31 de julho de 2016

Holidays.


    Parece que vou rumar uns dias até ao sul do país. Uma semana para retemperar. Não que me sinta fisicamente em baixo; psicologicamente, sobretudo. Preciso de praia, de abstrair, de tentar viver o momento sem me apoquentar demasiado com o futuro.

    Estarei na região mais meridional de Portugal Continental. Entretanto, faço votos para que o mundo não embarque numa revolução qualquer, porque a guerra, essa, já a temos diariamente.

     See you soon,


Mark


24 de julho de 2016

Change.


    Pico do Verão. A maioria andará por aí a divertir-se. Quanto a mim, procuro casa. Decidi-me a mudar. Já é altura de o fazer. Não muito grande. Tão-pouco mínima. Equilibrada. Procuro mobilada e devidamente equipada em electrodomésticos. Em início de vida é melhor. Já visitei algumas. Como tenho preferência pela cidade, o mercado de arrendamento - seria arrendada primeiramente - é vasto, mas há muito imóvel com décadas, deteriorado. Os apartamentos não oferecem as condições adequadas de habitabilidade. É evidente que não visitei qualquer um nesse estado. Apenas dou com eles nas minhas pesquisas.

     Há dias, fui visitar um na Graça. Pequeno demais. Remodelado, claro. Tão exíguo que resolvi descartar. Sou  espaçoso. Tenho livros, tralha, muita roupa. Preciso de um guarda-roupa apreciável ou de uma parede ampla para que possa levar um. Devo dizer que gosto dos bairros. São sossegados. Aprecio as casinhas baixinhas, as ruas sinuosas, estreitas, de paralelepípedo. Para viver, a par das casas serem exageradamente pequenas, tem de se subir e descer muito. Não é confortável sair em Santa Apolónia (metro) e calcorrear aquilo tudo. A Carris não chega lá.

      Amanhã - a não ser que o locador adie - irei conhecer uma na Madragoa. Temo que seja igualmente ínfima. Como pretendo depender o menos possível dos pais, tento evitar aventurar-me por apartamentos dispendiosos. Não obstante, tenho dois em vista, um pouco mais caros, mas ainda dentro dos limites aceitáveis, a que também pretendo agendar uma visita . E reúnem as condições que exijo num local em que me proponho a construir o meu lar.

       É uma independentização voluntária, não forçada. Está mais do que decidido. Nas próximas semanas sairei de casa. Iniciar-se-á um novo capítulo. O primeiro de uns quantos, presumo.

17 de julho de 2016

A barbárie.


    Seria uma afirmação gratuita se disséssemos que a humanidade regrediu ou que estamos mais intolerantes. A história das relações entre os homens (e as mulheres...) tem sido pautada por conflitos - alguns de enormíssima escala - por desigualdades, por fanatismo, por terror. O século XX, aqui tão perto, é um terrível exemplo do que acabei de referir. Duas guerras mundiais e incontáveis contendas de menor repercussão por todo o globo. Assistimos à ascensão de movimentos autoritários, totalitários, que instrumentalizaram o ser humano, cumprindo este os desígnios de facínoras que, à esquerda ou à direita, provocaram dos quadros mais aterradores de que alguma vez tivemos conhecimento.

     Na Europa ocidental (porque nos Balcãs e no demais leste europeu houve muita instabilidade nos finais do século XX, e salvo a excepção dos grupos armados IRA e ETA), desde os finais da II Guerra Mundial que os povos conheceram períodos de estabilidade e de paz. A construção europeia facilitou o diálogo e promoveu a entreajuda. Foram décadas de progresso. No início do século XXI, com os atentados ao complexo do World Trade Center, alterou-se por completo o paradigma. Londres sofreu atentados, Madrid idem, e a Europa soube, uma vez mais, o que era viver em permanente sobressalto. Desde então, sendo sincero, fui-lhes perdendo a conta. Multiplicam-se incessantemente. Continuam a traumatizar, como no instante em que liguei a televisão, algures num dia de 2004, e soube que haviam colocado explosivos nos comboios suburbanos da capital espanhola.

