30 de junho de 2014

A saga.


    Começaram, hoje, as orais de melhoria. Saí de uma há poucas horas. Como acontece nestes casos, escolhemos um tema que apresentamos ao júri. Esta modalidade de orais é substancialmente diferente das mais comuns, designadas por de passagem. Nessas, os professores correm a matéria, aferindo, assim, os conhecimentos dos alunos. Entende-se. Estas baseiam-se no dito tema que é escolhido livremente desde que esteja inserido no contexto da disciplina. O objectivo é tão somente o de reforçar a nota.

    Não será fácil. Quero fazer melhorias a tudo, mais a umas quantas do primeiro semestre e a duas do ano passado que, por incúria, não fechei. Talvez pelo cansaço, não escolhi todos os temas a apresentar. Sentia-me bastante preparado para a de hoje e consegui subir dois valores. Fiquei com a nota que queria, mas não deixaram de avançar pelo programa da cadeira. Quase que fui testado uma segunda vez, onde, no teste e na avaliação contínua, demonstrei o que sei. Por levarmos um trabalho de pesquisa preparado, para expor oralmente, não significa que não tenham liberdade para tocar noutros pontos que considerem relevantes.

    A manhã esteve amena, no entanto, decidi deixar o fato no closet. Escolhi uns jeans escuros, camisinha branca, gravata, blazer fresco e assim fui. Um sapato casual e prontinho. Ser finalista permite-nos um certo à vontade. Já se vê professores de pullover e, meses atrás, vi um assistente de ténis. Fiquei, ficámos boquiabertos. Está para cair "um santo do altar". São os novos tempos que atravessam a faculdade, a renovação de que tanto se fala aqui e ali. 
     Sou fiel a algum cuidado na indumentária. Um professor de ténis, assuma-se, não é um quadro agradável. Há que ter em consideração os cursos. Num de Geografia fará todo o sentido; Letras, por exemplo, em que os visuais são alternativos, ousados, irreverentes. Agora, imagine-se um juiz que vai julgar uma causa, a nossa causa, de ténis. É puro preconceito, eu sei, eu sei, mas exige-se um pouco de rigor. Só falta dar aulas mascando pastilha elástica!

   Gosto do formalismo no trato. Gosto da distância respeitosa que nos distingue dos professores, não necessariamente numa lógica de superior / inferior. Nada disso. Hoje, eles; amanhã, eu, quem sabe. Perde-se valores a cada década. Ao ritmo com que perdi o temor natural, que os alunos sentem, ao encarar dois ou três docentes com ar sisudo. As orais despojaram-se desse estigma. É o hábito. Correu bastante bem. Até é uma ajuda, visto que falo pouco. O ponto fraco que encontro em mim. 

     Estou exausto. Dormi mal, acordei cedo e tenho a mente cheia de palavras que quero jogar fora. Daqui a dias tenho outra, e outra, e outra... 
      Preciso de sol, mar e sumos gelados.

23 comentários:

  1. Nossa Mark! São tantas expressões diferentes que vcs usam ! Não canso de me surpreender ao ler eu blog , desculpas por isso! Espero que se saia bem na faculdade nos períodos restantes!

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    1. Oh, desculpa por quê? :D Normal, o português informal varia sobremaneira em Portugal e no Brasil, se bem que "closet", por exemplo, é um anglicismo pedante e inaceitável, ahahahah. Diz-se guarda-roupa, roupeiro. Esse será o que te fez mais confusão, julgo. :)

      Obrigado! (:

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    2. Ô meu GAJO GIRO JULGASTE errado tiveram outros mais alheios pra mim

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    3. Ahahahah, eu sei, mil perdões. O nosso "fato" é "terno" aí. :)

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  2. orais no verão e em frente a esses professores mal encarados não deve ser fácil, ainda aguentas? xD boa sorte!

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    1. Nem todos são mal encarados - uma imensa maioria é! Ahahah Tenho de aguentar!

