20 de abril de 2013

Preconceito.


    Associamos a tacanhez às pessoas naturalmente desinformadas, aquelas que na maioria das vezes não tiveram acesso à educação, porém, nem sempre é assim. Convenço-me de que o espírito liberal e igualitário faz parte da índole de cada um, apesar de acreditar que pode ser estimulado. Quando o preconceito vem de professores universitários que o expõem em forma de piada infame, a revolta assume contornos diferentes. Poderá o núcleo ser comum, mas a desculpabilização é bem menor. Não posso compactuar com alguém que, valendo-se da sua posição, brinque com os sentimentos e os direitos de terceiros. Todos podemos ter a nossa opinião, sem dúvida. E bom senso. O bom senso, na dose certa, faz toda a diferença.

     Esta breve introdução para relatar um episódio que ocorreu numa aula de quarta-feira. Infelizmente, por ética, não posso revelar o nome do professor, nem a disciplina em causa, porque o mesmo poderia levar facilmente à sua identificação. Oportunamente talvez o faça; não enquanto for seu aluno.
      Aproveitando-se de um exemplo relativo ao casamento (estava desatento, não conseguindo perceber como a conversa chegou a tais parâmetros), o docente em causa referiu, em tom cómico, que o casamento continuará a ser um contrato entre um homem e uma mulher, pese embora, e cito, "existam para aí umas leis esquisitas", aludindo claramente à lei que aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, a Lei 9/2010 de 31 de Maio. Fiquei perplexo e, por momentos, pensei que estaria a ouvir vozes. Depois, tomando consciência de que era real o que ouvira, consegui suster uma reacção de indignação, que sairia em tom de murmúrio ou algo semelhante. Ainda bem que assim o foi. Sabe-se - é público - de que a pessoa em causa pertence a um partido da direita ultra-conservadora, comungando, certamente, da sua ideologia. É um homem austero, não deixando de ser simpático, apesar de identificar uns tiques de autoritarismo em algumas das suas acções.

      Não vivemos em ditadura. Ele pode, mais, deve ter as suas opiniões e ninguém o impede de as exprimir. Nesta situação em concreto, os direitos das pessoas estão sujeitos a opiniões? Será lícito questionar o direito de alguém a contrair matrimónio com outra pessoa, dirigindo-se a esse facto jurídico pejorativamente como "lei esquisita"? Afastando-nos da ordem jurídica, na ordem moral e dos valores, esta opinião numa aula, desconhecendo se está perante algum/a aluno/a homossexual, será aceitável? Questões facilmente respondidas por um qualquer leigo.

     Se já não gostava daquele sujeito, a minha consideração por ele diminuiu em muito. Para o meu júbilo, teremos uma relação aluno-professor por pouco mais de um mês. Difícil será ouvi-lo e olhar para si, mas com esforço e alguma paciência tudo se consegue.

38 comentários:

  1. eu apenas acho que essa lei nem devia existir, as pessoas ja deviam ser livres, desde sempre a casar com quem quiserem. "Seja homem ou mulher, eu amo quem eu quiser"

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    1. Isso seria no mundo ideal, Príncipe. Mas, no nosso mundo real, esta lei foi necessária. Percebi a tua perspectiva. :)

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  2. Mark
    compreendo as tuas reservas em nomear, por ora o nome de tal "professor".
    Mas como deixarás de ser aluno muito em breve, talvez não fosse má ideia, identificá-lo, nessa altura, e não o digo por curiosidade, mas apenas para tornar público algo, que como assinalas, e bem , pode ser e deve ser respeitado cmo opinião, mas nunca deve ser vinculado numa aula e muito menos sobre o nome de "leis esquisitas", pois aqui na palavra "esquisitas" está todo o preconceito que referes como título.

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    1. Sem dúvida. Por agora não poderei identificá-lo; fá-lo-ei quando deixar de ser aluno dele. Colocarei o nome neste mesmo post. Fica já o repto: quem quiser saber de quem se trata, venha aqui lá por Julho (finda a época dos exames). Enfim...

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  3. Infelizmente, o caminho rumo a uma sociedade tolerante ainda está muito no seu início. Muita gente afirma que sim, que aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas só o diz da "boca para fora". Não é algo em que realmente acreditem.