     Entretanto, quando julgamos estar a lidar com os piores dos terroristas liderados por Bin Laden, surge-nos uma organização inominável que tem recrudescido os seus atentados à civilização ocidental. No Médio Oriente, a instabilidade não é uma novidade. Entre 2015 e este ano, seguramente provocaram mais de uma mão cheia de ataques, a maioria dos quais em solo francês. Justamente em França, uma das pátrias da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Se existe um coração da civilização ocidental, este encontrar-se-á na Gália.

     Devemos tirar algumas ilações destas campanhas ofensivas. Estimulámos conflitos naquelas zonas do planeta. Apregoámos, em uníssono, a guerra contra o mal, o tristemente célebre eixo do mal de Bush filho. Arrogámo-nos o direito de decidir o destino daquelas pessoas em nome de uma legítima defesa preventiva. Pergunto-me: não teria sido melhor deixar Saddam ser deposto pela vontade do seu povo? Vemos um Iraque destruído, ocupado pelas forças do Daesh, que ardilosamente planeiam investidas à nossa segurança e tranquilidade desde aquele inóspito território.

      Passámos de carrascos a vítimas. De agressores a agredidos. Temos a guerra - que é uma guerra velada - à porta de casa, nas estações do metro, nos festejos de um dia nacional. A qualquer momento e em qualquer lugar, a morte espreita. Somos impotentes para lidar com um cenário a que também nos é imputada a responsabilidade por. Sobeja-nos viver entre o choro e o riso.

15 de julho de 2016

As sanções de Bruxelas.


   A opinião pública portuguesa e espanhola vem sendo bombardeada com notícias contraditórias quanto às eventuais sanções a aplicar aos países ibéricos. Em bom rigor, é do interesse das instituições europeias sancionar o incumprimento por deficit excessivo de Portugal e Espanha. Se os tratados existem, e falamos do Tratado Orçamental, é natural que as regras se façam cumprir. Ainda assim, há um precedente. Países tidos por potências económicas, como a França e também a Alemanha, já ultrapassaram no seu passado os limites ao deficit, que se situam nos 3%. E não lhes foi aplicada qualquer punição financeira. Fala-se de um simbolismo. Que a penalidade teria uma função meramente admoestativa. O que teria efeitos imediatos, sim, seria a suspensão dos fundos europeus, também em limites a fixar.

    Ao que tem sido veiculado, o Conselho de Ministros das Finanças da UE já se decidiu pela aplicação de sanções. Tudo passará pelo Conselho Europeu, entretanto, que poderá decidir-se pela não aplicação de quaisquer penalidades. Importa referir que o Conselho Europeu é um órgão da UE que reúne os Chefes de Estado e de Governo dos Estados-membros. A sua importância no seio da organização é relevantíssima. Tendo em conta o sistema de representatividade do Conselho Europeu, não é certo dizer-se que é garantido que Portugal e Espanha sejam sujeitos a sanções, acrescendo ainda o facto de se exigir uma maioria qualificada na votação.

  
   Portugal passou por quatro anos de políticas severas de austeridade. Sujeitar o país a sanções, ainda que o valor seja reduzido ou se aproxime de um montante irrisório, seria confrontar os cidadãos com a inutilidade dos seus esforços. De uma ou de outra forma, as medidas de contenção não mais estão revestidas de um carácter de excepcionalidade e, contudo, nada garante que o esforço de um povo seja recompensado com períodos de acalmia e de crescimento económico sustentado.

   Espanha já contestou a decisão. É expectável que Portugal o faça. A punição viria num momento em que a economia portuguesa dá sinais de querer recuperar dos últimos anos obscuros que tantas desigualdades acarretaram. A par disso, evidenciaria a discrepância entre uns Estados-membros da UE e outros, e os dois pesos que as instâncias europeias demonstram no apreço a situações idênticas. Exige-se paridade. A que consta nos tratados da União.

    Da minha parte, aguardo serenamente por uma decisão sensata do Conselho Europeu, que ainda poderá inviabilizar qualquer processo sancionatório. Em todo o caso, a Comissão já deu o seu aval à aplicação de sanções.
    A UE atravessa um processo de crise interna, com a recente decisão dos britânicos pela desvinculação, que certamente conhecerá um agravamento caso sejam efectivamente aplicadas penalizações. Compreendo que se exija o cumprimento das regras, e que, nesse sentido, os Estados-membros tenham presente as suas responsabilidades no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento, mas este não será o momento mais propício para excitar os ânimos dos povos da Europa contra a própria organização. Julgo que as consequências no médio-prazo terão efeitos mais nefastos do que o condescender por ora com os países ibéricos.

