25 de maio de 2017

Portugal está na moda.


   Já li esta frase algures, esta semana, e achei curiosa. Não sei até que ponto estaremos na moda, mas estamos a viver momentos de optimismo, sem euforia. O Presidente da República disse, há um dia ou dois, que temia que a manifesta recuperação económica levasse os portugueses a um estado de alienação. Até ao momento, não o sinto. Estamos, é certo, a sentir emoções inéditas. No desporto e na música, jogamos cartas; temos um alto dignitário no cargo de maior relevo entre as organizações internacionais; após décadas de marasmo e de anos de pesados sacríficos, vislumbramos a saída da crise, constatamos o crescimento económico e até no turismo, a diminuição do desemprego, o aumento dos salários e das pensões. A última boa notícia prende-se à recomendação da Comissão Europeia para que o Conselho da União Europeia retire o país do Procedimento por Défice Excessivo, o que acarretaria, ao menos na psique nacional, um alívio. A decisão está para breve.

   Creio que, enquanto colectividade, estamos a recuperar algum do amor próprio perdido. O português médio subvaloriza-se. Temos uma alma maior do que o corpo. Demonstrámos, pela história, feitos heróicos, soberbas façanhas. Nos últimos anos, convenceram-nos de que não éramos bem europeus, e que não poderíamos mais viver como tal. Aliás, a Europa sempre nos foi meio estranha. Só começámos a olhá-la quando nos afastámos do mundo. Jamais foi a nossa prioridade. Estarmos na periferia ajudou-nos a manter as fronteiras praticamente intactas desde Alcanizes, há setecentos e muitos anos, e a contornar os principais conflitos estalados no continente. Deu-nos fôlego para as aventuras d'além-mar, onde provámos, sem grande esforço, ser os melhores. Desengane-se quem crê que ser português não nos custou suor. Conquistámos o direito a sê-lo. Os nossos novecentos anos comprovam a luta, nem sempre justa, para escapar às forças centrípetas da península.

    Encaro os tempos que se avizinham com confiança, todavia com prudência. Provou-se que a austeridade não era o caminho certo, e que devolver às pessoas o que lhes era devido teve um efeito positivo na economia. Porque os números falam por si. A matemática é uma ciência exacta. Longe de querer agradar com populismos, o Governo acreditou ser possível contrariar uma corrente ideológica que via, em medidas que devem ser excepcionais, uma orientação política definida, como se não mais nos restasse do que viver em infinita contenção e sob permanentes ameaças de descalabro das contas públicas e de bancarrota.

    Espero que a moda seja um indicador de mudança, também na nossa atitude, mais obstinada, chauvinista, que em dose certa pode produzir pequenos milagres.

12 comentários:

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    1. E vivas ao Brasil também, embora a crise se eternize. :/

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  2. Somos um país de extremos, só sabemos ser "bestiais" ou "bestas", não há um meio termo. E, infelizmente, temos uma memória muita curta... Esquecemos as dificuldades passadas face aos bons tempos e vice versa. Por muita coisa que tenha mudado acho que as mentalidades permanecem as mesmas.

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    1. Sim, de certa forma. Mas pelo menos já sabemos que conseguimos lá chegar. Creio que estamos bem mais conscientes do que valemos.

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  3. Vamos ver o que o futuro nos reserva e a Madonna está a pensar comprar casa na Baixa :) Pode ser que dê concertos gratuitos por Lisboa :)

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    1. Pois, ainda essa. Passeou-se por cá durante uma semana. :)

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  4. Tenho pavor de modas, pois são sempre transitórias e baseadas ... em nada.
    São como o ar, sem ter algo a que se agarrar, vão tão rápido com vêm e pouco deixam!
    Sem querer ser "Velho do Restelo", confesso que prefiro coisas sólidas e fundamentadas, e espero que, o que quer que nos esteja a acontecer, esteja dentro destes parâmetros, se bem que não sou entendido em economia ou mesmo sociologia o suficiente para percebê-lo.
    No entanto é bom verificar esta onda de bom humor e positivismo depois de tantos anos "de chumbo", negativos, acabrunhantes, onde os governos e respetivos governantes obnóxios nos mandavam sair do país!!!! Pena que não tivessem ido eles e deixado um país mais leve de pesos mortos!

    Entretanto a máxima "Carpe diem" aplica-se pelo momento. Quero convencer-me que esta onda é para permanecer, mas, sei-o, tudo é transitório, por conseguinte, limito-me a ir com a onda enquanto ela existir e viver um período a que raro estive habituado a sentir.
    Seria um prazer ver pessoas pelas ruas sorridentes, gentis, corretas, equilibradas ... sonho, sei! Mas não faz mal sonhar ... desde que não se desperte!
    Um bom final de semana
    Manel

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    1. Num mundo volátil e adverso como aquele em que vivemos, não há economias seguras. Veja-se o caso da Islândia, que é um país tão bom e que esteve tão mal. Ninguém pode garantir como estaremos daqui a um, dois anos. Porém, estes sinais são positivos, todos, inclusive os que nos chegam dos organismos internacionais. Saímos da zona de sufoco.

      Não creio que seja um sonho. Exigiram-nos sacrifícios tais que teriam de surtir os seus efeitos. De igual modo, não creio que estejamos condenados a sofrer, ainda que pensemos que esse seja o nosso fado.

      Um bom fim-de-semana, Manel, e obrigado. :)

      Cumprimentos. Sempre bom lê-lo.

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  5. Já não era sem tempo que Portugal "entrava na moda"!
    Nó temos muito que nos orgulhar, embora não o façamos. Todos os aspecto que enunciaste são importantes mas, não podemos dormir à sombra da bananeira! É preciso continuar a lutar e fazer com que esta boa maré perdure! ^.^

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    1. Tudo se conquista. E tudo custa a manter. Espero que prossigamos no caminho certo. :)

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  6. E ao viajar sentes isso. Sentes que Portugal é uma terra acarinhada. Querida.
    Acham que somos assim todos cutchi cutchi.
    E adoro receber americanos. Parece que chegam a um mundo novo. E amam.

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    1. Heheh :)

      Ontem, curiosamente, vi uns turistas assim com "cara de parvos" em Alfama, tipo "o que é que eu faço aqui / que giro". :D

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