    É triste.

    Todas as pessoas têm o direito de serem felizes, seja do jeito que entenderem. Porque será que as outras pessoas insistem em julgar, em criticar a felicidade dos outros? Será que não tem mais nada que fazer de interessante nas suas próprias vidas?

    A verdade é que sempre haverá pessoas que pensarão assim. O importante não é julgá-las, mas fazê-las entender que podem pensar o que quiserem. Os avanços que conquistamos, esses, já ninguém nos tira. ^^

    Graças a eles, o mundo caminha, ainda que a passo de caracol, para uma sociedade mais livre, mais feliz e mais tolerante.

    Hughie :)

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    1. Este pelo menos não é cínico: não gosta e di-lo. Consigo gostar menos dos hipócritas. Ele tem o direito de não gostar; podia era controlar-se, sobretudo numa aula...

      abraço. :)

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  4. Enxerguei um professor que eu tive!

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  5. Infelizmente isso não me surpreende...

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  6. Não estamos em ditadura, mas há certos comentários que não se fazem. Mas isso não me choca, porque da mesma forma que esse comentário foi produzido, ainda hoje se diz que o lugar da mulher é na cozinha e só no início do século passado, é que estas, puderam votar. A sociedade demora a evoluir e a aceitar a diferença como base de igualdade, porque existem sempre umas alminhas, como essa, que julgam estar acima de qualquer ser humano considerando "menor" ou "anormal", simplesmente porque não pertence ao rebanho.

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    1. O que me incomodou foi ele expor assim a sua opinião, indiferente ao facto de estar numa aula e perante alunos que, eventualmente, poderão ser homossexuais!

      Olha, no que diz respeito a Portugal, só puderam votar mesmo nos finais do século XX, mais concretamente a partir de 1974.

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    2. Mas Mark, a sociedade custa a evoluir... mas evolui!

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    3. Sim, devagarinho mas evolui sempre. :)

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  7. Mais um palerma na nossa sociedade que dá uns bitaques e acha que tem piada. lololol

    Fazes bem em não publicar o nome do senhor, nem a disciplina e creio que não há a necessidade de o fazeres( é a minha opinião e vale o que vale). Este canto é teu. :)

    Impressionante a quantidade de Homofobia que existe, desde que a Lei permite o Casamento entre Gays :)

    Tanto gay recalcado que existe neste país.... Impressionante ;)

    Abraço amigo

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    1. Ai, Francisco, mas este não é um "enrustido", como se diz no Brasil. Lol É mesmo um homofóbico banal.

      Eu não me importo nada de revelar o nome da criatura, daí disponibilizar-me para o fazer. Se ele fez a piada publicamente, não deve ficar importado por meio mundo ficar a conhecê-la. Sim, que este blogue é visto por milhares de pessoas. :3 LOOOL Kidding xD

      abraço.

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  8. Infelizmente gente assim ainda tem e muito. Acho engraçado que muitos que esbravejam a liberdade de expressão, confude a liberdade de expressão com liberdade de agressão. Pra mim, ele foi um tremendo de um mal-educado! Se ele é contra o casamento civil igualitário, tudo bem, tá no direito dele. Eu acho os argumentos de quem é contra sem lógica,afinal,este direito não está atrapalhando em nada o direito dele de se casar com mulher. Não gosta,não case com um gay. Simples! kkkkk Isso que você falou no início do texto é a pura verdade! Muitas pessoas tiveram a acesso uma boa educação, têm mestrado,doutorado,mas têm a mente mais fechada que uma ostra. Boçais nojentos! kkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Beijocas,Mark! :)

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    1. Pois, o mal todo está em tê-lo feito no meio de uma aula, para mais de forma trocista. Quis ser engraçado e acabou por ser, isso sim, um tremendo preconceituoso. :s

      beijinho, Citizen. :)

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  9. Eu acabo subscrevendo o Francisco.
    Não obstante o seu estatuto de professor na sua área de conhecimento, deve ser encarado como pessoa pouco esclarecida, um analfabeto em discernimento humano, um carente em bom senso. E este, meu caro Mark, é o seu justo lugar. Trata-o como tal, fora do âmbito académico. (professores não são deuses)