   

11 de julho de 2016

A participação de Portugal no Euro 2016. (II)


    No momento em que Portugal conseguiu passar aos oitavos-de-final, escrevi sobre a campanha até então. Tratou-se da primeira parte de um artigo duplo. À medida em que íamos crescendo na competição, em qualidade e em confiança, pensei em voltar a debruçar-me sobre a nossa participação, mas fui adiando, adiando na expectativa de saber até onde chegaríamos. Chegámos à final, e vencêmo-la.

    Duvidei. Como a maioria dos portugueses. O nosso desempenho na fase de grupos não convenceu. Na partida seguinte, na qual defrontámos a Croácia, a esperança aumentou, num jogo sofrido, com um golo de Ricardo Quaresma aos '117 minutos. Deparámo-nos com a Polónia, seguidamente, e conseguimos marcar cinco grandes penalidades após mais um prolongamento. Estávamos nas meias-finais. Com o País de Gales, mostrámos toda a nossa competência, ganhando por duas bolas a zero. A final, o doce sonho, tão perto e simultaneamente tão longe. Portugal foi depreciado, menosprezado, pela imprensa francesa.  A meio de calúnias e de maledicências várias, a profecia de Fernando Santos estava cada vez mais perto de se concretizar: sair de França apenas a dia onze, e em euforia.

     O derradeiro jogo foi o que todos pudemos assistir: um confronto sujo, com infracções desportivas gravíssimas: lesões deliberadamente infligidas sobre o adversário, Portugal. A arbitragem, à semelhança do que havia ocorrido transversalmente ao longo do torneio, ostensivamente beneficiou a selecção francesa, que nem assim conseguiu confirmar o favoritismo de quarenta anos sem perder frente a Portugal e de ganhar todas as competições sediadas em território francês. Somos campeões da Europa. Demos essa vitória aos milhões de portugueses que residem em território nacional e, sobretudo, aos muitos milhões espalhados pelo mundo; no caso, concentrados em França.

    Cada partida foi disputada à exaustão. Empatámos cinco dos sete jogos no tempo regulamentar. Os três primeiros sem qualquer desenvolvimento. Nos dois que se seguiram, com a Croácia e a Polónia, vencemos no prolongamento e nos remates da marca de grande penalidade, respectivamente. Apenas com Gales conseguimos suspirar. Frente à desditosa França, Cristiano Ronaldo saiu lesionado, Quaresma foi consecutivamente alvo de faltas, porém Éder - o patinho feio que se tornou bonito, como referiu Fernando Santos - encaminhou Portugal, aos '108 minutos, para o primeiro lugar do pódio do Campeonato da Europa, pela primeira vez nesta modalidade.

     Todos os nossos jogadores estão de parabéns. Seria injusto mencionar alguns, mas não resisto em fazê-lo. Pepe, na defesa; Renato Sanches, no meio-campo; Nani, Quaresma e Ronaldo, enquanto avançados; Rui Patrício, incansável, na baliza. Uma enormíssima selecção. E não sou tomado por esta apoteose. Friamente, digo-o: da defesa à última linha, a selecção portuguesa tem um grupo de inestimável valor. Disputaremos a Taça das Confederações, em 2017, e, no ano seguinte, o Campeonato do Mundo. Não imagino o que o futuro nos trará, tão-pouco se Fernando Santos permanecerá ao leme dos destinos da selecção nacional, todavia confio. Confio em que possamos ir mais além.

     Comemoremos. O desporto é o que é. De norte a sul, passando pelas ilhas, Portugal celebra. Porque o futebol tem esta magia. Uma magia que perpassa fronteiras.
    
     Hoje ouve-se um fado. Um fado corrido.


5 de julho de 2016

4th of July, Independence Day.


   Que tenha conhecimento, devo dizer que tão-pouco me dei ao trabalho de averiguar, nunca dediquei algumas palavras à Revolução Americana de 1776, que rompeu com o vínculo político entre as treze colónias britânicas da costa oriental da América do Norte e o Reino Unido. Aproveitando o dia em que se assinala o ducentésimo quadragésimo aniversário sobre a revolução, é chegado o momento de publicar um artigo relativo.

