20 de agosto de 2013

Noite Acesa.


   Aceitando um convite do P., sábado à noite fomos ao teatro. Diferentemente de algumas idas ao cinema, foi o nosso primeiro espectáculo juntos. A peça em si pouco importaria, até porque teatro é teatro, não duvidando do empenho dos actores e, claro está, das preferências do P.

   Arranjei-me por volta das 19h. Não quis estar demasiadamente formal, mas a temperatura fresca e amena da noite propiciava uma indumentária mais cuidada (camisa e jeans de corte elegante). Quando cheguei ao Teatro Armando Cortez, o P. estava ao portão, de telemóvel na mão, provavelmente preparando-se para me enviar uma sms. À saída do metro, já o vira dentro / fora numa azáfama. Sem motivos para tal. Primo pela pontualidade e à hora combinada estava lá. Creio que algum nervosismo apoderara-se de si.
  Levantou os ingressos e aguardámos num muro de betão, rasteiro, no pátio principal, ligeiramente afastados dos demais. Elogiou-me a roupa e o sorriso. Sentira-me feliz. Retribuí as palavras honestamente, afinal, o rapaz desportista deu lugar a um homenzinho bem apresentável, de camisa clara, clássica. Distingui-lhe um novo aroma.

   Entrámos atrás dos restantes espectadores. Os bilhetes colocavam-nos indiscretamente à frente, pedindo, então, se podíamos ocupar uma fila traseira, visto que a sala estava a meio. Não tardou a que a peça começasse. Assistimos à Broadway Baby, um espectáculo de Henrique Feist, acompanhado ao piano pelo irmão, Nuno Feist. Durante mais de uma hora, perto de duas, o duo leva-nos de forma muito bem conseguida a uma retrospectiva pela história dos musicais da Broadway, desde o seu início aos tempos mais recentes, não esquecendo os grandes clássicos do teatro musical norte-americano. Henrique Feist encarna as personagens brilhantemente, cantando e enchendo o espaço de longos e ruidosos aplausos. Há quem grite e se levante. Ovações merecidas. Como pano de fundo, o toque doce do piano de Nuno. Uma conjugação ímpar.

   Nós dois. O sentimento que nos invadia era visível a ambos. Trocámos olhares, mantendo a postura. Quando Henrique Feist passa pelo musical Cats, interpretando o tema Memory, olhei subitamente para o P. num acto espontâneo e natural. Sem pretensiosismo algum, tive absoluta noção da beleza daquele instante. Pelo menos assim o sentimos.

    Saímos muito perto da meia-noite. Caminhámos em passo lento até ao metropolitano. Deixámos passar um, dois comboios, conversando como se o tempo parasse. Não parou, que o letreiro luminoso tratava de me recordar do avançar das horas. Aproveitando uns minutos em que estávamos sozinhos na estação, trocámos um beijo e agradecemo-nos mutuamente pela noite.

     Broadway Baby está em exibição no Teatro Armando Cortez, na Casa do Artista, às sextas e sábados pelas 22h, até dia 14 de Setembro.

28 comentários:

  1. Adorei este texto. Não mentira. Amei. A forma como escreves de um momento que é quotidiano (ou não), acaba por quase transportar quem lê para a "cena"! :)

    Estou feliz pelo meu regresso porque consigo ler "coisas" bonitas! :)

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    1. Oh, obrigado Namorado. Eu não sei escrever de outra maneira. :)

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  2. Quem bom :)

    Fico muito contente por ti e obrigado pela dica :)

    Abraço Mark :)

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  3. Meeeemoryyy, all alooooone in the moonliiiiiight...
    Acabei de chegar também de um passeio iluminado só pela lua :) Já não o fazia há tantos anos que lhes perdi a contagem. Mas fui o caminho todo a trautear "Blue Moon" xD (um bocado pirosito, é verdade).

    E ao teu texto: :)))

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    1. Nada piroso. O importante é que nos sintamos bem. :)

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  4. Irradias felicidade rapaz! Um abraço.

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    1. Nem tanto. Estou bem normal e lúcido, a sério. :D

      abraço. :)

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  5. Ah, l'amour...:)))

    Abraço Mark.

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  6. há muito que quero ir ao teatro..
    noites assim sabem bem :)

    (quem me dera a mim conseguir passar o que vivo por palavras como consegues..)

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    1. Aproveita e vai a esta peça! Leva um amigo ou uma amiga e vai. Como disse ao Francisco, vale a pena. Os irmãos Feist dão tudo de si, especialmente o Henrique. Ele entrega-se de corpo e alma.

      Oh, obrigado. :)

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  7. Que noite bonita Mark. Fico feliz por vc, vc merece tudo de bom que está vivendo.. Que dure pra sempre! :)

    Abraços!

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    1. Não penso muito no limite temporal. Limito-me a viver e, se acabasse hoje, já teria sido bom. :)

      abraço. :)

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  8. ok, o P. era eu, quando te enviei uma sms há tempos ;)
    ainda bem que te divertiste.
    aproveito para te informar que o espectáculo do Diogo Infante acaba este fim-de-semana. partilhei no FB, não vás querer ir também.
    bjs.

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    1. Tu e ele, dois queridos que se preocupam comigo. :)

      Obrigado pela informação, querida!!

      beijinho.

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  9. Soneto do amigo

    Enfim, depois de tanto erro passado
    Tantas retaliações, tanto perigo
    Eis que ressurge noutro o velho amigo
    Nunca perdido, sempre reencontrado.

    É bom sentá-lo novamente ao lado
    Com olhos que contêm o olhar antigo
    Sempre comigo um pouco atribulado
    E como sempre singular comigo.

    Um bicho igual a mim, simples e humano
    Sabendo se mover e comover
    E a disfarçar com o meu próprio engano.

    O amigo: um ser que a vida não explica
    Que só se vai ao ver outro nascer
    E o espelho de minha alma multiplica...

    Vinícius de Moraes

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  10. Mais um lindo momento de cumplicidade! Tão bom! ^^

    Abraço :3

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    1. Gostei! "Momento de cumplicidade". Em tempos de definições, em que tudo tem obrigatoriamente de ter um nome, tu aproximaste-te bem da designação correcta.

      abraço, João. :)

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  11. Oh.. que carinhosos :) Boa Sorte

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  12. Quero que tenham muitas outras noites acesas e dias iluminados.
    Com um enorme abraço.

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  13. Repetir-me-ia se dissesse o que sinto ao assistir à tua felicidade.
    A "cumplicidade" entre amigos especiais (chamemos-lhe assim) é fundamental e maravilhosa e é completada pelo rspeito, que estou certo vocês têm um pelo outro.

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    1. Sem dúvida! Acima de tudo, há imenso respeito.

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