia reparado no Mosteiro de São Vicente de Fora - que todos os museus ligados à Igreja estão melhor protegidos, com mais segurança. Este, e sobretudo na requintadíssima igreja, tinha mais de cinco. A entrada na igreja não comporta qualquer gasto. Já no museu, sim.



   Pela tarde, fui até às Amoreiras, a uma fundação-museu que adorei. Gostei realmente muito. Vieira da Silva, pela sua sensibilidade, é uma das nossas principais criadoras contemporâneas, e depois teve um percurso muito curioso com aquele húngaro, Árpád Szenes, por quem se deixou apaixonar e a quem acompanhou, primeiro no Brasil, depois em França, onde lhes reconheceram o talento e lhes atribuíram a cidadania. O casamento duraria 55 anos. A par de guardar e expor o espólio de ambos, a fundação-museu tem exposições temporárias. Eu destacaria a do piso superior, adorável, da artista austríaca, que desconhecia, Maria Lassnig, falecida em 2014. É precisamente de Maria Lassnig que vos deixo as fotos das telas, que considero, no limite, mais interessantes. Muito autobiográficas.




   Como era cedo ainda, não fosse a chuvada que caiu de um momento para o outro e teria feito uma terceira visita, conquanto, vulgarmente, faça apenas duas a cada domingo. Ficará para uma próxima oportunidade. Será, provavelmente, por onde começarei neste próximo domingo, se o tempo mo permitir. As duas que se seguirão, essas sim, estão devidamente planeadas - ou planejadas, como preferem os amigos brasileiros (ambos os adjectivos estão dicionarizados). Falta executá-las.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

6 de março de 2018

Oscars 2018.


   Os Oscars começaram sem surpresas, com Sam Rockwell a levar para casa a estatueta de Melhor Actor Secundário. Bem merecido! A interpretação no Three Billboards Outside Ebbing, Missouri foi excepcional. De igual modo, Melhor Guarda-Roupa para Phantom Thread era expectável. Na categoria de Melhor Maquilhagem e Penteados, Darkest Hour também se afirmava como favorito. Nas categorias de Som, Dunkirk, claro está. Os seus efeitos, o som poderoso, transportavam-nos para o próprio cenário de guerra. Melhor Cenografia, e bem atribuído, o primeiro da noite, para Shape of Water.

   Melhor Actriz Secundária, Allison Janney, a pior das mães que se pode ter. Fenomenal! Dunkirk, uma vez mais, em Melhor Montagem. Nas categorias técnicas, impôs-se. É, sem dúvida alguma, um belíssimo filme. Call Me By Your Name arrecadou a primeira estatueta em Melhor Argumento Adaptado. Shape of Water ganhou na categoria de Melhor Banda Sonora, o que, devo dizer, não esperava.

   Encontrávamo-nos mais perto do final do evento. Guillermo del Toro não dissimulou a felicidade ao ouvir o seu nome em Melhor Realização. O Oscar de Melhor Actor, quanto a mim mal atribuído, a Gary Oldman, por Darkest Hour. Frances McDormand, que arrecadou vários outros prémios de cinema e que se afirmava como a favorita, ganhou, e muito bem, o Oscar de Melhor Actriz. E o grande galardão da noite, após vinte e quatro categorias sem sobressaltos, o Oscar de Melhor Filme, para Shape of Water.

  Gary Oldman teve um papel essencialmente técnico. Não querendo, longe de mim, tirar o mérito ao actor, Chalamet merecia-o mais, ao Oscar, ou até Day-Lewis, um belíssimo actor. Talvez a Academia queira que Chalamet espere um pouco mais, que amadureça. Shape of Water como melhor filme: indo ao histórico, não causa espanto. A Academia tem tendência para gostar de filmes cuja mensagem seja iminentemente positiva e, muito embora tenha gostado do filme, foi como disse na crítica que lhe escrevi: histórias em que meninas bonitas se apaixonam por meninos feios há muitas. A Academia poderia ter sido mais original. Call Me By Your Name saiu como grande derrotado, após tamanhas expectativas.
  Para encerrar definitivamente os Oscars, quero ver Get Out, através do videoclube, e Lady Bird, que estreará depois de amanhã.

   Um último apontamento: é de lamentar que pouco se tenha falado nos Oscars e muito se fale desse espectáculo deprimente chamado Festival da Canção. Todavia, pior, pior será quando nos encherem de textos e de comentários sobre a Eurovisão, que ainda por cima, oh Deus!, este ano será em Lisboa.

2 de março de 2018

Dunkirk.