   As possessões americanas haviam adquirido uma importância extrema para o Reino Unido, numa perspectiva económica, demográfica e militar. Diversas leis e acordos regulavam as relações entre as colónias e a sua metrópole. Não obstante, a carga fiscal que impendia sobre aqueles territórios era significativamente menor àquela aplicada nas ilhas britânicas, tendo sido justamente esta uma das causas que levaria à eclosão do movimento secessionista. Efectivamente, na sequência da guerra naval e colonial entre a Grã-Bretanha e a França, por volta da década de sessenta do século XVIII, na qual se encontravam em disputa as províncias do Canadá, os gastos do Estado tinham crescido exponencialmente, o que levou ao aumento, premente, dos impostos. Nesse sentido, o gabinete inglês não viu qualquer inconveniente em decretar contribuições mais avultadas sobre as suas colónias americanas, que até então eram favorecidas. Para o efeito, porém, urgia revogar alguns dos direitos, muitos de natureza consuetudinária, já adquiridos por aquelas colónias.

    No momento em que o Parlamento inglês decidiu aplicar às colónias norte-americanas o designado «imposto de selo», ou Lei do Papel Selado, que dispunha que todos os documentos jurídicos teriam de ser tributados, duplicando-se os impostos pagos pelos britânicos a residir naquelas paragens, a medida levantou uma onda de acesos protestos. Os colonos britânicos insurgiram-se, alegando que ninguém, excepto o rei, exercia qualquer autoridade sobre as suas vidas, e que, por conseguinte, o Parlamento inglês não tinha legitimidade para impor-lhes qualquer ónus sem o consentimento expresso deles. Em várias cidades estalaram distúrbios, nomeadamente em Nova Iorque e em Boston. Demonstrando a sua insurreição, as colónias valeram-se de uma estratégia assaz eficaz no combate à carga fiscal: passaram a não importar quaisquer mercadorias da metrópole, visando, assim, atingir o calcanhar de Aquiles da espinha dorsal da economia britânica.
     Desde logo, os comerciantes e fabricantes ingleses exerceram pressão sobre o Parlamento para que o imposto de selo fosse abolido. Evidenciou-se o quão o Parlamento inglês era susceptível aos interesses da burguesia mercantil e manufactureira. Em contrapartida, dados os esforços da nobreza latifundiária, os impostos sobre a terra diminuíram. Conseguimos, desde logo, aferir o seguinte: o Parlamento inglês tinha em conta as opiniões relevantes e em nada tal facto beliscava o seu prestígio; muito antes pelo contrário.

      Uma vez mais, esta redução fiscal teria de encontrar um contrabalanço à custa dos colonos ingleses da América. Colocou-se em hipótese, e cumpriu-se, a aplicação de uma taxa aduaneira que incidia sobre determinados produtos importados. Bem como acontecera anteriormente, os comerciantes estabelecidos em território americano reagiram prontamente, começando a importar cada vez menos produtos do Reino Unido. Seguiu-se uma nova intervenção dos negociantes e dos fabricantes da metrópole, acarretando a abolição das taxas aduaneiras. Mantiveram-se, todavia, os impostos especiais sobre a importação do chá. Foi precisamente este imposto sobre o chá que provocaria mais um confronto, e decisivo, entre as colónias e a metrópole.

      A Companhia das Índias Orientais passava por um momento delicado. O governo inglês decidiu, então, autorizá-la a vender, em 1773, dez milhões de libras de chá na América do Norte, em condições irrecusáveis. Os norte-americanos, ou estadunidenses, viram aqui um novo ataque. Desta feita, no porto de Boston, arremessaram ao mar todo o carregamento de chá dos navios, num episódio que ficaria conhecido para a posterioridade como o "Tea Party". A resposta de Londres não tardaria: o porto foi fechado compulsivamente até que a cidade pagasse uma indemnização à Companhia pelos prejuízos causados. Simultaneamente, o Parlamento inglês limitava severamente a autonomia administrativa da província de Massachussetts, onde se situava Boston. A consequência dessa atitude foi a de a população de toda a província se colocar do lado dos rebeldes de Boston, juntando-se a esta última as demais províncias.