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    1. Felizmente, para mim, nunca os "deusifiquei". É um triste, no fundo, como bem disseste. Coitado! :)

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  10. Disseste tudo.
    Contudo, penso que podes e deves identificar o professor, não aqui, mas nos sítios devidos, porque julgo que ele não tem capacidade para desempenhar as funções que desempenha.
    Abc

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    1. Isso é mais difícil. A minha faculdade é conservadora e são nomes sonantes. Recordo-me que uma queixa feita contra um professor que, num teste, colocou uma questão controversa e homofóbica comparando o casamento homossexual ao incesto e à zoofilia foi totalmente infrutífera.
      São pessoas quadradas ao máximo!

      abraço.

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  11. Na faculdade, eu ouvia muitas opiniões e criticas preconceituosas de meus professores, nos quais por mais inteligentes que sejam, demonstravam ser toscos e quadrados...

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    1. Em países latinos, como Portugal e o Brasil, esperam-se situações assim, infelizmente. :|

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  12. vou ao princípio do teu post, nem sempre as pessoas totalmente informadas são tacanhas, em muitas, independentemente de terem recebido mais ou menos informação, receberam muito amor e aceitam o amor entre homens ou entre mulheres como natural e bom.
    hoje em dia, assisto a cada mais episódios, como piadas desse género, mesquinhas, horríveis, de gente culta, informada e homofóbica. e enquanto essas pessoas existirem e ocuparem cargos públicos, ou seja, pagos por todos nós, devem sim, ser denunciadas. aguardo, então, pelo post.
    não é por esse professor ser um péssimo profissional que o seu comportamento deve ser escondido das instâncias superiores, mesmo sendo a tua universidade conservadora. ele perpetuará esses comentários no futuro.
    bjs.

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    1. Tocaste no cerne da questão: o amor. Isto além de intolerância deve ser falta de amor.

      Eu aditarei o nome dele a este mesmo post. Queixa não farei porque já houve um episódio semelhante naquela instituição - com contornos piores - e não deu em nada. A aluna ainda saiu prejudicada. Foi saneada! É terrível.

      beijinho.

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  13. Todos os anos me deparo com as tuas observações: as turmas de alunos da aldeia, cujos pais nem sempre têm a escolaridade obrigatória, revelam maior abertura do que os da vila (na generalidade, preconceituosos e com pouco saber sobre sexualidade).
    Quanto aos profs, independentemente do nível escolar, surpreende-me a tacanhez de muitos (sobretudo na minha área pois como pode um prof de biologia o história ser eficaz se não tiver abertura de espírito?)... Depois penso,... é que não são apenas "Sócrates" e o atual do PSD que possuem cursos inusitados. Seguramente que o não são. Haja dinheiro que muito se consegue ao mínimo esforço.
    Não posso deixar de atender ao partido político mas sobretudo ao comportamento relatado: como serão as noites deste sr? Quantos amantes terá? Quantas engravidou e acabou por abandonar? Ou... permite-me a expressão, "quantos lhe saltam em cima?". É que o preconceito muitas vezes parte dos mais baixos exemplos comportamentais!

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    1. Realmente não sabemos o que está atrás do preconceito dele. São pessoas intolerantes e pouco receptivas a tudo o que é diferente. Não fiques admirado com a tacanhez de professores do ensino básico/secundário do interior do país; na capital, e do ensino superior, são iguais ou piores!
      Enfim...

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  14. eu tambem gosto imenso de usar efeitos , mas tento não exagerar :)

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  15. Preconceito, sexismo, racismo, discriminação... é triste e grave ver um professor fazer um comentário deste género. Mas se esta gente não for confrontada, vai continuar a ter estes 'apartes' com toda a legitimação.
    Abraço Mark.

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    1. Infelizmente, na minha faculdade há mais casos destes... Uma vergonha.

      abraço, Arrakis.

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  16. Gostei do teu blog, parabéns! Se quiseres passar pelo meu, estás à vontade. Sou nova aqui no blog, beijito :')

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    1. Bem-vinda à blogosfera. :)

      Claro, assim o farei. :)

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  17. Irei continuar a escrever, não te preocupes Mark. Sigo o teu blog, segues o meu? :')

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    1. Claro, estás a começar. Fá-lo-ei com prazer. :)

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