20 de outubro de 2015

Sentimentos.


      Na esteira do que venho sentindo, os últimos dias mergulharam-me em certa apatia que dificilmente supero. Sinto-me a mais. Precisamos, diz a Psicologia, de nos identificar com determinados modelos, assimilando-os. Estou crente de que esse processo não foi tão evidente assim no meu caso.

    Como se caminhasse só tendo-me por companhia exclusiva, não precisando de conversar, ouvir, partilhar. Que me descubro, até na interacção com os outros, que nasci para estar sozinho, mediante que não nos é possível moldar os demais ao nosso gosto, vontade. E aí reside uma das minhas barreiras: convencer-me de que o mundo não é como eu quero, mas como se me apresenta. Aprendi a fazê-lo, a conformar os sentimentos, os anseios, terceiros, ao sabor do que me convinha. Furtaram-me o devido equilíbrio entre a veleidade de um ser meio déspota, como o são todos os pequenos, e a autoridade perene de uma figura da qual se esperaria mais do que carinho e cuidado.

        Hoje, sem embargo, sei que educar é talvez a tarefa mais laboriosa de alguém que a isso se propõe. É um caminho intrincado. Ser progenitor deveria fazer-se acompanhar de um atestado qualquer, uma certidão de aptidões. Quem sabe um dia a ciência evolui a ponto de se poder detectar, pela genética, as predisposições à parentalidade. Evitar-se-iam muitos dos problemas com que nos confrontamos. Eu, particularmente.

        Viver de remendos, um aqui, outro ali, procurando escapar ao mal original, é solução que não se basta.  E lastimar, tão-pouco. Os erros são o que são: erros, e tarde ou cedo terão de ser corrigidos.

32 comentários:

  1. Sou e penso como vc. Aprendi a lidar com esta dualidade, estar sempre só e qdo no ambiente interativo me abster de tentar concertar o mundo. Fico no meu e observo o dos outros. Nele [o dos outros] eu caminho. Qto à capacidade para ser pai [pré-requisito] acho q isto seria um portentoso conhecimento q a ciência poderia proporcionar à humanidade.

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    1. Estar só é bom: nem incomodamos, nem somos incomodados. É um exercício como qualquer outro. Aprender a estar só. Há quem viva buscando uma companhia (humana, entenda-se).

      Um dos melhores, depois de avanços na medicina. Claro que um pouco de razão evitaria males maiores.
      Creio que daria um pai razoável em alguns aspectos; em outros seria péssimo, porque sou instável emocionalmente.

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  2. Talvez fosse boa ideia começares a viver o Presente, ao invés de te deixares amargurar pelo Passado. Vives e amarguras-te muito com ele, sendo que o Passado é Passado e já não há nada que possas fazer para o mudar. Quanto ao Presente e ao Futuro, isso sim, podes e tens todas as chances que o teu livre arbítrio "impuser", para que sejas feliz, mesmo que o sejas à tua maneira.

    E olha que um dia podes arrepender-te de não teres aproveitado as oportunidades que a vida te deu, quando as tiveste.

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    1. Mikel, é impossível, ao menos para mim, enterrar o passado, porque somos o que fomos. E também tu falas do passado quando sentes essa necessidade.

      As oportunidades, enfim, cada um sabe se as teve e, tendo-as, se as aproveitou. Nem sempre tudo é tão linear, fácil e mágico como te parece. Nos contos, os finais são inevitavelmente felizes (ou não). A vida surpreende um pouco mais.

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    2. *sorrio cúmplice* É verdade. Existem certos aspectos do meu Passado que por mais que eu queira evitar, não consigo. Marcaram-me por demais.

      Deu-me vontade de rir o teu último ponto. ;)

      Conheces-me bem demais para saberes que eu já conheço e passei bastante pela vida para saber o quão "sacana" ela é. Mas não é por isso que vou deixar de acreditar que mereço a Felicidade, porque senão não fazia sentido continuar vivo.

