19 de abril de 2014

De mim.


  Não gosto destas festividades. Fazem-me estar parado por mais tempo do que o necessário. Quando assim é, ocorrem-me mil e um pensamentos. O (ainda) pouco passado que tenho, pessoas que deixei de ver, situações que vivi, entes que partiram, erros que cometi, intransigências evitáveis... Sou, de facto, o meu pior inimigo. O único, que saiba.

   Disse à mãe que não quero almoçar, amanhã, com o marido dela. Recuso-me. Cheguei a uma idade em que só faço o que me apetecer. O tempo de acenar como se estivesse tudo bem e de simular sorrisos, sem incómodo de maior, passou à história. Não gostou do que disse, talvez do meu tom demasiado peremptório e decidido. 
  Não discutimos. Nunca o fizemos. Trocamos só palavras ásperas, frias, e calamo-nos. Conhecemo-nos suficientemente bem para saber o que o outro quer dizer. Nem pormenorizamos.

   Começo, timidamente, a sentir que tenho de me desligar, afastar-me. Em boa altura. Sair de casa, quem sabe... É mais do que vontade de ter o meu espaço; aqui não sinto constrangimentos. É o querer pegar na caneta e escrever a vida à minha maneira. De vez em quando, sinto-me um autómato, a eterna criança que não cresce. E, definitivamente, não tenho feitio para Peter Pan.

   Como diria Rousseau: " O Homem nasce livre, mas por toda a parte se encontra acorrentado. "

   Boa Páscoa.

34 comentários:

  1. Boa Páscoa Mark!! Faça sempre da sua vida o que vc quer! Ela é curta demais pra desperdiçar :)

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    1. Dizem que é curta. Às vezes concordo, outras vezes parece-me que os dias custam imeeenso a passar.

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  2. Boa Páscoa! És senhor de ti mesmo, espero que saibas o que isso quer dizer.

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    1. Estou ainda a aprender. Leva tempo, mais do que desejaria, confesso.

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    2. mas vais conseguir, sei-lo.

      r. tento lutar por isso, mas ainda gosto da proteção que me dão, preciso dela. | hehe o mocito é jeitoso :P

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    3. r. nas decisões sou muito indeciso (desculpa a redundância dos termos) mas sei o quão importantes elas são, por isso aceito-as

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  3. Mark por vezes é preciso ter calma e engolir certos sapos. Com o avançar da tua vida vais perceber isso mesmo.

    Boa Páscoa

    Grande abraço

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    1. Sim, e parece-me que a minha decisão ainda me vai trazer chatices...

      um abraço, Namorado.

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    2. Apenas Mark porque a tua mãe é tua mãe, e por vezes temos que deixar de lado as nossas frustrações para fazer alguém feliz. E isso só assim faz a vida ter sentido. E digo isto, com profundo conhecimento do que afirmo muitas vezes "que já não tenho idade para fazer fretes!". Mas a verdade, é que em certas situações é preciso fazê-los.

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    3. Eu sei. Sei que a vida não é como queremos, que às vezes temos de fazer sacrifícios, até conviver com pessoas de que não gostamos. Talvez seja mimado, como já aqui disseram. :)

      Não me importo tanto em fazê-la feliz porque ela também não pensou "duas vezes" quando se separou e refez a sua vida.

      Eu era muito novinho. A separação foi um processo traumático para mim, demasiado. Pouco depois, aparece esta pessoa. Não me gosto de fazer de "coitadinho", creio mesmo que é a primeira vez que o digo no blogue, mas, olhando para trás, hoje percebo que foi realmente muito doloroso. Na altura, limitava-me a "sofrer".

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  4. Estou com o Namorado, pagar contas ao final do mês não é fácil

    E, um almoço não faz mal nenhum, são o teu sangue ;)

    Never forget :)

    Abraço amigo Mark e Boa Páscoa

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    1. Ele não é meu parente.

      um abraço, Francisco.

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    2. É namorado da tua mãe...

      :)

      Deixa de ser tão mimado(ups desculpa)

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    3. Não é namorado, é marido.

      Francisco, tu disseste que eram "do meu sangue". Só te respondi que ele não é. Nada mais que isso.

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  5. Engolir sapos faz parte da nossa vida, é bem verdade. Mas chegamos a uma certa idade que temos cada vez menos vontade de o fazer. E já chegam os que tenho de engolir no trabalho, também não tenho grande vontade de os engolir em casa...

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  6. Querido Mark, foi pessoal demais o desabafo que aqui fizeste. É dificil perceber tudo o que ele encerra, mas de certa forma surpreendeu-me e angustiou-me.
    É claro que isso não tem a ver com o almoço de amanhã em particular, mas com muito mais que isso e certamente com muitas coisa acumuladas. Passei por algo parecido no passado, não com padrasto, mas com o marido de uma avó, e sei hoje que isso só se passou porque outras pessoas preferiram não falar dos assuntos no tempo devido...
    Não te escudes nessas certezas de que tu e a tua mãe não precisam de dizer as coisas para se entenderem. Tens que lhe dizer o que sentes, o que te vai no coração, e tens que faze-lo de coração aberto.
    Parece-me que aqui não se trata de ter ou não que "engolir sapos", mas de saber ser feliz com o que temos.
    Abraço

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    1. Eu lá vou falando de mim em algumas ocasiões. Não gosto muito de o fazer, ou, digo, de escrever desabafos em modo Lado Intimista (que é uma 'etiqueta' própria para este lado mais... íntimo).