      No Outono de 1774, num Congresso Continental que teve lugar em Filadélfia, representantes de todas as províncias reunir-se-iam, afirmando a independência das colónias face ao Reino Unido. Foi redigida uma Declaração de Direitos, onde expressamente estavam enunciados a liberdade dos homens e os seus direitos inalienáveis, inatos e essenciais. Esta declaração sustinha a independência face a Londres, uma vez que os habitantes das colónias reclamavam para si direitos que opunham ao poder da metrópole. Mais importante do que a fundamentação doutrinária, a deliberação de que todos os britânicos da América estavam obrigados a solidarizar-se contra qualquer medida autoritária do Parlamento inglês foi verdadeiramente inovadora.

      A França e a Espanha, arqui-inimigas do Reino Unido, apoiaram os secessionistas. A França renunciara aos seus direitos sobre as províncias na América do Norte, pelo Tratado de Paris, de 1763. Após obterem armas dos franceses, sob o comando de George Washington (1732 - 1799), reuniram-se as tropas. No ano de 1775 ocorreram os primeiros confrontos entre as tropas reais e as milícias. Assim se iniciava uma guerra que apenas terminaria seis anos depois, em 1781, com a vitória total dos norte-americanos e a capitulação incondicional do general britânico Cornwallis. Desde 1778, também a Espanha se juntara, dando apoio logístico aos rebeldes. Ambos, franceses e espanhóis, ansiavam por uma desforra devido à derrota na Guerra dos Sete Anos. Entretanto, a 4 de Julho de 1776, as treze províncias declararam a sua independência, que seria reconhecida apenas em 1783. Cinco anos depois, elaborariam uma Constituição, que ainda hoje se mantém em vigor, relativamente imutável ao tempo. Acrescente-se que Portugal, juntamente a França e aos Países Baixos, foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dos EUA.*


* No seguimento de recentes e persistentes problemas na plataforma do Blogger, vejo-me no dever de alertar para o facto de o artigo ter sido publicado às 23:47 do dia 4 de Julho de 2016, ainda que, provavelmente, esteja apenas disponível online algumas horas depois, já a dia 5.


1 de julho de 2016

July.


   A estação quente começou há dias, embora as ausências já se façam sentir. Ainda não há quaisquer planos de férias. Os dias desenrolam-se na mais sufocante monotonia. Pelo país, fala-se no Euro 2016. Enquanto Portugal mantiver a sua presença na competição, não se alimente a esperança de que as pessoas acordem para outra realidade. Volta e meia, algum louco lembra-se de provocar um atentado ou de proferir alguns disparates, afastando-nos do chorrilho de notícias sobre o Campeonato da Europa.

   Eu gosto de futebol, acompanho estes torneios; compreendo ainda que o fenómeno não é exclusivo do nosso país. Países tidos como mais civilizados, como a Dinamarca, a Suécia, os Países Baixos, vibram igualmente com os sucessos e os desaires dos seus clubes e das suas selecções. Salvo a salutar excepção de algumas das ex-possessões do Reino Unido, o futebol será o desporto com o maior número de adeptos em todo o mundo. Da América do Sul à distante Ásia, todos sofrem, riem, choram. É naquelas quatro linhas que têm lugar as novas guerras entre as potências; no caso em concreto, as europeias. Os hinos são entoados, os cachecóis e as bandeiras são prontamente empunhados. Há quem lhe chame patriotismo; há quem tenha reservas em aplicá-lo a estes contextos. Da minha parte, julgo que o patriotismo pode assumir diversas facetas. Não deixará de ser patriotismo acompanhar a equipa do seu país, procurar estar a par do seu percurso numa modalidade que está sedimentada no imaginário colectivo nacional. É o futebol que anima as pessoas, e isso tão-pouco é censurável.

   Sabemos em como o Verão é profícuo em fait divers. Eles aí estarão, quando não houver D. Dolores a assistir aos jogos disputados pelo seu filho ou microfones a serem arremessados aos lagos. Conteúdos continuarão a surgir. As publicações mantêm o seu ritmo. E, naturalmente, é nesses períodos em que as editoras são azo aos truques mais rasteiros. Aguardemos pelo seu bom senso. Estou a ser francamente optimista.