      Eu mereço ser feliz e vou sê-lo, mesmo que no fim fique sozinho. ^^

      E tu também mereces ser feliz. Seja de que forma for. :)

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    3. És um resiliente. :)

      Claro que merecemos o máximo de bem-estar possível. Já sabes o que penso quanto à famigerada "felicidade", que é o ópio da civilização humana. Se prosseguíssemos sem a ter como objectivo, passaríamos melhor.

      Posso reformular todas as minhas construções, se mo provarem. :)

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    4. É talvez algo necessário à condição humana, quem sabe? A Felicidade é si é algo tão subjectivo... eu posso ser feliz e sentir-me feliz com coisas bastante básicas, embora saiba que também preciso de coisas mais "materiais" para me sentir, não só mais feliz, mas também mais confiante, mais seguro e claro, poder aguentar-me neste mundo em que vivemos. ^^

      E fazes tu muito bem, embora tenhas razão nos teus pontos também. :)

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    5. Precisamos de acreditar na felicidade, em Deus (como um justificativo da justiça que se realizará mais não seja em outro patamar - o tal do Céu), e por aí fora. Isto porque nos é difícil reconhecer que viver é mau, que não há justiça e que nem os vilões morrem no final para permitir aos príncipes a eternidade de bonança.

      Já sabes o que penso (que muito falámos sobre isto em outras circunstâncias): sentires-te bem não significa que sejas feliz. Em algo concordo: pode ser com bens materiais ou não, embora acredite que alcançarás o máximo de bem-estar com uma concretização espiritual qualquer. Quanto mais te desligares da matéria, mais "feliz", se lhe quiseres chamar assim, és. Digo-o porque vejo que muitos dos males que afligem a humanidade prendem-se exactamente ao materialismo. Incluo-me.

      Isto é o que defendo, claro. É somente a minha verdade. :)

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    6. Exacto, o mundo é feito para o consumo e o material. Serve também para nos "distrair" do mais importante. ^^

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    7. Diria melhor: distrair e iludir! xD

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  3. Mark talvez nós, pessoas, somos uma espécie de "vórtices" ou então alguém que precisa sempre ou se vez em quando de um "tapa buracos" daí que vemos o mundo todos de forma diferente.

    Talvez tu apesar de ainda estares numa "descoberta" falas de remendos, e falas bem, quantos de nós já não "fomos" cosidos por causa de certa feridas que teimam em ficar aberta?

    (sorry pelo exagero das aspas mas elas existem por alguma razão :-p)

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    1. As peripécias ajudam-nos a valorizar o essencial. Talvez careça de algum "sofrimento" suplementar para ver o que realmente importa.

      Estamos cosidos por remendos. Uma decepção, um remendo; um sofrimento, outro. Todavia, os remendos adiam a deterioração irremediável.

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  4. Os país educam como foram educados e na melhor forma que sabem :D

    Grande abraço amigo

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    1. Mas alguns, coitadinhos, fariam melhor se estivessem quietos...

      abraço, amigo.

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    1. Estando nós num mundo mau, é fácil que nos identifiquemos uns com os outros.

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  6. Mark, quando li o título do teu post pensei "será que o Mark foi pedido em namoro?". Desculpa virar o sentido de tudo isto, mas foi mesmo o que me ocorreu! LOL

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    1. "Sentimentos" é tão abrangente. :)

      Não peças desculpa, rapaz. :)

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  7. Olha... eu acho que por definição ninguém nasceu para ser só! Mesmo que eu não acredito que isso possa ser de fato algo ruim, minha vida inteira eu fui só e não me sinto mal por isso, com o passar do tempo eu tenho sentido mais a falta de ter alguém, alguém para "caminhar" junto, compartilhar o caminho, mas estamos indo...

    Mesmo acreditando nisso, mesmo para mim isso nem sempre foi um processo "muito simples"... de qualquer forma, eu me pego muito em um dito que minha avó dizia... "Tudo com tempo, tem tempo!"

    Talvez ainda não seja o seu tempo, talvez seja o tempo de você dar atenção a outras coisas, quem sabe?! Modelos são bacanas mas quem sabe você ainda não reconheceu qual o seu?!

