1 de março de 2013

Limites.


    Ignorei o amontoado de pessoas à porta da faculdade. Contudo, alertado por uma amiga e pela presença significativa da Comunicação Social, deduzimos que algo se passava. Fomos, então, informados de que receberíamos a visita do primeiro-ministro.

   Professores, dos críticos acérrimos até aos defensores incondicionais, passavam agitadamente pelos corredores, um dos quais não se coibia de dizer horrores do homem que agora o fazia movimentar-se com impaciência. Telefones que tocavam sem parar, alunas que choravam por não o terem visto entrar, pessoas que gritavam palavras de ordem, erguendo cartazes e entoando cânticos agressivos. Adivinhasse aquele cenário e teria me refugiado na biblioteca.

    
     Ensinaram-me algo sobre a liberdade. Disseram-me que ela termina exactamente onde começa a dos outros. Recorrendo a uma analogia grotesca: " a minha liberdade para esmurrar alguém termina no seu nariz ". Podemos, mais, devemos insurgir-nos contra o que nos parece injusto, inadequado. A lei enuncia o nosso direito à indignação, à livre expressão, à manifestação, pacífica e sem armas. Contudo, o decoro e o bom senso deveriam ter uma palavra a dizer. Quando não dispomos destes atributos, podemos sempre fazer um exercício simples: colocamo-nos no lugar da pessoa que pretendemos atingir e analisamos a justiça do método utilizado. No meu caso, tendo por sobrenome Coelho, não gostaria de ver um mamífero da espécie enforcado, de verdade ou simuladamente, com vista a criticar a minha actuação. Entenderia como algo pessoal e de muito mau gosto. Portanto, não o faria a outrem. Numa outra perspectiva, as sevícias a animais e a subsequente exposição pública dos mesmos revelam instintos bárbaros e primitivos que julgava ultrapassados, mormente em alunos do ensino superior. Ingenuidade.

     Não somos iguais e, claro está, isto seria o que eu faria no caso. Não posso esperar que todos agissem de igual modo. Partilho da preocupação com o estado do país, mas conheço o significado da palavra limite. Há limites e no dia em que não forem respeitados, pego numa mala e emigro para a selva. Para conviver com animais selvagens, opto pelas girafas (fofinhas), elefantes e, quiçá, leões, com os quais até simpatizo. Se, pelo contrário, continuamos racionais, façamos por o demonstrar. Seguramente, a coabitação por aqui será bem mais agradável.

20 comentários:

  1. concordo totalmente, faço minhas as tuas palavras, tirando a parte dos leões que dispenso viver com eles :p

    ResponderEliminar
  2. Eu li isso aqui. Acho que tem outras formas de mostrar indignação sem maltratar os pobres animais que não têm culpa de nada. Um pouco bárbaro isso, que se fosse aqui eu não estranharia mais rsrs O premiê de vocês vai acabar saindo mal dessa história

    Abraços!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Provavelmente... Eu não gosto do homem, mas recuso-me a aceitar baixarias destas. Sejam, no mínimo, civilizados. :x

      abraço.

      Eliminar
  3. Eu acho que as pessoas perderam o rumo...e já não é de agora.
    Sinceramente, quem é que ainda acredita no direito à greve? Mas por acaso alguém acha que consegue alguma coisa no nosso país fazendo greve? É que consegue, mas não aquilo que pretendem - por cada dia de greve que as pessoas façam, todos nós, enquanto contribuintes, saímos a perder. são mais alguns milhões de euros de prejuízo que o Estado terá de arrecadar, sob a forma de novos impostos ou subida dos já existentes.

    Depois dessa "moda" das greves, veio a das manifestações. As pessoas começaram a fazer manifestações...

    É hoje, é amanhã, é depois.... partidos da oposição, sindicatos, todos se juntam nestes aglomerados, gritando palavras de ordem, incentivando outras pessoas e no pior, incitando a gestos de violência gratuita, que tão pouco dignificam todos os intervenientes.

    Há pouco tempo atrás, começou a nova moda - cantar uma música que serviu de mote à revolução de há quase 40 anos atrás, com vista à Liberdade.

    A culpa da situação em que o país se encontra não é só de quem nos governa actualmente. Estamos a sofrer as consequências de um facilitismo assoberbado ao longo de várias décadas e do facto dos portugueses terem a mania de se exibirem - tivemos a Expo 98, depois o Euro 2004 [para quê criarem tantos Estádios de Futebol?], tantas autoestradas [que agora estão às "moscas"]...isto só para citar alguns exemplos.

    Eu acho que estamos numa situação bastante delicada. Claro que concordo que todas as pessoas tem direito a se manifestarem do jeito que quiserem, mas, é bom que tenham em atenção que os seus actos podem trazer consequências, boas e más, para elas e para todos nós, num futuro cada vez mais próximo.

