6 de novembro de 2016

Moments.


    As últimas semanas têm sido aborrecidas. Aproxima-se o período do ano que mais prazer me proporciona - o Natal. A bem ver, dou por mim a perguntar-me quanto ao que ainda me faz brilhar os olhos na quadra, se a iluminação, se o espírito da época, se as guloseimas. É provável que seja uma combinação. Em termos estritamente familiares, foi-se o tempo em que havia verdadeira comunhão e alegria. Os velhos, mais velhos estão, e os novos seguiram as suas vidas. Assisto à progressiva deterioração da saúde física e mental da avó, que desde a morte do avô nunca mais recuperou. A depressão tem-na acompanhado pela vida. Há dias, fui com ela ao especialista em saúde mental. Sublinhou a sua lucidez, a riqueza do discurso, mas diagnosticou-lhe uma depressão profunda. O remédio é sair de casa, espairecer. Tento sair com ela, levando-a a tomar um chá, a passear um pouco. Custa-lhe a caminhar. A sua magreza é deplorável. Alimenta-se pouco. Como diz o Herman José, envelhecer não tem realmente nada de bom. Para quê contornar o irrefutável? Envelhecer é um horror, e acompanhar o processo dos que nos são afectivamente mais próximos é angustiante.

    A meio destes pequenos dramas pessoais, ando à minha procura. Julgo-me perdido algures por aí. Ou talvez nunca me tenha perdido. Árduo trabalho ser adulto, sobretudo num mundo sacana. Estamos sós neste invólucro de matéria perecível. Viver não é bom, não é agradável. É um desafio, sem escolha prévia, que uns ganham e outros perdem. O equilíbrio de cada um ajuda a suportar melhor ou pior as evidências. Bem-aventurados os que atravessam a vida na ignorância ou no optimismo. São ambos uma bênção.

27 comentários:

  1. Olá.

    100% de Acordo.
    Os nossos "velhos" têm-nos. E nós, quem teremos na velhice?...
    A vida não é, de todo, fácil. Não andaremos todos perdidos e/ou iludidos?
    Não te tentes encontrar... espera que venha o teu "eu" até ti.

    Beijinhos e porta-te mal!! ;)

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    1. Eu não ando iludido. Nunca tive a menor dúvida de que a vida não é bela, como apregoam por aí.

      um abraço.

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  2. Deveras angustiante. Apesar de todos os percalços, de todas as angustias, de todos os desafios acho a vida algo definitivamente fantástico. Dentre os desafios concordo com você. Envelhecer, saber envelhecer, e acompanhar o envelhecimento dos outros é muito doloroso.

    Deixe que o espírito de fim de ano [que você tanto curte] desça sobre você e curta meu caro. Melhores dia aí ...

    Beijão

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    1. É bom que haja quem encare a vida assim. :)

      Obrigado, amigo.

      um abraço.

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  3. Este tempo também não ajuda muito, quando os que mais amámos já não estão no meio de nós... Por vezes as pessoas deixam-se ir, perdem por vezes a vontade viver ou de fazer o que quer que seja...

    Tenta ver na Junta de Freguesia da zona, um programa para séniores, para eles estarem distraídos e encontrar outras formas de motivação

    Abraço amigo

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    1. Sabes, a minha relação com estes avós sempre foi tumultuosa, mas custa acompanhar o fim, que é o fim. Está a apagar-se como uma chama de vela.

      Oh, ela não iria. De qualquer forma, muito obrigado.

      um abraço.

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  4. Então rapaz, que se passa? Ai ai ai tanto baixo astral... deve ser saudades das nossas discussões. rsrsrs

    Abraço... vai com calma que a coisa passa.

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    1. Não é "baixo astral", antes fosse.

      um abraço.

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  5. Pensa que pelo menos estás a ter a oportunidade de poder passar pela vida, com saúde, com liberdade e a conviver com algumas das pessoas que gostas. Já é muito mais do que outras tantas pessoas podem declarar ter. E o Natal está quase aí. Que se vivam momentos de alegria! ^^

    Abraço :3

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    1. Não me queixo do que tenho, mas saber que há quem esteja pior não me traz conforto; pelo contrário, percebo melhor o carácter pútrido deste mundo.

      Ah, o Natal, as luzes. Não sei que mágica é esta que ainda me faz vibrar. :)

      um abraço.

