26 de novembro de 2012

Contrastes.


   Recordo-me, em criança, de aguardar pelo início da quadra festiva. Se houvesse ano sem luzes, cor, brilho e espírito natalício, preparava-se um fim antecipado. No fundo, o ano civil corria em direcção a Dezembro e nele encontrava a sua razão de existir.

  A minha infância prolongou-se no tempo. Quando, à partida, deveria ser mais responsável e consciente do inerente processo de crescimento, continuava a negligenciar que era esperado, da minha parte, um comportamento comedido. Isso revelava-se, também, aquando da interminável lista de presentes que apresentava aos pais. Por hábito, nunca recebi presentes da mãe e do pai. Preferiam levar-me às grandes superfícies comerciais para que comprasse o que me aprouvesse.
   Esqueciam-se, porém, de que o valor da abnegação tem demasiada importância, para mais em idades tão moldáveis, onde o seu ensino deve ser ministrado com todo o cuidado.

 
   Os anos passaram e a magia foi se perdendo. Não foi absorvida pelo carácter real do que deveria ser uma comemoração do bem, também ele bastante deturpado na quadra em si, mas pela fugacidade dos sentimentos humanos, voláteis como as horas, hipócritas como as duas faces de uma moeda suja que circula de mão em mão.
 
   E as solenidades começam e terminam.
   A dor passa no atalho à rua da festa principal.

10 comentários:

  1. A magia do Natal para grande parte das crianças passa pela festa, pelas luzes e pelas prendas. Para muitos pais é bem mais fácil dar tudo ou quase tudo o que é pedido. Mas nem sempre é assim. Lembro-me deste episódio: as prendas eram poucas e ... - um primeiro olhar de esperança desapareceu quando tomei conta da realidade: era 'só' aquele livro. E ainda me lembro desse Natal; e foi um Natal feliz!

    Hoje espero coisas diferentes e bem mais importantes do Natal. Espero que as pessoas se lembrem de que a Paz e a Solidariedade são importantes.

    Desculpa usar o teu espaço assim, depois deste teu texto belo e verdadeiro, escrito como tu bem sabes fazer.

    Um abraço carinhoso, Mark.

    :3

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  2. O teu penúltimo parágrafo diz tudo.
    No meu caso, talvez por os natais da minha infância terem sido tão solitários, mais tarde tornei-me um 'christmas addict' :)

    Abraço Mark.

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  3. quanto a prendas, ainda hoje dei uma a uma amiga, assim, pq quis. passei por uma loja, gostei mt, não era caro, nada caro, foi um mimo e ela ficou feliz :)
    acho que devia ser assim, desde pequeninos, agradecer do nada, uma flor, um sorriso. não sou contra as prendas, sou contra o consumismo exacerbado nesta época. deturpa o significado de solidariedade e dádiva.
    bjs.

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  4. O que sempre me atrai nos teus textos é a maneira que escreves. Às vezes parece que tens uma veia poética algures. Gostava de conhecer mais pessoas que escrevessem assim.
    Em relação ao tema, concordo contigo. para mim cada natal parece menos o que deveria ser, e o que, para mim, sempre foi.

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  5. Pedro: Um presente, único que seja, dado com carinho, equivale a vários desprovidos de sentimento. Os que recebi foram-me atribuídos com carinho, mas a excessividade foi algo prejudicial.

    Tens toda a razão. Aliás, esses sentimentos devem ser extensíveis a todo o ano, não se circunscrevendo ao Natal, apenas.
    Obrigado!, e sente-te à vontade para usar o espaço como quiseres. :3


    Francisco: Fico feliz. :)


    Arrakis: Ainda bem que assim o foi. Bom, os pais sempre foram solidários com terceiros. No meu caso, talvez se tenham excedido ligeiramente. :3


    Margarida: Sem dúvida, querida! Um presente vindo do nada, sem hora marcada nem data especial sabe tão bem... Um mimo é tudo! O crescimento tem me dado essa experiência: a razão de ser dos presentes é, no fundo, dizer a quem presenteamos de que nos lembrámos da sua importância na nossa vida. :3


    Gonçalo: Em primeiro lugar, muito obrigado! ^^
    Sentes o mesmo: cada Natal que vem simboliza menos do que o Natal imediatamente anterior. É o desencanto não só devido à hipocrisia da data, mas também relacionado com o inerente processo de amadurecimento.



    lots of love! :3

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  6. Eu gosto do Natal e dos presentes, mas não têm que se caros. Há dois anos dei "presentes dourados" às pessoas de que mais gostava. Eram coisas simples, baratas ou que não custaram mesmo nada. Foram os presentes mais divertidos da noite :)
    abc

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  7. sad eyes: Eu tenho familiares, especialmente os mais pequenos, que oferecem produtos manufacturados. São eles que os fazem! :) Acho criativo e preenche na perfeição o espírito do que se quer: presentear quem amamos.


    lots of love :3

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  8. O Natal perde a magia quando a Família se desmembra e não há crianças.
    Depois fica apenas a recordação de Natais passados e a sensação de uma data cada vez mais triste.

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  9. João: É verdade. :| Lamento muito que assim o seja, meu querido.


    love :3

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