    Embora concorde com o direito à greve, as manifestações e os cantares, é também verdade que não gosto de ver nem de ouvir tantas vezes as mesmas coisas, porque penso que tiram o valor às lutas e aos ideais, tornando-os algo banais e "inúteis".

    Um vez é bom, duas ainda passa, três já é demais...

    Concordo plenamente com o que dizes...achei muito triste e muito feio estas atitudes das pessoas de interromperem os discursos do primeiro e seus ministros.

    As pessoas em que aprender que o Respeito é uma faca de 2 gumes:

    Respeitem, se querem ser respeitados.

    Excelente post, querido Mark!
    Hughie :*

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Kuma. :)

      Concordo inteiramente contigo. Perde-se toda a razão com determinadas atitudes. Interromperem os discursos é uma falta de respeito, claro. Qualquer um tem direito à palavra e a usá-la.

      O coelho enforcado, a meu ver, foi a gota de água. Eu vi a triste cena e se pretendiam causar qualquer tipo de impressão, a que deixaram em mim foi profundamente negativa. Selvático!

      abraço.

      Eliminar
  4. Estou de acordo contigo quanto aos limites.
    Temos o direito à indignação e eu sou daqueles que acho este governo, o pior de todos os que já houve desde o 25 de Abril, desprezando completamente os cidadãos, mentindo descaradamente, não olhando a meios para atingir fins de duvidoso êxito. Por isso me indigno, por isso me revolto e entendo como justo todo e qualquer protesto de quem tudo perdeu e nada lhe resta a não ser o desespero.
    Mas é de um terrível mau gosto o episódio do coelho morto; há formas mais civilizadas de as pessoas se mostrarem indignadas.
    Claro que amanhã estarei presente na manifestação.

    ResponderEliminar
  5. Pois! É um facto, o ser humano é aquele que muito tenta viver em Sociedade e que não consegue. Muitas leis foram criadas e tudo se repete...

    O mesmo aconteceu quando acabou a PGA(Prova Geral de Acesso) que era uma prova de cultura geral., para dar lugar às Provas de Aferição que passou a ser uma prova a ver com os estudos de cada aluno....

    Infelizmente as pessoas esquecem-se como foi no passado. Ao longo da História, as pessoas cantavam para fazer uma revolta(os animais cantam para dar sinais de alarme). O Kuwait quando foi invadido em 1991 pelo Iraque. O povo fez músicas e assim se soube que tinha sido invadido, e foi invadido porque quis vender petróleo mais barato que o acordado com a OLP... Muito se escreve e muitas teorias existem...

    O PM e a Sociedade deveria entender, que os manifestantes são meninos "ricos" que tem bolsas de estudo a pagar mínimos por ano. Que muitos vão de carro para a Faculdade, onde não falta telemóveis e dinheiro para os copos(Estou a generalizar, porque tu não vês pessoal das faculdades privadas e nomeadamente a Católica) a fazerem o que vês na televisão...

    Se o pessoal diz que é Cultura haver touradas em 2013!!! O Campo Pequeno enche... Porque não "enforcar" um coelho???!!! Betos, com carro, telemóvel e contas pagas pelos Papás e com um pouco de alcóol no organismo, é como se o Benfica tivesse ganho ou perdido...

    Adorei o teu texto, a forma como vês as coisas, desculpa o meu desabafo. Eu apenas posso dizer que já vi esse "filme" por diversas vezes, onde muda os actores e os protagonistas da coisa...

    Abraço amigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A Católica está muito conotada com a direita conservadora, daí não se ouvir coisas destas. Eu estive para optar pela Católica, mas a minha faculdade tem mais prestígio (por enquanto, porque cai nos rankings ano após ano...).

      Há de tudo por lá: pessoas com posses, sem posses, educadas, nem por isso... Enfim, como em todo o lado.
      Muitos manifestantes enquadram-se no que descreveste, sem dúvida.

      abraço.

      Eliminar
  6. Também achei de um mau gosto e de um falta de civismo terrível. Infelizmente algumas pessoas não sabem viver em democracia.
    Lamentável.
    Se foi feito por alunos da faculdade, julgo que deve ser objecto de avaliação disciplinar. Se foi alguém de fora que o fez ou manipulou alunos para o fazerem, a situação ainda me parece mais grave e deve ter outro tratamento.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não conheço os contornos da situação. Foi algo muito desprezível. Várias pessoas, onde me incluo, ficaram chocadas.

      abraço.

