14 de setembro de 2015

A Tese.


   Meados de Setembro. Regressei à faculdade. Um silêncio perturbador. É tão estranho percorrer aqueles corredores sem ouvir o menor ruído. Acostumamo-nos ao reboliço, à algazarra, aos alunos de código na mão, correndo, sorrindo, chorando...; outros, imprimem casos práticos, tiram fotocópias, compram, sabe-se lá, livros disto e daquilo (a propósito, a minha biblioteca jurídica está bem apreciável; se alguém precisar de um livrinho, desde que eu o tenha, já sabe).

   A minha especialização é em Direito Penal. Foi, como disse há tempos, o ramo da extensa família do Direito que melhor despertou o meu instinto jurídico. Até então, ao terceiro ano, apenas Direito Constitucional tinha conseguido efeito semelhante, não o suficiente para dar a escolha que fiz no final do Secundário como a mais acertada. Tinha, se tanto, o pendor de tornar aquelas horas minimamente suportáveis. Ao dar-me conta dos meandros que Penal tem, fiquei (não direi apaixonado) mais interessado, participando, intervindo nas aulas. Parece que o demais vem por acréscimo e, a páginas tantas, já tudo tinha outra cor. Entre indecisões e conflitos, resolvi seguir no mestrado, e a tese que viria, evidentemente, seria na área em que me licenciei.

    Os livros que leio, de Direito, são de Penal. Como é de calcular, tenho dezenas de livros de outros ramos, dadas as disciplinas que tive. Alguns de direito público continuam a despertar o meu interesse, como de Constitucional, Administrativo. Assim pudesse eu escrever sobre Penal, aqui, e fá-lo-ia. Não se proporciona, a menos que haja um crime qualquer por aí e sinta apelo tal nesse sentido. Faço-o, sim, pensando na tese que terei de elaborar, tarde ou cedo, e o tempo não se demora na passagem. Pretendo conversar com a orientadora. A preguiça tem sido uma das mais acérrimas inimigas. Os temas que gosto estão dissecados à exaustão; os temas que sobram, ou são extenuantes demais, ou não suscitam tanto interesse da parte de quem avalia. Não esquecer, claro, a defesa da tese (falar em público não é, como quem me conhece sabe, o meu ponto forte; baralho-me todo, para não falar de uma troca de sílabas e de palavras, no discurso oral, que tenho percebido - será dislexia? - e de um pouquinho de disfemia (gaguez) ao pronunciar certas palavras, sobretudo quando começo a falar ou quando retomo após ter estado algum tempo calado). É provável que seja uma reacção fisiológica qualquer por estar nervoso.

    O meu raciocínio escrito é mais profuso. De sempre prefiro escrever a falar, inversamente à maioria. Passei anos brincando sozinho. Conversava sozinho. Creio que a falta de interacção com os meus pares, exceptuando-se no colégio, ajudou ao incremento desta barreira. Ou não terá nada a ver. Teria de consultar um especialista. Não me apoquenta.

     Estou crente de que ano algum quis uma dinâmica como agora. Sou dado ao tédio, facilmente me aborreço. Nunca tanto quanto neste momento em particular da minha vida.
      Um dia de cada vez.

23 comentários:

  1. Sei bem o que é isto meu amigo. Também fui assim, o que atrapalhava sobremaneira meu desempenho profissional. Mil conselhos todos relegados à segundo plano. Fazia na época análise com um psicólogo [por outros motivos]. Mas foi com ele que tive o diagnóstico. Tudo ligado à timidez. Como vencer? Encarando, olho no olho alguém com quem falava ou alguns da platéia se fosse o caso de palestra. Antes que o timidez me dominasse [vc se sente encarado pelo outro] eu tomava a inciativa e encarava ... foi um sucesso ... aos poucos muito me libertei deste problema. #ficadica

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    1. Eu nem sou tímido, sabe, amigo Paulo. Sou demasiado ansioso e sofro por antecipação. Isso prejudica o meu desempenho. Mas esse conselho de encarar o outro com segurança parece-me certeiro. Não evito o olhar; enrolo o discurso...

      Obrigado. :)

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  2. Um dia de cada vez e sem pensar muito, deixa as coisas irem acontecendo :) Não sofras por antecipação ;)

    Grande abraço amigo

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    1. É o melhor, amigo, mas as responsabilidades acrescidas obrigam-nos a pensar nelas... :)

      um grande abraço.