      Certamente. Há muito acumulado e não envolve só o homenzinho. Ando bastante tenso.

      Ah, quanto a isto, ela sabe que eu não gosto dele. Nunca lho disse "com todas as letras", mas, sensata como presumo que ainda seja, saberá.

      Aqui trata-se sabes do quê? De ir à minha vida. :)

      um abraço, querido sad.

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    2. Entendo esse teu desabafo, e é verdade que há um momento que temos mesmo que ir à nossa vida, mas olhando para os outros comentários/respostas, parece-me que precisas mesmo de conversar algumas coisas com a tua mãe. Não deixes que essas mágoas ou sofrimentos do passado te acompanhem pela vida.
      Eu ponho-me muito facilmente no lugar da tua mãe, como entenderás, e custa-me a crer que ela não tenha pensado duas vezes antes de se separar e refazer a vida dela. Acredito piamente que fizeste sempre parte de todas as equações.
      Abraço querido Mark.

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    3. Claro! É natural que entendas o seu lado e eu também o entendo. Cada um deve procurar a sua felicidade. Mas não vivemos sós. Há outras pessoas, há que atender aos sentimentos de terceiros, principalmente filhos. São sempre os que mais sofrem.

      Quero acreditar que sim, que tenha pensado em mim. A mãe é minha amiga, faz tudo por mim. Peço desculpa se erro.

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  7. Acho que as tuas noções de liberdade talvez tenham mudado.
    Pelo menos as minhas mudam de tempos a tempos, à medida que vou crescendo, e tenho cada vez mais a necessidade de abrir as asas e pairar para outras paragens, provavelmente não pelos mesmos motivos que tu, mas a causa parece-me semelhante... e inevitável.
    Não te consigo sentir particularmente fragilizado neste post, tanto quanto te sinto...desorientado, por isso não te vou desejar força, acho que precisas mais de uma bússola especial... aliás precisamos todos :P
    Bom Domingo

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    1. Mudaram bastante. Há um ano não pensava assim, não ambicionava sair de casa, dar um rumo autónomo à minha vida... Agora, é o que quero. Estou cansado.

      Sim, de facto, preciso dessa... bússola. :)

      Bom domingo para ti também.

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  8. houve duas coisas que adquiri com a idade e que podem parecer contraditórias mas até são complementares: uma, é não fazer fretes; a outra, é ser complacente com as falhas e fragilidades alheias (mesmo quando aparecem travestidas de arrogância e sobranceria).
    eu, que te admiro tanto, neste caso tinha ido almoçar com a mãe e com o marido dela, sempre de facies tranquilo e sereno, e com uma bela desculpa para desaparecer logo a seguir. só por ela.

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    1. Tens razão, Miguel. Reflectindo, vejo que a deixei triste e podia perfeitamente ter sido complacente e mais tolerante.

      Oh, é mútua a admiração. Muito obrigado pelo carinho. :)

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  9. Solta as amarras e boa pascoa :)

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  10. Fiquei levemente surpreendido com esse despique com a tua mãe. Dou-te toda a razão. Creio que estás saturado de imensas coisas. Urge a necessidade de mudar, de renascer. Talvez fazendo isso te ajude a superar esta fase tão importante.

    Quanto à mãe, penso que uma boa conversa, um bom diálogo, sem troca de acusações, com sensatez, poderá produzir milagres.

    Beijinho e um abraço muito grande. Sabes que tal como eu posso contar contigo, tu também podes contar comigo. Sempre. :3

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  11. Ai ai quantos sonhos.... é bom estar em casa , ter um apoio e tudo o mais... não saia de casa antes da hora Mark, forme se na faculdade primeiro e consiga um bom trabalho. Essa será a hora certa pra fazer isso ok? Acalme seu coração.

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    1. "Tenho em mim todos os sonhos do mundo", já dizia o grande poeta Fernando Pessoa, aliás, muito apreciado aí na bela pátria-irmã. :)

      Sim, só sairei depois de ter uma segurança. Ai, mas ver amigos e conhecidos a seguirem a vida de forma independente aperta-me o coração. Também quero...

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  12. Você tá é certo! Você não é obrigado a conviver com o seu padrasto.

    Morar sozinho é uma responsabilidade,se você se sente preparado, faça-o!

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    1. Ainda não me sinto preparado, mas vamos ver nos próximos tempos... :)

      Sim, conviver com ele, não, de todo!

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  13. Embora não seja do teu sangue, tem uma relação afectiva forte com a pessoa que mais amas - a tua Mãe; não sei se há conflitualidade entre vocês (tu e ele) ou apenas antipatia da tua parte. De qualquer forma, como disse o Miguel, era um almoço e nada mais...
    Já quanto à tua saída de casa, acho-a perfeitamente natural e mais ainda, no teu caso, absolutamente necessária na aprendizagem da vida que estás a fazer, já com algum atraso.
    Sem conflitos, deves libertar-te da redoma protectora da tua Mãe e começares a viver a tua independência com todos os seus efeitos - positivos e negativos.

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    1. Com atraso, sim, eu sei. Começo a ter consciência disso. :s

      Não há conflitualidade visível. Há a aparente. Ele não gosta de mim e nem eu dele.

      Quero dar um rumo à minha vida. Resta-me saber como começar.

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