      Eliminar
  7. Sou outro que compartilho da mesma opinião. Sinceramente, todas estas manifestações e greves começam me a soar a ridículo. Entendo o estado em que Portugal está, entendo como Portugal se sente. Mas não vai ser com cenas ridículas e com o caos que vamos a algum lado, muito menos (na minha opinião), acabando com o governo pois o seguinte acabaria por seguir o mesmo caminho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Relativamente às manifestações, apesar de achar algumas exageradas demais, considero um direito, aliás, é-o na nossa Constituição. As pessoas podem e devem manifestar-se quando consideram que os seus direitos estão a ser ameaçados de alguma forma. O que não podem fazer, todavia, é desrespeitar, humilhar, rebaixar. No meu entender, perdem toda a razão.

      O dito episódio que relato foi deprimente. Tratou-se de um ataque pessoal baixo e de muito mau gosto, além das referências que faço ao modo como exibiram o pobre animal morto. O que ainda me falta saber é se o enforcaram ali! Gosh!...

      Eliminar
  8. entendo o teu ponto de vista, Mark. este governo, para mal dos nossos pecados, foi eleito democraticamente, as pessoas acreditaram nas suas promessas (depois do fracasso do sócrates, o que se esperava?). também não gostei do animal enforcado, de imenso mau gosto, um exagero. imaginemos se o PM tivesse como apelido carneiro. enfim.
    mas os jovens estão fartos, todos estamos com a corda ao pescoço. a educação, a saúde está a ser um privilégio dos mais ricos, muito ricos. qual é o nosso futuro, ficarmos impávidos, amorfos?
    sei lá, por vezes penso que somos pacíficos demais, enquanto que na grécia anda tudo ao sopapo, aqui cantamos. quando há exageros destes, achamos mal, somos de extremos.
    ontem na manifestação optou-se pelo humor, vi peluches, vi uma miúda com um fato de carnaval de coelho, gostei.
    bjs.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo inteiramente! Este Governo é insensível aos problemas que grassam pelo país: há fome, há miséria, há pessoas que optam entre medicamentos e alimentos, algo terrível e que evidencia o "terceiro mundismo" em que o nosso país está afogado.

      Interessante raciocínio o teu: nem quero imaginar o que fariam tratando-se de um carneiro...

      Somos um país de "brandos costumes", como se dizia no tempo do velho abutre, para o bem e para o mal. Já se vêem algumas mudanças, mas temo o pecado por excessos...

      Essa miúda trajando um fato de coelho é algo engraçado. Critica na mesma e não cai no inominável.

      beijinho.

      Eliminar
  9. Em relação a esta questão já muito se comentou. No entanto, vindo um pouco quebrar o sentido dos comentários até aqui, apesar de não querer justificar a atitude em questão, sobretudo porque não conheço as pessoas, vejam muitas vezes o desespero que em as pessoas já estão, e que muitas vezes as levam a fazer coisas que nunca pensariam em fazer. Ainda hoje estive com uma amiga que teve de deixar a faculdade por não ter dinheiro para as propinas e ir trabalhar. O rendimento dela é o único a entrar em casa, onde vivem 4 pessoas.

    Há que pensar no modo como muitas vezes estas pessoas estão a viver (e há casos por aí bem mais graves que este, infelizmente), e que as levam a tomar atitudes que não teriam num estado finaceiro mais "estável". Creio que a atitude foi um excesso por parte dos manifestantes, sim (apesar de como disse noutro dia, noutro comentário aqui no teu blog, a faculdade é a altura de cometer todos os excessos).

    Eu, pelo menos neste fase em que ainda tenho trabalho, penso que se fosse comigo não faria isso. Preferia ver-me num conjunto de pessoas vestidas totalmente de preto, empunhando cartazes com palavras de ordem, e totalmente em silêncio. Criando um silêncio constrangedor propositadamente. Se o PM se dirigi-se ao grupo, ninguém lhe responder. E à sua saída poder entoar a Grandola (porque não?). Mas isto sou eu, que até sou uma pessoa que se considera pacifíca. Se bem que há uns anos não me via em qualquer manifestação.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro que sim, Horatius. Quando somos tomados pelo desespero, temos atitudes impensáveis noutras circunstâncias. Conheço alguns envolvidos pelo rosto, apenas.
      Há estudantes sem dinheiro para as propinas um pouco por todo o país. Circulam prospectos alertando para essa situação. Ainda na sexta-feira estive a ler um!

      O que eu condeno e com o qual jamais poderei concordar são atitudes destas. Referiste bons exemplos: gritem, cantem a "Grândola, Vila Morena", façam greves, vistam fatos caricaturados, exibam marionetas e cartazes... Têm um leque tão grande de opções; não caiam é em selvajarias. :|

      Eliminar
  10. Percebo o teu ponto de visto e até concordo com ele. Foi excessivo talvez.

    ResponderEliminar