    Enfim, acho que não adianta muito ser vidente do passado, vale a gente pegar o que pode ser aprendido, guardar o que de bom possa ter acontecido e deixar o resto ao vento e não se esquecer de que o próximo minuto sempre é um minuto novinho em folha para usarmos!!!

    Abração grande !

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    1. Sim, somos animais políticos, sociais, já dizia Aristóteles. Acredito, contudo, que certas circunstâncias condicionam essa predisposição à sociabilidade. E há quem esteja melhor sozinho.

      Creio, também, que nos espelhamos nos que nos rodeiam, querendo imitar modelos. Não é necessariamente mau estar só, não dividir o espaço, os momentos. Como disse acima, é uma forma de encarar a vida. Deve ser bem mais complicado para quem esteve acompanhado por anos e em determinado instante se viu só; a quem é a sua própria companhia e sempre assim foi, é provável que seja tão natural estar só como beber um copo de água. :)

      É, é verdade. Isso sinto que tenho a corrigir. Olho demasiado para o passado tentando identificar os erros que cometi (ou que cometeram...) e que vieram a trazer-me problemas no presente. Se, pelo contrário, olhasse para o futuro e tentasse, no presente, modificar o que presumo que venha a acontecer, pouparia amarguras e sofrimento.

      abração, amigo.

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  8. Também já pensei muitas vezes que nasci para ficar sozinho, até estava curtindo a minha vida sozinho. As decisões mais fáceis de mudar de vida, cidade, trabalho e não depender de ninguém para realizar tudo isso. Porém, ultimamente, confesso que me bateu um certo desconforto em ser assim e, talvez, eu não seja tão evoluído assim para ser sozinho. Porque, de certa forma, impõe-se tanto que devemos compartilhar uma vida.

    Grande abraço!

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    1. Ser auto-suficiente, até nos afectos, fortalece-nos. Depender emocionalmente de terceiros, da atenção, do carinho, é terrível, porque se nos vemos privados disso mergulhamos numa espiral de desilusões e de carências insupríveis.

      Eu defendo uma concepção muito própria deste "amor" de que falamos: trata-se de uma necessidade egocêntrica de atenção, a que se junta um medo assombroso da solidão. :)

      abraço grande.

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  9. a solidão, acho que aqui somos todos doutorados nisso :)
    criamos estratégias, a solidão, bem, tem as suas qualidades. e um dia, aprofundas os laços com alguém e a vida continua e não há que fazer drama, mesmo que não resulte.
    quanto a ser pai, mãe, enfim, é uma roleta. pais ausentes, pais super-protectores, pais violentos, pais que nunca o deveriam ter sido, e pais comuns que lutam todos os dias, desde que haja o essencial, bons pais. acredito que a maioria seja assim. embora não aos olhos dos filhos.
    bjs.

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    1. Creio que sim. Os blogues também têm como finalidade suprir uma carência qualquer.

      Eu preciso do meu espaço. Falámos, um dia, sobre isto. Ainda que tenhamos alguém, o mesmo não implica que abdiquemos do nosso conforto, da nossa intimidade, do sossego.

      No meu caso, e já quanto aos meus pais, releva o facto de tudo de mau que fizeram ter sido fruto de mera leviandade. Não há o "Manual dos Bons Pais", mas há condutas comuns e pacíficas. Transversais. As crianças necessitam de determinada normalidade, que poderá oscilar um pouco; não demasiado.

      um beijinho.

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  10. O presente sim vale a pena viver. Os erros? Esses servem para aprendizagem. Se há algo para remediar é aquilo que faremos mais tarde. Sozinhos ou não, o importante é a nossa essência, a nossa própria companhia e alma em tudo aquilo que fazemos.
    Um abraço.

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  11. Ai o inverno, o inverno :) É por isso que gosto do verão :) O sol anima-nos mais :)

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    1. Mas no Inverno usamos roupas mais bonitas. :) Os casacos, os cachecóis...

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    2. Não sejas um escravo da moda :P

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    3. Já ando a "namorar" um casaco lindo (e caríssimo) que tenho visto no El Corte. :x

      Hahahah

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