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  3. eu, por motivos profissionais, tenho de dar algumas sessões de sensibilização a estudantes. fiz um curso de formação pedagógica de formadores. eu já dava essas sessões antes, mas adquiri competências e ferramentas que me ajudaram imenso, como lidar com a plateia, como me descontrair, aprender a conversar apresentando o tema e, ainda por cima, com uma apresentação em ppt apelativa para os miúdos. claro que é apenas uma sugestão, mas poderias pensar numa formação nesta área. são 90h. além disso, ganhas traquejo se no futuro vieres a ser um comunicador noutra área.
    boa sorte para a tese.
    de momento, não te peço livros dessa temática, mas quem sabe no futuro, para um estudo?
    bjs.

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    1. Um dos meus pontos fracos será esse: discursar em público. Das vezes que o fiz, até me chegaram a dizer que era um bom orador; o pior, contudo, é quando estamos a ser avaliados. Para teres uma ideia, na primeira prova oral que fiz, na faculdade, fiquei com a boca tão seca que a professora o percebeu, dizendo para me acalmar (e corria lindamente).
      Sim, parece-me uma formação essencial num comunicador.

      Claro. Se precisares de um livro que eu tenha, é só pedires. :)

      um beijinho.

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  4. Mark que corra bem e que os corredores se enchem de barulho, que te façam distrair quando o poderes fazê-lo e que quando tiveres aborrecido podes sempre fechar os livros e olhar para o que te rodeia :-)

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    1. Durante muito tempo escondia-me dos sorrisos alheios. Sentia-os como uma exibição maldosa de "felicidade". Hoje, sinto-os como um sinal de esperança: há quem consiga abstrair-se. :)

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  5. Podias abrir aqui um consultório jurídico penal! :D claro que primeiro, nós, os teus inóquos leitores, temos de fazer uns crimes jeitosos e fofinhos em matéria penal :3

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    1. Oh, bem que eu podia escrever mais sobre Penal, mas não se adequa num blogue. Ficaria pesado demais. O que posso fazer é pegar num caso e dissertar. :)
      Só tu. :D

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  6. Escrever uma tese foi das coisas mais trabalhosas que já fiz. Mas que me deu mais prazer, quando no final vi o que "pari" :D

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    1. Pelo que ouço (e leio), dá imenso trabalho. :)

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  7. Concordo com o que acima foi dito. Vive um dia de cada vez. O que tiver de vir, virá. E sendo tu como és, boa coisa vem pela certa. ^^

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  8. Com certeza você irá se sair bem na sua tese. Escolha e prepare bem o tema e deixe acontecer. :) Direito Penal é bem bonito. Quem dera eu saber mais.

    Abraços!

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    1. Veremos, Ty. :)

      Sim, é bonito. Mas outros ramos do Direito há igualmente bonitos. Direito, em si, é uma área muito interessante.

      abraço.

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  9. Nunca pensei em fazer Direito quando jovem porque pensava que teria que falar muito bem é em público, apesar de sempre gostar muito de humanas. Mas como gostava, também, de Biologia e queria contato com pessoas, acabei na Medicina. Na Medicina descobri logo na segunda semana de que iria ter muitos problemas, já que há muitos seminários e, até hoje, tenho que apresentar aulas quase que quinzenalmente. Mas nunca me acostumei a falar em público, não raciocínio muito bem e me fogem as palavras, horrível. Já até tentei uma terapia por isso... Rsrs

    Abraço!

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    1. Exactamente como a mim. Com efeito, em Direito é bom ter um bom discurso oral. A bem dizer, eu falo bem (risos) e estruturo igualmente bem as ideias, mas baralho as palavras, gaguejo um pouco; a voz fica trémula... Isso dificulta.
      Talvez seja falta de hábito. :)

      um abraço, Egos.

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  10. Nunca consegui estudar nas bibliotecas devido ao silêncio.
    Para estudar, precisava de estar no meu espaço, a poucos metros do frigorifico e da TV.

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    1. Sabes, em casa não consigo estudar com barulho. Tudo me incomoda (TV, etc.). Na "rua", até estudo melhor com barulho. Não faz sentido. :)

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    2. GbBb, adorei essa do frigorífico!

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  11. Sou como tu: aborreço-me facilmente.

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