4 de janeiro de 2017

O concerto de Ano Novo de Mariah Carey.


   Há anos que não toco no tema, ou na pessoa, sendo preciso, Mariah Carey por aqui, o que já levou, inclusive, a que me perguntassem: «mas ainda és fã?». Sou, sou fã. O que se passa é que as pessoas crescem, os interesses mudam, e em boa verdade nutro por ela quase o mesmo que pela Ana Malhoa: um carinho pueril. Por mais que a Ana se afirme a bomba latina, com as tatuagens, as lap dances e tudo o mais, eu não esqueço a menina que me despertava pelas manhãs, nos anos 90, levando-me a soletrar em alto e bom som: "sabes que começou no A... A, A, A (...)". Com a Mariah, passa-se isso. Já a apreciavam aqui por casa. Cresci com aqueles álbuns épicos, como o Music Box e o Daydream - dois dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, inclusive - levando-me a que a seguisse e a associasse a momentos, estados d' alma, and so on. Desde que anda acompanhada de rappers, fazendo playback por tudo quanto é canto e adoptando aquela postura insuportável de diva, decepcionei-me gradualmente e afastei-me, sem deixar, contudo, de ouvir as músicas da sua década de ouro, de 1990 a 2000, quando se tornou na vocalista que mais vendia pelos EUA.

   Na noite de fim de ano, no concerto em Times Square, aquilo não podia ter corrido pior. Que ela não canta, não é novidade. Desde 1997 que a sua voz mudou drasticamente, tornando-se mais áspera. O timbre ficou lindíssimo; continuou a conseguir atingir aquelas notas brilhantes, mas já não possuía a potência dos primeiros cinco anos da sua carreira. Aguentou-se durante uns anos. Em 2005, com o TEOM (The Emancipation of Mimi), o seu afamado comeback, quando davam a sua carreira por terminada no seguimento do desastre Glitter, estava com a voz impecável. Sem a força do período debut album - Daydream (1990 - 1995), todavia, ainda aceitável. A partir daí, nem vale a pena. Não canta ao vivo. Se o fizer, apenas em pequenas partes. Ela, que tanto gesticulava a cantar - um dos seus maneirismos mais conhecidos, mal se mexe.

    Falhou o playback, falhou a cantora. Bem tentou brincar com a situação, dar uns passinhos com os bailarinos - dançarina nunca foi - mas o descontentamento sobressaía no seu rosto e nas palavras que, entre soluços, lá dizia. Centenas em seu redor, milhões em casa, a assistir, e até o Observador e os principais periódicos portugueses (!) lhe dedicaram artigos. Quando vi o vídeo, admito que não senti a menor pena. Fez por merecer. Defendi-a, evidentemente. Sentir-me-ia um traidor se não o fizesse (quem for fã de algum intérprete ou banda, entenderá). Há quem refira, meio em piada jocosa, que a última morte de 2016 foi a carreira da Mariah. Não sei. Davam-na por morta, artisticamente, entre 2001 e 2004, e ela provou que conseguia reinventar-se. A idade é outra, não é? Acredito, entretanto, que ainda consiga sacar de um trunfo qualquer. Ela foi a primeira artista a introduzir o hip hop e o R&B na pop, ou seja, não falamos de uma mulher qualquer. É compositora. Escreve quase tudo o que canta.

     Se persistir nesta postura displicente - claramente é preguiçosa e não gosta de se esforçar - passará por apuros. Os últimos álbuns têm sido flops, mas aí é acompanhada pelas Madonnas e pelas Britneys, Aguileras e afins desta vida, e os singles são uma miragem dos seus #1s no topo das tabelas estadunidenses. A bem dizer, os seus compatriotas não são muito gentis com o envelhecimento dos artistas. Os tempos mudaram, a qualidade das canções também. Tudo é imediato, tudo procura o sucesso instantâneo. Mostrar o corpo e fazer twerk conta mais do que ter um bom instrumento vocal - aí também a critico, quem sou eu, mas a Mariah passava bem sem aquelas roupas e sem as mamocas todas de fora. É uma senhora. Comporte-se como tal.

     Que se recomponha, que trate da voz, que se esforce, que seja mais profissional e que crie música de qualidade. Pode ser que me reconquiste. Estarei aqui, de braços e de ouvidos abertos.


19 comentários:

  1. Acontece. Nem todas as cantoras conseguem atingir o pedestal das divas... e as que conseguem nem sempre se conseguem manter por muito tempo.

    Abraço

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    1. As verdadeiras divas não fazem apanágio disso.

      um abraço.

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    2. É a minha visão, não o que as pessoas acham de si próprias.

      Acabei por ver hoje a reportagem sobre o assunto e parece que existem acusações contra a produtora. Vamos ver onde o assunto chega.

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    3. Sim, claro. Esqueci-me de dizer que concordava contigo, ou seja, o meu comentário não foi "em contra"; foi um complemento. :)

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  2. Uma mulher que fez birra, que ficou tão mal

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    1. Eu não acho que ela tenha feito birra, a sério. Julgo que terá ficado furiosa com a produção, com a ABC, com os assistentes, ou seja lá com quem for. :)

      Um abraço, amigo.

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  4. Só soube por alto todo o fiasco que ela aprontou. Como não sou lá muito fã dela nem dei importância.

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    1. Facilmente dará com os vídeos do "concerto" e também com as reacções, se tiver curiosidade. :)

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  5. Eu também era grande fã da Britney em tempos que já lá vão e agora embora ainda ouça os álbuns (novos e antigos) dá dó ver o playback à cara podre assim como as tentativas falhadas que ela faz de "dançar" que se resumem a mexer os braços como se de um ataque epiléptico se tratasse.
    É triste. Mas ainda há quem as coloque num pedestal, não importa o que saia cá para fora.

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    1. Também fui fã dela, em miúdo e mais crescido. Tenho todos os álbuns até ao "Circus" (2008).

      Mas a Britney nunca cantou. Lá está, cresci com as suas músicas, e isso levou-me a ir adquirindo os cds, até que houve um dia em que pensei: "ando a comprar por comprar?"; até hoje. A música dela, actual, não me diz nada.

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  6. Boas.

    Falou-se, no Lanche de Natal da Blogosfera, de Mariah Carey e aí disse que não era fã da cantora. Admito, ver o "show" que deu foi para mim completamente esperado; só tenho pena que não aconteça com outros "artistas". (Porra e ela está gorda que se farta [tal como eu ahahah])

    Beijinhos e porta-te mal!! ;)

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    1. Olá, adolescente.

      Oh, está bem assim. Os homens gostam das mulheres mais torneadas. Não a acho nada gorda. :)

      um abraço.

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  7. Sinceramente, acho playback em shows em desrespeito com o público presente, afinal um show digno tem que ser ao vivo...
    Muitos dizem que ela foi vítima de um esquema para difamá-la...

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    1. Já ouvi falar nessa teoria da conspiração. Hmm, não sei.

      Quanto ao resto, concordo em absoluto. É um desrespeito para com os fãs, que inclusive compram os ingressos.

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  8. Estou num momento familiar um pouco complicado, mas confesso que a comparação da Mariah à Ana Malhoa me fez sorrir... E tu a usar o termo mamocas também xD

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    1. Eu prefiro lembrar a Ana "menina e moça". :)

      Força! Sei bem o que são dramas familiares.

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  9. Qual Mariah qual quê!
    Ana Malhoa é que é!!

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