   Presumo que terei completado o meu ciclo de nomeados para os Oscars (Lady Bird ainda não estreou). Os cinemas UCI - os melhores de Lisboa - acompanham o resto da superfície no que concerne ao indicador qualidade (eu ainda sou do tempo em que se encontrava no El Corte Inglés o que não se encontrava em lado algum da capital): Dunkirk havia estreado no Verão, e repuseram-no, novamente, em cartaz. A horas indecentes, diga-se. A sessão da meia-noite, que, a mim, ficaria muito tarde. Até que se lembraram de colocá-lo no horário das dezanove.

   Por coincidência, anteontem vi o Darkest Hour, uma narrativa que assenta exactamente no mesmo período da História: a participação do Reino Unido da II Guerra Mundial; ambos, mais concretamente, na evacuação de soldados britânicos dispostos na praia de Dunquerque, a célebre Operação Dínamo - em Darkest Hour, a Operação é tratada, não sendo o foco. Em Dunkirk, não há lugar para cenas que se demoram. O filme é de acção, sempre acompanhado por uma música de fundo que nos incute aquela estranha sensação de perigo e de tensão. A guerra travava-se em três frentes: mar, terra e ar. Pelo ar, procurava-se dar cobertura à fuga, digamos assim, daqueles homens, que tudo quanto queriam era regressar, a salvo, a casa.

  Os planos são minuciosos e detalhados, incluindo nos caças. O som é extraordinário. O filme impressionou-me pelo ambiente recriado, definitivamente de palco de guerra. Não há sorrisos ou complacências. Há o instinto de sobrevivência a funcionar, numa atmosfera fria e angustiante, se bem que também encontramos, pelo meio, gestos de solidariedade. O curioso em Dunkirk, entretanto, é que embora tenhamos pelo menos um actor principal, a história dispersa-se por vários. Há uma quantidade apreciável de personagens a quem o realizador quis que seguíssemos o trajecto, sem, contudo, densificar nenhuma delas. São homens de quem pouco sabemos - literalmente homens, que as únicas mulheres que se vêem são enfermeiras. É um filme de guerra, com poucos diálogos, e os que tem são apressados.

   Não serei um apreciador confesso deste género cinematográfico. Em todo o caso, Dunkirk, definitivamente, é um dos favoritos a levar para casa a estatueta dourada, e é um dos meus favoritos entre todos os que venho assistindo. Entrei numa numa operação militar com Christopher Nolan, que conseguiu recriar com esmero um episódio que tem escapado aos nossos holofotes quando pensamos nas várias facetas que a II Guerra Mundial assumiu. Geralmente, temos uma perspectiva da participação dos EUA. Nesta longa-metragem, não consta um americano.

1 de março de 2018

Darkest Hour.


   Mais uma sessão, mais um filme arrebatador. Darkest Hour é uma fonte quase histórica. Joe Wright mostra-nos, com incrível precisão, as horas mais difíceis de Churchill na II Guerra Mundial, dividido entre negociar uns termos de paz humilhantes com Hitler, que tornariam o Reino Unido refém do tirano alemão, ou prosseguir na guerra, resistindo, apoiando Paris, que estava prestes a cair. Sabemos o final desta história: Churchill conseguiria o apoio da Câmara dos Comuns, Londres seria bombardeada, os britânicos haveriam de suportar a provação e a vitória, essa, coube aos Aliados, cinco anos depois, que o filme é ambientado no ano de 1940.

   A cenografia, o guarda-roupa e a caracterização estão primorosos. Gary Oldman incorporou talvez o melhor Churchill da sétima arte, um homem difícil, irascível, extraordinário estratega e exímio orador. Como foi mencionado, algures no filme, Churchill jogou com a língua inglesa, colocando-a no campo de batalha. Negociar com o "pintor de paredes", como se referia a Hitler, é que estava fora de questão. Um democrata não negoceia com tiranos, ainda menos quando tem a «cabeça na boca do tigre».

  Um dos melhores filmes a que venho assistindo, não só por ser histórico, mas também por ser incrivelmente verossímil. E por, afinal, centrar-se num capítulo que mudou radicalmente a configuração geopolítica do planeta, com repercussões que vamos sentindo até ao dia de hoje. A ONU, o Conselho de Segurança da ONU, reflecte a ordem hegemónica emanada da II Guerra Mundial. Hitler ameaçava a Europa. Tarde ou cedo, e muito embora houvesse uma tolerância para com os latinos, até pela aliada Itália, para Portugal - e concretamente para Portugal - estava traçado um plano de invasão iminente.