      Obrigado. :)

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  3. Sobre a ausência de formalidade na justiça li uma coisa engraçada (sem graça nenhuma, diga-se de passagem) no jornal. Não me lembro exatamente como era, mas creio que era mais ou menos isto: um recluso estava preso, mas dizia não ter sido julgado. Quando lhe falaram do dia do seu suposto julgamento, ele disse que esteve com uns senhores vestidos de preto, mas não foi um julgamento, foi uma conversa. Com efeito, parece que o tribunal é uma coisa com montes de condições, em que na sala de audiência o juiz e o recluso estão ao mesmo nível, sentados em carteiras da escola e cadeiras iguais. Sabes que eu até sou comunista, e sou um defensor da igualdade de direitos. Contudo, há uma noção de "poder", nomeadamente o judicial, que tem de existir. A sua ausência deu frutos: o dito senhor pensa que não foi julgado.

    PS: A história dos juízes baterem com os martelos no início e fim das sessões existe ou é coisa de filmes? LOL

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    1. Essa história está mal contada, pelo recluso ou pela comunicação social (não sei onde a ouviste / leste). Na sala de audiências, o arguido e o juiz não estão sentados como em "carteiras da escola" e nem o magistrado pode ir vestido de qualquer maneira. Aliás, nem os advogados. Há aí qualquer coisa que me escapa. Ao mesmo nível, sim, é possível e é frequente. Nunca à mesma mesa numa conversa informal! Terminaram com o desnivelamento porque, enfim, consideraram primitivo. Na minha faculdade, nomeadamente nas salas e nos anfiteatros antigos, a maioria, verifica-se que a "bancada" dos professores está acima dos nossos lugares.

      O rito judicial, pelo contrário, ainda mantém algumas formalidades - e bem!

      Já não existe. Não sei se terá existido. Acredito que sim. No Reino Unido, usam perucas. Por cá, usam a beca. :)

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  4. As roupas servem para transmitir uma idéia, uma mensagem, um proposta, mesmo antes de começar a apresentar o trabalho ou ministrar a aula esta é a primeira mensagem que chega até os que vão nos ver! Não se estresse, a sua preocupação é importante sim!

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    1. Sim, e denotam estatuto. No caso dos tribunais, que são órgãos de soberania, administram a justiça em nome do povo por intermédio dos magistrados. É uma função que não pode ser encarada com leviandade. Exige respeito.

      Nas orais, sim, o fato (terno, no Brasil, creio que é algo que o Dernier também não entendeu, uma vez que "fato" aí equivale ao nosso "faCto") é imprescindível. Como está calor, entrámos no Verão aqui pelo hemisfério norte, levei uns jeans escuros, um blazer e já está. Inovei um pouco. Sei de uma história - verídica - em que um professor se recusou a começar a oral porque o aluno não tinha gravata, ou seja, estava de fato (terno) sem gravata. Teve de pedir uma emprestada. O professor de que falo é um ilustríssimo constitucionalista português.
      Um exagero, eu diria, mas, enfim, regras. :) A roupa causa impacto. É a nossa segunda pele. A primeira impressão que deixamos.

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  5. Boa sorte para as melhorias ;)

    Qual o problema de ir de ténis?! Por isso é que os Advogados ganham pouco mais de 500 euros por mês e tem de gastar fortunas em roupa. A dita Elite do Curso. Que só pode ir para advocacia quem tem dinheiro.

    Mero desabafo,

    Abraço amigo

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    1. Já sabia que iriam pegar por aí. Porque há que ter algum cuidado na forma como nos apresentamos. Nada contra os ténis. Para um passeio agradável pelo campo, nada como umas boas e confortáveis sapatilhas. :)

      Ora, os desabafos que quiseres. Não escrevo para que me digam "ámen". :)

      um abraço, Francisco.

