8 de agosto de 2014

O banco bom e o banco mau.


   Soubemos, há dias, que as instituições financeiras também podem ser divididas em boas e más, no velhinho dualismo que a todos acompanha desde que nascem, entre um deus bom e um mau, um mocinho e um vilão, a sogra má e o sogro bom. Os bancos não fogem à regra. Activos tóxicos de um lado, depósitos e demais títulos sãos do outro e temos uma instituição de crédito, o BES, o maior banco privado português, dividido entre um banco bom, com capital injectado, e um mau, o que até já originou sátiras interessantes e comentários sarcásticos na imprensa.

  Depois de (pouco) recuperados com os escândalos do BPN e do BPP, o sistema continua a revelar fragilidades insanáveis, atingindo agora um banco que pelas suas especificidades é mais abrangente. Uma vez mais, o Estado interveio para assegurar os depósitos - não nacionalizando como no BPN - e para evitar o contágio ante contágio que poderia, certamente, fazer ruir o sistema bancário nacional.

   Como venho dizendo de há longos meses a esta data, a Caixa Geral de Depósitos será a instituição financeira monetária mais segura, a menos que Portugal se torne insolvente. Depois de alertados por mim, para alguma coisa as várias cadeiras económico-financeiras que tive serviram, alguns familiares, incluindo a mãe, cliente há longos anos do BES, ponderam tirar os seus depósitos e pôr termo às aplicações e investimentos que têm. Não é certo o que se diz de que os depósitos estão seguros. Estão todos aqueles cujo montante não exceda os cem mil euros por depositante ou instituição de crédito. Acima disso, meus amigos, chapéu. Por todos estes motivos, o mais seguro é ter o capital distribuído por várias instituições de crédito ou bancárias, com prevalência, diria eu, para a Caixa Geral de Depósitos.

    No meio de toda esta crise sistémica, o Banco de Portugal, como entidade supervisora, responsável pela supervisão prudencial, que envolve a liquidez e a solvabilidade das instituições de crédito, não pode ser imune a críticas à sua actuação. Vista a sua aparente indiferença durante semanas e meses, é discutível se a função que hoje é atribuída ao Banco de Portugal não deveria ser entregue aos bancos centrais, nomeadamente o Banco Central Europeu. O argumento da frágil legitimidade democrática dos bancos centrais e da dificuldade imposta pela multiplicidade de conglomerados financeiros caem por terra quando estamos diante de crises cíclicas, a última das quais envolvendo não uma instituição de crédito qualquer, mas sim uma das mais importantes em território nacional. O Banco de Portugal tinha de sancionar as infracções que detectasse a tempo de se evitar o caos. Não descarto aqui, também, a responsabilidade da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, CMVM, que coopera com o Banco de Portugal, como decorre do seu estatuto legal, dada a complexidade dos produtos financeiros. O colapso do BES começou já a contagiar outras instituições em bolsa e, agora, resta ao Banco de Portugal e à CMVM tentar evitar o pior, agindo na sequência da casa já arrombada.

    Não se entende como ainda há quem se sinta seguro no pântano económico e financeiro em que vivemos.

18 comentários:

  1. Tudo correcto, com um mais acrescento: na enxurrada também foi apanhada a PT, pois nestas questões da alta finança, os compadrios nem sempre dão bom resultado.

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    1. Obrigado, João.

      Sendo tu licenciado em Economia, fico feliz por ter feito uma análise correcta. Tive imensas cadeiras económicas, com bons resultados a todas, se bem que não é, de todo, a área em que me sinto mais à vontade. Sou interessado. Uma cadeira que tive, Direito dos Mercados Financeiros, foi extremamente importante para compreender o que se passa no BES.

      Sim, hoje ouvi algo sobre a PT. É uma das accionistas do BES, ou vice-versa, e está a ser arrastada na crise. Outros bancos já ficaram a perder na bolsa. É o efeito contágio, perigoso...

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    2. Pegando nas palavras do João, atreveria-me a dizer que o caso da PT é ainda mais gritante do que o próprio BES, uma vez que foi omitida informação ao mercado, e o escandalo da Rioforte é uma das maiores vergonhas de sempre da economia nacional. E eu, que tanto apreço tinha pelo Dr Granadeiro, um verdadeiro self-made man com quem tive a oportunidade de privar várias vezes... caso para dizer "Shame on you".

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    3. Não estou muito a par desses escândalos todos. Os meus conhecimentos são os que tenho por ler semanários e jornais, além do que aprendi nas muitas cadeiras económicas da licenciatura (e são mesmo muitas!).