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  6. Sim, houve um tempo em que a magia do Natal fazia-me andar num virote ... eu nem dormia descansado, a imaginar tudo aquilo que me esperava ... já lá vão mais de 50 anos que isto aconteceu.
    Depois ... foi a vez de fazer o mesmo, mas aos mais novos.
    Servir de Pai Natal, tocar à porta, trazer presentes, sentir o ambiente ao rubro entre a criançada, sentir o cheiro das filhoses, das rabanadas, do fru-fru do papel de embrulho dos presentes, encher a lareira com lenha, sentir o ânimo dos mais velhos, que se reviam nos mais novos.
    Depois ... os pequenos cresceram, viajaram, desapareceram no mundo e não deram continuação, os mais velhos foram procurar outros mundos que os esperavam e os presentes ficaram presos no tempo.
    Não existem mais petizes, nem Natais, ou o que quer que seja que me faça mexer do canto que escolhi viver.
    Vive-se um dia de cada vez, sendo que o Natal é igual a todos os outros, dias. É necessário passá-lo e fazer de conta que é ... Natal. Fazer de conta que há crianças (que não há), que há velhotes (que não há, se eu não contar), que há uma refeição natalícia, que não há, pois já não tenho muita paciência para cozinhar, muito menos filhoses (que deixei a receita ir com a minha mãe) ou rabanadas, que também não sei fazer, e recuso-me a comprar as de confeitaria, que sabem a coisa despudorada, de artificial.
    Mas é bom fazer de conta que se tem espírito natalício, agradecendo os votos de Bom Natal que se recebe a cada esquina.
    Os dias passam e um novo ano regressa, sabendo eu que, na melhor das hipóteses, talvez seja semelhante ao que passou ... pois, para que as coisas piorem, não é necessário fazer nada.
    Vivo o Natal por procuração.
    Ainda assim encontrarei um lugar junto ao fogo, uma refeição que me consolará, e uma noite que me trará algo de prazer, seja lá ele qual for - a recordação também é uma forma de prazer, desde que a nostalgia seja servida a conta-gotas.
    Lastimo pela farpela menos festiva que tenho, mas é que não consigo arranjar qualquer desculpa para envergar traje a rigor, condizente com a época que se avizinha.

    Deixo o lugar aos outros, e gostaria de pensar que a si também ... oxalá encontre o lugar certo e as pessoas que, sem estarem no seu melhor, podem prover alguma proximidade que o aconchegue.

    Uma boa semana
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Passei imensos natais no Alentejo, com tudo o que o Manel descreveu: doces caseiros, aquele frio característico, harmonia à mesa, jantares que se prolongavam noite fora... Não será assim o verdadeiro Natal?

      É como tão bem refere: é necessário fazer de conta, daí que continue a sentir o Natal como se uma grande e unida família me esperasse para a consoada, com presentes sob a árvore, com a agitação das tias pela casa. Tudo se esfumou. No caso do Manel, presumo que pela impiedade do tempo, que leva os velhos e afasta os novos; no meu caso, pela insensibilidade de uns e de outros, pela falta de apego.

      Certamente que encontraremos prazer na quadra. É o espírito da época, é o espírito. Somos tocados por ele ainda que tenhamos os nossos dramas.

      Uma boa semana para si também.
      Cumprimentos.

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  7. E eu a pensar que o Natal não tem magia. Para muitos há de ter sempre. Eu tenho anos que sim e outros que não... mas cada vez é mais raro sentir qualquer coisa em relação a esta época.
    Gostei imenso do teu blog. Sou novo por cá! Cumprimentos! ;)

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    1. Para mim, continua a ter magia, inexplicavelmente. Já passei por três natais nada agradáveis. :)

      Muito obrigado, Ouriço. Passarei no teu, se tiveres. Irei à procura.

      Cumprimentos. :)

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  8. É difícil, já faz alguns anos que a minha avó também perdeu o marido e apesar do tempo ela ainda sente a sua falta, ela perdeu aquele brilho que a maioria das pessoas tem, ela não é mais a mesma, ela faz tudo como antes mas quem a ver agora sente falta da de anos atrás.
    Eu não sei, acho que já era pra ela ter seguido em frente, quem sabe arranjar uma nova companhia, mas isso tá fora de questão, ela é da época que em que se seguia "ate que a morte os separe"!

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    1. Completamente. Estas pessoas casam uma vez, fazem votos na igreja. Os meus avós estiveram juntos por setenta anos (casamento e namoro). A morte de um acarreta um dor imensa, e saudade.

      Ela sempre foi depressiva. A partida ajudou no processo...

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  9. tb sou "tarado" pelo natal, em especial a decoração! mas tb a oportunidade de estar em familia... desocntando a tranqueira do meu pai!

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    1. Não imagino o que seja "tranqueira", todavia, dito assim, não deve ser algo bom. :D

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  10. Também gosto muito do Natal e também adorava ter uma avó para tratar. faz o que podes por ela, aproveita-a enquanto ela ainda anda por cá.
    :)

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    1. Nunca fui muito próximo afectivamente desta avó, conquanto tenhamos sempre vivido relativamente perto. Ainda assim, lamento pela sua condição.

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  11. O Natal também é para mim uma altura muito especial.
    Gosto imenso de encontrar as prendas para a família do coração e de surripiar as massas dos doces em preparação ... :) .

    Já não tendo avós, lembro-me que padecia da mesma distância de
    que o Mark fala com a minha avó materna.

    De qualquer forma, ela sempre preencherá algumas das minhas memórias
    mais felizes no campo.
    Ela era a "vilã" das brincadeiras da pirralhada da aldeia e
    muito nos divertíamos a ultrapassar os obstáculos por ela impostos.

    Aproveite os momentos com a sua, especialmente nesta altura tão rica,e desejo-lhe momentos com amigos que lhe façam ver a vida segundo um outro prisma mais leve e positivo.

    Porque a vida também é isso.

    Beijinhos

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  12. Bem a propósito, hoje saí com um amigo (cheguei há momentos a casa). Fomos ver um filme, depois jantámos, e até fui a um barzinho. Não sei se escreva sobre isso. Sou capaz de o fazer. :)

    O Natal é tão encantador, não é? Ainda me põe um sorriso nos lábios.

    um beijinho, Magg, e obrigado pelo comentário.

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  13. Não sabes bem como neste momento me identifico tão com esse teu comentário do envelhecimento....

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