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  6. Fui aluno da Faculdade de Direito de Lisboa e a norma instituída de indumentária a usar em provas orais sempre me fez "comichão". Nunca fui de fato fazer prova alguma. No segundo ano, o professor Jorge Miranda perguntou-me se aquela era maneira de me apresentar numa prova oral. Estava de calças de ganga e de polo azul escuro (nunca mais me esqueci). Respondi-lhe que não estava sujo, nem roto, que desconhecia qualquer norma sobre indumentária naquela faculdade e o que trazia vestido não poderia ser considerado ofensivo nem representava o que eu poderia saber sobre a cadeira em questão. Escusado será dizer que o senhor me tentou fazer a vida negra naquela prova. Sem resultado... subiu-me a nota (acima do que eu esperava) e passou a virar-me a cara nos corredores... Ou seja, veio corroborar a minha teoria... la porque estás vestido de fato e gravata não quer dizer que sejas bem formado. :)

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    1. Um colega (sim, sê-lo-ás, sempre)! É o pouco que assimilei do espírito universitário. :)

      Bom, eu usei gravata várias vezes ao longo da vida. No colégio, por exemplo, tive farda até determinado ano lectivo. Em criança, no infantário do colégio, usávamos umas gravatinhas fofas. (:

      Tens razão! Não há nenhuma norma no regulamento que obrigue os alunos a se apresentarem de fato e gravata. Será uma norma, quanto muito, consuetudinária. Um costume que vingou.
      Ali, na resposta ao "Homem, Homossexual e Pai", referia-me ao Prof. Jorge Miranda. Segundo consta (nunca fui seu aluno), leva estes pormenores muito a peito. É... quando embirram é terrível. Há bons e maus professores. A Constitucional, por acaso, tive o Prof. Paulo Otero, homem muito conservador, mas um excelente professor!

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    2. Isto foi em... 92 ou 93 (não me lembro bem). Tive o Jorge Miranda no 1 ano (Direito Constitucional - cadeira anual) e o Marcelo Rebelo de Sousa no 2 ano (Direito Constitucional II - cadeira semestral). E de longe, o Marcelo era melhor professor.
      Eu era conhecido como o rapaz da mochila. Naquela altura, eu era o único que ia de mochila para a faculdade... LOLOL

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    3. Não fui aluno de nenhum. Do Prof. Marcelo, gostaria. :|

      Actualmente, Direito Constitucional é cadeira semestral dividida em Direito Constitucional I (primeiro semestre) e II (segundo semestre). Uma das minhas preferidas, direito público. x)

      Vê-se imenso! Vários rapazes levam mochila. Eu tenho três da Eastpak e cheguei a levá-las no primeiro ano. Depois, o nariz arrebitou e meti-as de parte, ahahah. Verdade seja dita, nunca fui muito de mochilas...

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  7. Mark
    acho perfeito ridículo esse formalismo exagerado de um aluno ter de ir a uma oral de fato e gravata. Que vá "composto", sim senhor, mas a esee ponto...
    Já da parte do professor, sim que haja um maior rigor, concordo.

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    1. Sendo sincero, não acho mal. Claro que é inaceitável recusar a oral a um aluno que não se apresente de fato e gravata. Ninguém é obrigado a ter dinheiro para fatos. Por favor, muito menos na situação actual do país!

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  8. Se bem me recordo, o primeiro fato que comprei foi já na faculdade, precisamente para apresentação de uma tese. Acho que o fato não faz o homem, mas ainda assim todos os dias penso no que vou vestir de acordo com a agenda. Não concordo, mas subjugo-me ao hábito, lol.
    Há uns anos atrás o José Alberto Carvalho foi o primeiro apresentador a conduzir um noticiário sem gravata. A comunicação social fez um alarido enorme, e que eu saiba não se voltou a repetir. Ridículo!

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    1. Não sabia desse episódio com o José Alberto Carvalho.

      Sim, o fato não faz o homem. No entanto, sou a favor de algum cuidado no modo com que nos apresentamos. Suponhamos um professor de Direito a leccionar de calças de ganga e camiseta. Faz-me alguma confusão.

      Fatos no Verão é do pior. Prefiro conjugar um blazer com uma camisinha e pronto. No quotidiano.

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  9. Como se uns ténis dissessem alguma coisa sobre alguém, Mark lololol Eu uso ténis todos os dias, bem sei que me dá um ar de "puto" mas ando confortável e é isso que me importa (LOL). Também numa fiz melhorias... quando acabei o curso em 2003 estava tão farto, mas tão farto daquilo que quis distância. Foi um curso muito duro e que me custou imenso.

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    1. Cursos "duros". Sei o que é isso. Direito será das licenciaturas mais trabalhosas.

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