      Eu não conheço o Granadeiro. Creio que ninguém da minha família o conhece. Talvez da parte do pai, algum tio, primo.

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  2. Este país é uma palhaçada pegada....

    Eu agora mudo de nome, para Francisco o BOM, e todas as minhas dívidas ficam com o Francisco Mau.

    Abro Insolvência, e que quiser que se desenrasque....

    Engraçado que os Banco endividam os seus clientes com Cartões de Crédito, que os mesmos pensam que são de Débito. Activaram e usaram tem de Pagar...

    Empresas de Trabalho Temporário que trabalham para o BES, não pagam aos seus trabalhadores, mas isso agora não interessa nada.

    Somos sempre os mesmos prejudicados e pagantes. Comemos e Calamos lolololololol

    Abraço amigo,

    P.S - Desculpa o desabafo... Mas, isto do BES já atinge um patamar...

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    1. Que tentem salvar o banco para assegurar os depósitos e as demais aplicações das pessoas não é mau. O que eu condeno é que tenham deixado isto chegar ao ponto que chegou, sendo o BES, pelo menos tudo levava a crer, uma instituição sólida e merecedora de confiança. A pergunta que paira na minha cabeça é: qual será o próximo a cair?

      Desabafa sempre que queiras. :)

      um abraço.

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  3. No dia em que a CGD der o "berro" podemos ponderar abandonar o barco. O que vale é o accionista ser o estado, que nunca será insolvente. (que o Diabo não leia isto)

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    1. É verdade. Daí eu considerar o banco mais seguro. :) Eu não acredito que o BES afunde. Já há capital no "banco bom" (wtf?!). O pior é que o Estado não pode socorrer mais um, e outro, e outro... Um dia, um dos grandes torna-se insolvente e é o caos.

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    2. O Empréstimo estatal refere-se a um fundo criado pela troika para ajudar os bancos nacionais. Até agora todos os bancos que recorreram às verbas têm restituído conforme acordado. Não acredito que o BES não o faça. Já o "banco mau" que se lixe, os accionistas e os investidores que paguem a factura, desde que não estejam envolvidas verbas públicas.

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    3. A questão não é bem essa, Ribatejano. Eu diria que se centra mais em torno da capacidade do Estado em socorrer futuras situações semelhantes a esta. É o terceiro caso e o Triunvirato, ao menos oficialmente, já foi embora. Como disse na resposta ao teu primeiro comentário, o BES, na vertente "banco bom", não mais me preocupa. As eventuais situações semelhantes, futuras, sim.

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  4. Ainda essa crise que tá afetando Portugal e a Europa, né? Eu entendo bem pouco de economia. Acho que banco só é bom pro banqueiro porque pra nós é só colocar lá o salário e pagar um absurdo pra ter conta, rsrs.

    Abraço!!

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    1. Não, não está implicado com a crise. Trata-se de problemas na gestão do banco, irregularidades várias, possíveis crimes... Ainda um baú aberto que todos os dias revela novos dados.

      Pois é, manter uma conta sai caro. Eu, como sou estudante, estou liberado das taxas.

      um abraço. :)

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  5. Pelo jeito esse é um problema que não muda muito, por essas bandas tivemos alguns problemas desse tipo nos últimos anos, se entendi corretamente, essa Caixa Geral de Depósitos é o mesmo que o nosso banco "do governo" por aqui, e nesse caso realmente se torna mais seguro nesses tempos.

    O duro que o Banco Central normalmente espera o pior acontecer para tomar alguma medida, e como sempre os correntistas que pagam literalmente o preço.

    Um grande abraço para você!

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    1. Sim, a Caixa Geral de Depósitos é um banco estatal, público. Da maneira que as coisas andam, o mais seguro será colocar o dinheiro debaixo do colchão, ahah. :)

      um abraço grande! :)

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  6. Economia devia ser uma disciplina base no ensino, para podermos compreender e controlar o sistema capitalista em que vivemos e nos governa.

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    1. Concordo contigo. Sem querer sobrecarregar as nossas crianças, acrescentaria ainda o inglês desde o pré-escolar - língua universal, sem a qual qualquer um é um analfabeto funcional pelo mundo, uma disciplina rodoviária (um género de código da estrada adaptado) e uma MUITO IMPORTANTE de civismo e educação - que a escola, apesar de não ter a função primordial de educação, que compete aos pais, pode ser um suplemento e, em alguns casos, substituir-se aos mesmos em certa medida, dada a incompetência / disfuncionalidade que se verifica em algumas famílias. Pelo menos estas.

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  7. Também poderia ser dividido em "Namorado Bom" e "Namorado Mau" LOLOL Alguém que me pagasse as dívidas LOL

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